O mais velho sentou-se, praticamente jogando-se no sofá.

“estou cansado”.

E um suspiro baixinho fez o alto moreno lançar um olhar ao outro homem.

“são esses papéis, essas músicas, essas pessoas, esses barulhos, essa vida...”

Analisando o mais baixo em silêncio, sentou-se a certa distância, no mesmo sofá, olhando de esguelha enquanto acendia o cigarro preso aos lábios.

“esses horários, essa rotina...”

Encostou-se, soltando a fumaça lentamente, oferecendo o tabaco ao colega.

“essas gravações, apresentações, revistas, essa mídia”.

Retornou o cigarro praticamente intacto.

Silêncio por poucos segundos, interrompidos por suspiros pesados e leves resmungos.

“essa opressão, esse vazio, apatia...”

A fumaça mesclando-se com as palavras e o movimento de aproximação, mesclada com o corpo maior se ajeitando mais confortavelmente, e com a fumaça do cigarro que compartilhavam, mesclando-se com os dedos chocando-se na ânsia de mais fumaça e calma e conforto e palavras e cigarros e dedos chocando-se.

“cansado das mentiras, das verdades não ditas, das ditas também”.

“das obrigações, das responsabilidades”.

“das críticas ferozes, da auto-crítica”.

As cabeças no encosto do sofá, fitando o teto, um cigarro virando dois, três, dez...

As palavras soltando-se tal qual fumaça, sinistra, charmosa, volúvel.

“cansado de estar cansado”.

Dois pares de olhos fechando-se, resmungos calando-se, fumaça se esvaindo.

Fim.

04\10\2010.