Just Harry escrita por The Escapist


Capítulo 1
Capítulo 1




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— Eu não quero ir! — Harry bateu o pé e encarou o pai fazendo a sua melhor expressão de decidido e adulto o bastante para resolver sozinho onde queria passar suas férias. Não adiantou nada. O pai nem sequer levantou os olhos do jornal que lia quando falou com o filho.

— É melhor ir logo arrumar suas coisas.

Harry bufou, mechas de seus espessos cabelos pretos caíram no rosto, ele afastou-os com as mãos; pediu socorro nos olhos da mãe que descia a escada e trazia um de seus sorrisos mais carinhosos no rosto.

— Mamãe?

— O que foi, querido?

— Você não acha que seria melhor se você e o papai viajassem sozinhos?

— Que ideia, Harry! Nós adoramos ficar com você. Arrume suas coisas e não esqueça de colocar agasalhos na mala.

Harry sentiu-se desarmado, claro que a sua mãe sabia o que dizer, e o que ele poderia responder, que não gostava de ficar com os pais, obviamente não era o caso. Amava os pais, mas queria poder passar o verão com os amigos curtindo uma praia ao invés de passear de carro pela Escócia, aquilo era programa para velho. Mas os Potter cumpriam à risca os costumes de família e desde que Harry era criança eles passavam o verão juntos, dessa vez não seria diferente.

— Não importa o quanto você bata o pé! — disse Tiago, o pai de Harry, com um jeito quase divertido que irritou ainda mais o filho.

Harry subiu a escada e bateu a porta do quarto; deitou de costas na cama, derrotado. Já tinha tentado todas as artimanhas para se livrar da viagem, e nada funcionava. Ele teria mesmo que passar mais um verão sozinho com os pais fazendo coisas chatas. Achava que passear com os pais era legal e tudo, quando ele tinha sete anos e não sabia andar de bicicleta direito, era bom ter a mãe por perto para abraçá-lo e soprar o joelho quando ele caía, dando-lhe beijinhos e dizendo que tudo ficaria bem.

Mas aos 16 anos e dono de uma Ferrari era preferível ter uma namorada.

Harry ouviu o telefone tocar e não sentiu disposição para atender, embora soubesse que era o seu melhor amigo. Esperou que eu desistisse, mas o aparelho continuava tocando. Ele se virou na cama e pegou o celular. “Ron chamando”, a mensagem brilhava no visor de LCD, Harry apertou o botão de atender.

— Fala, cara.

— E aí, falou com seus pais? — A voz do amigo ao telefone estava tão animada que Harry não conseguiu não ficar com um pouco de inveja de Ron.

— Ah, sim.

— E então? — Ron perguntou com ansiedade.

— Sem negociação, eu tenho que ir para a Escócia.

— Que pena, cara, pena mesmo; então a gente só vai se ver de novo quando voltarmos para a escola?

— Acho que sim.

— Nesse caso, boas férias, Harry.

— Eh, boas férias, Ron, a gente se vê.

— E, Harry, não se preocupe, eu te conto tudo quando voltar da Califórnia.

— Obrigado, Ronald. — Harry desligou o telefone e por um instante ficou pensando em como a sua vida era ruim; seu amigo Ronald Weasley que nunca teria nem um terço do dinheiro que ele tinha, poderia fazer o que quisesse, inclusive viajar para a praia nas férias, enquanto o próprio Harry só podia fazer o que os pais permitiam, e havia muita coisa que seus pais não permitiam!

Muitas vezes o que Harry mais queria era ter uma vida normal e ser como qualquer garoto de dezesseis anos, mas ele sabia que sempre seria Harry Potter, filho de Lilian e Tiago Potter, herdeiro de uma das maiores fortunas do mundo, o garoto mais rico da Inglaterra e etc.

Mesmo com todas as recomendações ele não arrumou as coisas para a viagem; já estava quase na hora e ele preferiu deixar que o mordomo da casa fizesse essa tarefa, de qualquer forma Sirius saberia melhor que ele mesmo o que deveria levar nessa mala. Harry desceu a escada, seu pai estava na sala conversando com mais um dos seus empregados. Embora aquele talvez fosse o mais importante, pois era o braço direito de Tiago na companhia, Harry o considerava menos que qualquer outro.

