Opera Paris escrita por Lauren Reynolds, Jéh Paixão


Capítulo 43
2ª Fase: Capítulo 41 - The Walk Is Always Hard


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoas. Tenham uma boa leitura e não se esqueçam de comentar! :P
Beijinhos



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Capítulo 6 –The Walk Is Always Hard

A Caminhada é Sempre Dura

Em algum lugar ao norte de Paris, uma carruagem de mercadorias e com alguns mercadores e camponeses, atravessava o último limite que dividia a região central da França, com as províncias litorâneas do norte.

- Em poucas horas estaremos em Calais. - Gerard disse baixo.

Era meio da madrugada e a noite era tremendamente silenciosa. Gerard conhecia muito bem aqueles lugares, para saber que precisariam ser cuidadosos, ou os olheiros da assembléia nacional desconfiariam e mandariam que parassem o veículo. Esme, parecendo perceber a mesma coisa, teve uma idéia.

- Bella, querida. Precisamos de um favor. - Esme disse baixo.

- O que é preciso?

- Fique encostada aqui, e se a carruagem parar use seu talento para as artes e finja ter uma dor excruciante.

- Eles vão nos parar, senhora. - Gerard sibilou ao pé do ouvido de Esme. - Eles estão um pouco mais a frente.

- Madeline, sente-se aqui. - a senhora Cullen ordenava. - Arrumem os trapos, me dêem os mantos, fiquem apenas envoltos nos trapos.

Houve uma grande movimentação dentro da carroça. Todos os mantos, casacos e peças mais finas foram envoltas num trapo velho e transformadas numa cama improvisada. Isabella bagunçou os cabelos, ajudou Madeline com as roupas e Esme, rapidamente, desmanchou seu coque e prendeu o cabelo de forma mais simples.

Gerard pegou um pouco das pequenas framboesas e morangos, juntou-as sobre um trapo de algodão cru e espremeu-as, manchando o tecido. Ele entregou para Isabella, que logo o colocou sobre seu vestido.

Nicolai, Mikhail e Anita amontoaram-se num canto e fecharam os olhos, fingindo estarem dormindo. Quando menos pessoas falassem melhor seria.

Exatamente quando estavam todos arrumados, houve uma movimentação no meio da estrada. Ali não seria possível fazer da mesma forma como Esme e seu criado haviam feito quando iam à Paris.

- Alto lá! - um homem trajando de vestes de algodão e um lenço vermelho ergueu a mão. - Quem passa a esta hora?

- Somente criados despejados, meu bom senhor. - Esme disse baixo, num tom suave e convincente.

- Tantos assim? - o homem e um outro abriram a capa que protegia a parte traseira da carruagem.

- Sim, meu senhor. Fomos despejados. - Madeline emendou.

- Para onde vão?

- Precisamos chegar ao porto, nossa amiga está ferida gravemente. - Madeline disse baixo.

O homem olhou para Isabella, que moveu os dedos e mostrou ao guarda um amontoado vermelho vivo.

- O que se sucedeu?

- Uma das lâminas de algum dos seus. Confundiu-me. - ela disse baixo, soltando um gemido logo em seguida.

- Quem eram seus senhores?

- A família Denali, meu senhor. - Bella disse rapidamente.

- Não sei de família Denali.

- Porque nãosãotão importantes. Minha senhora morreu quando estava indo a ópera, na grande invasão. - Isabella fez outra careta.

- Evocê?

- Eu era sua criada. Como minha senhora demorou a sair com a multidão, saí de nosso coche para procurá-la.

O outro guarda havia ido fazer as mesmas perguntas aos dois criados que guiavam a carruagem, Gerard e o cocheiro. Ele esperava que as respostas fossem diferentes, porém Gerard soube exatamente o que responder. Ficando satisfeito, ele voltou-se para o outro guarda.

- E então?

- São criados franceses. Da família Denali. Ela está ferida.

