Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 24
A queda da casa de Franklin


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouquinho mais para voltar a escrever esse capítulo porque comecei a trabalhar em uma outra oneshot, o que consumiu um pouco meu tempo.
Anyway, o capítulo está aqui. Vocês sabem que cenas de ação não são exatamente o meu forte, mas eu tentei. Eis um capítulo inteiro de luta.
É a partir de agora que a fic assume um ritmo um pouco mais ágil, porque, bem, a partir do próximo capítulo vocês vão ver que o troço vai ficar feio. Temos só de cruzar os dedos e torcer para a pobre Hermione.



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– Vocês até que demoraram para perceber que havia algo de errado – uma voz profunda e masculina ressoou, saindo de trás de algumas das árvores que haviam no cemitério – honestamente, esperava que vocês semideuses fossem um pouco mais espertos.

Viramos todos em direção à voz, automaticamente empunhando nossas armas. Senti um frio percorrer meu estômago, ao mesmo tempo em que pensava por que diabos eu não percebera como aquele homem estivera nos seguindo, desde o momento em que chegáramos em Filadélfia.

Ele era um homem alto e careca, de meia idade. Pelas roupas conseguia se infiltrar facilmente no meio de uma multidão sem ser percebido, aparentando ser um trouxa comum, por mais que agora eu começasse a perceber que em seus olhos havia algo a mais. Uma sede pela violência e pela morte (mais especificamente, a nossa). A atmosfera funesta, combinada com o vento cantando pelas árvores e entre as lápides, fez os pelos de meu braço arrepiarem.

Era o careca cujos sapatos eu observara quando meu olhar não conseguia se encontrar com o de Percy na casa de Edgar Allan Poe, que depois nos fitara de modo engraçado quando eu e Annabeth tivemos a louca realização da pista deixada por Poe no poema “O Corvo”. O homem que mais tarde esbarraria em mim em uma lanchonete ao sair do banheiro, desculpando-se em um tom bondoso e que eu não tinha prestado qualquer atenção.

– Especialmente você, moça – ele apontou para mim, e, em passos largos, aproximou-se do grupo. Seus pés eram suaves e silenciosos naquele cemitério agora deserto – eu tentei tanto, mas tanto que você me notasse. Era para eu ficar apenas observando vocês, mas na lanchonete não resisti e tive de estabelecer algum contato.

Não respondi, enquanto ele se aproximava cada vez mais. Parou a menos de um metro de mim, fitando-me. Sua expressão era serena e sua voz profunda era também macia; seus olhos azul claro, por trás de finos óculos de aro dourado, pareciam ser feitos de facas de gelo. Seu semblante quieto trazia uma aura incrivelmente elegante e assustadora.

Ele era também magro e alto, muito mais alto do que eu. Minha linha de visão alcançava apenas seus ombros. Não levantei o olhar, por um instante pensei que talvez nem conseguiria.

– Achava que você era mais esperta, julgando por toda sua reputação – ele agora me encarava com tanta intensidade que era impossível ignorar.

– Ou talvez tenha sido você que tenha falhado em chamar minha atenção – quase cuspi as palavras. De certa forma, era verdade.

Ele deu um sorriso gélido e calmo, que teria dado medo até em Dolores Umbridge. Soltou uma risada estridente.

– Ah, mas você tem atitude! Sabia que teria algo em você o qual faria minha busca valer a pena. Não teria concordado em participar se vocês fossem um bando de meio-sangues inúteis.

Quem é você? – perguntei, quase me surpreendendo com o tom autoritário que minha voz assumira. Não deixei que a surpresa se trespassasse ao modo o qual falei. – E o que você quer conosco?

– Não seja tão precoce, menina – disse ele. Tornou a andar, agora ao redor do restante do grupo. Todos levantaram as armas conforme aproximava, o que o fez levantar as sobrancelhas e os braços em um gesto de debochada rendição – ei, qual é o porquê das armas, amigos? Não podemos ter uma conversa casual?

– Não – respondeu Percy, a voz tão dura quanto a minha estava. O careca apenas encarou-o.

