Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 45
De volta à Inglaterra


Notas iniciais do capítulo

Oh boy, estamos de fato na reta final da fic. :( Por mais aliviada que eu esteja, não consigo evitar sentir uma certa tristeza. Eu só não entendo como é que eu tenho mais de 60 pessoas acompanhando a fic e só recebo um review por capítulo, mas né. Fazer o quê, não posso obrigá-los a fazer nada.



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Quando retomamos consciência o suficiente para perceber o que havia acontecido, eu, Percy e Nico estávamos amontoados um em cima do outro em uma calçada estreita e molhada.

Alguns dos trouxas que passavam ao nosso redor nos encaravam de canto; outros, simplesmente nos ignoravam.

Levantei-me do chão e senti meu cenho franzir imediatamente ao de fato perceber onde eu estava. O próprio ar aparentava ser diferente dos Estados Unidos – não estava aquele sol escaldante que hoje mesmo eu sentira no Acampamento – e tudo aparentava estar mais... úmido, eu diria. E fresco.

Estávamos no centro da cidade, mas não era mais Nova York – o simples traçar das calçadas e das ruas e construções, o modo que as pessoas andavam e se portavam, tudo ao meu redor denunciou que havíamos voltado a Londres.

Depois de ajudar Percy e Nico a se levantarem, a primeira coisa que fiz foi enterrar o rosto nas mãos e grunhir de frustração.

— Como é que nós conseguimos voltar a Londres? – perguntou Percy, tão confuso a princípio como eu. – E onde estão Marie e Dupin e aquelas duas crianças?

— Montag e Mildred – tive de corrigi-lo, não conseguindo segurar uma risada fraca ante à ironia daqueles nomes. – Foram aurores que estavam atrás deles, lá no túnel subterrâneo, não é? Foram eles que desestruturaram o Maelström...

— Aurores não trabalham para o Ministério da Magia? – questionou Nico. Assenti. – Se eles queriam capturá-los, não acha que esses aurores devem tê-los levado até lá?

— Possivelmente – disse eu –, mas por quê?

Percy e Nico se entreolharam e deram de ombros, quase simultaneamente.

— Bem – disse Percy – você é a que mais sabe sobre o Ministério, Hermione. Qual seria uma possível razão para os aurores capturá-los e levá-los até lá?

A crescente frustração parecia pingar em meus ossos.

— Não sei – falei, realmente não sabendo – O Ministério tem infinitas funções. Mas aurores são como os policiais do mundo trouxa; capturam bruxos por algum tipo de crime e levam-nos para julgamento.

— Acha que eles podem ter cometido algum tipo de crime? – perguntou Nico.

— Não necessariamente eles. Acho que o próprio Maelström pode ser considerado uma facção criminosa ou algo do tipo, por mais que não sejam realmente. Mas no fim das contas eles eram uma sociedade secreta, não? De pessoas com sangue bruxo e olimpiano. Podem ser considerados uma ameaça, quem sabe.

— Uma ameaça contra os bruxos? – disse Percy, incrédulo. – Tudo bem que essa organização pode ser um grupo de resistência, mas em momento algum Marie e Dupin disseram que é uma resistência contra o mundo bruxo! Não era para ser contra Pallas?

— Isso acaba implicando que o Ministério sabe da existência dos híbridos, não é? – completei. – Não somos tão secretos quanto pensávamos.

— Se querem a minha legítima opinião – disse Nico, conforme andávamos pelas calçadas cinzentas de Londres – o Ministério de fato deve saber sobre os híbridos. Mas dada todas as circunstâncias em que estamos passando, dos mundos se colidindo e tudo o mais, acho que o Ministério não quer admitir que o mundo bruxo vai começar a entrar em apuros e não se há muita coisa a fazer. Para eles capturarem e matarem os membros do Maelström, que pouco representa ameaça, é porque eles devem estar um tanto desesperados.

Da mesma forma que o Ministério estivera desesperado ante à perspectiva do retorno de Voldemort, ainda na época em que estava sob controle de Cornélio Fudge, pensei. Só esperava que Kingsley Shacklebolt conseguisse ter um pouco mais de bom senso do que seus antecessores.


— Sério mesmo que esse é o acesso ao Ministério da Magia? – perguntou Percy, não conseguindo evitar que uma ponta de ceticismo saísse por sua voz, ao nos depararmos com a cabine telefônica vermelha.

— Só para os visitantes – falei. – Não são todos que entram por aqui, naturalmente.

— E os funcionários?

— Vão por pó de flu – respondi, enquanto abria a porta da cabine e indicava para que Percy e Nico entrassem. Antes de tudo, eles se entreolharam. – Ou pela privada.