- Por favor, caro senhores. - Esme disse num tom comovente. - Nossa amiga está muito ferida, precisamos chegar ao porto.

- Podem passar.

Quando Gerard deu o sinal, o cocheiro estalou os chicotes sobre o lombo dos cavalos, que relincharam e passou de um leve trote, a uma cavalgada constante. Esme ficou observando os guardas voltarem ao seu posto, atrás de algumas moitas. E só quando aquele pedaço sumiu de vista, entre a sombra escura e fria das arvores, é que eles puderam respirar aliviados.

- És uma excelente atriz, Bella! - Madeline sorriu.

- Quem era a família Denali? - Esme piscou de curiosidade.

- Tanya Denali era a soprano do Ópera. Eu não sei sobre ela, mas os rumores que o senhor Gerard ouviu, foi que ela morreu ao tentar resgatar Piangi, o barítono.

- Estamos entrando na província de Calais. - Gerard sorriu. - Eu não tinha certeza em que ponto estávamos quando nos pararam.

- Estamos seguros agora. Vamos torcer para conseguirmos um navio até as terras inglesas.

Bella levantou-se e deixou que Madeline puxasse a cama improvisada. Ela distribuiu os mantos novamente, pois aquela região era fria e eles precisariam de algo para a viagem no navio a vapor.

Em Londres, há cerca de um dia atrás, Carlisle Cullen andava ereto por uma travessa da cidade. Ele entrou num estabelecimento grande, com inúmeras mesas. Uma cortesã aproximou-se, perguntando o que aquele jovem Conde procurava. Carlisle sorriu e apontou para uma mesa próxima ao canto direito do lugar.

A cortesã sorriu e caminhou junto a ele para o local.

- Desejo que não nos perturbem.

- Como o senhor desejar.

- Alguma notícia?

- Sinto muito, Lorde Cullen. Nenhuma notícia sobre seus filhos ou sobre a senhora Esme. – Disse o plebeu, de cabeça baixa, enquanto entornava uma caneca de vinho.

- Terrível. Terrível. – Carlisle maneou a cabeça. O que faria? Tinha muitos assuntos que dependiam de Edward, Jasper ou Emmett; eles são quem viajavam quando ele mesmo não podia ir. Havia muito que tratar em sua família.

- Mas em Portsmouth está um baita dum reboliço, senhor. – O plebeu disse baixo, olhando para os lados. – Os home estãopê da vida com o imperador. Já fecharam aquele porto e os da costa oeste. Ninguém arreda o pé daquele lugar.

- Mas as saídas do norte estão livres ainda?

O homem endireitou-se na cadeira e pigarreou. Esqueceu-se que falava com Lorde Cullen e não com um de seus compadres e informantes. Ele manteve o chapéu na cabeça e bebericou outro gole grande de vinho tinto.

- Os comunas estão com dificuldade para expandir suas fronteiras. – Ele tirou um papel dobrado do bolso, onde havia o desenho das fronteiras da frança, rascunhado grosseiramente, mas com marcações mais escuras. – Aqui, aqui e aqui. Portos e províncias que não cederam. Mas não sei o porquê, senhor.

Carlisle virou o desenho para sua direção e analisou rapidamente. As províncias na região de Calais, que eram ao norte, ficavam próximas àPrússia e a Áustria.

- Politicagem, meu caro. Prússia e Áustria estão protegendo essa área para conseguirem receber mercadorias de todo tipo. – Ele pensou sobre o assunto por alguns centésimos de segundo. – Vá pessoalmente para Calais. O mais rápido que puder. Se dentro de três dias você não obter nenhuma resposta da senhora minha esposa, volte.

- Levo alguém comigo, senhor?

- Viaje em dois. Não mais e não menos. Não saiam de Calais, ou minha influência não poderá protegê-los. – Carlisle instruiu e entregou-lhe um pequeno saco com um punhado de moedas de ouro.

- Vou mantê-lo informado, senhor Cullen.

- Obrigado.

