Inner Outer Space escrita por matt


Capítulo 21
Passagem


Notas iniciais do capítulo

"Mesmo contrariado, eu não pude deixar de ver o ambiente em que entramos naquele momento."



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                Eu sempre imaginei que seria possível viver numa plataforma espacial. Em 30 anos, talvez, a humanidade já tivesse uma base lunar, ou um satélite-hotel, e qualquer um com uma vida sem graça como a minha poderia ir para lá e esquecer-se dos problemas que só existem por falta de opção.

                Só que nunca me passou pela cabeça que eu invadiria uma muito maior do que eu julgava possível, ao lado da Ana e de uma alienígena doida, objetivando salvar a Terra da destruição iminente.

                Enquanto descia as escadas da nave, eu notei como as coisas estavam.

                E pela primeira vez, eu imaginei que a única explicação possível seria:

                "É um sonho".

                Me belisquei.

                - Ai!

                Reflexão pessoal momentânea: ninguém nunca pensa em se beliscar quando está sonhando de verdade.

                Dois seres prateados nos esperavam em pé. Pareciam Kasumi em sua forma real (que ela não tinha assumido ainda), mas com um quê mais masculino. Eles não moviam um milímetro do próprio corpo. Eu podia jurar que os dois eram esculturas ultra-realistas, até o momento em que nos saudaram em coro:

                - Bem-vindos, visitantes, ao Centro de Entendimento Máximo, o maior centro de pesquisa e armazenamento de informações do Universo! Esperamos que consigam conquistar sua vaga para nos ajudar a expandir nosso banco de dados!

                - Obrigada! – respondeu Kasumi, virando-se para nós em seguida – Agradeçam também, senão eles vão diminuir seus créditos de comportamento.

                - Obrigado! – disse rapidamente, quase simultaneamente a Ana. Ao que as criaturas responderam "De nada!" e voltaram a se desligar da vida, sussurrei – Eles já têm dados da gente em algum lugar?

                - Claro! Você já pisou no C.E.M., Me-kun, isso já é suficiente pra eles registrarem pelo menos a sua existência.

                - Ahn...

                - Isso quer dizer que eles ainda não sabem quem nós somos? – Ana perguntou.

                - Sim. O que eles sabem é que nós estamos aqui e supostamente queremos trabalhar pra eles, mas a falta de conhecimento sobre qualquer coisa incomoda o sistema. Provavelmente eles vão manifestar isso a qualquer momento.

                O que ela queria dizer com aquilo, eu entendi assim que as coisas ganharam vitalidade novamente e vieram até nós com pistolas bem parecidas com as que Kasumi tinha usado há pouco.

                - Por favor, mantenham-se imóveis enquanto analisamos suas ligações neurais.

                De repente me ocorreu que nós éramos da Terra, e eles estavam prestes a descobrir. Kasumi não pensou nisso?? Olhei para ela assustado, mas ela não parecia esboçar nenhuma reação adversa ao fato.

                Tudo desapareceu no momento em que a criatura desconhecida encostou a pistola na minha cabeça. E o que decorreu daí foi uma sensação idêntica à análise do SPIPA. Porém, os nomes e números que eu ouvia me surpreenderam.

                - Meeto. Gribinsil. Casa 2.0a. Casa 1.99972b. Ansiosidade. Disposição. 85. An. Masuki. Paissu. Enji. Jouin. Carbono. Água. Sexuada. Pesquisa. Conhecimento.

                Depois do turbilhão de palavras final, minha visão voltou. O ser prateado se afastou de mim enquanto o segundo liberava Ana, e os dois disseram:

                - Análise concluída. Dados adicionados à base.

                Ana parecia tão confusa quanto eu com as palavras que surgiram na análise.

                Os dois se dirigiram a Kasumi, que estava suprimindo um riso. A cena parecia ser a mesma, até que eles saltaram para trás, anunciando:

                - Seus dados foram bloqueados por um SPIPA, Masuki. Onde conseguiu esse modelo?

                - Ah, é uma história um tanto triste – disse a alien, sem mudar de expressão – Eu encontrei os destroços de uma nave num planeta bem distante daqui, com alguma vida inteligente semi-primitiva que eu e meus colegas estávamos estudando à distância. Aparentemente, a modeladora da nave, de nome KZM-8230147J, não conseguiu decolar por incompetência própria e dirigiu suas últimas palavras a mim. Eu não entendi nada porque ela estava sem o SPIPA, mas ela indicou o caminho do capacete e me entregou um radar tosco que ela criou pra chegar até aqui. Eu até senti um pouco de pena dela. Mas superei, e resolvemos usar o radar e vir para cá. Sempre quisemos nos tornar pesquisadores do C.E.M., vocês têm muita fama pelos arredores de Gribinsil.

                Os seres ouviram como estátuas toda a história ("Como é que Kasumi pensou em tanta coisa em tão pouco tempo?!"), então tornaram a falar novamente:

                - Dados suficientes. O modelo é semelhante ao último enviado a KZM-8230147J. Por favor, retire o SPIPA para que a análise transcorra sem desvios.

                - Não posso.

                - Razão?

