Capítulo 23

You're the only one

I wish I could forget

The only one

I'd love to not forgive

Broken-Hearted Girl - Beyoncé

-ROSALIE HALE! – Alice berrou furiosa, quando eu entornei a água do copo em todo o seu cabelo. Em seus olhos, outrora sem expressão nenhuma, agora pareciam abrigar faíscas de pura raiva.

Bom, eu teria que aguentá-la agora, mas pelo menos tinha dado certo.

-No que você estava pensando? – Alice continuou gritando. Jasper e Emmett quase rolavam de rir com o seu ataque histérico e eu tentava, a todo custo e inutilmente, segurar o riso... O que só fazia minha amiga ficar mais irada. – Eu fui ao cabeleireiro esses dias, não podia molhar! Agora dê adeus a minha progressiva... Ah Rosalie, não acredito que você fez isso!

-Progressiva, Alice? – nem Jasper conseguiu se conter. – Seu cabelo já é liso, não precisa dessas coisas.

-Claro que precisa. – ela deu de ombros com um bico e depois virou-se para me encarar novamente com raiva. – Por quê?

-Porque você estava catatônica! – respondi, sem mais. – Pelo amor de Deus.

-Ah. – Alice encolheu-se no sofá, abraçando suas pernas com um bico no rosto. Eu reparei na maneira como Jasper não conseguiu se segurar e foi até lá para voltar abraçá-la. Era uma espécie de luta interna; na qual o amor incondicional que ele sentia por Alice desde sempre saía vencedor.

Ignorando o sofá e a própria Alice (os dois molhados) Jasper sentou-se ao lado dela e a abraçou pelos ombros. Alice não negou o toque.

-Vai dar tudo certo, Allie. – vê-lo chamando minha amiga por aquele apelido (que só ele tinha permissão para usar) me fez sentir uma intrusa naquele momento tão íntimo. No outro sofá, ali em frente, Emmett fazia cara de bobo.

Por que mesmo esse cara estava na minha casa?

Bufei e destranquei a porta com a chave que ainda permanecia na fechadura. Precisava espairecer e, pra isso acontecer, eu não podia ficar olhando para aquele deus grego retardado.

Os carros passavam na rua, as pessoas olhavam para o relógio a fim de saber do horário de seus compromissos... E olha que era apenas domingo;  Manhattan não parava. Toda aquela rotina me deixava saudosa, de certa forma, já que daquele incidente de Alice em diante minha vida jamais fora a mesma.

Eu tive inveja de todas aquelas pessoas, inclusive da mãe do outro lado da calçada que parecia pedir pelo amor de Deus para seu filho parar de chorar. Eu tive inveja da situação que eu mais abominei em toda a minha vida... Estava mesmo a matar cachorro a grito só para o tempo passar mais rápido para, por consequência, minha vida se ajeitar finalmente.

Tudo o que eu queria era a normalidade de volta para mim. Era pedir demais?

-Rose. – a voz que eu menos queria ouvir soou atrás de mim. – Podemos conversar agora?

-Não estou a fim de falar com você. – respondi com rispidez sem olhar para Emmett.

-Ótimo – ele disse me pegando totalmente de surpresa, mas logo complementou – Porque você não precisa dizer nada. Eu quero que você me ouça.

-Eu nem quero ouvir! – olhei para ele finalmente. – O que você está fazendo aqui, afinal?

Ele me encarou como se a resposta fosse óbvia demais para ser traduzida em palavras. Eu esperei ouvi-lo falar, no entanto.

-Rosalie, eu quero conversar com você. – ele começou e chegou mais perto de mim, colocando uma de suas mãos em meu braço. – Bella disse para mim ontem à noite que você disse para ela na boate que íamos conversar depois... Já é depois.

Revirei os olhos. Será que ele não entendia que eu não queria nem olhar para ele, quanto mais conversar?

-Não é depois o suficiente para mim. – esclareci e voltei meu olhar para a rua que agora tinha pouco movimento. – Eu te ligo quando quiser conversar com você.

Emmett soltou uma risada sonora e eu não consegui me conter para olhar a tempo de ver aquelas covinhas maravilhosas. Um sorriso escapou de meus lábios, mas eu logo consegui me controlar. No que eu estava pensando? Eu não o deixaria comandar a situação.

-Você não precisa ser robótica o tempo todo, Rose. – Emmett segurou o meu queixo, me forçando o contato visual com ele. – O único dia que eu te vi despreocupada foi ontem...

-E você percebeu a besteira que eu fui fazer? – me desprendi dele, cuspindo as palavras. – Eu não posso me esquecer de pensar antes de fazer alguma coisa, senão me arrependo depois.

Emmett POV

É, ela tinha se arrependido e me dito ali, naquele momento. Eu tinha vindo à toa, mas eu estava disposto a fazê-la mudar de ideia... E tinha meus argumentos.

-É fazendo as coisas sem pensar que a gente faz o que pensa. – eu sorri e a dor ultrapassou os olhos de Rosalie, tão sempre rígida. Seus olhos castanhos começaram a brilhar, abrigando as lágrimas que logo sairiam. Deixei-a virar o rosto; ela era orgulhosa demais e eu sabia que ela não gostaria de chorar na minha frente.

Era difícil vê-la sofrer... Mas eu resolvi continuar e não interferir em nada.

-Eu sei que você tem seus problemas, e eu sei que são difíceis... Mas eu também sou humano, Rose, minha vida não é um mar de rosas. Eu também tenho meus dias... E você nem imagina como ser eu é complicado.

Ri novamente, mas forçado dessa vez. Era mais difícil do que eu pensava lembrar o passado... Eu o guardava a sete chaves há anos; ninguém sabia absolutamente nada de mim (tirando meus pais) a não ser que eu trabalhava como pediatra em um hospital próximo ao Central Park.

Será que Rosalie estava preparada o suficiente para saber de tudo?