Carlisle deixou duas moedas sobre a mesa para pagar o vinho de seu informante, levantou-se, ajeitou o paletó e saiu do ambiente. Seu coche o esperava na esquina combinada, assim que embarcou, o Conde deu novas instruções.

Rapidamente, o cocheiro seguiu para a parte mais nobre da cidade, próximo aos arredores do palácio de Buckingham onde residia a rainha Vitória, que já estava avançando na idade. Alguns plebeus andavam na rua, quando foram surpreendidos por uma garoa fina e constante; eles apressaram o passo e correram para abrigos enquanto outros pareceram não se importar em estar sob a chuva. O cocheiro parou numa rua estreita, onde o Conde desceu e entrou numa residência com porta de madeira e vidro, paredes de pedra escura e grades negras.

- Conde Cullen, a que devo a visita?

- Barão Huston, boa tarde.

- Aceita uma xícara de chá ou uma taça de vinho?

- Vinho, por favor. – Ele respondeu.

- Então, a que devo a visita do aclamado Conde? Problemas?

- Em grande escala.

Barão Huston era um dos braços direitos de Carlisle Cullen; estava sempre disponível para seus serviços e era o principal administrador dos negócios do barão fora da Inglaterra. Ele aprumou-se na poltrona e pegou sua caderneta, esperando ordens do patrão.

- Os comunas estão causando muito mais problemas do que imaginávamos. – O Conde contou-lhe. – As fronteiras francesas serão interditadas e, temo que muito em breve, nem Calais resista à pressão. Logo não poderemos nem receber e nem enviar mercadorias, criados, nem mesmo cartas chegarão à França.

O Barão levantou-se e ficou de frente para uma janela. Uma ruga formava-se em seu rosto.

- Então os boatos são verdadeiros. Se continuar desta forma, para chegarmos aos países baixos, teremos que contornar pelo norte e ir mais ao leste.

- O que é impossível. As uvas não resistiriam a uma empreitada dessa forma, nem mesmo tenho certeza se a propriedade de Bordeaux ficaria segura por muito tempo. – Carlisle abriu um mapa que recebera de seu informante minutos atrás.

- E os espanhóis? - O Barão perguntara.

- Não tenho recebido notícias de lá. Mas quando estive em Paris alguns meses atrás, meu filho Edward contou-me sobre algumas revoltas na Espanha. – Ele comentou.

- Estão apertando o cerco. Não sei o que a Rainha fará, mas vou informar-me.

- Teremos que começar a impedir o transporte dos barris entre as vinícolas. – Carlisle pensou brevemente. –Receba e catalogue os barris que chegarem ao porto o quanto antes, envie-os para minha propriedade. Serão estocados lá e redistribuídos.

- Sim, Conde. Farei imediatamente. Foi bom receber este aviso prévio, impedirei que outros empregados se arrisquem. Não queremos lidar com mais despesas.

- Obrigado, Barão. Boa noite. Passe bem.

Carlisle Cullen entrou novamente em sua carruagem e seguiu para sua propriedade. O céu em Londres tornara-se mais negro, as nuvens tornaram-se espessas e mais cinzentas. Começara a anoitecer e cair uma garoa fina, que mais tarde, tornar-se-ia espessa.

O Conde chegou a sua propriedade, seus guardas abriram o portão de ferro negro para que a carruagem passasse. Um de seus mordomos estava à espera do Conde sob o arco de pedra que antecedia a porta dupla principal.

- Boa noite, vossa graça. – O mordomo fez uma reverência.

- Boa noite, Benoît. – Ele respondeu ao homem francês.

- Senhor, se me permite a ousadia. – O mordomo dizia, enquanto acompanhava seu senhor, segurando seu casaco e chapéu. Carlisle assentiu silenciosamente, já imaginando o que o criado gostaria de saber. – Alguma notícia da senhora sua esposa, a condessa?

- Infelizmente não, Benoît. Mas logo saberemos. Esme está bem, ela sabe cuidar de si mesma. – Carlisle afirmava.