– Filho de Poseidon, preste atenção a si mesmo. Você pode ter diversos poderes e derrotado meus colegas, mas isso não faz com que você tenha alguma relevância para mim. Vejo em você uma sede para provar a si mesmo e um complexo de heroísmo atrás de certos sentimentos escondidos. Não nos subestime, menino. Seu papai, agora abandonado, ficaria bem magoado.

O rosto de Percy endureceu e ele avançou para cima do homem, porém Nico o reprimiu, segurando-o com força por um ombro.

– Não, Percy – disse Nico baixinho – é o que ele quer. Não caia na tentação de responder às provocações dele.

O homem agora colocou os olhos gelados sobre o último.

– Você tem os pensamentos no lugar – disse, naquele tom arrastado – filho de Hades, não? Semideus do submundo. Por que não se junta a mim? Você sabe muito bem que triunfaria. Sabe que seus genes o permitiriam ter domínio sobre várias criaturas das trevas.

– Não me junto com o seu tipo pela exata razão que você apontou, senhor – eu nunca ouvira Nico soar tão sério. Ele era incrivelmente maduro para sua idade – eu tenho os pensamentos no lugar.

Um sorriso surgiu no canto da boca daquele estranho, um sorriso que definitivamente não alcançava seus olhos. Tratou de se virar desta vez para Harry e Ron.

– Vocês dois nem ao menos são semideuses. O que fazem do outro lado de uma linha de guerra?

– Você trabalha para os titãs, não é? – Harry ignorou a pergunta anterior do homem.

– Que bom ver que você ao menos é esperto, garoto – o careca se curvou para ficar mais à altura de Harry, e tocou-lhe a cicatriz com um dedo – olhe só, quem diria! O Eleito, o Menino-que-Sobreviveu! O que você acha que a Suprema Corte pensaria de você ao ver que o maior herói do universo bruxo está do lado dos Olimpianos quando a Nova Guerra eclodir?

Harry não respondeu.

– Já perguntamos uma vez – desta vez quem disse foi Thalia, apontando para a cabeça do careca com seu arco e flecha elétricos –, não perguntaremos de novo a não ser que você queira ter sua cabeça explodida e mandada de volta ao Tártaro. O que você quer conosco?

O homem suspirou, como se estivesse decepcionado.

– Os jovens de hoje em dia são muito apressados. Pelos deuses, eu só queria ter uma conversa amigável. Era para ser uma espécie de encontro marcado.

Foi quando, em um piscar de olhos, o careca passou de homem para se tornar um lobo enorme. Por Merlin, foi meu primeiro pensamento. Todos nós levamos um susto imediato, seguido de um recuo involuntário.

Em forma de lobo, aquele que há um instante possuía forma humana agora era gigante. Devia ter o tamanho de um cavalo, no mínimo, e sua pelagem era inteiramente branca. Se ele não estivesse rosnando e querendo nos destroçar com os dentes, eu teria percebido o quão belo ele na realidade se tornara.

– Whoa, que porra é essa? – gritou Thalia, mirando uma flecha em direção ao monstro. Ele se desviou rapidamente com um salto.

Não era nenhuma criatura olimpiana e aparentava ser muito uma criatura bruxa. Não era lobisomem, definitivamente, porque ainda estávamos de dia e sua forma não se assemelhava com a de Lupin.

Por Merlin, Lupin, pensei. Havia muito que eu não pensava nele, e foi nesse momento mais importuno que minha mente justamente decidira em se lembrar do seu cadáver, ao lado do corpo de Tonks, no meio da guerra. Céus, Hermione, pare de pensar nisso agora.

Aquele careca podia então muito bem ser um animago, ou um metamorfomago (como o resto dos marotos ou Tonks, todos mortos; pare de pensar nisso!). Mas isso requeria que o careca fosse um bruxo. E por que um bruxo estaria aqui? Por que um bruxo estaria trabalhando sob ordem dos titãs?

Se ele fosse um, o que provavelmente era, então seria muito difícil de o derrotarmos apenas com espadas (ainda mais considerando que ele estava em forma de um lobo assassino que conseguiria arrancar pedaços de nossos corpos facilmente com os dentes); teríamos que usar mágica.

– Ele deve ser um bruxo! – gritei, desviando-me de um de seus ataques e escondendo-me atrás de uma lápide. ­– As espadas e adagas não vão funcionar por muito tempo!

