POV EDWARD.

Eu estava sentado na poltrona da sala de estar olhando Bella enfeitar uma árvore com bolas coloridas e estrelas que brilhavam sem parar.

--Ham,por que você está colocando essas coisas na árvore?

--Nunca ouviu falar em natal,baixinho?—ela riu ao pronunciar a última palavra.

--N-Natal? – perguntei incrédulo.

Ela me olhou espantada e enquanto colocava mais uma bola colorida em uma das pontas da enorme árvore ela ía explicando:

--É um dia onde alguns comemoram o dia do nascimento de Jesus.

--E por que os presentes? – eu apontei para as caixas embrulhadas cuidadosamente por Bella e cheias de fitas.

Me assustei quando Bella começou a rir e se aproximou de mim sentando no braço da poltrona:

--Já vi que você não sabe nada mesmo sobre o natal.

Então ela começou a contar a história desde o começo.Sobre o pré-cristianismo,o cristianismo,o anúncio do anjo Gabriel, a estrela de Belém, e a visita do magos.

Ela contava tudo animadamente enquanto enfeitava a árvore e rodopiava de um lado para o outro, fazendo com que o vestido se mexesse a sua volta.Ele tinha que admitir, ela ficava realmente muito bonita na luz daquelas velas enquanto conversavam.

--Que tal me ajudar,Edward? – ela perguntou enquanto abria outra caixa com enfeites.

--Se é o que deseja.

POV BELLA

Edward e eu ficamos um bom tempo enfeitando a árvore e conversando sobre outras datas comemorativas.Ele estava muito interessado e o modo como seus olhos se arregalavam a cada descoberta me fazia rir.

--Do que está rindo? – ele perguntou deixando transparecer a chateação na voz.

--Nada.—eu ri ainda mais.

--Bella, você está bem? – agora seu tom já era mais preocupado.

Então a ficha caiu.

--O que acontec...

--Você em chamou de Bella.—eu disse ainda surpresa.

--E daí?

--É a primeira vez que você diz meu nome.

--Tanto faz.Quem se importa? –ele disse com indiferença.

Eu revirei os olhos e olhei para o piano:

--Sabe tocar? –perguntei.

--Não.

--Quer aprender?

--Também não.

Mas que menino levado.Eu achei que com aquele abraço da semana passada talvez ele estivesse mais amigável.Porém, acho que eu estava enganada.

--Ora,ora!Mas que bela árvore.—Ansell me pegou de surpresa quando se acomodou na sala.

--Tio Ansell!—eu corri para seus braços.

Tio Ansell fora o único vampiro adulto que se aproximara de mim e era ele também quem me dava aula de sociologia vampírica.Bem alto,com ombros largos, um cavanhaque tratado e talvez com mais de 1 milênio de vida,Ansell era muito respeitado pela sociedade inteira de vampiros, inclusive pelo parlamento inteiro.Fora ele quem me achara no dia em que eu perdi minha memória e me acolhera.

--Bella!Como está? – ele perguntou enquanto me abraçava.

Havia tanto tempo que eu não via Ansell e então eu vi que a oportunidade de salvar Joel estava na minha frente.Meu sangue não podia tranformá-lo,mas o sangue de outro vampiro sim.Era isso.

--Quem é ele? – Ansell indagou apontando a cabeça para Edward.

--Este é Edward.Meu amigo.—eu respondi ainda sorrindo pelo fato de achar a cura para Joel.

Para minha surpresa e espanto, Edward saiu correndo da sala.E antes que eu pudesse ir atrás dele, Tio Ansell segurou minha mão e a beijou.

--É um prazer revê-la,Isabella.

Quando tio Ansell pronunciou meu nome daquela maneira e me direcionou o olhar penetrante, as lembranças do meu passado voltaram com força.

FLASHBACK ON*

*1790*

Eu sentia meu corpo fora de controle quando abri os olhos.O saco sujo que me servia de roupa estava deplorável,mas eu pouco ligava pra isso.A única coisa que me a cabeça foi sangue.A minha garganta estava tão seca que seria capaz de rachar.Senti a dor na gengiva quando comecei a expor os caninos e me deixei entregar ao instinto.

Meus fios cabelo estavam tão compridos que passavam dos meus pés, como se eu ficasse sem cortá-los durantes anos.As unhas dos meus pés e mãos também estavam compridas.

Eu estava dentro de uma caverna e precisava me alimentar.Então eu tirei as pedras que impediam a saída com selvageria e a primeira coisa que chegou as minhas narinas foi o cheiro de sangue humano.

Eu precisava viver.

Eu ataquei a vila mais próxima, e os gritos das pessoas eram como incentivos para que eu continuasse.Matei crianças,adultos,idosos,soldados...Drenei o sangue de todos,sem deixar restar uma vítima.Sozinha.

FLASHBACK OF *

--Bella! – Ansell chamou minha atenção com uma voz mais grossa.

Percebi que eu estava sentada na poltrona onde Edward estava sentado há poucos minutos.E vi que agora ele voltara só que dessa vez com um copo com água em uma bandeja.

