O loiro, bem vestido em seu terno de sempre, invadiu a sala de sua responsável antes mesmo que ela chegasse. Não seria correto chamá-la de chefe, pois ele não era um policial, era apenas um consultor. Mas sempre que causava algum problema, era ela quem arcava com a responsabilidade e conseqüências, portanto, era basicamente sua responsável.
    Sentou-se a mesa, relendo o jornal que o deixara tão irritado e o fizera ir até lá. Já era de costume que ele entrasse onde bem entendesse sem permissão, mas geralmente tudo fazia parte de um grande plano que somente seu cérebro conseguia processar.
Porém desta vez era diferente... Ele havia sido pego de surpresa.
      Estava realmente irritado e ansioso. Uma combinação rara de sua parte, afinal, sempre deu a entender que estava um passo a frente de todos e por isso esbanjava tranqüilidade e, muitas vezes, deboche.
      - Jane! O que está fazendo aqui? – Ela falou, parada na porta inconformada, em tom de repreensão. – Sai daí agora.
      - Bom dia, Lisbon. – Ele respondeu abrindo o sorriso de sempre. – Como está?
      - Nada bem. Acabei de levar ma bronca do procurador por sua causa e ainda chego aqui e te encontro invadindo meu escritório. – Respondeu levemente irritada, mas era uma pessoa controlada. Bom, na maior parte do tempo... Forçou-se a respirar fundo e se acalmar, perguntando em seguida: - E você? Como está?
       - Tão mal quanto você. Ou pior. – Ele respondeu, logo fechando a cara e colocando o jornal sobre a mesa. – Dê uma olhada nisso.
       - Jane, não tenho tempo pra suas brincadeiras, ta? - Lisbon empurrou o jornal com a mão, sem fazer caso. – Graças a uma delas, o procurador está furioso e ameaçando me demitir.
       - O Red John atacou de novo. – Patrick respondeu seriamente, colocando novamente o jornal na frente de Lisbon.
       - Olha, Jane, mesmo que ele tenha atacado, não é mais nosso caso. Estou de mãos atadas, ok?
       - Claro que não é mais nosso caso. – Ele respondeu com aquele tom de quem sabia mais, mas preferia um pouco de suspense. – Foi na Flórida.
      - Flórida?! – Lisbon indagou exaltada e pegou o jornal para ler. – Mas isso é do outro lado do país!
      - Você sabe olhar um mapa, muito legal, Lisbon. – Respondeu cínico. – Mas vamos falar do que interessa.
      - Então é por isso que foi publicado no jornal. A CBI nunca fez e nem faria algo assim... – Lisbon continuou as obvias deduções, devorando a noticia com os olhos. – Será que eles não se tocam que isso só vai atrapalhar as investigações?
      - É por isso que eles precisam de alguém mais experiente nesse caso. Como eu, por exemplo...
      - O que quer dizer com isso, Jane? – Lisbon arqueou as sobrancelhas sem acreditar no que estava ouvindo.
      - Achei que tinha deixado implícito, mas já que você perguntou. – Jane pigarreou antes de anunciar. – Vou me transferir para a policia de Miami, que é a nova encarregada do caso.
      - Você só pode estar brincando! – Era difícil de acreditar que depois de ter que agüentar e limpar todas as bagunças e inconseqüências dele, ele ia simplesmente se transferir. Depois de brigar diversas vezes com o procurador para mantê-lo, depois de ter o emprego ameaçado, depois de defender veemente a utilidade de Jane na CBI... Ele ia simplesmente abandoná-los.
    - Francamente, Lisbon, você sabe que a única coisa que me colocou aqui foi a minha vingança contra o Red John. Desde o inicio você está a par da situação.
      - Eu sei, eu sei. – Ela afundou a cabeça entre as mãos, parando para pensar. – Presumo que queira que eu fale com a Hightower. Ver se ela conhece alguém da policia de Miami, não é?
     - Ia me ajudar muito. Sabe que a Hightower não vai muito com a minha cara.
     - E com motivo. – Ela respondeu rapidamente. – Mas por que justamente a policia de Miami?
       - Ao que parece, eles acabaram de encerrar dois grandes casos de serial killers. – Comentou como se não fosse grande coisa. – Eu não concordo com o fechamento deles. Acho que pegaram o cara errado, mas os assassinatos pararam, então, quem se importa? Quem sabe se eu conseguir ser consultor deles, eu possa dar um toque sobre isso, não é mesmo?
      - Já ta achando que resolve casos a distancia? Por que não vira consultor por telefone? – Contra atacou irritada.
      - Por que toda essa irritação, Lisbon? Eu ia justamente oferecer a chance de vir comigo para Miami! – Jane abriu os braços sorrindo, como um grande convite. – Sabe melhor do que ninguém que só você consegue me manter na linha.
      - Está puxando meu saco pra conseguir a transferência? Não faz o seu estilo.
      - Não, eu realmente gostaria que fosse comigo. – Ele respondeu sorrindo. – Na verdade gostaria que Cho, Rigsby e Van Pelt também fossem, mas seria egoísmo meu pedir. Eles têm uma vida aqui na Califórnia.
      - E eu não tenho? – Lisbon indagou ofendida.
      - Vamos encarar os fatos, Lisbon. Você, depois de mim, é a mais solitária da equipe. Não fala com a sua família, não tem namorado nem amigos próximos... Basicamente vive pro trabalho. E acredite, lá vai ter trabalho de sobra pra você se concentrar.
     - E o que te faz pensar que eu vou querer ir com você pra Miami?
      - Você se importa comigo. Tem medo que, se o Red John for pego, eu o mate e vá para prisão. Você sempre teve receio disso, Lisbon, não adianta negar.
    - Talvez, mas... – Ela parou e tentou pensar em algum argumento convincente. Sem muito sucesso, falou logo o que veio a cabeça. – Eu mal consigo te controlar em casos pequenos, imagine quando você topar com o Red John. Nem pensar, não me meto nisso... Pode ser que lá em Miami você arranje alguém que consiga dar um jeito nos seus atos impulsivos e impensados.
      - Então concorda com a minha transferência?
      - Tenho que concordar. Até parece que você ia desistir facilmente. – Lisbon suspirou e deu de ombros. – Mas já vou logo avisando: você vai sozinho.
      - É o que veremos. – Jane abriu um grande sorriso, pegou o jornal e saiu da com uma vitória garantida. Ele ia pra Miami.
       Agora, só faltava convencer Lisbon a ir com ele.