Crônicas do Inferno escrita por Megurine Jackie


Capítulo 4
Ilusões


Notas iniciais do capítulo

Você acredita no que seus olhos vêem?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/110541/chapter/4

Estou em um lugar diferente agora. Parece que o sol está se pondo. Sinto uma brisa suave tocando meu rosto. 

Sinto um cheiro fresco, de flores. Vejo logo à minha frente um lago. Vejo também uma frondosa Sakura florida. As pétalas das suas flores flutuavam próximo ao meu rosto. Vejo também borboletas voando ali perto. Pareciam dançando com o vento.

O céu tem um tom alaranjado, provavelmente por causa do crepúsculo. 

Tem uma casa um pouco distante de onde estou e consigo ver uma luz acesa. Mas fora isso, não parece que haja mais alguém por ali.

O lugar é muito belo, e transmite uma estranha sensação de calma e quietude. Sinto um conforto naquele lugar, como se estivesse em casa.

De repente ouço uma voz infantil vinda de trás de mim:

- Você consegue entender o ódio no coração das pessoas?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

'Nossa, o que foi isso?'

Acordei de sobressalto. assustada. Ando tendo muitos pesadelos ultimamente.

O que será que está acontecendo?

- Bom dia, Maya.

Minha mãe sempre parecia bem humorada de manhã.

- Hum... - Resmunguei.

- Você não vai assistir TV hoje?

- Você tinha razão, mãe. Não vou mais assistir essas coisas de manhã, estão me fazendo ter pesadelos... - Falei, distraída.

- Que tipo de pesadelos, filha? - Minha mãe não era assim, interessadas nos meus sonhos. Estranho.

- Nada de mais, mãe. Já vou! Tchau! - Fechando a porta em minhas costas.

Não olhei para trás. Não pude ver o rosto preocupado de minha mãe, observando-me.

Hina e eu estávamos caminhando.

- Sabe, ando tenho uns sonhos tão estranhos... 

- O que, pesadelos? Premonições? - Hina, achando graça. - Acho que é por causa dos exames que estão se aproximando!

- Pode ser, mas...

Aquilo estava me incomodando um pouco, mas decidi esquecer o assunto por enquanto.

- Vamos no cinema na sexta, você vem, não é?

- Acho que devíamos estudar para os exames.

- Mas é a estréia de "Madrugada do Mortos"! Não dá para perder! E eu soube que os seniores vão estar lá... - Hina pendurando-se no meu pescoço.

Eu sabia que tinha algo por trás do repentino interesse de ir ao cinema. Garotos.

- Vamos, vai! Larga de ser chata...

- Tá, eu vou! - Tirando-a do meu pescoço.

Era o que me faltava! Ir assistir filmes de horror justo agora...

De repente tenho uma estranha sensação. Sinto que estamos sendo seguidas. Eu olho para trás sobre os ombros, mas não vejo ninguém.

Na entrada do colégio, ainda com a sensação estranha, viro-me rapidamente mas não tem ninguém atrás de nós.

- Que foi, Maya?

- Nada... - Desconfiada.

Olho para dentro do colégio e, entre os outros alunos vejo uma garota menor, com o uniforme de outra escola, talvez uma primária. Tenho a sensação de que ela está olhando para mim.

Ela tem longos cabelos pretos e grandes olhos... Vermelhos!

Eu aperto os olhos mas, em um piscar de olhos, ela não está mais lá.

- Hina, você viu... - Apontando para onde estava a menina.

- Ah, Maya, você tá estranha hoje. Vamos entrar!

- Oi, Higushi. - Jane Sullivan, sempre com a expressão maldosa. - A senhora Mitsuru está procurando você.

'Ela vai querer saber da matéria da semana que vem... Não fiz nada ainda!'


Preciso me concentrar, semana que vem começam os exames do semestre. E preciso começar a escrever a matéria do jornal. E Hina inventou esse cinema justo agora.

As aulas acabaram, eu estou voltando para casa sozinha. Hina ficou para conversar com o Kurume Sempai. Essa Hina não tem jeito...

Estou completamente perdida em meus pensamentos. 

'Tenho que estudar para os exames, mas antes vou começar a matéria para o jornal. Ainda hoje! Vou escrever sobre os movimentos estudantis contra a destruição do meio ambiente...'


