Changing Lifes escrita por Maty


Capítulo 7
Tudo errado




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-Ahh! – acordei com o grito de Beatrice. Sentei assustado no sofá, cocei os olhos e olhei ao redor desconcertado. Demorei um tempo para conseguir visualizar o relógio com clareza, 4:00 da manhã. – Droga!

    Levantei e cambaleei até a porta do quarto de Tessie. Beatrice usava uma camiseta GG que eu tinha a leve impressão de ser minha, ela parecia ter uma forte tendência a roubar minhas camisetas sem permissão.

-O que está acontecendo? – minha voz saiu rouca devido ao sono. Tessie parecia gritar agora, não chorar, literalmente gritar. Beatrice a segurava em seus braços andando de um lado para o outro do quarto.

-Eu... Eu acho que quebrei a mão dela!

-O que? – estreitei os olhos tentando deixar o sono de lado e começar a raciocinar.

-Eu fui trocar a fralda no trocador, a mão dela tombou para o lado e eu não vi! E aí me inclinei para pegar uma fralda limpa, encostei no trocador e prensei a mão dela! Eu quebrei! Tenho certeza que quebrei! – estava completamente desesperada a balançando freneticamente em seus braços.

     Sabia que devia falar alguma coisa, mas eu não tinha absolutamente nada para falar. O que eu podia fazer?! Repreendê-la quando nunca nem ao menos troquei a fralda da Tessie? Ou dizer que vai ficar tudo bem, quando ela acabou de quebrar a mão de um bebê de 3 meses? Estava prestes a dar as costas e voltar a dormir no meu sofá quando o interfone tocou.

-Eu já volto. – disse, correndo até a cozinha. Fechei a porta para abafar os gritos. – Alô? – afastei o telefone do ouvido com os gritos do outro lado da linha. – Ok, senhor... Sim, eu sei... Desculpe. – bati o telefone no gancho com raiva – Era o vizinho de baixo, ele ta puto com o barulho e... – parei surpreso. - Você esta chorando?

-Eu estou fazendo tudo errado, Tom... Ou a banheira está quente demais, ou o leite está quente demais ou a droga da fralda vaza! Nunca faço nada certo! – Beatrice chorava tanto que eu tinha a impressão que já teria desabado no chão se não estivesse segurando a Tessie.

-Você quer, por favor, se acalmar? – andei até ela de maneira calma para não deixá-la mais nervosa, estendi meu dedo para Tessie e ela o envolveu forte com sua mãozinha. – Viu só? Ela está bem! – exclamei sorrindo. Beatrice soluçava e seu corpo inteiro tremia. – Me dá ela... – estendi os braços, mas ela se recusou a soltá-la. – Anda, você não vai conseguir nada desse jeito.

-E você vai? – olhou para mim com olhos duvidosos e repletos de lágrimas. Rolei os olhos e peguei Tessie á força de seus braços, apertando-a contra meu peito.

-Por que você tem que ser sempre tão teimosa?! Estou me dispondo a ajudar caso você não tenho percebido ainda! Vai tomar um banho e dormir, eu me viro.

-Tem certeza?

-Anda logo, Beatrice... – resmunguei rolando os olhos. – Não vou matar ela.

     Beatrice hesitou uma, duas, três vezes, mas acabou por fazer o que lhe pedi. Assim que ouvi a porta do banheiro fechar olhei ao redor procurando o que fazer a seguir. Sabia que o vizinho de baixo ia ligar de novo para reclamar se não acabasse logo com aquele barulho insanamente irritante.

-Quer parar de chorar?! Sua mão está boa! Só está fazendo drama! Igual o tio... – exclamei a levantando até a altura de meus olhos, me permitindo ver seu rosto vermelho de tanto gritar. O interfone tocou, exatamente como eu esperava. – Fica aqui, eu já volto. – a deixei no berço e corri até a cozinha. – Alô. – soei nervoso e impaciente, todo aquele barulho me deixava inquieto. – Já disse que vou dar um jeito!! Me dê um minuto, porra! Se não gosta do barulho tampe seus ouvidos com algodões, cubra sua cabeça com um travesseiro e pare de me encher o saco! – bati o telefone no gancho.

     Se eu soubesse que colocando a droga da camisinha naquele dia ia evitar tudo isso, teria colocado três.

   Sai correndo para pegar a Tessie que continuava chorando no berço e tropecei no enorme carrinho pink berrante com alguns detalhes em preto. Presente do Bill, obviamente. Foi o Georg que montou, todos duvidamos que ele era capaz e ele montou só para provar que podia. No final Gustav teve que ajudá-lo. Sorri com a lembrança.

