Segredos Submersos escrita por lovegood


Capítulo 22
A bordo da minivan solar


Notas iniciais do capítulo

Novo capítulo, yay! Estou muito feliz com o feedback que estou recebendo e ainda mais feliz pelo Nyah ter implantado o sistema de contador de acessos na história. Ver os acessos me fez perceber que tenho bem mais leitores do que antes imaginava, já que ainda são poucos os que mandam reviews (e seus reviews acaloram muito meu coração). E para os que não mandam comentários: seria muito legal se vocês fizessem isso, adoro ver o que os meus leitores pensam, não importa se seja bom ou ruim (críticas construtivas são muito bem vindas!). Mas enfim. Não vou ficar pressionando.
Enjoy!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/115076/chapter/22

A viagem até Filadélfia foi, digamos, tranquila.

“Tranquila”, entre aspas, assim. Se eu fosse utilizar outro termo, seria “inesperada”, ou “meus deuses o que está acontecendo”; mas, ainda assim, tranquila. Sem imprevistos, o que era bom.

Ainda faltava pelo menos metade da viagem para percorrermos quando saímos do hotel, em relação a quando saímos no dia anterior de Manhattan, portanto não era fisicamente possível ou plausível que nós fôssemos andando, por mais que este fosse o método mais, digamos, seguro.

Pensáramos também em aparatar – facilitaria, e muito, na missão – mas não queríamos correr o risco de nos adiantarmos na missão para logo depois sermos atrasados ainda mais com uma horda de monstros em nossa cola, atrás do rastro mágico/olimpiano que nós carregávamos.

Não havia nenhum aluguel de carros por perto, considerando que não estávamos muito próximos a qualquer cidade e o hotel era apenas um daqueles de estrada.

Não tínhamos ideia do que fazer.

Estávamos os sete parados na beira da estrada, ainda na frente do hotel e discutindo sobre possíveis maneiras em ir até nosso destino de forma mais rápida e buscando o máximo evitar imprevistos. Não estava dando muito certo, tinha de ser sincera. Nenhum de nós parecia concordar ou ao menos encontrar uma solução para nosso problema.

A impaciência agora começava a crescer cada vez mais em meu estômago, deixando-me inquieta.

Eram nove horas da manhã, mas o sol de verão que batia diretamente em nossas cabeças era incrivelmente quente, por mais próximo que estivéssemos do outono; faltavam apenas dez dias.

– Gente – interrompi a discussão que começava a se instalar no ar, principalmente entre Thalia e Nico. – Não vamos discutir, né. Por favor. A gente tem de encontrar um jeito.

– É, mas o quê? – disse Ron. – A não ser que algum meio de transporte caia do céu em nossa frente agora mesmo, não vejo muitas outras possibilidades de irmos até Filadélfia.

Minutos depois de Ron ter falado, o que ele disse logo aconteceu.

Um meio de transporte literalmente apareceu em nossa frente, caindo do céu.

Em um momento conversávamos, e em outro era como se o sol escaldante houvesse resolvido aumentar em vinte vezes sua potência, lançando em nossa direção um globo de luz que nos ofuscou e por um momento me deixou parcialmente cega.

– O que é isso? – exclamou Ron, quando o brilho daquele globo de luz solar parecia descer cada vez mais.

– Desculpe-me pela brilhante entrada – uma voz respondeu, masculina, totalmente desconhecida. Seu dono soltou uma estrondosa risada, como se houvesse esperado fazer esse tipo de trocadilho há séculos. A princípio não vi quem essa pessoa era; meus olhos agora tentavam se ajustar à normalidade, uma vez que o globo irradiante se dissipara. – Mas percebi que vocês semideuses precisavam de ajuda, então...

Assim que minha vista voltou ao que era antes, pude reparar no que estava a nossa frente.

Uma minivan, e ao lado dela, um homem. Alto, aparentava ter uns 25 anos, loiro de olhos azuis. Seu sorriso parecia vir de uma propaganda de creme dental. A camiseta manga curta branca que ele vestia modelava seu corpo bem definido perfeitamente. Não podia negar, ele era lindo.

Olhei para Annabeth e Thalia e discretamente lancei um daqueles olhares de aprovação, sobrancelhas levantadas e tudo, permitindo-me ser uma garota de 18 anos normal por pelo menos poucos minutos. Elas sorriram de volta, um tanto cúmplices – no caso de Thalia, seus olhos azuis elétricos pareciam variar entre dúvida, recusa e uma certa admiração escondida; ela era Caçadora de Ártemis que portanto não se permitiria a ficar com homem algum, afinal – mas seus olhares pareciam reconhecê-lo.

