A chuva não parava.
O frio era intenso, e mesmo com o como o sobretudo que usava, ainda me sentia congelando, e ensopado. Contrariando todo o bom senso, seguia rumo a praça principal.
O lugar que eu mais gostava.

As árvores, os animais que viviam ali, pessoas sorrindo e brincando juntas.
Aprendi que as coisas mais simples, são as mais bonitas e importantes.
Assim como seu sorriso é para mim.

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Olhei para o céu escuro desanimada.
A tempestade parecia não querer ir embora tão cedo.

"Se ao mesmo eu tivesse pensado em trazer um guarda-chuva..."- pensei enquanto chutavam as pedras no caminho.

Sempre fui muito distraída, e mesmo depois de tantos anos continuava a ser uma criança por dentro.
Enquanto você era completamente maduro e responsável.
Você conseguia ver as respostas para problemas, que aos meus olhos não tinham solução.

Olhei para o céu mais uma vez, e decidi seguir para a praça.
Eu sabia que ali, havia uma pequena cabana abandonada, que as crianças usavam para brincar.
Poderia ficar ali enquanto a chuva não passava.

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Fechei mais a gola do sobretudo, e apertei o passo. Nunca uma rua me pareceu tão comprida.
Nem mesmo as longas escadarias da casa de banhos de Yubaba. Até porque, eu quase nunca precisei usá-las. Já que usava minha antiga forma dragão para transitar pela região.
Mesmo que não fosse uma forma tão discreta quanto essa, seria bem útil, já que as escamas não me permitiam sentir frio.

Olhei para ambos os lados. O lugar estava deserto. Fechei os olhos e me concentrei.
Meu corpo começou a mudar. As mãos se tornaram patas, assim como os pés. Meu rosto mudou de forma, e toda a minha pele foi coberta por escamas.Em poucos segundos me tornei o dragão do rio Kohaku.

Mesmo com aquela aparência, minha consciência continuava humana. No começo, Yubaba controlava minhas transformações como queria, além de monitorar todos os meus passos. Até meus pensamentos não me pertenciam. Mas tudo mudou depois que aquela menininha chegou. Uma simples humana, muito mais forte que qualquer feiticeira. Você quebrou o feitiço que me aprisionava, e me colocou em um outro que jamais poderei me libertar.

Me apaixonei por você.

Levantei vôo, serpenteando pelo céu chuvoso.
Mesmo com água intensa que caia do céu, comecei a sentir um cheiro familiar.
Algo que eu não esqueceria nem em um milhão de anos.
O seu cheiro.
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Comecei a correr. Meu tênis estava encharcado e cheio de lama, mas não diminui o ritmo.
Os relâmpagos cruzam o céu, e pareciam que iriam cair ao meu lado a qualquer momento.
Podia sentir meu coração acelerado pelo medo... Sentimento que há muito tempo não sentia.

Respirei fundo. Era quase como se sua voz sussurrasse na minha cabeça algo como:"Procure ficar calma". A mesma coisa que você tinha me dito, quando meu mundo paraceia ter desmoronado.
A cada passo que dava, minha lembranças ficavam mais nítidas. Podia me lembrar da casa de banhos, do trem e da bondosa Zeniba... Ah! Sem esquecer é claro do "simpático" Sem-face.
Podia visualizar o tom verde-azulado dos seus olhos, e seu sorriso perfeito e sereno.
Traços que o tempo, havia apagado da minha mente.

Sorri por entre as gotas de chuva. Não importava o que acontecesse comigo dali em diante.
Agora eu podia me lembrar de você, e estava feliz.

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Não havia dúvidas: Você estava perto. Muito perto. O problema era a direção que você estava indo.
Do alto, tentei procurá-la com os olhos, mas nem mesmo minha visão de dragão conseguia te achar  entre todas aquelas árvores.

"Sempre atrapalhada, não é Chihiro?"-pensei nervoso.

Não havia  jeito, a não ser confiar no meu olfato, coisa que não fazia há muito tempo.
Quando tive certeza que seguia o rastro certo, desci, voando rasamente.
Os galos das árvores batiam nas minhas escamas. Os mais fracos se partiam, mas os outros perfuravam a barreira fazendo rasgos na minha pele.
Não podia parar. Não agora que estava tão perto.

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Já não conseguia enxergar mais nada, e minhas pernas doíam.
Não sabia para onde estava indo, mas precisa encontrar um abrigo rápido. O parque era quase um bosque, e os relâmpagos não paravam de rasgar o céu.
Continuei correndo em frente. Em algum momento, eu acreditava que encontraria ou a saída ou a cabana desse lugar.

