Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 4
Não vai funcionar...


Notas iniciais do capítulo

"A sensação que percorreu meu corpo poderia ser confundida com o prelúdio da morte".



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                Escola, de novo.

                - Como assim, você não fez o trabalho?!

                - Dá um tempo, Joey, o trabalho é só pra depois de amanhã... E aconteceram umas coisas, ontem.

                - Hm. A ponto de ser mais importante do que o trabalho?

                - Com certeza.

                Ele se aproxima e pergunta no meu ouvido:

                - ... Tem a ver com a Ana?

                Por algum motivo, eu hesitei em responder.

                - Não. É bem mais esquisito.

                - Tipo?

                - Oi! Pára aí, vocês dois, o professor quer falar! – alguém chama.

                - Muito bem. Antes de começar a aula, quero apresentar a vocês uma nova aluna. Essa é...

                Ah.

                - Ka

                        Meu.

                - Su

                                     Deus.

                - Mi Yonjyuni.

                - Bom diaaaa!!

                Tenho medo da minha expressão facial nesse momento. No mais puro reflexo, eu me levantaria, derrubando a carteira, apontaria meu indicador e gritaria “O QUE DIABOS VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI?!!”, mas, felizmente, eu consegui me segurar e, lacrimejando e rangendo os dentes, disse apenas:

                - Prazer em conhecê-la.

                Ah, droga, tem uma carteira livre bem do meu lado!

 

                Passei a aula toda suando frio.

                Joey notou, e eu achei que ele tinha entendido a minha situação, pelo menos parcialmente.

                - É, eu sei, ela é muito linda.

                Não entendeu.

                E eu tive que me segurar de novo pra não jogar a carteira na cabeça dele.

                Tocou o sinal. Aleluia, o recreio!

                Corri o mais rápido que eu pude pra cobertura, sem falar nada pra ninguém. Pelo menos, aqui é um lugar seguro.

                - É?

                - Aaah!

                Eu devia saber que ela não ia me deixar em paz.

                - O que diabos você tá fazendo aqui?!! – apontei meu indicador.

                - Tô estudando, ué! Não é isso que você vem fazer aqui?

                - Você é a criatura que menos precisa estudar que eu conheço. Qual seu motivo real?

                - Tava com saudade do Me-kun – começa a se esfregar em mim.

                - Pára com isso!! Eu sei muito bem que você não tem sentimentos por mim além do virtual! Não use mais esse jogo sentimental comigo, porque não vai funcionar! Agora, pára de esconder o jogo e me fala de uma vez seus objetivos reais!

                Primeira impressão: ela ficou bem abalada com isso. Pareceu até que ela estava magoada. Não, eu sei que é uma simulação. Mantenha a seriedade, Matt!

                - ...

                - Que foi? “O rato roeu sua língua”?

                - ...Você disse “jogo” duas vezes.

                - Ahn?

                - Desculpa, Me-kun – nessa hora, ela fez a cara mais sombria que eu já vi num ser humano (ah, ela não é humana). Logo depois, ela me fitou com um sorriso - ...mas parece que esse jogo está longe de terminar.

                Breve silêncio.

                - O que exatamente você...

                Numa fração de segundo, ela desapareceu e reapareceu atrás de mim. No momento em que me virei, ela me envolveu em seus braços e (de novo!) me beijou. Dessa vez, foi ainda mais intenso do que antes, e eu quase me deixei hipnotizar por aquilo. Na verdade, por um minuto, eu realmente fiquei hipnotizado, mas logo voltei a mim. Antes de me soltar, olhei fundo nos olhos virtuais daquela misteriosa alien:

                - Eu já falei que isso não vai mais funcionar.

                Pude ver um tipo de luz saindo daqueles olhos, mas não deu tempo de ficar assustado. Nesse momento, acho que perdi a consciência.

 

                Quando dei por mim, já estava na sala de aula outra vez. Reparei que, com exceção de alguns poucos, todos os alunos olhavam pra mim e pra criatura do meu lado. Os homens pareciam indignados, mas todos mantinham um sorriso sarcástico estampado no rosto. Virei pro Joey:

                - O que foi? Tem alguma coisa errada comigo?

                - Muito pelo contrário, cara. Você tá bem até demais.

                - Ahnn... Pode ser mais específico?

                - E precisa? Todo mundo já sabe?

                - Sabe o quê?

                - Não se faz de bobo, Matt! O Jack viu tudo!

                - Viu o quê, caramba?

                - Você e a novata se pegando lá em cima! Tá bem na fita, hein?

                Travei.

                A sensação que percorreu meu corpo poderia ser confundida com o prelúdio da morte. Sabe aquelas pessoas que dizem que a vida inteira passou diante dos seus olhos? Pois é, é isso mesmo. Foi o segundo momento mais longo da minha vida.

                Ana.

                O pânico me invadiu completamente quando olhei para o lugar onde ela deveria estar e ela não estava. Que tipo de reação ela teve a essa maldita fofoca? Eu não queria pensar nisso. Aliás, eu não conseguia pensar em nada. Minha cabeça estava girando em torno de um buraco negro.

                Quis levantar. Quis quebrar as barreiras éticas que prendem a minha raiva e descarregá-la em forma de socos na cara daquela criatura maligna na forma de mulher. Quis matá-la várias vezes seguidas.

                Graças a Deus, o professor chegou.

 

                Não encontrei a Ana na saída.

                Não saí junto daquela coisa.

                Voltei pra casa solitário e ainda transtornado. Meus pais ainda não estavam lá quando eu cheguei, mas tinha um cheiro vindo da cozinha. Provavelmente, minha irmã está preparando o almoço.

                - Angie, o que tem pra comer?

                - Sei não, pergunta pra empregada aí.

                Empregada?

                Não. É o meu pior pesadelo.

                - Bom dia, Me-kun! Como foi a escola hoje?

                Perdi o controle. Atirei-me sobre ela e a prendi ao chão pelos braços. O jeito que ela simulou vergonha nessa hora me enoja.

                - Nossa, Me-kun, no meio da cozinha? Não tenha tanta pressa.

                Eu estava borbulhando ódio. Tinha vontade de espancá-la até a boca dela ficar permanentemente fechada. No entanto, alguma coisa me prendia, e eu não conseguia enunciar nem uma palavra. Apenas olhei com desprezo pra cara dela e me levantei. Ouvi ela dizendo:

                - Tudo bem. Mais tarde, no seu quarto, então.

                Até mesmo meus instintos, por mais que eu tente suprimir, estão em guerra:

                Instinto assassino versus instinto sexual.

                Eu não conseguia admitir que o meu corpo sentisse alguma atração por ela. É horrível o conflito do físico com o psicológico.

                - Chegamos! – meus pais.

                Perguntei, durante o almoço, onde é que eles arranjaram aquela “empregada”. De acordo com minha mãe, ela estava na rua (mais especificamente, bem na frente da nossa casa) com um cartaz escrito: “Trabalho por pão e moradia”.

                - ...aí eu achei ela sincera e bonitinha, então a chamei pra trabalhar aqui.

                - Tá... Mas espera aí, quando foi isso?

                - Hoje de manhã, logo depois de você ir pra escola.

                Mais uma vez, interrogações surgiram aos montes na minha mente. Infelizmente, a única pessoa que poderia me contar por que tinha uma alienígena na escola e outra aqui era... a própria.

 


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Notas finais do capítulo

Esse é um pouco mais ecchi, mas nada que precise mudar a censura. ...eu acho. Provavelmente no próximo capítulo deve ser pior ._.