– Apolo – disse Percy finalmente. – O que está fazendo aqui?

Então este era Apolo? O Apolo? Por um breve instante me senti um tanto culpada; céus, eu estava babando por um deus do Olimpo.

– Percy Jackson! – disse ele. – Vim dar carona para vocês, é claro.

Ele se adiantou e cumprimentou cada um de nós, parando a frente de mim, Harry e Ron. Franziu as sobrancelhas.

– Não acho que eu conheço vocês – murmurou. Apressamos a nos apresentar. Os olhos claros de Apolo se arregalaram levemente ao ouvir meu nome, mas ele não pareceu muito surpreso. Era quase como se já estivesse me procurando e soubesse que eu estaria aqui. – Ah, sim... naturalmente, sim...

Fiquei um tanto desconcertada. Obviamente ele sabia quem eu era, devido às circunstâncias atuais. Fiquei surpresa, porém, quando Apolo não expressou raiva de mim ou pelo menos não quis chutar minha bunda por estar prestes a trazer a ruína com o mundo bruxo em minha bagagem durante minha estadia pelo universo olimpiano. Fiquei ainda mais surpresa quando deu uma piscadela, pegou minha mão e depositou um suave beijo. Senti meu rosto esquentar violentamente, e ele sorriu.

Vi Annabeth e Thalia, pelo canto do olho, revirarem os olhos. Aparentemente isso era algo típico do deus do sol, o que me aliviou um pouco.

Apolo bateu as palmas das mãos uma com a outra.

– Então! – exclamou, agora mais animado – É até legal que vocês três ainda não me conhecessem, quer dizer que vocês podem presenciar agora em primeira mão os meus haikus mais novos! – Nico cobriu o rosto com as mãos em aparente desespero; Annabeth, Percy e Thalia exclamaram um abafado “não!”. Apolo ignorou os quatro. – Sabe como é, né, sendo o deus da profecia e todas as outras coisas legais as quais sou deus, eu curto bastante poemas e tal.

Para ser bem sincera eu até que estava interessada em ouvir um haiku de Apolo – não é sempre que você tem a chance de presenciar o que um deus grego fazia –, mas Percy logo o interrompeu.

– Sabe como é, Apolo, adoraríamos ouvir um haiku – a voz de Percy transbordava falsidade. – Mas por que você não nos explica o que está fazendo aqui em primeiro lugar?

O deus do sol pareceu um pouco contrariado, mas concordou.

– Eu já disse, vim dar uma carona! – Ele apontou para a minivan. – Vamos, entrem logo! Não querem se atrasar demais em sua missão, certo? Vocês podem fazer as perguntas no caminho que eu respondo – Eu, Harry e Ron logo entramos, contudo os outros pareceram hesitar antes de entrarem e se acomodarem, principalmente Thalia. – Para onde vão?

– Filadélfia, Pensilvânia – respondeu Nico. Apolo fez sinal de positivo.

– Desculpe-me, líder das Caçadoras – disse este enquanto dava a partida, dirigindo-se à Thalia. – Mas acredito que hoje você não vai dirigir – Nico e Percy soltaram uma bufada de alívio. Ron e Harry olharam para mim e nós três fingimos que entendíamos o que estava acontecendo. – E saibam todos vocês que só porque estou dando carona hoje não significa que eu sou algum tipo de serviço de táxi.

– Foi você que veio atrás da gente para dar carona, e não ao contrário... – comentou Harry. Apolo mostrou o sorriso de comercial dentário e soltou outra risada. Após dar a partida, o automóvel deu um solavanco e levantou para o alto, em direção ao céu. A minivan voava.

– Bem observado, cicatriz! – disse ele enquanto avançávamos para o céu. Thalia pareceu se encolher no banco, mas Harry e Ron não esboçaram reações. Não se assustavam mais com esse tipo de coisa desde aquele imprudente dia do Ford Anglia. Apolo reparou nisso também. – O que, você e o ruivo não estão surpresos?

Os dois balançaram a cabeça.

– Deveríamos? – perguntou Ron. Apolo suspirou e murmurou a si mesmo algo sobre ninguém mais ficar surpreso com a sua carruagem do sol. Era uma parte fascinante de sua história mitológica, sem dúvida, mas a partir do momento em que percebemos que sua minivan voava, o que mais poderia ser além da carruagem? Resolvi não dizer isso ao deus, talvez ferisse o seu ego.

