A Luz dos Olhos Teus escrita por Sochim


Capítulo 11
Capítulo onze


Notas iniciais do capítulo

Oo
Essa história espanta até a própria autora.



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Moegi fingia se interessar por tudo o que os dois garotos falavam. Até tentava sorrir de vez em quando, para que eles não percebessem que sua mente não estava mais com eles e não precisassem interromper a "importante" conversa que estavam tendo. Naquele momento, ao contrário do que geralmente acontecia, ela não queria a atenção deles. Queria apenas... Pensar. Uma coisa que não fazia tão bem quanto gostaria, enquanto seu coração gritava contrariedades em seu ouvido. Mas se esforçava para tirar as dúvidas da cabeça e mandá-las para longe.

A cada segundo que passavam sentados naquela mesa da praça de alimentação no shopping, a menina se perdia entre razãoes para se tranquilizar e razões para se desesperar. Konohamaru costumava ser um garoto normal quando frequentavam o mesmo colégio. As meninas sequer reparavam sua presença e não se importavam de sair de onde estavam para cumprimentá-lo. Claro que ele tinha uma ou outra "namorada", mas nenhuma que durasse tempo suficiente para que ele se interessasse demais. Porém, agora que ele estava no prestigiado Colégio Satélite, Konohamaru era mais que um simples garoto. Mesmo Moegi não saberia dizer porque. Ele nem era tão bonito assim. Beleza não era uma coisa que se adquiria de uma hora para a outra.

Ela conhecia quase toda a família de Konohamaru. Os Sarutobi's podiam não ser a preferência das mulheres, mas tinham um certo charme característico da família, como Kurenai identificara uma vez. Depois dos dezoito anos, quando a barba começava a nascer, começavam a ter um rosto mais maduro e porte físico chamativo. Só que Konohamaru só tinha dezesseis. Cedo demais para ter tantos atributos físicos que pudessem ser interessantes para aquelas meninas. Ele ainda não chegava aos pés de Asuma...

No entanto, se não o achava assim tão bonito, porque se interessara por ele? E desde quando? Para essa pergunta, ela tinha uma resposta na ponta da língua. Foi exatamente no mesmo momento em que ele lhe dissera que estava mudando de escola. Naquele momento - Moegi ainda se lembrava da sensação - ela percebeu que não queria nem podia correr o risco de perde-lo.

Os pensamentos que tivera naquele dia, voltavam agora com força. Nunca sentira tão claro como há uns minutos atrás, o quanto estava sendo "negligente", deixando que Konohamaru se aproximasse daquelas meninas. Elas eram bonitas demais, ricas demais e atrevidas demais para alguém como ele. E Konohamaru não era bobo de negar a primeira que se oferessesse.

Odiava isso nele. Como podia ser que ele fosse igual a todos os outros garotos... Tão... Fácil e superficial?

Se eu pegar uma, não pego mais ninguém.

Olhou para o garoto que, se não estivesse tão distraído com a história de Udon (ela não sabia mais sobre o que falavam), teria percebido uma certa intensão mortal para cima dele. Como ele podia dizer uma coisa daquelas? Ainda que de brincadeira. Será que ele não percebia como ela se sentia? Ou não se importava, mesmo...

Seu olhar percorreu a praça de alimentação direto para a mesa das meninas do Colégio Satélite. As roupas de qualidade que vestiam, os sapatos bonitos e novos, a maquiagem que quase não servia de nada, pois Moegi sabia que elas eram bonitas mesmo sem aquele artifício. Cada centímetro da "perfeição" delas estava cruelmente estampado na sua frente, como uma verdade incontestável. E o que ela poderia fazer para se igualar a elas?

Não. Se igualar não era o bastante. Precisava superá-las. Se elas eram bonitas, ela tinha que ser linda. Faria o jogo de Konohamaru e o teria para si.

Uma das meninas daquela mesa se levantou, com o sorriso largo, fazendo com que outra a acompanhasse. Moegi as seguiu com os olhos...

- Moegi... - Ouviu a voz de Udon a chamando e o olhou desnorteada. Mas rapidamente voltou ao normal. - A gente estava falando com você.