Ele caminhou lentamente pelos corredores amplos, de arquitetura alta, com inúmeros cômodos. Havia janelas de vidro, cobertas com cortinas, semicerradas; apenas o flamejar das chamas das lamparinas provia a iluminação ali. Quando o Conde abriu uma porta dupla, ele adentrou um ambiente iluminado pelas chamas de uma lareira, com paredes cobertas por livros em estantes de madeira maciça e uma mesa central.

- Imagino que no início da madrugada receberemos mercadorias, avise os carregadores. – Carlisle instruiu Benoît.

- Sim senhor.

- Se precisar de alguma coisa, estarei por aqui.

Era cerca de três horas da madrugada, Carlisle havia ficado a noite toda perdido entre sua papelada, que perdera a noção do tempo. Quando percebeu, seu criado estava à porta, chamando-lhe para acompanhar o descarregamento dos barris de vinhos.

O Conde deixou o paletó sobre a cadeira estofada na biblioteca e acompanhou o mordomo até uma das entradas dos fundos da propriedade, onde as mercadorias eram encaminhadas. Carlisle trocou o costumeiro sapato negro por um par de botas montaria, que ficavam por fora da calça. Benoît entregou-lhe um bloco de anotações.

- Vossa graça. – Um dos carregadores fez uma reverência.

- Boa noite. – Ele retorquiu.

- Aqui estão os carregamentos que conseguimos interceptar antes de chegar aos portos em Calais. – O homem falou, entregando um punhado de folhas ligeiramente amassadas ao Conde.

- As uvas, como estão?

- Temos o mínimo de dano possível, senhor. – Outro homem respondeu-lhe. – Senhor, este outro carregamento veio de Portsmouth. Quando soubemos que não poderíamos descer à costa oeste, resolvemos retornar. Foi então que mandei um de meus homens encontrar com o senhor.

- Sim, ele já passou toda a informação ao Barão Huston. Ele está a par de tudo. – O Conde avaliava o conteúdo das folhas. –Estas uvas precisam ser estocadas. Todas estão aqui?

- Sim, senhor. – O carregador confirmou.

- Ótimo, estoquem as caixas e amanhã cedo começaremos a processá-las. Se elas ficarão estocadas por tanto tempo, pelo menos não nos daremos ao luxo de perdê-las.

Carlisle ia se retirando, quando foi interrompido por um dos outros carregadores. Ele entrava apressado na propriedade e, mal esperando as carruagens de comércio pararem, já desceu e foi de encontro ao Conde. O homem tinha uma aparência péssima, possuía alguns cortes no rosto, marcas arroxeadas e parecia estar gravemente ferido no abdômen.

- Benoît, leve este homem para dentro e cuide dele. – Carlisle olhou o corte no abdômen.

- Senhor Cullen. – O homem dizia quase num sussurro. – Perdemos três homens, mas conseguimos recuperar o carregamento.

- Alguém tentou roubar a diligência?

- Sim, senhor! Não sei sobre aqueles bastardos! Nós sabíamos que Paris iria ser tomada e que logo seria impossível sair da cidade Luz, senhor! Mas tentamos mesmo assim. E aqueles malditos nos interceptaram.

- Eram franceses?

- Oui, monsieur! Todos franceses. Vou dizer senhor, mas tem algo de muito estranho acontecendo naquela cidade. – O homem dizia enquanto uma criada passava um ungüento em suas feridas.

Nesse instante, Carlisle teve um estalo.

- Quando foi que tentaram deixar Paris?

- Há quase cinco dias, senhor. Eu consegui ouvir que os comunas iam fechar a cidade em alguns dias. Porque, meu senhor?

Carlisle raciocinou. Ele sabia que Esme e Gerard teriam de deixar a cidade e esperava que tivessem feito isso há pelo menos dois dias atrás.

- A Condessa estava em Paris, não é mesmo? – O outro carregador perguntou ao Conde.