– Ok então, tanto faz. Ao que é importante – continuou Apolo. – Em todos os meus milênios de existência, nunca pensei que veria bruxos de novo, sabe como é, e muito menos uma pessoa metade bruxa, metade meio-sangue. É por isso que estou aqui. Queria saber o quanto de ameaça a srta. Granger poderia ser.

– Você está do nosso lado, não? – perguntou Annabeth.

– Lado? – questionou Apolo. – Quer dizer, lado olimpiano ou bruxo?

– Não, não! Não há lado “bruxo ou olimpiano” algum, não por enquanto, pelo menos. – interrompi. – Você é também deus das profecias, Apolo, sabe que só existirá esses lados quando a comunidade bruxa descobrir que os olimpianos estão prestes a interferir, o que ainda não aconteceu. Estamos falando de Poseidon, se você quer que ele saia do exílio ou não.

– Nosso objetivo por enquanto é convencer os deuses a fazer Poseidon voltar – disse Annabeth.

– Claro que concordo – disse Apolo, para nossa surpresa. Não esperávamos que fosse tão fácil. – A culpa foi de Poseidon por violar um tratado de proporções mágicas, naturalmente, mas se uma outra guerra emerger com os bruxos por causa dessa violação, é melhor que estejamos com ele do que sem.

– Vocês planejam exterminar os bruxos ou algo do tipo, caso uma guerra emerja? – perguntou Harry, cético. Apolo abanou a mão.

– Tentaremos evitar ao máximo, cicatriz. Não queremos causar mal a sua comunidade. Mas a questão é, não há como evitar que as autoridades bruxas descubram. O tratado feito após a guerra não foi como um documento de papel, foi um selo mágico, a partir de tanto os poderes dos deuses como uma série de feitiços. Se esse selo fosse quebrado, o que aconteceu, ambos os lados sentiriam a quebra, determinada por uma série de efeitos colaterais.

– Então se você e outros deuses não queriam exilar Poseidon, por que não discordaram de Zeus em primeiro lugar? – perguntei. Havia feito a mesma pergunta à Lady Héstia, porém sua resposta nunca me deixou satisfeita.

– Zeus tem poder o suficiente de exilar mais de um, fofa. Talvez ele consiga exilar até cinco de uma vez, se quiser. Se discordássemos, ele provavelmente nos exilaria junto com Poseidon, o que seria ainda pior.

– Melhor um do que cinco – disse Nico, e Apolo assentiu. Voávamos cada vez mais rápido. – Ainda parece um pouco injusto.

– A vida não é justa, garoto. Só temos de esperar que Poseidon não demore. Espero que vocês consigam terminar a missão. Vocês têm de terminá-la, meninos.

– Acha que não sabemos? – perguntei. – Se terminarmos, tudo volta ao normal. Ao contrário, o caos reina tanto no mundo bruxo como no olimpiano. É um dos poucos pensamentos que me traz esperança para acabar com isso de uma vez por todas. A qualquer lugar que vamos somos constantemente lembrados disso.

– É assim que tem que se pensar, bruxinha! – disse Apolo. – Como ainda temos um bom caminho pela frente, vamos mudar o assunto para algo mais light, que tal? Deve ter alguns lanchinhos aí atrás. E para vocês não ficarem entediados, que tal uma série de meus novos haikus?


Os haikus de Apolo eram horríveis.

Fiquei até feliz quando descemos da minivan.

Após nos despachar no centro da cidade de Filadélfia, Apolo deu uma buzinada e acenou para nós, sorrindo (parecia feliz, provavelmente pelo fato de ter arranjado um público, pelo menos temporariamente, para ouvir suas “habilidades” poéticas). Sua minivan logo voltou a levantar voo; perguntei-me se os vários trouxas ao nosso redor não teriam estranhado ver algo do tipo ou se a Névoa era de fato tão poderosa.

– Então – disse Nico. – O que faremos agora?

Silêncio.

Nós todos nos entreolhamos.

O silêncio só era cortado pelo barulho do tráfego. Apolo havia nos deixado à frente de uma praça bem bonita e grande.

– Eu nem sei que lugar dessa cidade é esse – disse Ron.

