Aaah, eu não me canso disso!

Kaoru-kun me fitava gentilmente com seus olhos cor de mel através da tela do celular. Ele estava usando o karate-gi, com o pescoço todo à mostra e um leve brilho de suor no corpo. Sua expressão era tão fofa! Parecia com um filhote de gato... que vontade de apertar!

Ele fica tão bem com a roupa de karate, he...he... hehehe he...!

Aquela era uma foto que eu havia tirado ontem depois do treino de Karate. Eu olhava para o celular, com um sorriso idiota na cara, enquanto esperava a aula começar. Kaoru-kun, infelizmente teve de mudar de sala, por causa de alguns problemas administrativos na escola, e eu realmente tinha ficado muito deprimida com isso (porque logo agora?), mas Kaoru-kun me consolou e me deixou tirar uma foto, dizendo que ele sempre estaria comigo dessa forma. Tão fofo!

— Você não sabe que é contra as regras usar celular na escola Coelhinha? – uma voz arrastada e sarcástica soou ao meu lado. Hikaru me olhava com repreensão, ao mesmo tempo em que colocava os pés em cima da mesa, com as mãos no bolso.

— Não quero ouvir sobre regras de você! – respondi sem olhá-lo.

Ele se aproximou bruscamente, me assustando um pouco, e puxou o celular das minhas mãos. O que ele tá pensando da vida!?

— Aah, então o papel de parede é do Príncipe! – ele falou, com um semblante entediado – Ver esse rosto de manhã realmente me deixa irritado! Você deveria usar uma foto minha no lugar – ele virou a câmera do celular para si, e com um sorriso perfeito, tirou uma foto, voltando à cara aborrecida de antes logo depois  - Eu sou muito mais bonito! E sou uma cara legal!

— Aah, droga, não toque no meu celular! – eu recuperei o aparelho das suas mãos, guardando na bolsa.

Hikaru colocou os fones de ouvido, num volume tão alto que eu podia ouvir o chiado baixo da guitarra e da bateria, e fechou os olhos. Era assim que ele passava os dias na escola, e no ínicio os professores até reclamavam, mas desistiram depois de um tempo... Hikaru realmente é o tipo de pessoa que só faz o que quer.

Bem, parece que Hikaru ainda não gosta de Kaoru... e não imagino que isso aconteça em breve. Se esse é o caso, é melhor que eu não conte pra ele que estou saindo com Kaoru-kun...

-

Estava deitada na cama, de pernas pro ar, sem nada interessante para fazer. Já havia lido todos os mangás que comprei no caminho para casa, e até mesmo os deveres de casa eu fiz! (Não todos... e não há garantia de que estão corretos... mas eu tive a intenção!).

Eu queria tanto ver o Kaoru-kun!!!!

Peguei o celular da mesa de cabeceira, para olhar a foto de Kaoru-kun de novo. Quem me olhou da tela tinha uma expressão maliciosa e perigosa, com um sorriso um tanto quanto sádico. Aaah! Eu tinha esquecido que o Hikaru mudou a foto! Maldito!!!

Olhei mais atentamente a foto... ele sorria, daquele jeito de sempre, mas então porque parecia tão diferente?

Algo na expressão dele, o olhar quem sabe... parecia... triste, desistente. O seu sorriso não refletia nos olhos. Ele definitivamente não estava bem...

Mas, porque?

Ainda estava fazendo um analise mental do comportamento de Hikaru, quando o telefone tocou na minha mão. Uma mensagem.

Você está livre no Domingo? Se for possível, eu gostaria de ir ao cinema com você. Espero pela resposta.

Kaoru

— Isso é... i-isso... o c-convite para o p-primeiro encontro!?!! Aaaaah!!!

-

Caminhei um pouco insegura entre as pessoas. Nós havíamos marcado de nos encontrar em frente ao chafariz da praça da estação, mas até agora eu não havia encontrado Kaoru-kun.

