Pude ouvir alguns suspiros aliviados de minha mãe enquanto meus lábios ainda permaneciam colados aos de Guilherme,me afastei rápido assim que percebi que aquilo ja estava durando de mais,senti meu rosto pegar fogo assim que abri meus olhos e me deparei com todos aqueles olhares presos a nós dois.

Depois do Padre então finalizar todo o casamento,tentamos por quase 15 minutos sair daquela igreja,mas todo aquele povo desconhecido faziam questão de nos cumprimentar,como se isso fosse importante.

Fiquei imaginando que a única coisa para toda aquela palhaçada ser perfeita era um carro com as típicas latinhas amarradas na parte traseira escrito "Recém casados" no vidro,tudo bem,fui longe de mais com a minha ironia e é óbvio que isso realmente não aconteceu,pois para chegarmos até a festa que nossas mães fizeram questão de promover usamos um carro simples,bastante comum até.

O problema foi o caminho até lá.O caminho até a festa foi um tanto constrangedor,fizeram questão de colocar eu e Guilherme no mesmo carro,afinal "estávamos casados e tínhamos que aprender a nos relacionar" foi o que a minha mãe disse assim que pensei em reclamar. Não trocamos uma palavra sequer até o carro estacionar a frente de um imenso jardim repleto de luzes e daquelas mesmas pessoas desconhecidas que vi mais cedo na igreja.

_Conhece essa gente? -Sussurrei para Guilherme enquanto por educação ele me ajudava a sair de dentro do carro.

Ele pareceu olhar em volta e dar uma rápida analisada nas primeiras pessoas que avistávamos na entrada e respondeu a minha pergunta balançando negativamente sua cabeça enquanto passava sua mão pelos cabelos.

Assim que atravessamos o portão de entrada todos presentes pararam apenas para nos observar.Abaixei minha cabeça rápido apertando os olhos,eu odiava ser o centro das atenções,odiava ser o assunto mais comentado.Tudo bem que era o meu casamento,mas eu simplesmente queria ser esquecida por um instante,apenas um instante.

Aqueles sapatos pareciam esmagar meus pés,não duvido que amanhã eles amanheçam cheio de bolhas. Assim que pensei em me sentar senti as mãos macias de Claire puxarem delicadamente meu braço. Ela estava com uma cara abatida,parecia muito estar chorando. 

_Ta tudo bem? -perguntei preocupada ao ver sua expressão.

_Precisamos conversar! -pediu com uma voz rouca que denunciava seu choro.

_Ta...Claro! -respondi a acompanhando para um lugar mais silencioso onde poderíamos conversar a sós.

Ela dava passadas rápidas,parecia estar impaciente e até mesmo preocupada,o que me deixava totalmente desesperada.Claire era meu porto seguro não me imagino vivendo sem seu carinho ou compreensão.

Assim que nos afastamos o bastante para conseguirmos nos ouvir Claire sentou-se no primeiro banco que viu,me aproximei lentamente ja conseguindo ver seus olhos marejados. 

_Claire,qual é o problema? -perguntei sem desviar meus olhos do seus,que insistiam em fitar seus pés.

_Manu,você vai precisar me entender,promete que vai tentar? -perguntou agora segurando minhas mãos.

_Vou fazer o possível!

Ela assentiu com um sorriso interno e suspirou alto antes de começar.

_Bom...Se lembra de uma vez,quando você tinha seus 14 anos e não queria de jeito nenhum ir a escola por causa daquele garoto insistia em te pertubar? -perguntou sorrindo pra ela mesma com a lembrança.

Assenti rápido sorrindo junto com ela.


Naquele dia Claire havia me acobertado da minha minha mãe para que eu conseguisse escapar de ir a escola.Acabou que nós duas passamos toda a tarde em um parquinho no centro de Genóvia conversando.Voltamos apenas no final da tarde quando o meu periodo de aula passara,minha mãe sequer desconfiou da nossa pequena aventura de matar aula.


_Se lembra do que eu te disse naquela tarde? -perguntou me fitando atentamente.


_Que era pra eu dar um socão no nariz dele? -perguntei retirando uma gargalhada de Claire.


_Não sua boba! -disse após suas risadas cessarem. _Se lembra? Foi naquela tarde que eu lhe contei sobre minha...minha...


