PDV BELLA

Eu abri os olhos e fitei o teto. Tudo estava tão claro e definido.

A luz forte no alto era ofuscante, e no entanto eu podia ver cada cor do arco-íris na luz branca.

Eu conseguia ver os grãos de poeira no ar como eu nunca tinha visto antes. E principalmente, eu não precisava de ar. Mas gostava dele.

Me sentei, rápido demais até, e me assustei com a cena. Não que não fosse bonita de se ver. Edward estava sem blusa, e já ia tirar a calça se...

- ALICE! - eu gritei e no mesmo segundo eu estava do outro lado do quarto

Assustado ele olhou para mim, e se deu conta do que havia acontecido.

- Eu posso explicar, não é nada disso que você está pensando - ele disse rapidamente e com os olhos arregalados

- Eu não estou pensando nada, eu estou vendo, seu tarado! - no mesmo instante Alice chegou no quarto e se deparou com o Edward semi-nu, e eu encostada na parede... rosnando?

Chocada com minha própria reação, eu saí de perto da parede, e olhei para Alice interrogativamente.

- O seu irmão é um psicótico, Alice!

- O que? - ele olhou para mim incrédulo

- Você estava praticamente pelado.

- EDWARD! - Alice gritou, seu rosto transparecendo confusão

- Eu não sabia que ela tinha acordado.

- Você é um maníaco sexual. Eu sabia. Você parecia que queria me devorar só com um olhar - não que eu não quisesse, eu preferi não dizer a última parte. Mas parece que Alice percebeu e revirou os olhos como se dissesse " E você nem gostava né ". 

- Você é retardada, garota. Alice, eu não sei como você pode ser amiga de uma paranóica como ela, peraí. Nem responde, vocês são completamente iguais - ele disse e deu um sorrisinho debochado para a irmã mais nova, que apenas deu a língua que nem uma criança emburrada

Vocês devem realmente me achar retardada por rejeitar um gostosão desses. Se quiser pode ficar para você, esse garoto é a encarnação do demo. É muita demência para um garoto só.

- Sai daqui, capeta! - eu gritei e ele me deu aquele dedo. Medo!

- Sabe o que você faz com esse dedo? Mergulha na pimenta e enfiar no teu c... - Alice me cortou

- Vocês vão continuar com essa demonstração de afeto até quando? - ela perguntou irritada - Venha Bella, eu preciso conversar com você - dito isso, ela deu um olhar gélido e significativo para Edward, que saiu na mesma hora

Após estarmos sozinhas, eu comecei a reparar mais coisas estranhas, eu sentia muitos cheiros misturados, e ao olhar para Alice, eu via coisas que eu não tinha reparado antes. Era como se antes estivesse tudo embaçado, e agora finalmente estivesse mais nítido.

- Que bom que você está bem! - Alice disse e pulou em cima de mim. Por impulso eu a agarrei, e a abracei forte.

- Alice, o que aconteceu? Como você me encontrou e onde eu estou? E por que você não me deixou lá?

Ela me olhou com os olhos molhados e segurou as minhas mãos.

- Eu não podia deixar você morrer, Bella. Você é como uma irmã, e eu não sei o que eu faria sem você - ela disse tão baixo, que eu quase não escutei. Lágrimas também corriam pelo meu rosto com facilidade, e o que ela me disse a seguir me chocou - E por isso eu fiz uma coisa horrível, eu tenho certeza que você vai me odiar para sempre, e quando eu digo para sempre, é literalmente para sempre.

- Eu nunca te odiaria, Alice! - eu disse ofendida por ela achar que algum dia nessa vida eu poderia sentir o contrário - Eu tenho uma pergunta.

- Diga.

- Por que eu consegui... "trocar" pensamentos com o Edward? E por que eu senti aquela dor? Por quanto tempo eu fiquei inconsciente? Eu não sei nem se eu fiquei uma hora ou um dia.

- São três perguntas, Bells - disse ela dando um risinho - Realmente doeu, não é? - ela estava com a cabeça baixa, brincando com um fio solto do tecido que estava na cama - Me desculpe fazer você passar por isso, eu sinto que eu fui egoísta e só pensei em mim mesma.

- Do que você está falando? A dor não foi culpa sua.

- Bella - ela disse soluçando - eu tenho um segredo. Não só eu, mas meu irmão e o resto da família também.

- Todos temos segredo.

- Mas o nosso é diferente. E agora, você faz parte dele... - ela disse num fio de voz - ... por minha causa.

