The Letter

    O sol era coberto por espessas nuvens no céu daquele dia cinzento, deixando-o num tom plúmbeo e que aparentava poder chover a qualquer minuto. Dawn observava silenciosamente o rapaz sentado do outro lado da lanchonete, algumas vezes mergulhada em pensamentos que só era despertado por sua amiga May, que a empurrava com força obrigando-a a sair daquele transe.

    — Ei, Dawn! Você não estava prestando atenção no que eu estava falando?! Toda hora que eu percebo você está olhando lá pra fora! — resmungou May.

    — Ah, desculpa May... Mas eu estava ouvindo o que você falava sim. Você dizia sobre o seu namorado, o Drew. — disse Dawn.

    — Isso mesmo! Ai, ai... Eu não sei como eu pude ter sorte de encontrar um rapaz tão lindo e perfeito como ele! Tudo bem que nós ás vezes brigávamos e tudo mais, mas só de lembrar daquele sorriso lindo eu já fico louca de paixão...! Dawn!! Você ouviu o que eu disse?!

    — Ah...? D-Desculpa May, eu não estou conseguindo me concentrar muito bem hoje. — fingiu a garota.

    May desconfiou das bochechas coradas da amiga e deu uma olhada nas outras mesas do restaurante, próximo a janela haviam alguns rapazes conversando e no meio deles estava Paul, um garoto que Dawn apreciava muito.

    — Hum, agora eu entendi!! O Paul tá ali atrás! Por isso você ficava olhando que nem boba com esse olhar de apaixonada! Você tava olhando o Paul, né?? — riu a amiga.

    — N-Não!! Que bobagem, eu estava olhando a chuva que deve estar chegando. Minha nossa! Como o céu está escuro, acho melhor nós irmos logo antes que comece a chover... — riu Dawn, um pouco sem graça.

    — De modo algum!! Agora você vai ficar aqui e eu vou te ajudar a falar com ele!! Se liga, é bem fácil, você chega assim do lado dele e fala: Paul, eu te acho um gatinho, quer ficar comigo? — imitou May.

    — O QUÊ? VOCÊ TÁ LOUCA? — gritou a garota, fazendo as outras pessoas do restaurante olharem para ela, incluindo Paul. Dawn sentou-se rapidamente extremamente corada, percebendo que havia gritado muito alto. — Ele olhou pra mim May, ele olhou pra mim... — sussurrou ela.

    — Já percebi que você não gostou da minha idéia, mas acho que você devia falar com ele. Vocês já são amigos a um longo tempo, o que acha de se declarar? Ai, vai ser tão lindo!! Imagina você olhando nos olhos deles e eles nos seus...

    — P-Pára May! Eu não consigo nem olhar ele nos olhos, não consigo nem mesmo ficar perto dele sem começar a falar coisas ridículas. Meninos só andam em grupos, se eu fosse falar com ele os outros iriam ficar fazendo comentários, e eu odeio isso... — disse Dawn. — Vamos embora logo, se começar a chover nós vamos ter que ir na chuva...

    — Não, não! Espera aí que eu ainda vou te convencer a falar com ele! — ordenou May. — Faz o seguinte, chama ele em um canto sozinha e se declara pra ele!!

    — Chamar ele, sozinha?? Ah May, vamos deixar isso quieto. É estranho as mulheres tomarem iniciativa.

    — Meu bem, hoje em dia muitas mulheres tomam iniciativa! Se eu chamá-lo você iria conversar com ele? — perguntou May.

    — Hum... Talvez, mas acho que não. Eu não conseguiria falar com ele assim, olhando-o nos olhos. — respondeu Dawn numa voz de tristeza.

    — Seu problema é olhá-lo nos olhos? Então eu tenho uma idéia, já pensou em mandar uma cartinha de amor? Oownt, eu acho tão lindo isso! — disse May, maravilhada. — E tem mais, com uma carta você não vai precisar olhar nos olhos dele pra falar o que sente!

    — Mandar uma carta, May? Você conhece o Paul, ele iria falar assim: Que coisa ridícula, vê se cresce garota. E depois ele iria amassar minha carta e jogá-la fora... — respondeu Dawn, encostando a cabeça na mesa em sinal de desapontamento. — Eu já tinha pensando em entregar uma carta faz muito tempo. Eu até já estou com ela aqui na minha bolsa...

    — Você está com a carta aí? Oh, meu Deus!! Você vai entregar essa carta hoje mesmo! — disse May animada.

    — Mas eu já estou com essa carta há mais de um mês e ainda não entreguei. Nem sei por que ela está aqui, não quero mais entregar.

    — Olhe só Dawn, se você não entregar agora vai se arrepender pelo resto de sua vida! — aconselhou May.

    — Acho que já desisti faz tempo. Vamos embora logo, antes que.... Ahm deixa pra lá, agora já tá chovendo mesmo. — reclamou Dawn, vedo as finas gotas caíram na janela da lanchonete.

    — Melhor, desse jeito eu tenho mais tempo de te convencer! — riu May.

    — Não tem não, olha eles indo embora... — disse Dawn, apontando para Paul que e seus amigos que já preparavam-se para sair da lanchonete.

    — NÃO!! — gritou May, levantando-se da cadeira. — Dawn, Dawn, pensa bem, essa é sua única chance!! É só chamar ele por um minuto, entregar a carta e ir embora! Ele vai adorar.

    — Eles já estão indo embora May, não quero mais entregar nada. — respondeu Dawn um pouco triste.