_Sua filha? -perguntei calma tentando esconder a pontada de ciúme que me bateu. Não sei se aquele sentimento era bem ciúme,podia ser até inveja,sempre quis uma mãe como a Claire,acho que pra mim ela ja era minha mãe,não biológica,mas sim de coração e assim sempre seria.

_É,minha filha! -disse parecendo escolher suas palavras. _Agora enquanto estávamos a caminho daqui recebi um telefonema de minha mãe -sua voz ja mudava,ela parecia tensa.  _Ela ligou para me informar sobre o...o... -Claire não conseguia pronunciar as lágrimas passaram a transbordar de seus olhos, o que me deixava ainda mais preocupada.

_Fala Claire -quase gritei,aquele suspense estava acabando comigo.


_Tudo bem,calma. -pediu recuperando a respiração que a essa altura estava totalmente descompassada. _A um tempo atrás,Catarina -sua filha- arrumou um namorado,ele não era...vamos dizer,um cara legal,vivia fazendo besteiras e dirigindo ilegalmente pelas ruas da cidade,tem um tempo ja que venho a aconselhando a ter mais juízo e ela sempre me prometia mudar... -Claire parou exatamente nesse ponto onde as lágrimas impediam que ela falasse.

Sem saber o que fazer ao certo,a única coisa que veio a minha cabeça foi abraçá-la,eu ainda não tinha consciência do que acontecera com a garota mas Claire estava mal e certamente precisava de mim agora. Sequei as lágrimas que insistiam em despencar do seu rosto esperando que ela se acalmasse para prosseguir com a historia.

_Então,des...desde que ela prometera a mim que iria mudar e tentar se afastar desse garoto,não consegui muito contato com ela,pois era o seu casamento e você também precisava de mim e como ela me disse que ficaria bem,resolvi dar um pouco mais de atenção a você -disse entre alguns soluços. _Mas ela não fez nada do que me prometeu,continuou a sair com esse garoto e agora minha mãe acabou de me ligar dizendo que ela sofreu um acidente grave de carro,seu namorado acabou falecendo mais ela está em coma profundo... -Claire despencou todas as palavras de uma só vez me fazendo ficar perplexa.Suas lágrimas passaram a cair novamente e eu apenas a abracei novamente tentando a confortar com algumas palavras,mas era óbvio que apenas minhas palavras não seriam o suficiente para que ela se sentisse melhor.  


Senti meus olhos marejarem com a atitude que eu estava prestes a tomar,pois parte disso era culpa minha também,Claire se dedicou totalmente a mim e eu seria muito egoísta se a impedisse agora,é claro que eu a queria comigo,eu estava passando por um momento difícil em minha vida e precisava dela,mas eu tinha que entender que por mais que doesse ela não era a minha mãe e alguém nesse momento precisava mais dela do que eu.


_Claire! -sussurrei me livrando delicadamente de seus braços. 

Ela apenas me olhou com a orbes azuis totalmente marejadas,parecia que ele implorava pra mim que eu a cedesse,era sua filha.


_Eu...Eu quero que você vá! -disse rápida não segurando minhas lágrimas que manchavam levemente meu rosto devido a maquiagem.


_Mas...


_Claire,ela precisa de você mais do que eu... Prometo que ficarei bem!


_Tem certeza? -perguntou receosa.

_Absoluta! -tentei um sorriso para que ela ficasse mais tranquila. _Só quero uma coisa! -pedi. 


_Qualquer coisa meu anjo! -sorriu fraco ainda me fitando.


_Promete que não vai me esquecer? Promete que vai me ligar pra dar noticias e que volta logo? -pedi quase suplicando,se fosse preciso eu ficaria de joelhos para ter certeza que minha Mãe voltaria. 

_Nunca te esqueceria -sorriu fraco acariciando meu rosto. _Prometo te ligar todos os dias e voltarei assim que Caty estiver melhor combinado? -perguntou ainda com as mãos sobre meu rosto.


Assenti acariciando suas mãos sobre meu rosto,eu realmente sentiria falta do seu toque e colo para me acolher.

Claire beijou o alto da minha testa e se despediu rápido com um confortavel a carinhoso abraço,ela precisava partir o quanto antes,sua filha precisava dela.