- Sim.

- Oh, por deus meu senhor! Se eu soubesse!

- Nada poderia ter sido feito. Mas minha senhora é deveras inteligente e Gerard está com ela. – Carlisle respondeu. – Descansem esta noite. Nós reforçaremos a guarda aqui. Amanhã pela manhã, reúnam todos os homens e empregados no salão principal.

Carlisle passara a noite praticamente em claro, pensando em todos os problemas que enfrentariam. Pela manhã, quando a primeira luz surgiu, ele levantou-se, entrou numa tina de água quente, banhou-se e colocou trajes limpos. A lareira do quarto estava apagada, restando apenas pouquíssimas brasas quentes, o que tornava aquele ambiente ligeiramente frio. Quando ele deixou o aposento, uma criada entrou para organizá-lo.

No salão principal havia muitos outros criados, principalmente homens. Entre eles havia guardas, informantes, carregadores, vinicultores e alguns criados que trabalhavam dentro da grande casa. Era muito comum em qualquer grande residência, existirem inúmeros criados; nas residências da família Cullen, existiam em torno de setenta a cem pessoas; e numa corte, como a do Imperador francês Napoleão III, existia mais de três mil.

- Bom dia a todos. – Ele anunciou. – Infelizmente não tenho boas notícias. Ainda não chegou aos meus ouvidos sobre a gravidade que a revolução francesa está tomando, espero ter alguma noção em breve. Vamos apenas estabelecer alguns critérios. A vigilância na propriedade será redobrada, os portões sempre serão mantidos fechados e, principalmente, após as doze badaladas, tranquem os portões, prendam os animais e soltem todos os cães.

“A produção dos vinhos continuará como normalmente, entretanto, não iremos exportar o vinho até segunda ordem. Nossas remessas que estavam em Portsmouth e rumo a Calais e à Áustria foram interceptadas e voltaram para Londres. Receio que nosso problema vai muito além da revolução. Os manterei informados.”

No dia anterior, o informante de Carlisle seguira para fora de Londres e rumo ao leste. Em poucas horas, ele estava na pequena província de Folkestone. O céu estava parcialmente encoberto naquela região e o cheiro que vinha das águas do mar deixava um aroma inconfundível pela orla da cidade. A periferia era composta por tabernas, estalagens, casas simples, pequenos restaurantes e pelos portos. O informante chamava-se Eugene Fitzgerald e era austríaco, ele desceu do cavalo quando chegou à taberna, amarrou-o numa tora e entrou no lugar.

- Deseja alguma coisa, senhor? – A dona da estalagem perguntou.

- Quando parte o próximo navio para Calais, cara senhora?

- À meia noite, meu senhor. Se quiser, posso providenciar o embarque.

- Eu aprecio, senhora. Vou aceitar. Precisarei deixar meu cavalo aqui, poderia cuidar para que ele recebesse comida, água e abrigo? – Eugene perguntou à senhora que vestia um avental de algodão, que já estava sujo nas beiradas.

- Sim senhor. Sente-se. – A senhora apontou uma mesa. – Jones! Onde está você, homem? – Ela saiu gritando por um serviçal.

- Aqui! Estava levando a lavagem aos porcos.

- Cuide do cavalo do senhor ali. Ele ficará aqui até que o dono venha buscar!

A mulher voltou para dentro do balcão e providenciou um prato quente de um ensopado de carneiro, uma taça de vinho e pão para Eugene. Quando ele terminou, deu algumas moedas de ouro para a mulher e sentou-se em torno de uma lareira para jogar conversa fora com alguns pescadores.

Eugene era muito fiel a Carlisle, porém, quando estava fazendo algum tipo de serviço para ele, procurava não mencionar nomes, além do seu próprio, caso fosse muito necessário. E fumar um pouco de cachimbo na companhia dos pescadores havia sido muito mais promissor do que ele tinha imaginado; aqueles homens, que viviam viajando e passavam a maior parte de suas vidas no mar, sabiam o que acontecia fora da Inglaterra.

