EDWARD

Tu julgas que eu não sei o que tu me mentes

Quando o teu doce olhar pousa no meu?

Pois julgas que eu não sei o que tu sentes?

Qual a imagem que alberga o peito teu?

Ai, se o sei, meu amor! Eu bem distingo

O bom sonho da feroz realidade...

Não palpita d'amor um coração

Que anda voando em ondas de saudade!

Embora mintas bem, não te acredito;

Perpassa nos teus olhos desleais,

O gelo do teu peito de granito...

Mas finjo-me enganado, meu encanto,

Que um engano feliz vale bem mais

Que um desengano que nos custa tanto!

"Mentiras" de Florbela Espanca, poetisa portuguesa.

Entrar para a família Cullen não é uma coisa simples. Na verdade, é muito mais complicado do que se pode imaginar e para uma pessoa cheia de princípios como Bella isso poderia se tornar criticamente constrangedor. Todo e qualquer casamento realizado na família era regulado por um rígido contrato pré-nupcial que costuma deixar bem claro que se o cônjuge tentar abandonar o barco, numa tentativa de lucrar com a partilha de bens, sairia sem nada.

Separação universal de bens era um procedimento comum. Meus pais se casaram assim e todos os meus irmãos, consecutivamente. No entanto, eu pretendia dar um voto de confiança à Bella para me aproveitar de outros pontos mais relevantes que seriam explorados no contrato. Por tanto, nos casaríamos no regime de divisão parcial, em caso de separação dividiríamos igualmente todos os bens adquiridos após o casamento.

Além disso, Bella se tornaria na minha ausência a vice-presidente da Corporação Cullen, por tanto era candidata direta à chefia dos negócios da família no caso da minha morte. Obviamente esta decisão não agradou muito algumas pessoas, em especial Rosalie, que visava à posição para Emmett.

Com tudo, eu não havia me esquecido da ameaça que pairava sobre meu relacionamento. Jacob Black era um nome que se recusava a morrer, uma lembrança e também uma tentação na vida de Bella. Eu precisava tomar providencias quanto a isso e a melhor maneira era desencorajando ela a pensar em sair de um casamento tão vantajoso. Caso ela pedisse o divorcio, estaria automaticamente abrindo mão da guarda de todo e qualquer filho originado desta relação, ficando sobre minha responsabilidade a guarda das crianças. Uma maneira bem direta de dizer que um Cullen SEMPRE fica entre os seus.

A idéia de Bella tentar me afastar por suas indecisões me incomodava particularmente, por isso ficaria estabelecido uma cota mínima semanal de prestações sexuais. Ao menos três vezes por semana, das quais ela só estaria livre em caso de doença, gravidez e durante o período de resguardo. Por ultimo e não menos importante, em caso de traição comprovada da parte dela, Bella sairia deste casamento com absolutamente nada, nem filhos, nem dinheiro.

Me preparei para um período de tensão entre mim e minha noiva, por causa do contrato, mas Bella me surpreendeu mais uma vez. Ela leu tudo atentamente e em seguida levou uma mão às têmporas e a outra ao ventre. Raciocinou por alguns momentos, respirou fundo e pediu a caneta e assinou tremula. Sorri diante da reação dócil dela, talvez ela estivesse realmente disposta a fazer deste casamento algo verdadeiro, mais ainda, talvez a parte dela que me amava estivesse dominando o coração dela. Beijei minha noiva nos lábios como quem beija as pétalas de uma flor.

Enquanto eu cuidava da parte legal do casamento, Alice, Esme e Rosalie se encarregavam de organizar toda cerimônia e recepção. Tudo feito a toque de caixa, já que minha irmã insistia em dizer que uma mulher com uma barriga de cinco meses era altamente antiestético. Por tanto, eu me casaria em um mês. No entanto, o que era para ser um motivo de satisfação para mim, estava se mostrando ainda incerto. Talvez pela agitação do casamento, pelo cerco da mídia ou até mesmo a aflição da "perda" de Jacob estava afetando a saúde de Bella. A pressão arterial estava ficando instável com freqüência, sugerindo um quadro de início de hipertensão que poderia por em risco a saúde dela e do bebê.

Para todos os efeitos, o evento foi devidamente notificado em todos os tablóide e colunas sociais dos Estados Unidos, mantendo o estado de saúde da noiva ocultos, enquanto corriam comentários a boca miúda sobre o contrato pré-nupcial entre os mais renomados advogados da cidade. Diante disso, não demorou muito para que Jacob Black viesse pessoalmente.

JACOB

Entrei no escritório de Edward sem dar a menor atenção à secretária que tentou me impedir. Ser filho do velho Billy tinha lá suas vantagens, os empregados simplesmente saiam da frente me dando passagem. Eu teria arrombado a porta caso ela estivesse fechada. Entrei e encontrei Edward em pé, de costas para mim, encarando a escandalosa paisagem de Nova York. Ele se virou tranquilamente, me encarou e ofereceu uma cadeira.

- Me diga que diabo de contrato é esse! – disparei contra ele com minha raiva mal contida – Você só pode estar brincando se pensou em algo tão nojento quanto isso e espera que Bella concorde.