— Olá, Harry — o homem loiro de olhos azuis acinzentados cumprimentou o garoto com um sorriso cordial, que Harry achou muito falso e respondeu torcendo a cara.

— Onde estão os seus modos, rapazinho? — Harry se esparramou na cadeira perto da lareira, detestando que o pai falasse com ele como criança e ainda por cima na frente daquele idiota.

Tiago estava assinando documentos, quando a esposa desceu as escadas, seguida por Sirius, que trazia as malas.

— Estamos prontos — disse Lilian. — Bom dia, Tom.

— Bom dia, senhora Potter — Tom respondeu inclinando a cabeça com respeito.

— Podemos ir, Tiago? — Lilian perguntou, um pouco impaciente.

Tiago não notou, ou fingiu não notar a impaciência da esposa e continuou concentrado nos documentos.

— Só um minuto, querida. Pode levar essas malas para o carro, Sirius.

— Sim, senhor.

O minuto de Tiago se transformou em meia hora durante a qual ficou falando sobre os negócios com o Tom; Harry não entendia por que o pai largava o trabalho se aparentemente era muito difícil para ele deixar tudo nas mãos do puxa-saco do Tom Riddle.

— Bem, então vamos embora — Tiago falou, animado, como se ignorasse a cara irritada de Lilian e o tédio de Harry. — Divirta-se com o trabalho, Tom, e me avise se qualquer coisa acontecer.

— Não ouse telefonar para o meu marido, Tom. — Riddle sorriu.

— Não se preocupe, madame, e senhor, fique tranquilo tudo vai correr perfeitamente bem durante a sua ausência. Aproveite bem as suas férias, o senhor merece. — Que puxa saco infeliz, pensou Harry. — Boa viagem, Sra. Potter — acrescentou, beijando a mão de Lilian.

— Obrigada, Tom.

— Boa viagem, Harry.

— Abana o rabinho, Riddle. — Harry recusou a mão que Tom lhe oferecia e foi para o carro, botou os fones no ouvido e ligou o Ipod.

— Você poderia ser mais gentil com o Tom, ele gosta de você — disse Lilian quando entrou no carro; Harry não respondeu. — Não finja que não me escuta, Harry. — Mas o garoto continuou não dando atenção. Tiago entrou no carro e colocou o cinto de segurança.

— Apertem os cintos, pessoal! — Harry balançou a cabeça, achando ridícula e um pouco forçada a animação de Tiago.

A primeira hora de viagem pareceu eterna, e o desânimo de Harry só aumentava cada vez que verificava quando tempo ainda faltava para chegarem à Escócia. Tiago e Lilian conversavam, relembrando as várias viagens que já haviam feito, e Harry já não conseguia ficar indiferente, embora irritado, não poderia negar que sentia orgulho dos pais e da família, só não precisava deixar que eles soubessem. Ele sorriu sozinho ao pensar nisso, e a viagem acabou se tornando mais agradável.

Depois que pararam para almoçar — e Harry achava realmente hilário, sua mãe com toda elegância que lhe era peculiar, comendo num restaurante na beira da estrada! Tiago deixou que o filho dirigisse um pouco. Amante da velocidade, Harry não deixava o ponteiro do velocímetro baixar dos cento e vinte quilômetros por hora, mesmo sob os protestos dos pais.

Já era noite quando chegaram ao hotel; o local escolhido para as férias dos Potter foi um pequeno vilarejo no sul da Escócia, um lugar bucólico e tranquilo, que lembrava a época das lendas arthurianas. O hotel onde se hospedaram já fora um castelo, e ainda conservava os traços da era medieval.

Harry atirou-se na cama exausto, a viagem tinha sido cansativa, e ele recusou até mesmo o jantar; a única coisa que queria era dormir.

Quando acordou na manhã seguinte a claridade invadia o quarto luxuoso; ele se espreguiçou, satisfeito por não ter o incômodo compromisso de ir para a escola. Se virou na cama e cobriu o rosto com a almofada para dormir um pouco mais. Quando voltou a abrir os olhos, vinte minutos depois, encontrou um farto café da manhã servido. Só ao ver a comida Harry se deu conta de que seu estomago roncava; comeu com apetite, e depois de se trocar, encontrou os pais.