- Eu não estou entendendo.

- Você acredita em lendas? - ela me perguntou receosa

- Depende de qual delas - eu disse, afinal, eu sou uma bruxa. Se eu discordasse de alguma lenda, seria escroto.

Apesar do olho dela já estar vermelho e dela não parar de chorar e soluçar, eu não via marcas em seu rosto, como se as lágrimas escorregassem pelo rosto dela. Ela me olhava atentamente, seus olhos transmitiam preocupação e davam um ar nervoso ao redor dela, como se a qualquer momento, uma bomba fosse explodir.

- Eu, minha família e agora você... - ela deu uma pausa e respirou fundo - ... somos vampiros.

Eu gelei. Era algo meio impossível ao mesmo tempo certo. Como se tudo aquilo fosse realmente certo, mesmo sem sentido.

- Isso é verdade? - eu perguntei pausadamente

- Sim. Olhe para você - ela disse e eu o fiz. Gelei novamente. Eu estava praticamente invisível. (Isso poderia ter acontecido na época que eu estava sempre na detenção) - Olhe os seus olhos.

Ela correu em um vulto até o armário e em menos de um segundo ela estava com um espelho na minha frente.

- Olhe.

Eu olhei. Meu olhos estavam da cor de um vermelho escarlate que era lindo e perigoso. E eu mesma me hipnotizava. Eu não reconhecia a garota do espelho. Sim, ela era parecida comigo, mas muito mais bonita do que antes. Um medo feroz tomou conta de mim. Se eu realmente sou vampira agora, eu deixei de ser bruxa? Eu sentia meus olhos embaçando e sem permissão, uma lágrima caiu. E depois outra. E depois mais outra. E quando eu percebi, eu estava quase morrendo afogada.

- Me desculpe, Bella, eu não sabia que você iria reagir assim.

- Não é isso. É que... - eu não consegui terminar a frase e comecei a chorar de novo. Sem perguntar o motivo do choro, Alice apenas deitou a minha cabeça em seu colo, e ficou dizendo que tudo ia ficar bem.

Eu sentia que a mísera parte que havia restado viva em mim, estava morta agora também. Ser bruxa não é fazer aquelas mágicas de televisão. Você nasce daquele jeito e morre daquele jeito. E não ter mais o meu "dom", era como se só afundasse mais o buraco no meu peito, o que parecia impossível.

Uma ardência esquisita crescia na minha garganta, e eu estava começando a ficar descontrolada. Comecei a andar de um lado para o outro, e já parecia barata tonta.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAH! - eu gritei assustando pessoas que eu nem sabia que estavam naquela casa

- Ela vai me matar se continuar com esse sentimento de psicopata - Choramingou o que parecia ser o namorado de Alice

- Jasper sente e controla as emoções - antes mesmo de Alice terminar de falar, eu já me sentia mais calma

- NÃO É JUSTO, DEVOLVE A MINHA RAIVA! - em um segundo eu fui até ele e estendi a mão como se esperasse que ele colocasse algo nela

- Você mesma já a pegou - disse ele se encolhendo e parecendo um filhote de coruja

Bufei irritada e voltei para o quarto.

- ALICE, FAZ ISSO PARAR!

- A sede? Vem comigo, nós vamos caçar - ela respondeu com a maior calma do mundo

- É, isso aí, mas eu prefiro que chame de "ardência da morte".

- O que? - pude escutar os outros lá embaixo rindo

- Dá mais drama a coisa toda, sabe?

- Bella, às vezes você me assusta. Vamos caçar, antes que você mate alguém - ela disse olhando para mim meio receosa

- Nós vamos caçar humanos? - eu disse assustada

- Não! Vamos caçar A-N-I-M-A-I-S!

- Mas os humanos são mais animais que os próprios animais. Eu não quero matar os bichinhos - eu fiz um biquinho e Alice arregalou os olhos - Mas também não vou matar as pessoas, eu não sou maluca, Alice!

- Não... imagina! - Edward disse rindo

QUE MERDA!

- Por que você não me deixa em paz, seu obnubilado?!

Ouvi uma gargalhada rouca e grotesca.

- Esse é o Emmett - Alice disse rindo também

- Eu diria que ela está de TPM, mas como vampiros não podem... - ouvi uma voz de mulher dizendo

- É mau humor mesmo - Edward disse

- Améba retardada - eu sussurrei para mim mesma, mas Emmett escutou de novo e poderia ter morrido por asfixia se fosse um humano

- Mau humor mesmo, Bella - Alice riu

- Por que todo mundo esta dizendo isso?