- Você entende, não é mesmo?

Senti meu coração gelar. Um arrepio percorreu a minha coluna. Virei-me para onde veio a voz. Ela estava lá, encostada em uma árvore, olhando para mim.

- Quem é você? - Disse, mas minha voz quase não saiu.

- Você sente, não é mesmo? Essa solidão... Você se sente sozinha, mesmo quando está cercada por pessoas.

A menina tinha uma voz tranquila. Seus olhos eram realmente vermelhos. E me encarava fixamente. Não consegui me mexer, estava congelada ali, naquele lugar.

- Não estou só... - Disse com uma voz fraca.

- Não, Maya Higushi. Você nunca estará só.

Nesse momento sinto um vento forte, jogando poeira nos meus olhos obrigando-me a fecha-los. Quando abri meus olhos, a menina não estava mais lá.

Corro para casa, o mais rápido que pude.

'Seria minha imaginação? Quem é aquela menina?'

- Mãe! - Gritei assim que entrei em casa. - Manhêeee!

Não ouvi resposta. Vi o bilhete em cima da mesa dizendo que ela tinha ido no armazém para o jantar. Acho que não devo contar para ela o que eu vi. Ela vai começar a achar que eu sou louca ou coisa do gênero. Não vou preocupá-la.

Subi para o meu quarto, joguei o material em cima da mesinha e deitei-me olhando para o teto.

- Será que estou ficando louca? - Pensei alto. 

Acreditava que aquilo tudo estava acontecendo por causa da ansiedade das provas, dos compromissos do jornal. Mas sentia algo dentro de mim. Seria a tal solidão que a menina falou?

Ouço a porta da rua abrindo. Desço e vejo minha mãe. Corro e  dou-lhe um abraço.

- Nossa, Maya! Você deve estar mesmo com fome... - Disse ela sorrindo.

Depois do jantar eu decidi começar a escrever o artigo antes de me deitar, pois tinha que entregar um rascunho para a senhorita Mitsuru amanhã.

Sento-me em frente do notebook. Mas sinto-me cansada repentinamente.

- Você não se lembra, não é?

A mesma voz. Senti um tremor subindo pelo meu corpo.

- Quem é você? Por que fica me seguindo? - Disse enquanto ficava de pé.

- Meu nome é Ai Enma. Nós já nos conhecemos, você não se lembra?

- Ai Enma? - Repeti, retoricamente. - Não me lembro de você. Por que me segue?

- Vim fazer-lhe uma proposta, mas primeiro, você precisa se lembrar. Se não se lembrar não vamos poder entrar em um acordo. Eu não posso te ajudar a lembrar. Isso você terá de fazer sozinha, Maya Higushi.

Sua voz era tranquila, baixinha. Seus grandes olhos vermelhos sempre olhando fixamente para mim. Estava com muito medo. Seria uma alucinação?

- Me lembrar de que? - Confusa. - De uma dica, pelo menos. Do que eu preciso me lembrar?

- Você se recorda da jornada, mas não se recorda do que a fez ir parar naquele lugar. Não se recorda de como saiu de lá. Não posso ajudar-te se você não se lembrar.

'Jornada? Como assim?'


Ela parecia estar triste. Parecia ser uma garotinha perdida. Mas mesmo assim sentia-me completamente em pânico.

- Volto quando você se lembrar. Assim poderemos discutir os termos do acordo.

- Que acordo? Espera! 

Ela dá um passo para trás, encostando na parede. E desaparece na sombra. Eu continuo ali, feito uma estátua, congelada.

- Maya, com quem você está conversando?

Ouço a voz de minha mãe na porta. Ela entra e me vê parada, ali no meio do quarto. Ela me olha preocupada.

- Filha, o que foi? - Pegando no meu braço.

- Mãe, eu não sei. - Respondi, ainda olhando para a parede. - Existe algo que eu preciso me lembrar, mas não sei o que é...

Naquela noite eu demorei muito para pegar no sono. E sonhei novamente com aquele lugar bonito mas que, estranhamente parecia ser tão íntimo meu. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por todos os comentários. Quem bom que os leitores estão curtindo a história.
Domo aregatou!