A garota olhou para Konohamaru. O olhar dele estava perdido na direção que as meninas seguiam.

- Você e quem?

Nesse momento, Konohamaru voltou a olhar para eles, com o ar distraído.

- Já volto. - Moegi disse e se levantou, seguindo para o mesmo lado em que as meninas foram. O rosto queimando de raiva e desaforo.

As duas meninas pararam antes de entrar em um corredor branco que dava para os sanitários. Ficaram olhando para o cardápio que havia na lanchonete ao lado e não viram Moegi passar por elas, fuzilando-as com o olhar.

Quando entrou no banheiro feminino, trancou-se em um dos box que havia, mais para poder pirar sozinha, longe das vistas de quem pudesse considerá-la louca. Ficou de pé, olhando para a porta, batendo um dos pés com impaciência. Podia sentir o sangue quente e a inquietação que situações como aquela lhe reservavam. Estava já mais calma e pronta para sair, quando ouviu o nome de Konohamaru ser pronunciado em alto e bom som do lado de fora do box.

- Você não pode negar que ele está gatinho hoje. - Matsuri sorriu, olhando-se no espelho.

- Posso sim. Principalmente quando ele não está. - Hanabi protestou, fazendo o mesmo. - Mat... Esquece esse garoto, ele é tão chato!

- Não o acho chato.

- E quantas vezes falou com ele?

- Não muitas. - Matsuri deu de ombros, mas certificou-se de olhar bem para a expressão de Hanabi, antes de continuar. - Você nunca deixa.

- Quer dizer que eu tenho que deixar? Ok. Então eu te proíbo de falar com o Konohamaru.

- Ai... Estou começando a achar estranha essa sua implicância com ele. - Matsuri falou, com falsa casualidade, enquanto retocava o lápis no olho.

Hanabi parou o que estava fazendo - tirando o excesso de brilho das bochechas com um pó - e encarou a amiga pelo espelho.

- Como se não bastasse o fã clube do Sarutobi. Mas você tem razão, vou me juntar a vocês e sair pela cidade exaltando as qualidades dele. - Falou com acidez. - Se eu descobrir uma, claro.

- Tenho uma que nem você vai poder dizer que é mentira. - Hanabi a olhou curiosa, mas com um olhar de desafio. - Ele é bom de música.

Hanabi abriu a boca uma ou duas vezes, antes de conseguir falar.

- Certo. Mas isso não é motivo suficiente para me fazer ficar afim de alguém. Já você...

- Não fiquei afim dele só por causa disso!

- Então pelo quê?

Matsuri encarou Hanabi, sem resposta, depois voltou a olhar para o espelho, com um sorriso travesso. Hanabi não pode deixar de sorrir e voltou à sua atividade.

- Eu sabia que a Saaki e a Nagaki poderiam ser um problema. Mas a Mizuki...

- Não acho que ela seja um problema. - Matsuri deu de ombros. - Ela me disse hoje que só acha ele bonitinho, mas nem ficaria com ele. A menos é, claro, que ele insistisse. - Matsuri riu, se lembrando das palavras de Mizuki.

Hanabi também riu.

- Taí uma cena que eu gostei. Ver o Konohamaru se rastejando por alguém!

- Não acho que ele faça esse estilo... - Matsuri falou, um pouco mais séria.

A essa altura, Moegi já estava grudada à porta do box, ansiosa para que elas parassem com aquela conversa, para que ela pudesse sair dali. No entanto, em nenhum momento cogitou a hipótese de sair, sem terminar de ouvir o que diziam.

- E aquela amiga dela? - Matsuri perguntou de repente. - Acha que ela pode ser um problema?

Hanabi deu de ombros.

- Como vou saber? Vai ver aquele garoto tem um gosto estranho mesmo. - Fez uma pausa, guardando a maquiagem. - Mesmo não gostando de imaginar ele com você, o Konohamaru seria louco de escolher ela, ao invés de você ou uma das meninas do nosso colégio.

- Ela é esquisitinha, não é?

- Sinceramente nem reparei. - Hanabi fechou a pequena bolsa. - Mas pelo visto não perdi nada. Nem ele vai perder, quando ficar com você.

- É assim que se fala! - Matsuri riu.