— Quem são vocês, e o que fizeram com os meus pais? — Harry brincou, olhando para as roupas esportivas que Tiago e Lilian usavam, era quase estranho ver o pai sem terno e gravata, e a mãe sem salto alto.

Lilian apertou a bochecha do filho e tirou uma foto de Harry com a câmera digital; depois a família foi conhecer o castelo. Harry ouvia entediado o guia falar sobre a história da construção, da nobreza da família que o habitava, da riqueza e do luxo que havia em toda mobília, e blábláblá. Harry pensou que ele parecia mais um corretor de imóveis.

— Afinal, a gente vai comprar esse castelo? — resmungou e Tiago riu.

— Até que não seria uma má ideia. O que você acha?

— Acho que vou vomitar.

— Tenta se divertir um pouco, querido.

— Estou tentando, mãe, de verdade.

— Então vamos, ainda tem uns vinte e oito cômodos nesse castelo para a gente visitar.

— Eu já falei que preferia estar na praia?

— Algumas vezes, Harry. Desculpe seus pais por eles serem tão chatos e querer passar um pouco de tempo com você, está bem? — Tiago passou a mão na cabeça de Harry bagunçando seus cabelos, depois seguiu o tour pelo castelo, ao contrário do filho, demonstrando muito interesse em cada detalhe.

No dia seguinte houve um passeio a cavalo e visita ao vilarejo; só tinham passado dois dias e Harry não suportava mais, perguntava-se se seria capaz de aguentar passar o verão inteiro fazendo a mesma coisa todo dia. Um pouco de sensibilidade talvez não fizesse mal aos seus pais, pensava. Tudo bem que quisessem ficar juntos nas férias, mas por que não escolher um lugar mais animado? Malibu, Vegas ou Paris estaria ótimo. Aquele lugar era o fim do mundo, e não havia nem sequer alguém da sua idade para conversar.

Harry começou a achar que morreria de tédio logo, afinal, quais eram as chances de acontecer alguma coisa naquele castelo?

— Nós vamos dar uma volta na vila, você não quer ir? — Lilian perguntou. Harry estava deitado na cama, de sapatos, com os fones no ouvido e meio que ignorou a presença da mãe. — Harry? — O garoto puxou os fones, irritado. — Nós vamos à vila, você vem?

— Não, obrigado.

— Por que não, Harry?

— Por que eu acho mais divertido ficar aqui olhando para o teto. — Lilian balançou a cabeça.

— Você deveria se divertir um pouco, querido, estamos aqui para isso — disse e sorriu, dando um beijo na testa de Harry. Ele achou que a mãe deveria levar o seu mal humor a sério. — Então, boa noite.

A única coisa que Harry tinha para fazer era passar as músicas no Ipod; se pelo menos tivesse levado o seu notebook, tivesse um vídeo game, ou alguma festa com música eletrônica. Isso não são férias, é um castigo, pensava. Ele saiu do quarto; o castelo estava quase vazio, alguns hóspedes tinham ido embora pela manhã, claro, não havia muito o que fazer ali por mais de três dias, as únicas pessoas que não entendiam isso eram seus pais!

Caminhando sozinho pelas alas do castelo, entretanto, acabou se interessando pelos objetos de decoração, era mais agradável ver tudo sem a voz empolgada do guia recitando as qualidades de cada coisa. Era interessante saber que ali tinha sido a morada de uma família.

Harry parou diante de um retrato a óleo de um rapaz; ele ficou olhando os olhos azuis na foto, tentando imaginar como teria sido a vida daquele garoto naquele castelo. Será que ele também se entediava por ser nobre e ter todas pessoas aos seus pés, e não poder fazer coisas divertidas e proibidas com os amigos? Será que algum dia aquele rapaz no retrato desejou morar na vila ao invés do castelo e ser noivo de uma camponesa? Harry riu consigo mesmo, definitivamente estava pirando!

Continuou observando as figuras das pessoas que viveram ali, quando começou a ouvir uma música, uma melodia familiar; ele parou e ficou escutando, em algum lugar daquele castelo alguém estava tocando A passionata, de Beethoven. Harry não era o que se pode chamar de amante da música clássica, mas antes de escolher o que tocaria no seu Ipod, sua mãe lhe criara ao som dos grandes mestres, e A passionata era sua música preferida.