--Edward...—murmurei.

As lágrimas me vieram ao rosto.Eu não podia continuar fingindo que era boa.Eu era ruim.Eu tinha matado pessoas.A próxima vítima podia ser qualquer pessoa,inclusive Joel,Ansell e ...Edward.Que era só uma criança.Sim, eu era um monstro horrível e já estava na hora de reconhecer isso e meu passado.

--Seu miserável!

Ansell gritou com Edward e lhe deu um tapa no rosto que fez o pobre menino voar para o outro lado da sala e cair em cima de uma mesa feita de vidro.

--Ansell!—eu gritei indo em direção ao garoto.

Quando cheguei perto de Edward senti o cheiro de sangue fresco.Era tão forte.Eu precisei me afastar para não cometer uma loucura.

--Viu? –disse Ansell se aproximando de mim e tirando minha mão da boca – Você não pode ignorar que é.

--Pare! – eu implorei.

--Bella, deixe-me apresentá-la ao parlamento, eles vão te acolher.

--Eu não quero!—gritei.

Me desvencilhei de Ansell e corri em direção ao pequeno garoto jogado no chão.Ignorei minha sede por um momento e prestei atenção no seu estado.Havia uma grande marca vermelha na sua bochecha que se estendia do queixo à orelha,alguns lugares do seu corpo sangravam e tinha vidro ainda no ferimento.

--Edward...—eu o chamei baixinho.

Pude sentir o cheiro de Joel no recinto e antes que eu pudesse protestar contra algo, eu já estava sendo levada para cima por Ansell.

--Tire-a daqui.Faz um tempo já que ela não se alimenta.—ouvi Joel dizer.

Como se as palavras de Joel fossem a chave para um cadeado dentro de mim, as minhas presas começaram a surgir e eu senti Ansell me segurar mais forte.Dentro dos seus orbes eu pude me ver.Meus discos estavam vermelhos, e a minha cara de dencontrolada deixava claro que eu faria qualquer coisa por sangue.

Para piorar a situação do meu “eu racional”, Ansell me deu um sorrisinho e me soltou no meio da escada.E então eu murmurou:

--Vá,minha Isabella.Sua comida a espera lá em baixo.Mate todos, dance para mim,Bella!Dance!

Sem que me desse outro convite eu desci a escada em uma velocidade sobrenatural e a primeira coisa que eu vi foi o pescoço de Joel, que ainda estava de costas agachado no chão e cuidava de Edward.Edward...

Sem mais tempo para pensar, eu avancei no pescoço branco e com alguma rugas de Joel.Cravei minhas adagas na sua veia e fechei minha boca em seu pescoço.

O sangue escorria em um fluxo lento e delicioso pela minha garganta causando uma explosão de prazer que me atingia da base da coluna ao topo da minha cabeça.Eu podia ouvir bem longe Joel se debater contra mim e sua pulsação diminuindo de ritmo.O pensamento da presa morrendo foi tão prazeroso que eu já estava calculando quem seria minha próxima vítima.

Olhei pela sala gigantesca, cheia de criados assustados que não sabiam o que fazer e Ansell no topo da escada apreciando tudo com um sorriso no rosto.Quando bati meus olhos no rosto de Edward, que estava com uma cara assustada ,foi como se eu me desse conta do que eu estava fazendo e imediatamente larguei Joel,que caiu para o lado ainda muito fraco.

--Joel! –eu gritei.

~*~

Já estava amanhecendo,Ansell tinha ido embora sem dar notícias e por sorte Joel ainda estava vivo e descansava nos seus aposentos.Eu estava perambulando pelos corredores quando me deparei com a porta do quarto de Edward.

Eu abria porta sem esperar um convite e me deparei com um Edward sentado na cama com os joelhos junto ao peito e com os olhos extremamente assustados.

--Edwa... –eu comecei

--Não chegue perto! – ele gritou se afastando.

--Eu nã...

--Não quero saber!—seu rosto estava suado e sua voz chegava a beira do desespero.

Ele olhou mais assustadopara o meu vestido e só então eu percebi que o caro tecido de algodão estava banhado com uma mistura do sangue dele com o de Joel.

--Eu tenho medo de você. – ele disse escondendo seu rosto.

--Eu também. – concordei.

Eu dei um passo para frente e levantei a minha mão,mas ele interrompeu:

--Afaste-se, seu monstro!

...seu monstro ,seu monstro ,seu monstro, seu monstro...

Aquelas palavras me causaram tremenda dor que eu me afastei e minha expressão triste assumiu o lugar.

-Me desculpe. – eu disse e saí correndo.

...seu monstro ,seu monstro ,seu monstro, seu monstro...

Quando desci as escadas todos os empregados estavam lá.Alguns me olhavam com pena,outros receosos,com medo.Eu me afastei deles e quando olhei para a poça de sangue no chão, as lembranças daquela noite se tornaram mais fortes.

Edward estava certo.Eu era um monstro.