As duas sairam, deixando para trás uma garota com a auto-estima extremamente abalada. Seu coração voltou à inquietação de antes e seu sangue, que antes estava quente, agora fervia e se recusava a voltar para o estado natural. Uma parte de si queria sair dali e agarrar as duas. Outra parte... Concordava com elas. Konohamaru seria louco se trocasse as meninas "satélite", por ela.

 

Moegi voltou para junto dos amigos, com a expressão claramente triste. Nenhum dos dois teve coragem de perguntar algo, antes de vê-la se sentar.

- O que aconteceu? - Udon perguntou logo em seguida, enquanto Konohamaru se apoiava na mesa para se aproximar dela.

- Nada.

- Não mesmo? - Konohamaru perguntou, legitimamente preocupado.

Moegi o encarou e viu a sinceridade do gesto dele. Mesmo assim, não conseguiu fazer com que aquilo a animasse.

- Mesmo. - Disse com a voz fraca. - A gente pode ir embora agora?

- Claro. - Udon foi o primeiro a falar. - A gente não tem mais nada para fazer aqui.

- É. Vamos. - Konohamaru concordou, mas não tirava os olhos dela. - Moegi, tem certeza que você está bem?

A menina o encarou, depois desviou o olhar. Sentia como se nunca mais pudesse olhar para ele de novo. Mas o olhar de Konohamaru era mais insistente e ela sentiu todo o orgulho que acumulara durante anos, cair diante dele.

- Vocês me acham esquisita? - Perguntou num fio de voz.

- Quê? - Os dois falaram quase ao mesmo tempo.

- Como assim? - Questionou Udon. - De onde tirou isso?

Moegi hesitou, mas acabou dizendo, com uma pontada de orgulho ferido guiando suas atitudes.

- Foi uma das amiguinhas do Konohamaru que disse isso, lá no banheiro. - Falou, sem encará-los. - Elas não sabiam que eu estava ouvindo.

- Você nunca foi de deixar isso te afetar. - Udon continuou, enquanto Konohamaru buscava os rostos das meninas na mesa. Sabia quem tinha sido. Hanabi ou Matsuri. Não importava qual delas. Elas eram iguais.

- Eu sei, mas... - Moegi se calou. Um nó se formando na garganta. - Eu não sei o que me deu.

Mas tanto Udon quanto Konohamaru sabiam. Por mais que Konohamaru não pudesse corresponder aos sentimentos de Moegi, não deixaria que nada a magoasse daquele jeito. Principalmente aquela turma de patricinhas esnobes que tinha o desprazer de conhecer. Pegou gentilmente no braço de Moegi e a ajudou a levantar.

- Vamos embora logo.

Os três atravessaram a praça de alimentação, propositalmente para passar perto da mesa das meninas "satélite". Konohamaru fez ainda mais questão de encarar Hanabi. Hanabi o seguiu com os olhos espertos e curiosos, fazendo com que as demais meninas olhassem para a mesma direção que ela. Konohamaru deu uma última olhada para Matsuri também e passou o braço pelo ombro de Moegi, lhe dando um beijo no rosto.

- Nunca mais quero ver você chateada por causa delas. Deixe que eu cuido delas depois.

Moegi não disse nada. Embora ainda magoada com todos aqueles sentimentos confusos e súbitos, uma parte de si sentia-se vitoriosa. Konohamaru estava agora mais próximo dela do que jamais esteve.

 

*

 

As meninas trocaram olhares, depois que Konohamaru sumiu com os amigos.

- O que deu nele? - Perguntou Matsuri, espantada com o olhar que ele lançara para ela e para Hanabi.

A Hyuuga encarou a amiga, pensativa. O gesto de Konohamaru, colocando os braços em volta de Moegi a incomodou. De repente, lembrou-se.

- Ela ouviu a gente! - Falou, virando-se para Matsuri, com os olhos levemente arregalados.

Matsuri empalideceu. A esquisita com certeza contara para Konohamaru e agora ele as odiaria para sempre.

- Que merda! - Exclamou, sem se importar com as demais meninas.

- O que aconteceu? - Hinata perguntou, ligeiramente cansada daqueles assuntos de adolescentes. -

- É. O que vocês disseram? - Mizuki intrometeu-se.