Ignorei o óbvio olhar de confusão que transpassou as feições de ambos, voltando minha atenção apenas ao telefone e clicando os dígitos 62442.

— Então tá, né.. – disse Nico baixinho. – E o que exatamente faremos quando chegarmos lá?

Cocei os olhos e soltei a respiração de forma alta, conforme o interior da cabine começava a se movimentar e descer em direção ao subterrâneo. Ambos os rapazes comigo se sobressaltaram a princípio e se agarraram ao objeto mais próximo.

— Relaxem – comentei – isso é só um elevador. E bem, quanto ao que faremos, essa é uma boa pergunta. Não sabemos quanto tempo se passou desde que os aurores nos fizeram aparatar até aqui, mas provavelmente Marie, Dupin, Montag e Mildred irão a julgamento. É o procedimento básico do Ministério, sabe como é.

— Tá, e você acha que a gente simplesmente vai conseguir entrar para ver a audiência deles? – o ceticismo na voz de Percy era evidente outra vez. Ergui os ombros e meus lábios se franziram em uma linha fina.

— Vai ter que dar certo.


— Sorriam e ajam naturalmente – sussurrei para os dois assim que a porta do elevador se abriu e começamos a andar pela recepção. – Não falem nada, ok? Deixem comigo.

A recepcionista por trás do balcão de entrada nos recebeu com um largo sorriso.

— Para onde vão? – questionou. Pigarreei e tentei colocar em minha voz o tom mais cordial possível, o mesmo que eu usava em sala de aula.

— Às Salas de Tribunal, creio eu – falei. – Fomos convidados para ver uma sessão, sabe como é, mas acontece que eu não tenho muita certeza em relação ao horário de início dela...

As finas e delineadas sobrancelhas da mulher franziram ligeiramente. Uma coceira de nervosismo subiu à minha mão. Esperava que ela comprasse minha mentira; eu odiaria ter de usar um Imperio ou algo do tipo nela.

— Hm, sabem que há um acesso restrito às Salas de Tribunal, não?

— Sim, sabemos! – concordei, tentanto ao máximo não passar o nervosismo à voz. – Não fomos convocados ao júri ou algo do tipo, mas ainda assim fomos convidados a comparecer lá.

— Tudo bem... – murmurou a recepcionista. – Poderiam me passar suas varinhas, por favor, para identificação?

Meu sorriso pareceu congelar em meus lábios. Não precisei olhar para Percy e Nico, posicionados um pouco atrás de mim, para perceber que o sorriso nos lábios deles haviam congelado também.

— Ah, infelizmente os meus amigos não trouxeram as varinhas – falei. – Houve um... hã, extravio nelas – ri um tanto nervosamente. – Você acredita que ele – apontei para Percy – conseguiu quebrá-la enquanto tentava jogar quadribol com ela? E que ele – apontei para Nico – conseguiu ter sua varinha parcialmente comida por um barrete vermelho?

A recepcionista levantou as sobrancelhas em gesto de entendimento, soltando uma leve risada. Espalmei gentilmente os ombros de Nico, fazendo-o alimentar ainda mais a mentira.

— Pois é – comentou. Perguntei a mim mesma como a recepcionista não percebia os sorrisos extremamente forçados em nossas caras. – Foi durante a aula de Trato das Criaturas Mágicas...

— Ah, sei como é, algo assim já aconteceu com meu primo – disse ela; todos nós rimos. Minhas bochechas começavam a doer. – A senhorita poderia me dar a varinha, porém?

— Claro, claro! – disse, tirando o objeto do bolso e entregando-a. – Meu nome é Hermione.

A recepcionista, que até então estivera examinando minha varinha, levantou o olhar rapidamente ao ouvir tais palavras. Em suas feições pude perceber reconhecimento e surpresa; sua boca abriu ligeiramente.

— Hermione...? – perguntou, parecendo não acreditar.

— Pois é – murmurei – Granger.

Ela pôs minha varinha no balcão e agora sua boca estava escancarada. Pôs uma mão sobre o peito. Os cantos de minha boca se afrouxaram com o reconhecimento.

— Pelas barbas de Merlin! Hermione Granger! Ah, senhorita, você não tem ideia do quanto a admiro... meu Deus, que oportunidade única! Nunca pensei que a conheceria e... – ela deve ter percebido o modo como cocei meu próprio pescoço; pigarreou e se recompôs. – Ah, me desculpe, me desculpe! Todos devem ter uma reação parecida ao conhecê-la, senhorita Granger... vão, vão em frente! Só tem uma sessão nas Salas de Tribunal hoje...