- ... Eu é que num faço mais nada. Já falei, não entro naquele lugar! – Um homem dizia, batendo a mão na mesa e mastigando um pedaço de pão.

- Desculpe, não entra mais aonde?

- França, meu amigo! França! Eu nunca gostei daqueles franceses fedidos e nunca imaginei que conseguiriam fechar as fronteiras... Mas conseguiram!

- E Calais, como está?

- Eles estão se mantendo, mas logo será impossível entrar lá também. O que quer que o senhor vá fazer em Calais, sugiro que o senhor volte o mais rápido possível. – Outro homem dissera. – Os belgas estão cercando Dunkerque até a região de Lille. Só vai ser possível entrar por lá.

- Vai pegar o navio da meia noite, senhor...

- Eugene.

- Senhor Eugene?

- Sim, vou. Tenho ordens do meu patrão para ir até Calais. – Eugene disse baixo, resignando-se apenas a dar as informações que fossem necessárias.

- Perdoa-me, senhor Eugene. Eu pareço intrometido. – O homem comentou, após limpar o vinho que escorria pelo canto da boca com as mãos.

- E ele é! – Um homem de idade avançada e rabugento intrometeu-se na conversa. – Se quer se dar bem, senhor Eugene, não confie em todo mundo. As pessoas andam estranhas ultimamente.

- O que quer dizer, velho? – Eugene pegou uma taça de estanho e sentou-se num banco de tora em frente ao homem, que jazia encolhido e encurvado bem próximo a fogueira. A luz crepitante das chamas fazia com que suas linhas de expressões se tornassem mais profundas e intensas; o homem deixou o capuz cair para trás e a luz amarelada das chamas mostraram os olhos semi-cerrados e desconfiados do velho.

- Eu é que pergunto. Quem é Eugene? Que nome é esse? Quem vem para estas bandas? – Ele resmungou.

- Não dê atenção a este bastardo rabugento! – A dona da estalagem intrometeu-se, ao passar e servir mais uma quantidade de vinho encorpado para os homens. – Ele está sempre aqui resmungando e resmungando e resmungando. Ele é que não confia em ninguém.

- Eugene... Que tipo de nome é?

- Responda a mim antes, velho! Foste tu quem dirigiste a palavra a mim primeiro.

- Tens lábia boa, Eugene-nome-estranho. – O velho entornou a taça do vinho encorpado, soltou um arroto baixo e, finalmente, dirigiu-se ao informante de Carlisle. – Todos pensam que fiquei tantan, como dizem por aí. Mas não. Sei do que falo. Aproxime-se. – Ele gesticulou e Eugene sentou-se mais próximo a ele, para ouvir o que o homem velho tinha a dizer. – Os franceses são perigosos. Sim, eles são. Mas ouvi dizer que não é dos comunas de Paris que devemos ter medo, e sim de algo maior.

- O que pode ser maior que uma revolução em Paris, meu senhor? – Eugene estreitou os olhos.

- Ouvi dizer que o enviado divino é quem está dando as cartas.

Eugene riu alto. Aquele velho realmente só falava asneiras. Não existia enviado divino no inferno em que viviam, e muito menos um que desse as cartas. Entretanto, ele não deixaria aquela conversa passar despercebida, tentaria assimilar mais informações.

- E tem alguma coisa com o Rei da Espanha, que o santo precisa. Mas só sei disso. – O velho falou e voltou-se a encostar na parede.

- Você ainda vai me falar mais, velho, mas não agora.

Eugene levantou-se, pegou a capa, vestiu-a e dirigiu-se a dona do lugar. Entregou-lhe mais duas moedas de ouro e pediu que providenciasse algumas coisas para sua volta. Faltava cerca de quarenta minutos para o navio partir, mas ele quis se garantir. Eugene deixou a estalagem e enfiou-se debaixo do capuz. Estava começando a chover e o piso ficaria lamacento e suas roupas aquecidas ficariam grudentas.