Ele caminhou na direção do som e foi parar numa sala iluminada, que imaginou ter sido outrora algum salão de festas ou algo do tipo, pois era ampla e espaçosa; do teto pendia um lustre majestoso e nas grandes janelas havia cortinas de seda. No lado oposto da sala tinha um piano de cauda, e sentada, tocando, uma garota.

Harry ficou observando-a correr os dedos pelas teclas delicadamente. Era sem dúvida a garota mais linda que já tinha visto, mais linda até mesmo que sua namorada, Giny, que era a menina mais linda de toda a escola. Mas aquela que tocava piano tão bem, parecia um anjo, com seus cabelos loiros ondulados. Harry admirou o contorno perfeito do rosto da garota; ela parou de tocar de repente ao perceber a presença de Harry, assustando-se.

— Desculpe, eu, ahm... — Harry fez um esforço para que sua voz na saísse como a de um bobo. — Ahm, fui atraído pela música, não queria te assustar.

— Tudo bem. — A garota sorriu e Harry se sentiu quase hipnotizado pelo sorriso, deu alguns passos na direção dela para ver melhor seu rosto. Ela tinha as maçãs do rosto rosadas e os olhos da cor de mel.

— Você toca muito bem.

— Muito talvez seja exagero. — Ela voltou a sorrir de um jeito tímido.

— Você mora aqui? — Harry perguntou com a intenção de puxar assunto, mas pensando que essa talvez não fosse uma pergunta interessante.

— Ah, não, estou de férias.

— Eu também, eh, estou de férias.

— E você tem se divertido?

— Não muito — Harry falou meio sem pensar, por que na verdade estava olhando como um bobo para o sorriso discreto no rosto da garota.

— Eu sou Hermione Granger — disse ela, estendendo-lhe a mão. Harry pareceu demorar um segundo para responder ao cumprimento, apertou a mão delicada.

— Eu sou Harry.

— Harry...?

— Só Harry. — Hermione arqueou a sobrancelha e riu com o canto da boca.

— Ok, “só Harry”, e o que o senhor anda fazendo pelo castelo a essa hora da noite?

— Não está tão tarde assim, e eu só estava... andando... — Harry deu uma risadinha, estava mesmo agindo como bobo, ele queria falar com aquela garota, mas parecia se dar conta de que não levava nenhum jeito para isso, afinal, falar com garotas nunca foi o seu talento. — Você gosta de música?

— Eu faço aulas desde os dez anos, então, acho que posso dizer que sim. Você gosta?

— Eu toco guitarra, tento tocar guitarra, mas não sou muito talentoso, eu acho.

— Hum... — os dois se calaram e Harry só se deu conta que estava perdendo a chance de conversar com a menina quando ela voltou a lhe estender a mão. — Bom, foi um prazer conhecê-lo, “só Harry”.

— Onde você vai? Ahm, quer dizer, desculpe, eu não quis parecer grosseiro, eu, só...

— Você é engraçado, Harry! Eu vou dar uma volta, parece que a noite está bem bonita e eu já treinei bastante por hoje. — Hermione acenou um tchauzinho e saiu andando. Mais uma vez o cérebro de Harry demorou para raciocinar e ele teve que correr para acompanhá-la.

— Posso ir com você?

— Tudo bem — ela respondeu sem olhar de lado, Harry colocou as mãos nos bolsos e caminhou ao seu lado.

Quando saíram para o pátio do castelo se arrependeu de não ter vestido um casaco, o vento da noite estava gelado. Hermione, entretanto pareceu gostar de sentir o frio o rosto.

— Está frio aqui!

— Um pouco. — Harry sentiu as bochechas vermelhas, Hermione estava rindo dele, e com razão, onde já se viu falar do tempo com uma garota? Mas o que será que estava acontecendo com ele que não conseguia dizer nada sem parecer um idiota? Hermione agora olhava para o céu estrelado, com ar contemplativo, e Harry ficou observando seu rosto sereno, perfeito.

— São lindas, não são?

— Sim, muito — ele respondeu sem tirar os olhos da garota.