Hanabi foi a primeira a se recuperar. Encarou as meninas.

- Sinto meninas, mas acho que estragamos totalmente a chance de vocês com o Konohamaru.

- Como assim? - Saaki perguntou antes de Nagaki. - Por quê?

- A gente meio que... Falamos mal da amiga dele e ela provavelmente ouviu.

Nagaki e Saaki olharam para as duas com expressões bestas. Mizuki deu de ombros. Yumi ficou preocupada com a reação da amiga de Konohamaru. Hinata... Apenas suspirou. Nos seus tempos de colégio, ela estaria no lugar de Moegi e nesse momento estava bem difícil ficar do lado da irmã.

- Meio que falaram mal? - Nagaki não se aguentou. - O que exatamente vocês falaram?

Hanabi buscou o olhar da irmã, mas não encontrou nada nele que pudesse ajudá-la. Pelo contrário...

 

*

 

Udon queria levar Moegi até a casa dela, mas sabia que a amiga precisava mais do que nunca ficar sozinha com Konohamaru. Mesmo sem saber o que ela, ou ele, faria, decidiu arrumar uma desculpa qualquer e ir para casa, sem deixar a preocupação de lado. Konohamaru, por algum motivo se sentia mal por Moegi. De alguma forma se sentia culpado. Sabia dos sentimentos dela e agora percebia que fora irresponsável com eles. Parou em frente à porta do apartamento de Moegi e a fitou com carinho. A garota olhava para o chão, sem saber o que dizer e sem saber o que esperar ouvir. Seu coração continuava se manifestando mais vivamente do que nunca dentro de seu perto cada vez mais apertado.

Aquelas meninas jamais sentiriam por Konohamaru o que ela sentia. Provavelmente sequer sabiam como sentir aquilo. Konohamaru precisava saber disso. Precisava que ele se afastasse delas.

- Moegi... - Ele chamou, com a voz cautelosa. - Você vai ficar bem?

- Vou. Eu sempre fico.

- Mas eu nunca te vi assim.

- Porque nunca foi tão importante para mim ser aceita como sou. - Konohamaru ficou em silêncio, vendo Moegi levantar os olhos para ele. - Eu disse para o Udon que não sabia porque me deixei abater pelo comentário delas, mas acho que até ele sabe a resposta certa para isso.

- Acho que até eu sei. - Konohamaru baixou os olhos, sem saber como lidar com aquela situação.

- Que bom, porque isso facilita as coisas para mim. - Moegi respirou fundo. - Porque eu gosto de você, Konohamaru. Eu não... Eu não queria isso. Simplesmente aconteceu e eu não estou conseguindo conviver com isso. Está me sufocando e toda vez que eu imagino você naquele colégio, com aquelas meninas, eu... Não sei o que fazer para tirar a sensação que isso me causa de dentro de mim. Antes de conhece-las, eu já sabia que não teria a mínima chance.

Konohamaru fechou os olhos, tentando pensar em algo que não fosse estúpido para dizer.

- Não é bem assim, Moegi. - Disse por fim. - Eu em nenhum momento pensei em ficar com aquelas garotas. Elas são só minhas colegas, em nem falo com a maioria delas.

- Não foi o que pareceu hoje, quando você disse...

- Esquece o que eu disse. Eu fui um idiota quando disse aquilo. Eu nem estava levando aquilo a sério. Mas eu sei que eu deveria ter sido mais cuidadoso por você.

- Não é sua culpa. - Moegi voltou a olhar para o chão, suspirando tristemente. - Você me vê como uma amiga e é natural.

- Mas não é certo. Você é uma pessoa importante para mim e eu não podia ser tão... Irresponsável.

Nenhum dos dois sabia mais o que dizer. Aquela conversa estava mexendo com as emoções dos dois. Mas de formas diferentes. Era doloroso para Konohamaru ve-la sofrer e saber que a culpa era dele. Moegi, por sua vez, não conseguia suportar a atenção que ele lhe dava agora, parecia tão pesarosa, tão "obrigatória". Reunindo o que lhe restava de força e orgulho, encarou-o.