– Annabeth, cuidado! – ouvi Harry gritar e puxá-la para o lado, aproveitando para, em um giro, enfiar sua lança desajeitadamente no corpo do lobo. Este rugiu, o sangue começando a manchar a pelagem branca com um vermelho vivo.

Se a criatura fosse olimpiana, o sangue teria sido dourado; então, não havia como transformá-lo em pó.

Em resposta ao ataque de Harry, o lobo avançou e enfiou as garras na região de seu estômago. Harry gritou – pelos deuses, nunca esqueceria o quão agoniado aquele som fora – e caiu no chão, a camiseta agora rasgada manchando-se cada vez mais em sangue.

– HARRY! – Meu berro foi em uníssono com o de Ron, nunca pensei que eu conseguia gritar assim tão alto. Saí de trás da lápide, correndo em direção a onde estava Harry, pouco me importando com o que poderia acontecer, o sangue latejando em minha cabeça.

Filho duma mãe! – gritou Ron, saindo de trás de outra lápide. Guardou a espada na bainha, e desta vez puxou a varinha do bolso. – Estupefaça!

O lobo foi lançado para trás, em direção às árvores, momentaneamente inconsciente.

Corremos todos em direção a Harry, ainda assim alertas com os movimentos que a criatura poderia fazer. Percy pegou um pano e pressionou contra a barriga dele, que agora estava deitado, se contorcendo de dor, a cabeça apoiada no túmulo de Benjamin Franklin. Os cortes não eram mortais, mas Harry sangrava profusamente.

Tirei a mão de Percy do caminho. Ron já usara um feitiço, então acreditava – ou quis acreditar, pelo menos – que usar outro não faria muita diferença. Peguei minha varinha.

Episkey! – os cortes de Harry começaram a se fechar. Sua respiração logo voltou ao normal. Suspiramos, aliviados.

Foi quando o lobo retornou à consciência, levantando-se debilmente. Ao mesmo tempo, um farfalhar das árvores fez com que nossos olhares se dirigissem até lá. Não fora, de modo algum, o vento.

Em média, umas vinte pequenas criaturas – não muito maiores que nossas mãos – de pelos castanho avermelhados e cinco pernas cada começaram a avançar em nossa direção, vindo de todos os lados. Os corpos eram pequenos e rentes ao chão, suas pernas terminavam em patas tortas. Aparentavam ser aranhas maiores que o normal, peludas e vermelhas e com três pernas a menos. Reconheci-as imediatamente.

– Quintípedes – falei, antes que qualquer um pudesse perguntar – criaturas do mundo bruxo, li sobre eles em “Animais Fantásticos e Onde Habitam”. Carnívoros. Classificação XXXXX, ou seja, perigosos e com risco mortal. Matem sem dó. Consegue lutar ainda, Harry?

Ele assentiu, já se levantando. Espelhamos seu movimento e logo já enfincávamos nossas facas, lanças, espadas e flechas naqueles bichos asquerosos, ao mesmo tempo em que o lobo rosnava novamente.

Os quintípedes não se mostraram tão difíceis considerando o tipo de arma que portávamos, todavia ainda eram grandes distrações que tínhamos de enfrentar, ainda mais que havia um lobo sedento por sangue à espreita.

Porém foi a distração trazida pelos quintípedes que levou o grupo à ruína.

Thalia havia lançado outra de suas flechas elétricas, desta vez acertando próximo ao rosto do monstro. Ele uivou com o choque e a dor, dando-nos mais tempo para matar e chutar para o lado mais alguns dos quintípedes, mas após pouco arrancou a flecha com as presas e avançou para cima de mim com um salto.

Falhei ao tentar desviar, e o lobo aterrissou em cima de mim, fazendo-me cair deitada de costas no chão. A dor da queda subiu por minha coluna e cabeça, mesclando-se à ardência deixada pelas garras que agora se fincavam acima de meu peito, cortando minha pele. Exerceu um pouco de peso sobre mim, o suficiente para que eu sentisse o ar comprimir em meus pulmões e começar a fazer falta cada vez mais. Sabia que se o lobo exercesse seu peso total sobre meu corpo poderia facilmente me matar, tanto de asfixia como suas garras poderem rasgar meu interior com a pressão.