Estava tão ansiosa por hoje que acabei deixando a Izumi-chan me arrumar e maquiar. Ela me fez usar um vestido branco, bem leve, com alguns babados na alça e na barra e uma fita rosa claro abaixo do busto. Era realmente bonito, mas eu não sabia como havia ficado em mim, por que ela não me deixou olhar no espelho. A sandália de salto era cor-de-rosa bem claro, um pouco acinzentado, eu peguei emprestada da Ai-chii (por algum motivo ela usa muito salto) e Izumi-chan enrolou a ponta dos meus cabelos com um baby-liss e prendeu a franja para o lado com uma presilha.

Andei um pouco mais para frente, para ver se conseguia vê-lo chegando pela outra rua, mas no meio do caminho esbarrei em alguém.

— Me... me desculpa – eu pedi automaticamente – Kaoru-kun! Eu finalmente te encontrei! – exclamei, quando percebi em quem havia esbarrado. Kaoru me fitava com uma cara estranha, um pouco surpreso, e o rosto corado. Por que ele havia ficado assim?

— Hanako-chan, é você?

— Claro que sou eu!

— Me desculpe. Você tá tão diferente... Eu já havia passado por você lá na fonte, mas não a reconheci de imediato. O seu cabelo... essa roupa... Hanako-chan... está...tão... tão...f...

— Anh?

— F... feio. Aah! Não! Não! O que eu estou dizendo???  - Kaoru se descontrolou um pouco, e depois escondeu o rosto com a mão - Me perdoa.Na verdade eu quis dizer que está... fofa. Muito fofa.

— Aan... m-m-m-muito obrigada – curvei a cabeça na tentativa de esconder meu rosto que havia entrado em combustão espontânea, ao mesmo tempo em que Kaoru-kun olhava para o céu, querendo parecer despreocupado. Eu não consigo acreditar que Kaoru-kun me chamou de fofa!!! Se fosse antes ele nunca diria algo assim! Preciso agradecer imensamente à Izumi-chan!

— Vamos...? – ele ofereceu a mão para mim, um pouco apreensivo.

— Claro!

-

—Eu te amo, Channel-san!

— Eu também te amo, Peter-san!

Aaah, que história linda! Enxuguei mais uma vez meu rosto debulhado em lágrimas. Histórias de amor são tão comoventes... mas Kaoru-kun deve estar se sentindo entediado...

Olhei para o meu lado para checar, mas senti meu coração falhar duas batidas. Karu-kun discretamente tentava secar as lágrimas que caiam pelo seu rosto. Que lindooo!!!!

-

— Aquilo foi ótimo! – Kaoru-kun comentava, com a testa franzida firmemente – Peter-san era tão bravo... e os sentimentos eram tão fortes...

Isso é tão fofo que acho que vou ter uma hemorragia nasal! Kaoru-kun é uma pessoa tão facilmente comovida! Eu quero conhecer mais desse lado fofo do Kaoru!

Estou tão feliz!

— Espere aqui um pouco – Kaoru-kun disse enquanto eu sentava em um banco – eu vou buscar algo para beber.

— Certo!

Olhei ao meu redor, sentindo o aroma doce das flores ao redor, ouvindo o barulho da água caindo na fonte ali ao lado, o sol tocando meu rosto... aaah!! Poderia haver um dia mais perfeito?

— Tenta mais pro lado!! – uma voz chorosa disse, suplicante.

Levantei do banco, chegando ao outro lado da fonte. Uma garotinha chorava em silêncio, enquanto um menininho tentava a todo custo alcançar com um galho de árvore um embrulho esquisito que boiava mais para o centro da fonte.

— O que aconteceu? – perguntei, curiosa e com pena da garotinha que ainda chorava.

— O ursinho dela caiu na água. Eu estava tentando pegar – o garotinho respondeu, olhando culpado para a pequena chorona. Fiquei admirada com o cavalheirismo precoce... que fofo! (embora aquela cara de “fiz besteira” me diga que o ursinho está se afogando por culpa do menino).