Fiquei alguns minutos ali sentada naquele banco avistando Claire se afastar rápido, apertei meus olhos assim que a vi sumir entre a escuridão daquela linda noite que havia se tornado totalmente desastrosa. Fiquei longos minutos assim sentada no pequeno banco abraçada as minhas pernas tentando esquecer o quanto a vida estava sendo injusta comigo. 

_Manoela? -uma voz surgiu no vazio me fazendo secar rápido as lágrimas que escorriam pelos meus olhos. _Manoela? -a voz masculina gritou mais uma vez dessa vez mais perto. Eu ja podia ver Guilherme correr em minha direção meio desajeitado dentro daquele terno,soava até meio engraçado,mas não me faria rir em um momento como esse. 


_Sabia que estão todos a sua procura? -perguntou sentando-se ao meu lado. _Er...ta chorando? -perguntou levantando meu rosto. _Eu sabia que se casar comigo seria uma tortura,mas não a ponto de se descabelar de tanto chorar -brincou na tentativa de me ver sorrir. 


_Na verdade não é só esse o motivo! -sussurrei


_Hm...Não? E qual é o outro? -perguntou


Fiquei em silêncio alguns segundos,não queria mais falar sobre aquilo,iria tentar viver sem Claire ao meu lado.


_Deixa pra lá -sussurrei _É melhor irmos,estão nos procurando não é mesmo? -perguntei enquanto ajeitava meu vestido ja de pé.


_Tudo bem,é melhor irmos mesmo! -sorriu.


Por mais que Guilherme tentasse me animar eu conseguia ver o quanto ele também estava decepcionado com isso,era como se uma parte de sua vida tivesse sido excluída por minha culpa,ou melhor dos meus pais. 


Caminhamos em silêncio até estarmos entre todas aquelas pessoas novamente,na primeira oportunidade minha mãe me deu uma baita bronca por ter sumido assim de repente. Não duvido que ela tivesse pensado que eu havia fugido,mas vamos concordar que seria burrice fugir depois de me casar não é mesmo?

Encaramos todo aquela festa terrivelmente tediante sentados um ao lado do outro,toda hora Guilherme arrumava uma desculpa pra reclamar. Reclamou na hora da valsa quando dei algumas pisadas em seu pé,reclamou da comida porque ele não gostava de maracujá e a maioria dos doces continham algo relacionado com maracujá,conseguiu reclamar de tudo,estava parecendo aqueles velhos rabugentos anti sociais que não gostavam de pessoas e seu prazer é reclamar para irritar alguém. 

_Cara o que mais você não gosta nessa festa? -perguntei aparentemente irritada ja com o ouvido latejando de ouvir tanta reclamação.


_Dessa sua cara de brava! -respondeu rápido _Deveria ficar pelo menos aparentemente feliz,como eu estou tentando fazer -murmurou cruzando os braços como uma criança mimada.


_Ok,assim está bom para você? -perguntei forçando um sorriso totalmente artificial fazendo com que ele caísse na gargalhada. 


A mais que ótimo me arrumaram um marido retardado,mereço algo mais?

Ficamos nesse papo tediante por quase 3 horas até todo aquele povo resolver seguir seu rumo e ir embora. Só quando o último convidado foi embora é que fomos liberados para irmos para a nossa nova casa,agradeci mentalmente por isso meus pés daqui a um instante criariam vida e me xingariam durante uma semana por ter que submetê-los a aqueles sapatos terrivelmente desconfortaveis.

Guilherme apalpou os bolsos do terno assim que saímos até o estacionamento em busca das chaves do seu carro. O caminho até a nossa nova casa que eu sequer sabia aonde era foi totalmente silencioso,trocamos algumas palavras apenas quando o idiota se perdeu e tivemos que consultar o mapa que seu pai havia lhe entregado,pois ele também não sabia aonde era. 

{...}

_É...é aqui? -perguntei boquiaberta enquanto fitava a imensa casa a nossa frente.


_Bom no mapa está dizendo que é! -respondeu também fascinado pela beleza da casa. 


_Ta com a chave? -perguntei alguns minutos depois.


_Ta no carro,espera vou buscar -disse correndo até o veiculo estacionado na garagem da casa onde cabiam no mínimo uns cinco carros.