Próximo ao navio, na passarela de embarque, havia um acúmulo de pessoas. Muitas tentavam embarcar sem bilhetes e outras tentavam passar para chegar à passarela. Eugene estava com um bilhete para a segunda classe, então percorreu rapidamente a lateral no porto e foi até uma das últimas passarelas, com algum esforço e tempo, conseguiu transpassar a pequena multidão e subir ao embarque.

O destino do navio a vapor era rumo aos mares do norte, onde as águas eram tão frias, que o navio podia chegar apenas a uma parte do trajeto. Aquela rota era utilizada por pescadores e por navios a vapor de médio porte, que levavam pessoas para rotas alternativas.

- Esta é sua cabine, senhor. Desembarcaremos em Calais em cerca de duas horas.

(...)

A carruagem de mercadorias que, supostamente, transportava funcionários desempregados de uma família francesa, adentrava os limites da cidade de Calais. Foram duras horas de viagem e pouquíssimas paradas para descanso dos cavalos e para encher os cantis de água. Isabella dormia com a cabeça no colo de Madeline, devido ao efeito do leite de papoula. Os ferimentos da prima ballerinado Opera não estavam curados, pelo contrário, apenas foram mantidos limpos e anestesiados por conta do ungüento de papoula, e com todo o esforço da viagem, Isabella acabara sucumbindo novamente a uma febre alta.

- Como ela está? – Anita retirou a manta de seu ombro e colocou a mão sobre a testa de Isabella. – Ela precisa de cuidados.

- Nicolai, avise a Gerard para ir direto ao porto. Precisamos ir para uma estalagem. Isabella precisa de mais cuidados e eu preciso saber sobre o próximo navio. – Esme disse ao convidado.

- Sim, milady. – Nicolai esgueirou-se para o fundo da carruagem, onde havia um espaço vazado no forro para que ele informasse a Gerard.

Foram longos minutos de espera, apesar da cidade de Calais não ser tão grande. Quando a carruagem chegou ao porto, foi difícil Gerard encontrar uma estalagem que não estivesse cheia. Com a revolução, todos estavam deixando a França e Calais era o único porto disponível e que ainda não fora conquistado.

Gerard havia entrado numa estalagem, enquanto os outros esperavam dentro da carruagem. O lugar estava com o salão parcialmente cheio, mas ele facilmente encontrou o dono do lugar, um homem alto, corpulento, de cabelos e bigodes avermelhados.

- Quando o próximo navio parte para a Inglaterra, meu senhor? – Gerard perguntou ao homem.

- No começo da madrugada meu senhor. Se tivessem chegado mais cedo, tinham tido a oportunidade de almoçar e então ir ao navio. Temos vagas, se quiser esperar.

- Seria ótimo. Tenho mais oito companheiros de viagem, quatro mulheres e cinco homens. Uma delas está ferida e precisa de cuidados.

- Tenho apenas... Ó meu senhor, desculpe, os quartos desocupados que tenho estão reservados. Um bom homem pagou por eles há um dia. – O homem ruivo desculpou-se.

Gerard estava prestes a sair da estalagem, quando o outro lhe chamou novamente.

- Meu senhor, se me permite, em nome de quem pagaria pelo quarto?

- A senhora Habsburgo. – Gerard sibilou e mostrou algumas moedas de ouro ao homem.

- Não será necessário. O homem que lhe falei reservou o quarto para a senhora Habsburgo ou Walburga. – O homem pronunciou os sobrenomes com dificuldade. – Que origem é, se me permite?

- Austríaco. Vou trazê-los. Pode pedir ao homem para nos esperar em frente ao quarto?

- Sim senhor. Quando voltar, é só subir as escadas, até o segundo piso. Ele estará lá.

Gerard suspirou aliviado e praticamente correu para a carruagem, que estava parada numa beco escuro. Quando ele abriu, constatou que Isabella estava acordada, mas ainda ardia em febre e sua senhora tinha uma expressão séria no rosto. Mas ele sorriu, aliviado.