— Obrigada por tudo – ainda cordialmente, não deixei que ela completasse tudo o que teria a dizer e logo arrastei Percy e Nico para o lado, indo em direção ao Átrio.

— Essa foi boa, hein? – murmurou Percy. Revirei os olhos.

— Ser melhor amiga do cara que derrotou Voldemort tem suas vantagens.


Ding!

Com um último solavanco, a porta do elevador se abriu. Uma voz feminina e calma não tardou a dizer:

— Departamento de Mistérios.

— É aqui – minha voz não passou de um sussurro, ao falar com Percy e Nico.

Não pude deixar de sentir que uma sensação de déjà vu e frieza simultâneas passassem por meu corpo assim que meus pés tocaram o chão de azulejo escuro. Conseguia sentir meu coração batendo dentro de meu próprio peito, e o silêncio que nos embalou assim que o elevador se fechou pareceu encher minha alma.

— As Salas de Tribunal ficam um nível abaixo deste – comentei, ao começar a andar por aqueles corredores escuros e misteriosos que pareciam fechar sobre nós. Minha voz reverberava pelas paredes, e eu sentia a necessidade de cortar aquela quietude de alguma forma. – Mas não são acessíveis pelo elevador. É necessário passar pelo Departamento de Mistérios, também.

Percy e Nico não responderam.

— Não podemos ser muito escandalosos, porém – continuei. – Pelo menos não enquanto ouvimos a audiência ou antes do júri proclamar a sentença dessa possível acusação contra os quatro.

— Mas Montag e Mildred são apenas crianças – disse Percy. – O Ministério pode julgá-los de tal forma?

— Se for o necessário para que a justiça seja feita nos seus próprios termos, o Ministério não tem medo de nada – falei. – Eu só espero que seja Kingsley que esteja coordenando esse julgamento...

Chegamos rapidamente à entrada de uma das salas, e acreditei ser aquela, pelo fato de várias pessoas já terem entrado e se posicionado nas cadeiras do júri e da audiência. No centro do Tribunal havia quatro cadeiras de réu.

Mostramos a um dos funcionários à porta os crachás de identificação de visitantes que havíamos recebido na recepção; seus olhos se arregalaram momentaneamente ao ver meu nome, rapidamente dando espaço para que entrássemos. Sentamos em um local que não desse para chamar muita atenção.

Tudo que pudemos fazer, então, foi esperar.

Em uma questão de quinze minutos, o Tribunal já havia enchido – dei graças aos deuses por não termos sido facilmente vistos do local em que estávamos sentados, e se havíamos sido vistos, as pessoas pelo menos não pareceram se importar – e, para meu extremo alívio, a última pessoa a entrar antes das portas se fecharem foi Kingsley Shacklebolt.

Ótimo. Poderia, então, ser mais fácil convencê-lo de algo. Eu só perguntava-me como isso deveria acontecer.

— Reze pelo melhor, espere pelo pior – murmurou Nico ao meu lado, balançando as pernas e aparentando estar tão nervoso como eu e Percy. Meu coração palpitava.

O silêncio no Tribunal tornou-se absoluto. Eu segurava minha respiração; se eu soltasse, tinha a impressão que todos ouviriam. Em passos calmos, Kingsley dirigiu-se ao seu posto. Por mais que ele estivesse longe, não pude deixar de reparar que suas feições não combinavam com seu modo de andar.

Pegou o pequeno martelo e, com um leve pigarro, bateu-o suavemente na madeira.

Toc, toc, toc.

— Às 16:45 do dia 1º de outubro de 1998, damos início a esse julgamento – disse Kingsley suavemente.

— 16:45? – sussurrou Percy para mim, um tanto alarmado. – Já?

Não pude negar que a princípio fiquei tão alarmada como ele, mas após alguns momentos pude me recompor.

— Fuso horário – sussurrei de volta.

— Por ordem máxima do Ministério da Magia, esse julgamento busca determinar a inocência ou não dos réus: Auguste Dupin, Marie Roget, Guy Montag e Mildred Montag, acusados de traição à comunidade bruxa e formação de quadrilha. Se condenados, suas respectivas penas em Azkaban deverão ser verificadas, de acordo com o envolvimento de cada na criminosa organização denominada “Maelström”.

Assim que Kingsley parou de falar, as portas se abriram novamente e oito aurores entraram abruptamente, arrastando Auguste, Marie, Montag e Mildred consigo. Nenhum resistia; não pude ver expressão qualquer em seus olhares.

Os aurores empurraram os quatro em direção às cadeiras. Assim que se sentaram e se aquietaram, o silêncio voltou a reinar, quebrado apenas pela imponente voz de Kingsley ecoando pelo Tribunal.