- Não sei até onde vai a sua ciência do caso, mas o fato é que Bella já assinou o pré-nupcial. – meu rosto ficou vermelho e as narinas dilataram como as de um touro. – Sente-se, Jacob. Aparentemente esta não vai ser uma conversa agradável. – a contra gosto me sentei, encarando ele com os olhos injetados.

- Você obviamente abusou do estado frágil dela coagi-la a assinar. – lancei o comentário em tom de ameaça – Posso tornar esse documento nulo em questão de dias.

- E como você fará isso? É preciso que ela queira coisa que eu duvido que ela faça. –ele se sentou atrás da mesa e me fixou com os olhos. – Mais ainda, como soube da "condição frágil" dela.

- Pra começar, fiquei sabendo da gravidez tanto pelos jornais, quanto por Nessie. Em segundo lugar, vou oferecer meus serviços de advogado a ela. Bella não pode entrar neste casamento sobre condições tão ridículas! – respondi incisivo.

- O que faz você pensar que ela vai aceitar sua oferta? – ele questionou pacientemente, sabendo que eu poderia acabar virando o jogo.

- Por mais que seu ego avantajado o impeça de ver, sou uma parte muito mais importante na vida dela do que você gostaria! – aquilo saiu muito mais venenoso do que eu me julgava capaz. Ele respirou fundo.

- Talvez você esteja certo. – meus olhos se arregalaram com a resposta – E é justamente por isso que ela está enfrentando problemas muito maiores do que o necessário. – ele fez uma pausa grave – Não nego que uma parte dela ainda sinta algo muito forte por você, mas a verdade é que ela me ama e decidiu se casar comigo, se conforme com isso. Com tudo, o remorso, ou quem sabe até mesmo a dúvida, está deixando Bella muito estressada nos últimos dias. – ele passou as mãos pelo cabelo de maneira angustiada. Notei a mudança do tom – O médico que a está acompanhando já alertou, a pressão dela tem oscilado e esse pode ser o princípio de uma hipertensão.

- Só pode estar brincando. – disse rispidamente, mas com uma ponta de insegurança na voz.

- Se acha isso pergunte a própria Bella. Estamos mantendo este detalhe fora do alcance da mídia, mas infelizmente esta gravidez pode se tornar mais complicada do que pensamos e a sua presença na vida dela não ajuda em nada.

- Aonde você quer chegar com essa história toda, Edward? – questionei já entendendo as intenções.

- Quero que você se afaste da vida dela de uma vez. – ele disse da maneira mais direta possível – Estou te oferecendo uma colocação invejável na filial de Seatle e posso conseguir para a sua namorada um cargo em algum dos hospitais da cidade. Fora isso, estou oferecendo uma boa casa mobiliada e uma pensão anual generosa.

- Está tentando comprar o meu afastamento? – disse entre dentes – Isso tudo, fora o contrato, são maneiras sujas que você encontrou para eliminar a concorrência! Você não suporta a idéia de que um dia você não terá exatamente tudo o que deseja, não suporta perder! Além do mais, não há a menor possibilidade de eu sair da cidade e deixar meu pai aqui no estado dele. – me levantei de uma vez e lancei um ultimo olhar fulminante antes de andar até a porta, antes que eu pudesse sair ele me chamou mais uma vez.

- Eu só não suporto a idéia de ver minha futura esposa sofrendo, tão pouco a possibilidade de meu filho ter a saúde prejudicada por causa de qualquer coisa que vocês tenham tido no passado. – ouvi em silêncio – Pense bem Jacob. Ela é importante para nós dois. – depois disso sai batendo a porta.

Bella estava doente. Aquilo martelou minha cabeça por um bom tempo e me forçou a pensar na situação por um outro lado. Se por um lado Edward era um safado manipulador, por outro eu estava sendo absolutamente insensível aos problemas que minha ainda amiga estava passando. Eu queria realmente ter o peso de causar uma doença ou até mesmo a possibilidade de um aborto espontâneo nas costas? Eu queria ferir Bella como ela havia me ferido, disposto a assumir um preço tão alto?

Além da relevância da condição de Bella e da proposta de Edward, havia outros fatores a serem considerados. Billy continuava internado e alguns dos danos provocados pelo acidente haviam gerado uma piora no quadro clínico e ele estava em coma. Fora o estado dele, o que Nessie pensaria daquela maldita sugestão? Nunca houve caminhos fáceis na minha vida, mas aquele estava se mostrando muito mais cruel do que qualquer outro.

Estar feliz com Nessie era uma das poucas coisas que me mantinha são. A cada dia a certeza da presença dela e a sensação de estar completo me davam animo pra continuar naquela tragédia grega de mau gosto. Amar a minha monstrinha já era natural, bom e necessário, mas não importa quantas certezas você tenha na vida, nada poderia me deixar preparado para aquilo. Receber o convite de casamento dos futuros Senhor e Sra. Cullen me abalou muito mais do que eu gostaria de admitir. E como se não bastassem as duvidas na minha cabeça, mais uma apareceu. A minha presença naquele casamento seria benéfica a Bella ou eu estaria dando mais um motivo para a piora da situação?