— A Onee-san vai ajudar! – apontei para mim mesma, sentindo o orgulho de ser mais velha subir instantaneamente a cabeça – Vê, é bem fácil!  - demonstrei, enquanto esticava o braço para alcançar a coisa marron e disforme que parecia mais um pedaço de m... qualquer coisa menos um urso.

Aaa, o chão está meio escorregadio...

— Ei! Cuidado Onee-san!

Tarde demais...

-

— Ei, Hanako-chan! – ouvi Kaoru exclamar admirado, com dois copos na mão. Sorri, constrangida – em tão pouco tempo... o que aconteceu com você?

— Hehe... – tentativa frustada de parecer indiferente. Meu cabelo está arruinado, pingando, todo desarrumado e cheirando a água da fonte do parque. Meu vestido, nem se fala, é um caso perdido. E eu vou apanhar tanto quando Ai-chii vir que eu quebrei o salto da sandália dela...

— Desculpa, onee-san! Você deve estar com frio... – a garotinha, que eu descobri que se chamava Haruka, disse, parecendo prestes a começar a chorar novamente, abraçando com vontade o seu boneco amaldiçoado.

— Está tudo bem – eu me agachei, para ficar na mesma altura dela, e afaguei sua cabeça. Apesar de tudo, ela era bem fofinha...  e não tinha culpa de nada! – hoje está quente, não precisa se preocupar, certo? Vamos lá, de um sorriso! – usei as duas mãos para amassar a cara num careta. Sempre dá certo com meu primo...

Logo as duas crianças já estavam rindo, deu certo!

— Eeeeeeeei! Porque o Kaoru-kun está rindo também??!??!

Me despedi das crianças, que saíram correndo e me voltei para o Kaoru. Ele escondia o rosto com a mão.

— Quando você vai parar de rir, Kaoru-kun?!

Não pude deixar de me supreender quando senti a ponta dos dedos do Kaoru-kun tocarem a minha bochecha. Ele me olhava de um jeito diferente, doce... apaixonado uma voz entusiasmada gritou na minha cabeça. Um sorriso escapou.

— Você realmente é uma garota gentil... – ele sussurrou, chegando mais perto. Sua mão tocou meu ombro, causando arrepios por todo meu corpo, que não tinham nada a ver com a roupa molhada. Ele estava cada vez mais perto... eu senti sua respiração descompassada e quente... e...

— Ah desculpe! – alguém bateu nas costas de Kaoru. Minha perna bateu em alguma coisa, e logo depois eu sentia água por todos os lados. Abri os olhos, assustada e decepcionada, enquanto tentava focar a visão para entender alguma coisa.

Kaoru e eu estávamos dentro da fonte. Não havia parte alguma minha que não estivesse encharcada, e agora, Kaoru-kun provavelmente também. Diferente de mim, ela ficava incrivelmente melhor desse jeito molhado. O cabelo, sempre tão rebelde, estava para baixo, e as roupas estavam mais fustas no corpo, e eu podia ver muito bem todos os resultados de anos lutando karate. Ele estava corado, com gotas d’agua escorrendo pelo seu rosto...

Ele se levantou com dificuldade, me ajudando, e tudo o que podíamos fazer era dar risada. Como pode haver tanta falta de sorte no mundo?

Justo naquele momento!!!!

-

O sol já estava se pondo, mas eu não me importei. Estávamos andando de mãos dadas pela rua, mesmo estando ainda úmidos e desalinhados. Por causa do nosso estado, não pudemos ir a lugar algum, mas só de estar assim tão perto do meu Príncipe eu já me sinto extremamente satisfeita. Eu não poderia estar mais feliz! Mentira... eu poderia sim... Se ao menos...se naquela hora... se... se...Argh!

Hmm... eu sinto que já passei por aqui... tem algo familiar...

— Ei! Aquele não é o karaokê em que fomos naquele encontro em grupo? – apontei para o prédio do outro lado da rua, ao finalmente reconhecê-lo.