— Alguém deseja se manifestar contra? – perguntou, tornando a olhar ao seu redor pelas altas arquibancadas de júri. Acreditei que Kingsley só dizia tais palavras pelo costume de dizê-las, já que eram raras as ocasiões em que tal coisa acontecia, pelo modo no qual ele rapidamente tornou a observar o pergaminho, como se aquela fosse uma pergunta retórica.

Aquela, porém, deveria ser a minha deixa.

— Eu me manifesto! – ergui um braço e exclamei, esperando que minha voz não falhasse em crucial momento e levantando-me. Todos os olhares do Tribunal se voltaram a mim e pude ler em alguns rostos as expressões de surpresa, dúvida e reconhecimento de minha identidade. Comecei a andar em direção ao centro do salão, descendo os degraus das arquibancadas. Murmúrios ecoavam pelo local.

As principais feições que consegui observar, no entanto, foram a de incredulidade em Kingsley e de um certo contentamento nos quatro réus.

— Srta. Granger? – disse Kingsley, baixinho, assim que passei por seu lado e finalmente meus pés alcançaram o piso circular do centro do Tribunal. Bateu seu martelo continuamente contra a madeira e sua voz se elevou – Ordem!

Todos se aquietaram outra vez, e senti todos os olhares me perfurarem. Virei-me de frente para Kingsley e grande parte do júri. Respirei fundo e pisquei com força.

— Expresse seu manifesto – disse o Ministro da Magia.

— Antes de tudo, Ministro – controlei o nervosismo em minha voz – pergunto-me quais seriam os requisitos que os réus apresentam para serem considerados dignos de “traição”.

Uma mulher ao lado de Kingsley que segurava uma prancheta foi quem disse:

— Os réus têm se envolvido ativamente com atividades ilícitas à comunidade bruxa.

Franzi as sobrancelhas e já comecei a sentir uma pontada de impaciência. Odiava o quão indireta a atividade judiciária sempre era.

— Que seriam, exatamente...? – perguntei. A mulher suspirou e virou uma página da prancheta.

— Envolvimento com atividades Olimpianas, sendo que a proibição destas está prevista na alínea b do Artigo 19, parágrafo sétimo da Constituição dos Bruxos. É uma das leis mais antigas da civilização bruxa...

— Desculpe-me, senhora, mas não creio que há como acusá-los de tais crimes sendo que eles próprios também são Olimpianos, de certa forma. Como privá-los de exercer atividades do âmbito de seus próprios instintos?

— Lamento dizer-lhe, senhorita, mas não há qualquer registro no Ministério da Magia em relação à existência de bruxos que apresentam características de semideuses, pelo menos não atualmente – senti no tom de sua voz aquela mesma insegurança que conseguia sentir na voz de Cornélio Fudge, quando contrariado e sabendo que não dizia a mais pura verdade.

O sangue pareceu fluir à minha cabeça. Senti-me um tanto insultada por eu mesma ter a própria identidade apagada pelos registros do Ministério. Respirei fundo e esfreguei o rosto com as mãos.

— Vocês só podem estar brincando, não é? – eu disse, sentindo que o tom de cordialidade aos poucos ia desaparecendo. Ri, pois era a única coisa de útil que poderia fazer, olhando incrédula aos rostos ao meu redor. – Realmente acham que não existe mais ninguém por aí que seja metade meio-sangue, metade bruxo? Senhora, antes do tratado entre os deuses e os bruxos ser assinado, o legado que ambas as civilizações trazia era extenso demais. Não há como simplesmente apagar essa história! O Ministério da Magia, de fato, conseguiu escondê-la muito bem, mas vocês só a colocaram por baixo de um pano!

Os murmúrios recomeçaram. Kingsley teve de pedir ordem outra vez.

— Inconscientemente e de alguma forma – continuei, agora mais calma – todos os deuses do Olimpo quebraram o pacto, porque muitos dos híbridos por aí são nascidos trouxas. Inclusive, a tal bruxa que recentemente foi reconhecida como filha de Poseidon – tive de referir-me em terceira pessoa – Ela foi o único caso de fato reconhecido dos híbridos, e vocês não podem negar sua existência porque sabem muito bem que isso ameaça a estabilidade entre os bruxos e olimpianos. Não estou certa?

Ousei olhar ao redor e o silêncio permanecia absoluto. Depois de todo esse monólogo, senti a confiança começar a percorrer meus membros.