Mas suas patas não afundaram mais que o superficial, e com certeza não fui pressionada com toda a intensidade que o lobo obviamente possuía. Era como se ele estivesse retardando um pouco sua própria força. Ele queria-me viva.

Ouvi um barulho abafado ao meu lado, de uma voz feminina fazendo esforço. Annabeth tentara enfincar sua lança nas costas do lobo, porém ele logo a percebeu e jogou-a para o lado, empurrando-a com uma das patas traseiras. Annabeth bateu com a cabeça em uma árvore e caiu, inconsciente.

– Não! – minha voz saiu abafada pelo rugido do lupino em cima de mim. Suas patas fizeram maior pressão e de minha boca saiu apenas um gemido, conforme sentia suas unhas rasgarem minha pele mais profundamente, acima dos seios. Senti o sangue começar a escorrer pelo meu tórax.

Levantei minhas pernas e comecei a chutar a barriga do lobo, não que tenha dado muito certo. Os outros tentavam se aproximar para me ajudar, mas cada vez mais quintípedes começavam a aparecer para bloquearem seu caminho.

Os quintípedes não vinham em minha direção, apesar de tudo, e era o lobo quem mais se focava em minha pessoa. Percebi que aqueles eram apenas um método para fazer os meus amigos perderem o foco e não me alcançarem, enquanto o animal cuidasse de mim.

Movi o braço o máximo que pude, soltando um grito de dor – o simples ato de mexer um membro fazia com que as garras do animal penetrassem ainda mais em minha carne – para alcançar minha varinha no bolso. Ao alcançá-la, apontei-a o mais perto possível do lobo e gritei:

Sectumsempra!

Ele foi jogado para o lado – por Merlin, como eu conseguira fazer aquilo? –, sua bela pelagem branca manchando ainda mais de sangue provindo de diversos cortes em sua anatomia. Tentei levantar-me devagar, sentindo as feridas próximas à minha clavícula arderem ao abrirem ainda mais, o que tornou a ação ainda mais difícil.

Tentei ir em direção ao corpo de Annabeth, mas Ron – que já se aproximara dela – fez um sinal que ela já estava melhor e não seria preciso. Respirei fundo, um tanto aliviada, o que fez os ferimentos e meus músculos fisgarem de dor.

O lobo agora voltou a se transformar em pessoa, tornando a ser o homem careca de meia idade. Seu rosto e corpo sangravam pelos diversos pequenos cortes abertos pelo Sectumsempra – finos, como se houvessem sido feitos por várias pequenas lâminas de papel – e suas roupas apresentavam apenas alguns arranhões e rasgos. Os óculos de aro dourado que cobriam os olhos azuis parecidos com gelo permaneciam intactos.

Senti um único quintípede começar a se aproximar de mim, o que me fez virar para trás afim de lançar-lhe uma azaração. Foi nessa virada, onde minha atenção se desviara por no máximo um segundo, que o homem atacou, rápido demais para que eu – ou qualquer um dos outros, que agora enfrentavam um exército de quintípedes – reagisse.

Pelo canto do olho, apenas vi de relance o careca tirar uma varinha do bolso e apontar para mim, sua boca abrindo para dizer o feitiço.

Foi quase como nos filmes trouxas que eu costumava assistir. Essa única vista de relance e minha eventual virada para que eu pudesse tornar a encarar o homem pareceram acontecer em câmera lenta, quando na realidade duraram apenas uma fração de segundo. Um jato de luz saiu de sua varinha e atingiu-me no peito, lançando-me novamente para trás.

O impacto de meu corpo contra o chão foi incrivelmente forte; bati minha cabeça próximo à lápide de Franklin e senti a dor se estender do crânio ao restante do corpo, descendo pela espinha até meus próprios pés sentirem a pontada aguda da queda.

Tive a impressão de ouvir várias vozes abafadas gritarem meu nome.

A última coisa que senti, antes de perder a consciência, foi um puxão nauseante mas familiar no estômago.


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Notas finais do capítulo

Elogios e/ou críticas, junto de reviews em geral, são bem vindos.