— Quando eu era criança queria ser astronauta para poder voar entre as estrelas. Engraçado não é?

— Uhum... eu queria ter um sabre de luz.

— Referência a Star Wars? — Harry assentiu, admirado, afinal, desde quando uma garota entendia referências a Star Wars? — Eu sempre admirei a Padmé.

— O que, você curte Star Wars?

— Ok, você pode correr agora. — Hermione deu uma risadinha.

— Bom, você toca piano e gosta de Star Wars, é um tanto quanto nerd, e assustador, mas eu já vi coisa pior.

— Sério?

— Pode acreditar.

Logo Harry descobriu que além de tocar piano e gostar de Star Wars, Hermione falava francês e italiano fluentemente, estudava alemão, adora animais e tem um ramster chamado Beau. Ele conversou com Hermione como há muito não fazia. Parecia que era a primeira vez em muito tempo que ele podia simplesmente falar sem se preocupar com o que ela ia pensar, porque, embora quisesse impressioná-la, precisava apenas ser ele mesmo. Ele foi, naquela noite, mas que em qualquer outro momento, era só Harry.

Quando Hermione lhe deu boa noite e se despediu com um beijo no rosto prometendo lhe encontrar no dia seguinte eles pareciam amigos de longa data. Harry demorou a dormir e já estava achando que a noite seria longa demais.

Quando acordou na manhã seguinte disse a si mesmo que aquilo tinha sido um sonho, é claro, afinal não era possível que num fim de mundo daqueles ele tivesse conhecido uma garota tão linda e incrível quanto Hermione, por isso ele não deveria se animar e pensar que suas férias estavam salvas! Desceu para tomar o café da manhã com os pais. Lilian e Tiago planejavam mais um passeio à cavalo naquela manhã e não deixaram ao filho outra alternativa senão aceitar o convite de ir junto.

Harry acabou tendo uma grata surpresa quando foi ao estábulo, já com a roupa de montar, buscar o cavalo.

— Então você é candidato a príncipe encantado? — A voz veio da baia vizinha e Hermione apareceu segurando as rédeas de um cavalo de pelo marrom; Harry riu, alisando a crina branca do próprio animal. — Thunder é um ótimo cavalo. Thunder é o nome dele — acrescentou.

— Você parece saber de tudo!

— Eu presto bastante atenção, além disso, meu tio trabalha aqui.

— Seu tio?

— É, ele é o guia, e conseguiu esse emprego de verão para mim, sabe, é útil e agradável passar as férias aqui. — Hermione montou no animal. — Vamos, Harry? — O garoto não pensou duas vezes; embora os pais estivessem lhe esperando, ele preferiu ir na direção oposta e cavalgar ao lado de Hermione.

Nos dias seguintes Harry se mostrou tão animado com as férias que Tiago e Lilian chegaram a cogitar a possibilidade do filho estar doente. Eles não entendiam o porquê do interesse repentino de Harry em ficar na Escócia, porque não o viam com Hermione, nem Harry contou, era como se quisesse guardá-la só para si, e “mostrá-la” aos pais estragaria tudo. Com certeza eles iam fazer pergunta e querer saber tudo sobre a família Granger até a 30ª geração. A maior surpresa para Lilian foi que Harry nem fez cara feia quando ela disse que queria vê-lo vestindo trajes de gala no jantar da próxima sexta. Harry sorriu, não por que teria que ir a um jantar chato, mas porque convidaria Hermione.

Na sexta, a manhã estava perfeita para o piquenique que tinham combinado; mesmo ansioso para ficar com Hermione, afinal era o último fim de semana no castelo, Harry acordou preguiçoso e quase desistiu de sair de baixo dos lençóis. Quando chegou ao jardim traseiro puxando Thunder pelas rédeas já encontrou Hermione de pé e muito animada. A garota estava radiante; usando bota e um casaco de veludo com capuz, tinha os cabelos presos em duas tranças.

— Bom dia, Harry! Você demorou.

— Eu não gosto de acordar cedo, desculpa.

— Tudo bem. Vamos?

— Sim, mas onde está a comida? — Mal acabou de falar, Harry viu a cesta atrelada aos arreios do cavalo de Hermione. — Você realmente pensa em tudo!