- O senhor... – Ele respirou fundo. – Cullen mandou um dos seus.

- Como assim?

- Temos uma reserva para a senhora Habsburgo, milady. – Gerard sorriu. – E só quem sabe deste sobrenome é o senhor Cullen e um dos nossos. Ele está nos esperando.

- Monsieur Gerard, o que faremos com a carruagem? – O Cocheiro perguntou.

- Se me permite, meus senhores. – Mikhail levantou-se e desceu da carruagem. – Leve a carruagem para a estalagem, onde os cavalos poderão ter abrigo por algumas horas, e depois eles poderão ser embarcados. A senhorita Isabella não está em condições de cavalgar.

- Faça o que ele diz. – Esme ordenou. – Agora me ajudem aqui.

Bella fazia o maior esforço que podia para andar, mas mal conseguia se manter em pé. Nicolai ajudou-a a sair e carregou-a, surpreendendo-se por quase não estar carregando peso. Gerard guiou-os para a estalagem.

No segundo andar, Eugene esperava-os no final do corredor. Os quartos ficavam de frente um para o outro e num lugar mais isolado. Ele fez uma curta reverência a Esme quando a viu, mas não disse palavra alguma, apenas abriu um dos quartos, para que Nicolai colocasse Isabella na cama.

- Vossa Graça. – Eugene fez outra reverência, dessa vez maior e acompanhada de um beijo nas mãos de Esme. – Não sabe como fico feliz em vê-la sã e salva.

- Obrigada por nos esperar, Eugene. Quem te mandou?

- O Conde, vossa graça. Ele estava tratando de assuntos na cidade e nos encontramos numa taberna, assim que eu voltei para Londres. Estou esperando-os a pouco mais de um dia. E, infelizmente, terão que esperar ainda, pois o próximo navio sai só no meio da madrugada.

- Não tem problema, o que importa é que estamos aqui. Deixe-me apresentá-los, estes são messieurs Nicolai e Mikhail, Lady Anita, Madeline e a Senhorita Isabella.

- Um prazer conhecê-los. O senhorio deixou comigo alguns itens para cuidar da senhorita Isabella. – Eugene entregou-os a Esme. Estarei no salão desfrutando de alguma comida. Se precisarem, não hesitem em me chamar.

- Vou acompanhá-lo, senhor Eugene. – Mikhail acenou. – Alguém mais?

Gerard assentiu, assim como Nicolai e o cocheiro. Eles desceram para o salão, enquanto Esme tratou de ajudar com os cuidados á Bella, enquanto esperavam pelo horário de partida do navio.

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Biblioteca: http://chestofbooks.com/home-improvement/decoration/House/images/SMALL-LIBRARY-AT-AUDLEY-END-ENGLAND-XVIII-CENTURY.jpg

Castelo Cullen: http://www.weddingideasmag.com/wp-content/uploads/2012/05/castle-weddings.jpg


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Notas finais do capítulo

Olá olá!
Gostaram do capítulo?! Quero ver os comentários, não ando recebendo comentários suficientes... Assim, fico pensando que ou o que escrevo não está chamando atenção, ou então que não é bom o suficiente. Se cada um que lesse me desse, ao menos, um "gostei, detestei", eu já ficaria contente.
E, desculpem por não responder os reviews. Apesar de eu estar em casa e com tempo livre, acabo fazendo algumas coisas aqui e, quando vou ver, meu dia já foi. Mas não pensem que eu não os li. E eu sei que vocês estão querendo saber do Edward, ele vai aparecer, eu pro-me-to o/ Mas antes eu preciso pensar em alguns outros detalhes que são importantes para a história.
Não fiquem bravas comigo... hihi
Por enquanto e´só.
Qualquer dúvidas, tem o grupo no face.
Beijinhos
@ninaxaubet (follow me on twitter)



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