- Por que você está de mau humor?! - Rá rá, morri de rir

Revirei os olhos e segui ela até a janela.

- Vamos?

- Pela janela? - perguntei, olhando dois andares abaixo.

As pedras abaixo eram mais agudas do que eu teria imaginado. 

Alice sorriu

- Sim, pela janela. É fácil. Presta atenção – disse ela. E, então ela saiu pela janela alta e caiu.

O barulho foi muito baixo.

Imitando-a, eu pulei. O chão pareceu se mover na minha direção tão lentamente que não foi nada demais colocar os pés nele. Foi nessa hora que eu percebi a minha roupa: Um vestido colado ao corpo, de seda branco. Mas que diabos... ? Como eu posso caçar de vestido? Olhei acusatóriamente para Alice que apenas deu de ombros.

- Siga-me... se puder. - ela sorriu, a expressão de repente debochada e saiu correndo. 

Ela corria mais rápido que eu. Eu não conseguia imaginar como ela movia as pernas naquela velocidade, era impossível. No entanto, eu era mais forte, e cada passada minha dava três da dela. E assim voei com ela pela floresta.

A floresta era muito mais viva do que eu imaginei. Pequenas criaturas, que eu nunca ouvi falar, estavam nas folhas à minha volta. Todas ficavam em silêncio depois de passarmos.

GEEEENTE, NÃO FIQUEM COM MEDO, EU NÃO SOU UM MONSTRO!

Reparem que eu disse gente.

Pelo canto do olho, vi Alice parar de correr. Se ela parou, eu que não seria lesada de continuar correndo.

- O que estamos caçando? - perguntei

- Alces. É o mais fácil - a "ardência da morte" aumentava cada vez mais, e eu já estava considerando a ideia de dar com a minha cara em uma das árvores

- Onde?

- Feche os olhos e ouça - Alice mandou - O que está ouvindo e aonde?

Havia um pequeno riacho perto de nós. E ali, perto do barulho da correnteza, o som de línguas mergulhando na água, e as batidas de corações bombeando sangue. A sede aumentou.

- Alces. No riacho, ao norte? - perguntei com os olhos ainda fechados. 

- Sim - A voz dela era animada. - Siga seus instintos

Deixei-me levar pelo cheiro, quase inconsciente de meus movimentos enquanto flutuava. Meu corpo inclinou-se automaticamente e eu me agachei. Apesar dela ter falado alces, eu não tinha gostado muito do cheiro deles. E eu era levada por um cheiro muito melhor. Avistei um puma e me concentrei nele, no ponto quente em seu pescoço peludo onde o calor pulsava mais forte. Enquanto eu pulava, meus lábios recuaram por própria vontade (Tá vendo? Não mando nem nos meus lábios) e expuseram os dentes. Um rosnado bizarro saiu da minha boca, e eu pulei no animal. Ele tentava lutar, mas eu imobilizei-o, e me concentrei naquele ponto que havia em seu pescoço. Sem pensar em mais nada, eu cravei meus dentes na pele macia dele. O sabor era quente e molhado, e melhorou a sede intensa enquanto eu bebia com vontade. O calor do sangue se irradiou por todo o meu corpo, aquecendo até as pontas dos dedos das mãos e dos pés (eu diria que até os cabelos). 

O puma se acabou antes de minha sede. A sensação ardeu de novo quando ele ficou seco. Afastei seu corpo do meu. Como eu ainda podia ter sede depois daquilo tudo? 

Pelo visto, não faço muita diferença de quando eu era humana.

Me levantei e fui até Alice.

- Você foi perfeita! - disse ela dando saltinhos de alegria

- Eu não sei - olhei para o meu vestido rasgado e meu cabelo um "pouco" desgrenhado. Eu estava parecendo a nega maluca.

- O vestido não serviria mais mesmo - disse ela seguindo o meu olhar e depois deu uma arrumada no meu cabelo - Eu não pensei que você conseguiria caçar um puma. Mas você foi muito bem.

- Como eu posso ainda estar com sede?

- Você acabou de ser transformada, querida.

- Aff...

Voltamos pelo mesmo caminho de antes. Alice ia entrar na casa, mas viu que eu hesitei.

- Qual é o problema, Bells?

- Que abram as portas do inferno - eu disse já imaginando o que eu teria que passar morando com aquele retardado.