-Já sei o que vou fazer com você, barulhenta. – a peguei do berço e a coloquei dentro do carrinho. Aquele negócio era tão grande que mal conseguia me mover com ele dentro do pequeno apartamento. Passei no quarto e agarrei uma camiseta qualquer, só para não sair lá fora usando somente uma calça moletom.

   

     Na parte de trás do prédio tinha um grande jardim, com vários caminhos de tijolos que levavam a uma fonte no centro dele. Mais atrás havia um pequeno playground, somente com 2 balanços, uma gangorra e um daqueles brinquedos enormes de madeira com um escorregador. A noite estava agradavelmente fresca, apesar do ar estar abafado, um vento frio típico da madrugada de Hamburg tocava meu rosto.

-Você nunca vai parar de chorar?! – exclamei depois de algumas voltas pelo lugar. Apesar de Tessie não estar mais gritando escandalosamente como antes ela ainda choramingava e reclamava.

-Deve ser por que ela está morrendo de frio, cabeçudo. – Beatrice riu da minha cara ao notar minha expressão surpresa por não ter notado sua presença. Seus olhos azuis ainda estavam um pouco inchados e seus cabelos molhados tocavam seu pescoço enquanto ela caminhava até mim. Alcançou o carrinho e desdobrou a manta branca que trazia nas mãos, cobriu a bebê com cuidado e sorriu quando ela fez uma careta abrindo os olhinhos azuis como os da mãe.

-Viu só? Você não faz tudo errado...

-Essa deve ser a primeira coisa legal que você diz para mim, acho que estou emocionada. – brincou rindo fracamente, ao notar meu olhar surpreso abaixou a cabeça envergonhada. Eu já havia visto a Beatrice sorrir para a Tessie, para a televisão e até mesmo para minha mãe e Gordon, mas era a primeira vez que ela sorria para mim.

  Um longo silêncio seguiu suas palavras acompanhadas por um clima tenso e carregado de timidez, continuei a caminhar empurrando o carrinho e ela seguiu em silêncio ao meu lado. Poucos minutos depois Tessie já estava dormindo. O céu começava a clarear revelando uma cor acinzentada, paramos de andar em frente ao playground e eu sentei no balanço me balançando de leve com o pé esquerdo e empurrando o carrinho de Tessie para frente e para trás com o pé direito, Beatrice se sentou no balanço ao lado.

-Tom... – sussurrou depois de alguns minutos do mais absoluto silêncio, sua voz estava tremida e hesitante. Olhei para ela curioso. – Você não sente realmente nada, nem um pouquinho de amor, pela nossa filha?

    Senti meu coração bater abafado em meu peito, apertado por um turbilhão de emoções que nunca sentira antes. Era a primeira vez que Beatrice se referia à Tessie como nossa filha. Observei atentamente o rosto da mulher sentada na balança ao lado, não deixei de notar a pitada de esperança em seus olhos azuis. Finalmente caiu a ficha de que agora ela era uma parte da minha vida da qual eu não podia simplesmente me livrar, assim como a Tessie. Estaria acorrentado ás duas para sempre... A resposta para a pergunta de Beatrice estava na ponta da minha língua, ecoando em minha cabeça, mas eu parecia não conseguir pronunciá-la, talvez meu orgulho fosse grande demais para isso, talvez eu não passasse de um fraco que morria de medo de dizer as palavras e ter que lidar com elas no futuro. Abri a boca e as palavras que saíram dela foram somente mais uma grande mentira.

-Eu não sei, acho que não passei tempo o bastante com ela para isso. – disse, Beatrice murchou alguns centímetros em seu balanço, desapontada com a resposta. Suspirei arrependido do que acabara de falar, será que era tão difícil assim admitir que eu sentia sim alguma coisa pela Tessie? E que mesmo que tentasse negar era um sentimento forte? Talvez quem está fazendo tudo errado não é a Beatrice, sou eu.


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Notas finais do capítulo

próximo capítulo:

" -Você tem medo de alguma coisa? – indagou. – Por que cuidar da sua filha, ajudar de vez em quando ou deixar de ir nos bares para ficar em casa parece ser tão impossível para você? – perguntou me deixando completamente embasbacado. – Por que...

—Eu menti. – a interrompi antes que pudesse abrir a boca novamente e me atacar com perguntas que eu não podia responder. – Quando você perguntou se eu não amava a Tessie... Eu menti. "