                - KZM-8230147J encheu o capacete com uma espécie de cola. Eu estou presa.

                Eu não acredito que ela quer sair ilesa com isso...

                - Entendido. Favor dirigir-se ao laboratório químico para remoção do SPIPA.

                Eu não acredito que ela SAIU ilesa com isso...

                - Eis o mapa geral da base – um dos corpos prateados estendeu um pequeno objeto cilíndrico para Kasumi – Mais tarde, dirijam-se à sala de espera para que recebam suas designações em Makrosta – e os dois flutuaram de volta à posição inicial, tornando-se quase-mortos mais uma vez.

                Ela fez sinal para que a seguíssemos e foi em direção à porta do enorme hangar em que ainda nos encontrávamos. Quando estávamos longe o suficiente, exclamou em voz baixa:

                - Hihi, eu sabia que ia funcionar! – e fez uma dancinha comemorativa – Aqueles guardas são muito ignorantes!

                - Por que você não nos avisou de nada?! – esbravejei – Eu achei que a gente fosse morrer pelo menos três vezes ali!

                - Ah, Me-kun, você é muito estressado...

                - Não foi só ele! – Ana mencionou – Você podia ter tranquilizado a gente um pouco, antes disso tudo!

                - Vocês dois realmente combinam, né? – Kasumi retrucou, feliz, apesar de um pequeno espasmo antes de sorrir. Ana corou.

                - Ei – falei, também um tanto vermelho – O que foi aquele exame? Por que os nomes eram diferentes?

                - Eu não mencionei que os tradutores foram um tanto modificados – ela falava com um tom de tutora – Eu instalei um dispositivo neles que bloqueia os pensamentos originais e transmite apenas dados alterados para eventuais análises.

                - Mais uma vez, por que é que você não nos avisou?

                - Porque isso não é importante...

                - Claro que é! Nós poderíamos nos sentir mais seguros sabendo dessas coisas.

                - Vocês estão vivos até agora, não estão? Olha, já estamos no centro! – ignorar nossas observações sempre parece diverti-la...

                Mesmo contrariado, eu não pude deixar de ver o ambiente em que entramos naquele momento. Era uma sala circular gigantesca em todos os sentidos. Parecia ter altura infinita, com inúmeros andares, e a largura me fazia perder a noção de espaço ao olhar para a parede oposta. Quase tudo na sala era prateado, exceto pelas luzes e pelos detalhes brancos e vermelhos nas esculturas espalhadas pela sala. Vinte elevadores conduziam funcionários para cima e para baixo. Aliás, funcionários enchiam a sala por todos os lados. Alguns papeavam, outros examinavam objetos flutuantes e hologramas, mas todos pareciam compenetrados no próprio trabalho.

                Depois de alguns minutos de admiração, senti a mão de Ana segurando a minha.

                - Aqui é lindo.

                - Verdade. Mas não podemos nos deixar levar pela aparência. Lembre-se do que eles fizeram com você.

                - Mais importante, o que eles vão fazer com a Terra – ela lembrou, séria.

                - É. Vamos pegar eles.

                - Você não está confiante demais? – ela sorriu.

                - Eu preciso estar, não é?

                - Sim, você precisa, Me-kun.

                Voltei a notar a presença de Kasumi, que estava analisando um mapa tridimensional emanando do cilindro que tinha acabado de receber.

                - Nós precisamos vir até aqui – ela disse, tocando um ponto no topo da imagem, o qual soltou um balão com caracteres estranhos.

                - E o que seria isso?

                - É a sala de atividades do Sr. TWE-987678N.

                - Todos aqui têm esses nomes esquisitos?

                - O C.E.M. altera o nome de todos os que trabalham aqui. É uma imposição necessária para facilitar a identificação no sistema.

                - Hm. Então você já teve outro nome antes de vir pra cá?

                - Sim... Mas isso não é assunto pra agora.

                Ela estava com uma expressão semelhante à que apresentou na nave, antes de desembarcarmos. Achei melhor deixar de lado, por enquanto.

                - E quem seria esse senhor TWE-sei lá o quê?

                - Achei que você deduziria, Me-kun. Ele é o mestre de operações do C.E.M.

                Recuei, atordoado.

                - Isso não é muito arriscado? Você pretende ir direto ao chefe?

                - Claro que não – ela começou a ir até o elevador mais próximo – Temos algumas paradas antes do último andar.

                Ainda sem entender seus planos, eu e Ana seguimos Kasumi até o elevador que, por sorte, não tinha ninguém. Ela apertou um espaço na parede, que se iluminou, e o elevador começou a subir rapidamente.

                - Ana-chan – Kasumi avisou – A primeira parada é para você.

                O elevador parou e a porta se abriu, revelando uma sala escura, mas repleta de monitores e funcionários. Eu não teria visto nada relevante, não fosse a voz que anunciou:

                - Bem vindos ao andar de armazenamento de memórias colhidas.

                Os olhos claros de Ana brilharam com mais intensidade.


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Notas finais do capítulo

Quem é vivo, aparece /o/
A história vai caminhando... Pra onde vai agora, só depende da Kasumi =3