Puxei o capuz ensopado do casco para a cabeça e apertei mais o passo....e acabei pisando em falso.
Meu pé escorregou pela terra encharcada, e eu desabei pela ladeira. Tentei me proteger  com as mãos, enquanto rolava sem parar, boa parte do impacto foi amortecido pela grama, mas não deixou de ser muito doloroso.

Depois de segundos que me pareceram intermináveis, meu corpo bateu num estalo sobre as águas.
Um rio.
E eu não sabia nadar.

Balancei meus braços e pernas tentando parar de afundar, mas acontecia justamente o contrário.
Podia sentir o ar acabando nos meus pulmões, e meu corpo ficando sem forças.
Estava me afogando.

Meus olhos foram perdendo o foco, e eu tive certeza que aquele ali seria meu fim. Deixei que minha pálpebras fechassem. No meu monto de delírio, pude ver seu rosto como mesmo brilho de antes. Um sorriso sereno estava em seu rosto.

Você abriu os braços, e eu fiz o mesmo, mas antes que pudéssemos nos tocar ouvi sua voz gritando:

“Chihiro! Chihiro!”

Mas você não mexeu os lábios uma única vez.
A voz continuou me chamando, e eu podia sentira algo apertando meu peito.
Algo que me tirava dali. Mas eu não queria voltar.
Não quando você estava ali, tão perto de mim.

-Kohaku!-tentei chamá-lo mas era como se minha voz não saísse.


A imagem foi desaparecendo, para meu desespero.
A pressão no meu peito continuava, e eu podia sentir a água saindo de dentro de mim.

-Chihiro.

Abri os olhos lentamente e vi você ali na minha frente.
Não estava mais com um sorriso no rosto, ou vestia as roupas da casa de banhos.
Estava com um olhar preocupado, com os cabelos negros encharcados, grudados no rosto.
E nunca esteve tão lindo para mim....

-Eu estou morta?- perguntei a primeira coisa que me veio a cabeça, e não reconheci minha própria voz.

Você abriu um sorriso, e balançou a cabeça negando. Eu sorri junto, apesar de meu sorriso provavelmente deve ter parecido mais com uma careta.
Você passou a mão em meu rosto gelado, com uma mistura de ternura e felicidade.

-Finalmente eu te encontrei...

- ...E descobri que você é real.- sussurrei.

Me apoiando no braços, tentei me levantar, mas você me segurou antes que eu pudesse fazer qualquer coisa.

-Não se esforce.

Então, me segurou nos braços com facilidade. Pude sentir meu rosto corando, mas eu nunca estive tão feliz.
Com passos rápidos, chegamos na cabana,  que por sinal, estava bem perto.
Só que no desespero, ao invés de dar a volta, eu acabei caindo pela ladeira.

A porta foi aberta com um leve empurrão, e ficamos ali para nos proteger da chuva e do frio.
E continuamos abraçados, para nos proteger de todo o sofrimento e de toda a solidão, que nossos corações enfrentaram separados.


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E desde de então isso não mudou.
Não há tempestade que possa nos separar.
Esse amor fatal como um veneno, dominou nossos corações, e não há mais volta.

Assim como precisa de trevas para poder se enxergar a luz.
Não existe um sem o outro.
O que deveria ser ódio se transforma em amor.
Tão diferentes, com vidas totalmente opostas.
Você era como uma doce primavera, e eu um solitário inverno.

Nos mudamos o destino, e sacrificamos nossas vidas.
E agora seguimos juntos rumo a um futuro incerto.
Mas tendo ao meu lado novamente, as chamas vivas de seus olhos.
Não tenho medo de mais nada.

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                                           October and April (Tradução)
                                            The Ramus feat. Anette Olzon

                  Ela era como os céus de abril, o nascer do sol em seus olhos
                    Criança da luz, estrela reluzente, fogo em seu coração.
                     O dia mais claro, derretendo a neve, rompendo o frio.
                                                 Outubro e Abril

                      Ele era como o céu gélido em uma noite de Outubro.  
  A nuvem mais densa, tempestade interminável que chovia em seu coração
                    O mês mais frio, puro frescor, derrubando a primavera
                                                Outubro e Abril

                                             Como ódio e amor.
                                            Distantes do mundo
                   Esse amor fatal, foi como um veneno desde o princípio
                                             Como luz e trevas
                                            Distantes do mundo
                       Esse amor fatal, foi como veneno desde o princípio
                                               Outubro e abril

                                   Nós eramos como armas carregadas
                                          Sacrificamos nossas vidas
                                  Nós eramos como um amor inacabado
                                      Com o desejo de se entrelaçar.
                                                     Toque fatal
                                                    Sensação fatal
                                            Amor destinado à matar
                                                  Outubro e Abril