– Rittenhouse Square – Annabeth completou rapidamente; assim como Ron, eu também não conhecia esse lugar. – Ponto turístico bem conhecido dessa cidade.

– Somos britânicos – foi a minha desculpa por não conhecer, sem mencionar que após a guerra raramente íamos em lugares trouxas. Se eu, que já era nascida trouxa, passava pouco tempo em locais assim, nem imaginava como deveria ser para Ron e Harry. – Seja nossa guia turística então, Annabeth. Para onde devemos ir agora?

A loira riu, mas logo deu de ombros.

– Existem vários locais para ir. Filadélfia é uma cidade imensa, e nós nem temos ideia do que estamos procurando aqui – Era verdade. Nossos planos até agora eram sobreviver e chegar à capital da Pensilvânia. Agora que lá estávamos, não sabíamos o que fazer.

– Lady Héstia havia dito para procurarmos algum deus por aqui, certo? – perguntou Percy.

– Lady Héstia não disse nada disso – corrigiu Thalia. – Ela só disse para chegar aqui. A parte dos deuses fomos nós que assumimos.

– Tanto faz – voltou a dizer Percy. Os olhos azuis da filha de Zeus reviraram por um instante. – Mas ela disse que teríamos que procurar os deuses de qualquer jeito. Havíamos planejado procurar Apolo, Hermes e Atena por primeiro. Tivemos sorte de encontrar Apolo no meio do caminho, portanto já é um a menos. Talvez tenhamos que procurar Hermes ou Atena por aqui?

– Talvez – disse Annabeth. – Ou qualquer outro deus, não sei.

– Tá, mas como faremos isso? – interrompeu Harry, sarcástico. – Não vamos bater de porta em porta perguntando para qualquer um se ele é um deus grego. As pessoas nos mandariam para algum hospício, sabe como é.

– Annabeth – falei, ignorando Harry. – Há algum ponto turístico aqui que seja diretamente relacionado com a mitologia, ou algo do tipo?

A filha de Atena se calou por um instante, pensativa.

– Não, não que eu me lembre – respondeu por fim.

– Há algum ponto turístico ou qualquer coisa histórica de Filadélfia relacionada com algum semideus famoso? Percy me disse ontem que muitos famosos por aí são semideuses. – Senti meu rosto esquentar brevemente ao lembrar da madrugada no hotel e de nossa conversa. Não olhei para Percy ao dizer isso.

– Eu não sei... – disse ela, parecendo frustrada. – Não me lembro... ah! – Seus olhos cinzentos brilharam com alguma realização. – Bem, havia Edgar Allan Poe! E a casa dele é um ponto turístico daqui.

Mesmo que Percy houvesse falado da quantidade de famosos semideuses, ainda era estranho pensar em Edgar Allan Poe derrotando monstros com uma espada ou algo do gênero. Franzi as sobrancelhas.

– Poe era meu meio-irmão, ainda por cima – disse Nico de repente. Ele reparou que as minhas sobrancelhas franziram ainda mais, e voltou a adicionar: – O quê? De onde você acha que ele tirou a capacidade de escrever tantas cenas mórbidas?

– Tá. Ok. – falei, balançando a cabeça. Ron perguntou baixinho para Harry quem diabos era Edgar Allan Poe. – Vamos à casa dele, então. É um bom ponto de partida.

– Caso não encontremos nada na casa de Poe, temos ideia de onde podemos ir depois? – perguntou Thalia para mim. Direcionei outro olhar para Annabeth, questionando se havia algum outro semideus famoso relevante na história de Filadélfia. Eu podia saber várias coisas, mas história americana não era exatamente uma delas.

Outro baque de realização pareceu cair na cabeça de Annabeth.

– Benjamin Franklin – falou. – Importantíssimo para o legado da cidade. Só que o caso de Franklin é um pouco mais complicado para nós procurarmos, já que há pelo menos dezenas de pontos turísticos dedicados ou nomeados em honra dele ou diretamente relacionados ao que ele fez pelos Estados Unidos.

– Não importa – disse eu. – Primeiro à casa de Poe, depois veremos o máximo de pontos ligados a Franklin possíveis.

Todos concordamos.

Pelo menos havia o que fazer por pelo menos o resto do dia.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Eu sou meio que uma grande fã de Edgar Allan Poe, então não resisti ao ver que a casa dele é um ponto turístico de Filadélfia (e ALELUIA que eles chegaram nessa cidade!).
Será que a gente chega nos 100 comentários logo? :3