Algo no modo como ele a encarou de volta, fez seu coração dar mais um daqueles pulos imprevisíveis. Ele estava tão perto de seus sentimentos, que quase podia senti-lo na mesma sintonia que ela. Então, sem pensar direito, sem ouvir as vozes insistentes de sua mente, sem sequer esperar uma reação dele, aproximou-se rapidamente e encostou os lábios ao dele. Nesse momento, sua consciência voltou e Moegi ainda teve a autopreservação de tentar se afastar. Mas percebeu a tempo que Konohamaru não a repeliu e a sensação que isso causou dentro dela foi suficiente para que se enchesse de esperança e uma felicidade inexplicável.

Konohamaru sabia perfeitamente o que estava fazendo, ao retribuir calmamente o beijo de Moegi. Mas tentava esconder a verdade de si. Preferia pensar que o momento mexera com ele, que talvez guardasse em um lugar bem fundo e escondido algum sentimento por ela. Algo que não fosse amisade, algo que não fosse fraternal. Tinha que haver algo ali. Mas a única coisa que encontrou foi compaixão. E quando essa verdade se tornou insuportável, separou-se de Moegi.

Porém, seu lado mentiroso ainda estava lá. Conseguiu olhar nos olhos de Moegi e ver a esperança renovada dentro deles. Dissimulado, seu lado mentiroso sorriu e saiu de lá sem dizer mais nada.

Depois de tudo, andando pela rua do bairro onde crescera, Konohamaru sentia-se um lixo. Como pudera brincar com os sentimentos de Moegi daquele jeito?

"Talvez eu realmente estivesse procurando alguma coisa que me unisse a ela...", tentava se convencer.

Mas ele sabia que não era isso. Deixara que ela... Se magoasse ainda mais. E agora por sua causa. De que valera dizer que não queria que as meninas de seu colégio magoassem Moegi, se ele mesmo, sozinho, fizera ainda pior?

"Agora eu sei como ela se sente. É tudo tão confuso, que me sufoca também. Eu nunca vou poder retribuir o sentimento dela. Droga! Fiz tudo errado, cacete!"

Chegou ao seu apartamento, quando começava a anoitecer. Logo quando não queria encontrar ninguém ali, encontrou os outros dois moradores, que o olharam com sorrisos animados. Mas a animação deles produziu em Konohamaru o efeito contrário e seu humor saltou direto para a antipatia, que ficou explicita em sua expressão. Iruka foi o primeiro a notar, seguindo o garoto até o corredor, onde Konohamaru sumiu dentro do quarto, fechando a porta com força.

Iruka olhou para Naruto que, como ele, estava sem entender nada.

Konohamaru jogou-se de costas na cama e ficou alguns segundos fitando o teto. Depois, tirou o celular do bolso e ligou para Udon. Quando o garoto atendeu, disparou de uma vez:

- Fiz merda. - Ouviu um suspiro do outro lado da linha e teve certeza que Udon advinhara o que aconteceu.

- Tem conserto? - Udon perguntou.

- Acho que não.

- Por que não me fala logo o que fez, antes que eu fale merda quando for consolar?

- Não fale comigo como se eu fizesse de propósito. - Konohamaru reclamou, mas sabia que não tinha razão.

- Nem sempre o que fazemos sem querer é melhor de explicar depois. - Udon suspirou. - E aí?

Konohamaru contou o que aconteceu, pensando que se sentiria melhor depois, mas a cada palavra que dizia e quanto mais o silêncio do outro se prolongava, pior se sentia. Tinha certeza que, se Udon o xingasse, não poderia sequer se sentir mal por isso. O que estava sentindo agora era pior que qualquer coisa.

Quando terminou, ficou ansioso para que Udon falasse alguma coisa. Qualquer que fosse. Mas o que ouviu, foi de uma frieza maior do que ele esperava. Mas entendeu. Moegi também era a melhor amiga de Udon, apesar das brigas, apesar dos gostos, os dois agora estavam unidos de verdade...

- Vou ver qual é a extensão do dano. Depois te ligo.