Os dois cavalgaram lado a lado, conversando, rindo e cantando. Quando estavam cerca de duas milhas distante do castelo escolheram o local para armarem o piquenique; no topo de uma colina, embaixo de uma árvore de onde tinham uma vista esplêndida dos campos verdes estendendo-se adiante.

— Quer dizer que você mora em Londres? — Harry falou em tom de continuação da conversa, enquanto estirava a toalha no chão.

— Eu vou morar em Londres, sabe, por causa do emprego do meu pai, ele foi transferido.

— Mas você não parece feliz com a mudança...

— Não é isso, é só, que eu tô um pouco ansiosa, quer dizer, mudar de escola no último ano, acho que vai ser complicado, você sabe, escola nova, pessoas diferentes, essas coisas.

— Eu bem que gostaria de ir para uma escola onde ninguém soubesse quem eu sou.

— Por que, Harry?

— Às vezes eu, sei lá, me canso das pessoas à minha volta, sabe, às vezes é como se eu estivesse sufocado.

— Ah, é, isso é normal.

— Você acha?

— O que?

— Que é normal, quer dizer, ficar perdido?

— Sim, muita gente passa por momentos assim.

— Você já se sentiu assim?

— Algumas vezes, mas sabe de uma coisa, Harry, o lance é ser você mesmo e dar valor as pessoas que realmente te amam. — Os dois sentaram, cada um de um lado da toalha; Hermione pegou uma uva e Harry pegou o telefone no bolso. — Ah, não, não, não, Harry! — Hermione falou, colocando as mãos na frente do rosto quando viu que Harry planejava tirar uma foto sua.

— Fica quieta, Hermione.

— Eu não gosto de fotos.

— Eu preciso de uma lembrança sua, senão vou acabar pensando que tudo foi um sonho. — Harry deu um sorriso zombeteiro, Hermione pegou uma uva e atirou no amigo no momento em que ele clicou e a fotografou, tentando se desviar da uva. — Ah, é guerra, é? — Harry jogou por sua vez uma uva que acertou a testa da garota.

— Ai! Harry! — Hermione continuou atirando comida em Harry sem lhe dar a chance de revidar. — Você não me pega! — disse, levantou-se e correu; Harry a seguiu; quando a alcançou, pegou no seu braço, Hermione tentou fugir mas ele a puxou para perto e abraçou-a.

— Te peguei. — O rosto de Hermione estava a pouquíssimos centímetros de Harry, e ele sentiu o coração acelerar. — Acho que vou te beijar.

— Posso não ser boa nisso — Hermione murmurou, seu coração também batia mais rápido, e ela teve medo que suas pernas cedessem quando sentiu o toque suave dos lábios de Harry nos seus.

Aquele beijo não mudou nada entre eles, só tornou o dia ainda mais agradável; Harry não se incomodaria de ficar ali abraçado à Hermione. Só quando voltavam para o castelo, ele lembrou do jantar de logo mais à noite.

— Hermione, você vai ao jantar hoje?

— Hum, eu não sei, é um jantar exclusivo para hóspedes.

— Bom, eu estou te convidando.

— Vou pensar.

— Vou te esperar. — Harry deu um beijo em seu rosto e saiu na direção do castelo, enquanto via-o se afastar, Hermione se perguntava se aquilo seria um sonho, afinal.

Harry terminou de se vestir e sentiu-se como um príncipe do século XVIII, muito desconfortável metido naquele smoking, ele só conseguia pensar em Hermione e naquele beijo e em como ele estava apaixonado por aquela garota.

Ele sabia que era uma coisa completamente insana, eles mal se conheciam, e na verdade ele não tinha sido completamente sincero com Hermione, não tinha lhe contado sobre Giny. Giny. Harry se deu conta de que era a primeira vez que pensava na namorada o verão inteiro, não tinha nem mesmo telefonado, mas ela entenderia, ou não, pensou, de qualquer forma, teria que terminar com Giny quando voltasse. Hermione ia se mudar para Londres e eles poderiam se encontrar e ficar juntos. Essa resolução animou Harry, e a despeito do desconforto com a roupa, ele seguiu para o salão, onde encontrou os pais que também estavam elegantemente vestidos, a exemplo dos outros hóspedes.