— Acho que é... sério, eu não sabia que daquela vez era um encontro em grupo! Aquele Junichi mentiu pra mim dizendo que iríamos assistir a uma partida de baseball! – ele comentou casualmente, mudando para uma fachada mais séria logo depois – mas, graças àquele encontro, eu pude te conhecer – ele sorriu , corando levemente. Meu coração acelerou ou ouvi-lo falar desse jeito, de uma maneira inconsciente — Mas é estranho pensar no passado... eu nunca poderia imaginar que acabaria saindo com você depois disso.

— Isso é verdade... – eu sorri, recordando – nós tivemos uma impressão ruim um do outro... eu te confundi com o Hikaru e até te segurei, pedindo para devolver meu primeiro beijo...

Ah! Como eu posso ser tão idiota?! Baka! Baka!! BAKAA!!! Falando dessas coisas na frente do Kaoru-kun!!!

— Quem teve seu primeiro beijo... foi o Hikaru... como eu imaginava... – a maneira como Kaoru-kun falou foi fria e sem flexões. Ele não olhava na minha direção.

— Mas... mas... foi um acidente! – me apressei em explicar – aconteceu tão subitamente... não foi porque eu senti algo por ele... eu... eu – Fechei os olhos, me encolhendo. Aaah! Não!!! Porque eu tinha que fazer isso?! – eu estava tendo problemas com uns caras, e ele me salvou, e quando eu fui agradecer, ele de repente... enfiou a língua na minha boca e... e... – O que eu to falando???

Vai ser como antes, ele vai ficar sem falar comigo! Por que eu sempre estrago tudo? Estava tudo tão... fiz Kaoru-kun pensar em coisas ruins...! Foi tão difícil chegar até aqui!!!

Senti as lágrimas se acumularem rapidamente. Eu sou tão fraca, sempre acabo chorando dessa maneira...

EH?

Algo quente e macio tocou os meus lábios. Era incrivelmente inebriante, e logo eu não lembrava de mais nada. Eu estava pensando em quê mesmo?

Abri os olhos um pouco, e tudo o que pude ver eram os olhos de Kaoru-kun, fechados e seu rosto corado. Fechei os olhos novamente, sentindo aquele sentimento se alastrar. Ele puxou meus braços para mais perto, segurando minha cintura com força.

Sua língua pediu passagem, receosamente, e eu cedi. Minha cabeça girava milhares de vezes no mesmo lugar, e eu já não me lembrava mais como fazia para respirar.

Relutante, ele se afastou, minimamente. Eu ainda sentia seu corpo perto do meu, sem me importar com as roupas molhadas. Na verdade, elas já não incomodavam mais tanto.

— Desculpa - ele sussurrou, a centímetros da minha boca – eu sou muito ciumento.  – sentou no banco atrás de nós e eu fiz o mesmo – apesar de saber que você conheceu Hikaru antes de mim... – ele me abraçou, afagando minha cabeça gentilmente – me desculpe!

Segurei com força a parte de trás da sua camisa, me afastando subitamente.

— N-não peça desculpas! Eu estou muito feliz!... que você esteja com ciúmes, e que tenha me beijado! Eu... eu  - Eu não sabia mais o que dizer... isso é tão embaraçoso, mas as palavras simplesmente pularam da minha boca – eu não sabia que beijar alguém que eu gostasse era algo tão maravilhoso!

Esperei por alguma resposta, mas tudo o que senti foi aquela tontura novamente. Kaoru-kun me beijava, e eu não conseguia mais raciocinar sobre nada mais.

Ele se afastou, ofegante, e eu sorri, depositando um pequeno beijo no seu rosto. Ele ficou surpreso, e corou instantaneamente. Eu amo tanto isso nele! Ficando envergonhado, é tão fofo!

Só esse beijo de hoje, com o Kaoru-kun, é o meu verdadeiro primeiro beijo!

Sou tão abençoada! Tanto que poderia morrer cheia disso agora!!!