 

*

 

Hinata ficou feliz ao ver-se em casa novamente. O dia no shopping fora mais cansativo do que imaginara que seria. Nunca mais prometeria nada para Hanabi. E nunca mais se meteria nos assuntos daquelas garotas. Aliás, não sabia se só ela reparara, mas desde que o tal garoto (que ela tinha certeza que conhecia de algum lugar), olhara para Hanabi e Matsuri daquele jeito e elas confessaram para as demais o que fizeram, Nagaki e Saaki ficaram diferentes. Mais distantes e frias...

Olhou para a irmã, que não tinha uma expressão muito boa, enquanto sentava no sofá, ao lado de Matsuri. Hinata se aproximou delas, sentando na poltrona de que seu pai mais gostava.

- E então... - Disse, querendo começar alguma conversa. - Como se sentem agora?

As duas a olharam como quem deixava claro a resposta, mas Hinata levantou uma sobrancelha, assumindo um ar reprovador.

- O que vocês disseram sobre a menina foi...

- A gente sabe, Hina. - Hanabi interrompeu. Não estava acostumada a levar bronca e não aceitaria que a irmã fizesse isso. - Mas aconteceu.

- E a gente não estava mentindo. - Matsuri deu de ombros. - A garota é mesmo esquisita!

- Mas isso não dá a vocês o direito de falar as coisas sem pensar.

- Como a gente ia saber que ela ficava ouvindo atrás da porta? - Matsuri tentou se defender, mas recebeu não apenas de Hinata, como de Hanabi um olhar mudo de "cala a boca".

- O pior, Matsuri, é que agora, você não tem chance com ele. - Hanabi suspirou. - Você viu como ele ficou todo carinhoso com ela.

- Pior para ela. - Matsuri falou, fazendo as duas irmãs a olharem curiosas. - Ele fez por pena. Para provocar a gente.

Hinata não aguentou aquele comentário e se levantou. Era impressionante como Hanabi e Matsuri podiam se parecer tanto com as meninas que Hinata aprendera a odiar durante o ensino médio.

- Eu fico por aqui. - Disse, sem paciência. - Vocês que fiquem com essas idéias... Eu já passei dessa fase.

Hanabi olhou para Matsuri, que parecia ligeiramente despreocupada. Desviou os olhos para a irmã, que subia a escada.

- Vai sair hoje, Hina?

- Não. Vou direto pro meu quarto. Andei demais por um dia. - Dizendo isso, Hinata subiu para seu quarto, mais precisamente para o longo banho de banheira que a esperava.

- Acha mesmo que ele não vai perdoar a gente? - Matsuri perguntou, depois de alguns minutos de silêncio.

Hanabi a encarou.

- Como se eu me importasse.

- Aff... - Matsuri se irritou com a indiferença de Hanabi. - Se não me quer aqui, é só falar.

- De onde tirou isso? - Hanabi perguntou. De fato, não estava pensando nisso, mas agora, acharia bom se Matsuri encontrasse o caminho de volta para sua casa. - Eu só estou cansada. - Disse, lembrando-se de porque Matsuri não gostava de ficar em casa e suavisou a voz. - Quero tomar um banho agora. Quer assistir "Gossip Girl" lá no quarto enquanto isso?

Matsuri sorriiu.

- Claro. Depois eu posso tomar um banho também?

Hanabi sorriu se levantando.

- Óbvio. Não vou deixar você dormir fedendo!

- Eu não estou fedendo! - Matsuri se defendeu.

- Ah, não? Já cheiro embaixo do braço para ver?

Matsuri imediatamente fez o que ela disse e Hanabi soltou uma gargalhada, vitoriosa.

 

*

 

- Está tudo bem, mesmo? - Udon perguntou mais uma vez, antes de desistir de obter uma confissão de Moegi sobre o beijo. Ela parecia disposta a fingir que nada acontecera, embora estivesse perceptívelmente mais animada ao telefone. - Certo, eu vou desligar então.

- Uhum. - Moegi parecia um pouco distraída também.

- A gente se fala amanhã.

- Ok.

- Tchau.

Udon desligou e ficou olhando para o telefone por um instante. Moegi estava sonhando acordada. Pensou em não ligar para Konohamaru. Estava com um pouco de raiva dele. Dentre tantos garotos legais por quem Moegi poderia se apaixonar, tinha que ser por Konohamaru? O pior é que Udon sentia que a amisade dos três estava indo pelo ralo. Começando pelo momento em que Konohamaru se mudara para o Colégio Satélite e culminando no fatídico beijo entre seus dois melhores amigos.