— Sem mencionar que – tive de continuar – os olimpianos também não estão em uma situação fácil após o reconhecimento dessa bruxa. Caso os senhores não saibam, Poseidon foi exilado de seu trono como deus por causa de sua filha. Zeus foi imprudente e não previu toda a instabilidade que isso poderia trazer. E, aproveitando um momento de tanta fraqueza nas fronteiras dessas duas realidades, inimigos também têm aparecido. O principal e que demonstra maior ameaça é o deus-titã Pallas, que se reergueu do Tártaro e está fazendo de tudo para acabar com o Olimpo.

— Entendo sua preocupação, senhorita – interveio a mulher da prancheta, lembrando-me estranhamente de Dolores Umbridge –, mas ainda falho em perceber o que essa situação do deus-titã tem a ver com a comunidade bruxa.

Resisti imensamente à vontade de chamá-la de idiota.

— Pallas tem recrutado seu próprio exército, e este é composto em grande maioria por híbridos. Pois é, então é óbvio que a comunidade bruxa será prejudicada. E é nesse momento que a atividade da “organização criminosa Maelström” – fiz o gesto das aspas – também entra. O Maelström nunca foi contra o mundo bruxo, eles estão contra Pallas. Todos os seus membros faziam parte do exército do titã, mas acabaram por criar um grupo de resistência contra ele. Senhores, o Maelström simplesmente quer ajudar os bruxos, aproveitando principalmente sua situação de pertencerem a ambos os mundos! E poderia ter dado certo, se o Ministério não houvesse intervido em sua operação e assassinado quase todos os membros.

Silenciei-me por um momento, tendo de inspirar profundamente. Minha boca já estava seca. Os murmúrios voltaram; desta vez, Kingsley não os interrompeu.

— A questão de tudo está em Pallas – falei, silenciando o júri. – Não é mais uma questão da guerra entre os bruxos e olimpianos; a questão está em uma união entre essas realidades para impedir o avanço dos titãs. E os olimpianos precisam de nós.

Desta vez minha voz simplesmente pedia ajuda. Poucas lágrimas subiram aos meus olhos, e tive de piscar com força.

— Entendo seu ponto de vista, senhorita Granger – disse Kingsley finalmente – e entendo o papel que a senhorita teve na história dos bruxos, principalmente com a queda de Voldemort. No entanto, gostaria de saber o que a levou a se envolver na questão com os olimpianos, também.

Tomei plena consciência dos olhares que se voltavam a mim. Senti aquela pontada de nervosismo retornar brevemente, assim como um bolo pareceu obstruir minha garganta. Tive de pigarrear.

— Bem, eu? Sabe, Ministro, às vezes eu também me faço essa mesma pergunta. Mas com o tempo eu aprendi que, depois de tudo que passei, não posso negar minha descendência. Eu... não posso negar a mim mesma, e muito menos ao mundo, que há menos de um mês fui reconhecida como filha de Poseidon e que tenho de carregar essa responsabilidade.

Não soube dizer se o que senti após revelar que a tão falada filha de Poseidon era ninguém menos que Hermione Jean Granger foi alívio ou medo. Talvez uma mistura de ambos. Enxuguei as poucas lágrimas que eu não havia deixado cair, e não precisei olhar para os lados para perceber que todos entraram em choque.

Olhei, então, em direção a Percy e Nico, sentados ainda no meio de todas as pessoas. Por mais distantes que estivessem, pude perceber em suas feições encorajamento. Olhei para trás, para as cadeiras de réu. Montag e Mildred sorriam, Dupin demonstrava o mesmo que Percy e Nico. Um brilho percorreu os olhos de Marie, que desejei muito não ter sido apenas impressão.

Finalmente, olhei para o Ministro da Magia e meu último pedido foi exclusivamente a ele.

— Kingsley – minha voz momentaneamente falhou, na onda do nervosismo agora ainda mais crescente –, por favor, não seja imprudente como Fudge, Scrimgeour ou qualquer outro antecessor foi. Nós precisamos de sua ajuda. Você sabe que retomar uma aliança com os olimpianos traria muitas vantagens, não é?

Os olhos sábios e pacientes de Kingsley desviaram dos meus, tornando a observar as pessoas nas arquibancadas. Pigarreou e deu duas marteladas breves na madeira.

— Aqueles que julgam Marie Roget, Auguste Dupin, Mildred e Guy Montag culpados pelas acusações...?

Pude contar cinco braços do júri que se levantaram.

— E aqueles que julgam os réus inocentes?

Todos os braços restantes, inclusive os de Kingsley e da mulher com a prancheta, se levantaram.

Tive de cobrir a boca com a mão; não consegui evitar que um soluço alto de felicidade passasse por minha garganta.


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Notas finais do capítulo

Agora é um problema a menos...



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