    May sentou-se lentamente um pouco chateada pela amiga. Ela sabia que Dawn realmente queria entregar aquela carta para o rapaz, mas só lhe faltava coragem e iniciativa.

    — Você realmente NÃO quer entregar a carta? — perguntou novamente.

    — May, eu até queria, mas não gosto de imaginar a reação dele ao ler. — respondeu Dawn.

    — Com licença, eu vou chamá-lo. — disse May, levantado-se rapidamente e correndo para fora da lanchonete.

    — MAY!! Não faça isso!! Meu Deus o que eu faço agora?? — questionava Dawn eufórica. Poucos segundos depois May reaparece um pouco molhada pela chuva com Paul ao seu lado. Dawn ficou ainda mais vermelha ao ver o rapaz. May nem chegou a dizer nada, ela simplesmente trouxe o rapaz e desapareceu em seguida, deixando os dois a sós.

    — O que foi Dawn? Você pode ser rápida? Eu estou com um pouco de pressa. — disse Paul, de modo um pouco ignorante.

    Dawn não podia recuar agora, dizer que “não era nada” iria deixar o rapaz ainda mais zangado. Ela abriu sua bolsa e pegou um pequeno envelope rosa, e ainda um pouco sem graça entregou-o na mão de Paul.

    — Desculpa... Eu só queria te entregar uma carta... — respondeu ela meio triste.

    — Nossa, que bacana! — riu ele ao ver o pequeno envelope, fazendo Dawn mostrar seu lindo sorriso em sinal de felicidade ao ver o que o rapaz gostara. — Eu preciso ir agora porque estou com muita pressa, mas muito obrigado.

    Dawn apenas acenou e virou seu rosto, May foi ao seu lado e colocou os braços em volta da amiga parabenizando-a pelo feito.

    — Muito bom Dawn! Agora o resto é com ele!

    — Eu espero que ele goste... — disse Dawn. — Não sei se te agradeço ou te mato por ter chamado ele!

    — Aposto que vai me agradecer. Agora vamos, antes que essa chuva comece a piorar!

    Dawn chegou em casa e ficou o dia inteiro grudada em seu celular aguardando a resposta do garoto. O tempo ia passando, mas ela não perdia as esperanças. Para ela nem que fosse um singelo “obrigado” estaria bom. Ela só queria que uma simples mensagem que nunca chegou.

    No dia seguinte Dawn já estava na lanchonete logo de manhã. Ela estava com o rosto apoiado na mesa junto a seus braços, May aproximou-se e sentou ao lado da amiga perguntando o que acontecera no dia anterior.

    — Então Dawn? Falou com o gato? — riu May.

    — Ele nem me ligou... Nem me mandou uma mensagem, nem falou nada. — respondeu ela, revelando seus olhos inchados provavelmente de tanto chorar.

    — Ah, nada haver, Dawn! Ele é homem, você sabe como os homens são, de repente ele quer falar com você pessoalmente. E olha só! Acho que a hora é agora. — afirmou May, vendo Paul e seus amigos chegarem na lanchonete.

    Dawn apenas aguardou durante muito tempo. Ela não queria olhar para ele, e Paul aparentemente também não olhava para ela. Talvez ele realmente tivesse ignorado a carta e jogado-a fora, o que fazia dawn sentir-se ainda mais triste.

    No fim do dia ele não havia ido falar com ela. Dawn saiu sem dizer nada, ela apenas sentia um imenso vazio em seu coração, dentro da carta ela havia colocado todos seus sentimentos e ele havia simplesmente ignorado, ela sentia-se a pessoa mais idiota do mundo.

    No dia seguinte lá estavam as duas novamente. Dawn continuava chateada com o incidente da carta, mas pouco-a-pouco ela ia se recuperando. May continuava gabando-se por dizer que tinha o namorado mais lindo do mundo, quando de repente as duas nem mesmo perceberam que alguém aproximava-se das duas.

    — Oi Dawn. — disse Paul.

    — O-Oi... — respondeu ela, um pouco sem graça, evitando uma conversa prolongada.

    — Ei Paul!! Que idéia foi essa de não ler a carta da minha melhor amiga?? — reclamou May.

    — Não ler? Quem disse que eu não li? — respondeu Paul. — Será que você poderia nos deixar sozinhos por um minuto, May?

    May olhou para Dawn, que um pouco confusa concordou com a idéia, Paul sentou-se ao lado de Dawn e retirou de sua mochila um pequeno envelope meio amassado, e entregou-o para a garota.

    — O que é isso...? — perguntou Dawn.

    — Também não foi fácil pra mim entregar essa carta. Saiba que eu apreciei muito aquela que você me entregou, mas é que eu estava com um pouco de vergonha de te entregar também. — afirmou Paul.

    — Seu bobo... Me fez chorar de bobeira. — riu ela, enxugando novamente as lágrimas.

    — Você realmente acha tudo aquilo de mim? — perguntou ele.

    — Tudo aquilo e muito mais. — continuou Dawn, beijando o rapaz.

    Mais um dia se passou e lá estava May sentada na mesa da lanchonete. Dawn aproximou-se dela e sentou-se na mesa toda sorridente. A amiga estranhou a felicidade e logo foi perguntando o motivo.

    — Puxa Dawn, por que você está assim, sorrindo a toa? — riu May.

    — Ai, ai, não consigo imaginar como eu pude ter a sorte de encontrar um cara tão perfeito como o Paul! Só de lembrar aqueles lindos olhos eu fico apaixonada. — disse Dawn, sonhando acordada com seu namorado.

    — Maldição, agora sou eu que vou ter que te aguentar falando do seu namorado... — riu May.