Lançou mais um olhar para o telefone e então suspirou. Se os três deixariam de ser amigos algum dia, não queria que a culpa fosse dele. Discou o número de Konohamaru e não precisou esperar muito para ouvir a voz desesperada do outro.

- Vou vai precisar conversar com ela. - Disse logo. - Ela está sonhando acordada. Não quis me dizer nada e eu fingi que não sabia.

- O que eu faço, cara?

- Eu já disse. Conversa com ela.

- Como?

- Eu não sei, cara. - Udon deixou escapar um tom impaciente e, antes de continuar, se conteve. - Não sei se digo para ser sincero com ela ou se imploro para mentir pelo menos um pouco.

- Mentir para fazê-la se sentir melhor? - Konohamaru perguntou incerto. - Não sei se isso é certo. Quero dizer, se fosse qualquer outra garota... Mas eu conheço a Moegi desde pequeno e...

- Exatamente. - Udon interrompeu. - Ela também te conhece. Não adianta mentir. Ela conhece sua cara de mentiroso. - Fez uma pausa. - Mas, tenho medo que ela só acredite no que quiser acreditar.

Konohamaru ficou pensativo e os dois ficaram longos segundos sem dizer nada.

- Eu vou pensar em alguma coisa. - Disse por fim. - E vou tentar não estragar as coisas.

- Pode deixar que se acontecer alguma coisa. Eu recolho os pedaços. - Udon deu um sorrisinho nervoso. - Depois a gente se fala, então.

- É. Até mais.

Udon desligou. Olhou ao redor, para o quarto quase vazio, com a maior parte das suas coisas empacotadas dentro de caixas de papelão. O seu tempo estava se esgotando. Precisava falar com os amigos o quanto antes. Mas a idéia de deixar Moegi sozinha agora, o desarmava. Quando Konohamaru falasse com ela, Moegi precisaria mais do que nunca de um amigo. Isso... Se Konohamaru fosse sincero.

O pensamento passou por sua mente de forma rápida, mas por tempo suficiente para deixar uma sensação indefinida. Olhou mais uma vez para o telefone. Uma parte de si, querendo que Konohamaru... Outra parte, querendo o contrário. Fechou os olhos e, segundos depois, ouviu novamente a voz de Konohamaru...

- Escuta... Preciso fazer uma pergunta.

- Fala.

- Há alguma chance de você gostar da Moegi?

- Por que essa pergunta agora?

- Porque... - Udon pensou depressa. Precisava persoadir Konohamaru de alguma forma. Lembrou-se do que o amigo lhe disse antes, sobre como queria se sentir em relação a Moegi no momento em que a beijou. - Acho que talvez vocês tenham uma chance.

- ...

- Eu só estou dizendo que... Consciente ou não, você quis beijá-la.

- É mais... - Konohamaru tentou argumentar, mas Udon não deixou que tivesse tempo para pensar racionalmente sobre aquilo.

- Pode ser que você realmente sinta algo por ela. Ela é sua melhor amiga. Isso pode acontecer.

- Não seria justo com ela...

- Você já não foi justo com ela hoje. - Udon resolveu ser um pouco mais duro. - Seja lá o que decidir, só não piora as coisas. Não... - Fez uma pausa, caindo na real. O que estava fazendo? No entanto... Já tinha começado. - Não quando se houver outra opção. - Disse, fechando os olhos.

Mais tarde, Udon ainda tentava se convercer de que tinha feito a melhor coisa por seus amigos. O que havia de mal naquilo afinal? Moegi gostava de Konohamaru e só seria feliz com ele. Konohamaru não gostava de ninguém, mas podia aprender a gostar de Moegi, que era sua amiga há tanto tempo...

Quanto a ele próprio... Não se importava com o quão longe ficaria dos dois, se ao menos pudesse ir, sabendo que estariam bem. Precisava fazer a coisa certa por eles.

É... Era exatamente o que estava fazendo. A coisa certa.


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