Harry adoraria entender o motivo daquele jantar cheio de pompa. Um casal que ele conhecia de Londres sentou junto com os Potter, e a conversa estava tão chata que Harry já pensava em fugir, mas sua ideia esbarrou no olhar firme de Lilian.

— Me deixa ir embora? — pediu fazendo uma cara de manha, queria ir procurar Hermione; sua mãe pareceu fazer de conta que não notou.

— Harry, por que você não conta aos Mason, aquela piada do japonês? — Tiago disse e Harry lançou um olhar furioso ao pai, ele estava obviamente fazendo o que ele mais detestava: bajulação recíproca era demais, e a vontade do garoto era mandar o Sr. Mason para um lugar bem longe da Escócia, mas sabia que se fosse grosso com os amigos da família os pais pegariam no seu pé pelo resto da vida.

Felizmente também foi salvo de ter que contar uma piada que com certeza o burro do Mason não entenderia; Hermione acabara de aparecer na porta do salão.

— Se vocês me dão licença, Sr. e Sra. Mason, eu vou falar com uma amiga, com licença. — Harry acenou para o casal Mason como um perfeito cavalheiro, se levantou da mesa e ainda ouviu a Sra. Mason parabenizar Lilian pelo filho incrível.

Harry não imaginou que fosse possível Hermione ficar ainda mais linda, mas ela conseguiu. Com um vestido rosa e os cabelos presos, ela sorriu timidamente quando ele lhe beijou a mão. Harry sentiu os olhos dos pais fixos nele, e sabia que teria que dar explicações depois, mas por hora preferiu sentar sozinho com Hermione numa mesa bem afastada dos Mason.

Os dois conversaram animadamente durante o jantar, alheios a todas as outras pessoas presentes naquela sala; depois que todos jantaram, alguns casais dançavam, e Harry estirou a mão para Hermione. Ele mesmo não acreditava no que estava fazendo, mas não se incomodou de deixar-se levar pelo ritmo da música, com o rosto colado ao dela, mesmo rodeado por “velhos”.

Maybe is intuition

Something is just don´t question

Like in your eyes, I see my future in a instant

— Acho que eu tenho que ir — Hermione sussurrou com a cabeça encostada ao ombro de Harry.

— Ainda não.

— É sério, está na hora de eu ir embora.

— Por acaso sua carruagem vai virar uma abóbora? — Hermione sorriu, e alisou os cabelos na nuca dele.

— Não, mas a minha fada madrinha não vai ficar feliz se eu não voltar cedo. — Ela soltou-se dos braços de Harry. — Boa noite, Harry.

— Hermione, espera, eu...

— O que? Fala, Harry?

— Adorei te conhecer, sabe, você salvou as minhas férias, de verdade.

— Eu também adorei te conhecer, Harry, mas agora eu preciso mesmo ir, boa noite, eu te procuro amanhã de manhã para me despedir direito, prometo. — Hermione saiu do salão quase correndo, e não deixou nem mesmo o sapatinho de cristal, pensou Harry.

Ele evitou as perguntas dos pais quando saíram juntos em direção ao quarto. De manhã, acordou mais cedo e foi esperar Hermione no lugar onde sempre se encontravam, perto das cocheiras. Ficou lá por mais de uma hora e ela não apareceu; mas Harry não estava disposto a desistir, se Hermione disse que iria, ela iria, e ele estaria esperando.

Um dos empregados do hotel apareceu meia hora depois procurando-o, e disse que seus pais lhe esperavam para ir embora. Harry resolveu perguntar ao empregado se ele não tinha visto Hermione.

— A Srta. Granger foi embora hoje muito cedo, senhor. — Harry mal pode acreditar no que ouviu, como ela poderia ter ido embora sem se despedir, sem lhe deixar o telefone ou e-mail, qualquer forma de se encontrarem? Ele ainda esperou, aquele cara talvez estivesse enganado, mas chegou a hora de partir, Lilian já estava irritada com a demora, e Tiago falou sério quando mandou o filho entrar no carro.

Harry pegou o telefone e olhou a foto de Hermione lhe atirando um uva, não conseguia acreditar que não tinha nem mesmo o telefone dela. Colocou os fones nos ouvidos e não abriu a boca a viagem inteira.


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