Em um canto escuro, sombras arrastam-se lentamente. Cinzas flutuam pelo ar. Aquele ar denso, quase é possível cortá-lo.

Pode-se sentir o cheiro ocre do enxofre, dificultando a respiração. Pode-se ouvir as lamúrias e os gritos de dor e sofrimento.  Um ruido enlouquecedor!

Se forçar a visão, pode-se ver ao longe um pequeno barco, com apenas um tripulante, afastando-se da margem do rio, quase sumindo no horizonte.

Se olhar para trás você então verá... A porta. Uma gigantesca construção talhada em pedra. Com figuras em forma humana, com expressão de dor e sofrimento em suas faces.

Havia uma inscrição nessa gigantesca construção. Porém estava em uma língua estranha, indecifrável.

Nada ali convidava o visitante a atravessar aquela porta. Mas quem ali se encontrava sabia que aquele era o único caminho a seguir. Aquele barco que já partira, só traria mais e mais pessoas até ali. Nunca as levaria de volta!

Só quem se encontram diante daquela porta pode sentir esse desespero crescente. Nenhum medo, nenhuma dor é maior do que a minha, naquele momento, diante daquela porta. Nem a morte me salvaria desse destino. Aliás, foi a morte que me destinou a isso.

O que mais desespera nessa situação é que isso não é o fim de tudo.

É apenas o inicio de tudo!

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Existe um boato que anda rodando por aí. Principalmente nas escolas secundárias.

Fala-se por aí que existe um site na internet, que se você digitar o nome de alguém e enviar a alma dessa pessoa para o inferno. O nome desse site é 'Jigoku Tsuushin' ou 'Correio Infernal'.

Claro, existem regras para acessar essa página e de como pode-se utilizar de seus "serviços". O site só aparece por 2 minutos, todas as noites, à meia noite. Diz-se também que quando você envia o nome de alguém no site, imediatamente você recebe uma mensagem de texto no seu celular, confirmando o pedido (mesmo sem ter cadastrado seu número no site). Ainda se comenta que existe um "contrato" para que o serviço seja executado. Os termos desse contrato só são de conhecimento de seu cliente. 

Bom, isso é apenas um boato...

-Hey Maya Chan! - Vejo Hina acenando para mim, do refeitório. - Você não vem?

'Detesto quando ela me chama assim'

- Ainda não terminei aqui, já vou! - Ainda tinha muito para a minha matéria ficar pronta. E já estava com o prazo no limite. A senhorita Mitsuru logo irá pegar no meu pé.

Voltei a me concentrar no meu notebook.

'Nossa, se eu conseguir terminar ainda hoje, vou poder ir com minha mão no centro comercial amanhã... Concentra! Concentra! Maya Higushi, se concentra!'

Batendo com a palma da minha mão na testa. Precisava me concentrar naquele texto, termina-lo logo. Mas essa lenda boba... Será que alguém acredita mesmo nisso?

'Vou tentar acessar esse site hoje a noite. Se der certo eu termino isso hoje!'

Parei por um momento. Quem eu enviaria para o inferno? Hum... Que bobagem, pode ser qualquer um, nada disso é verdade!

Durante a aula de literatura.

- E naquele período literário o tipo de escrita comum era a prosa. Alguém pode nos dar um exemplo de obra desse período? - Era a aula da Senhorita Mitsuru, também minha tutora no clube de jornalismo. Naquele momento eu só estava preocupada com o prazo da matéria.

- Higushi? Pode nos responder?

- Hã... Eu não ouvi a pergunta. - Fiquei roxa, envergonhada.

Ela me lançou um olhar furioso. Sabia que eu estava em outro lugar. E atrasada com a matéria para o jornal da escola. Mas que droga!

Término das aulas.

- Ah, Maya, você anda correndo da gente desde que entrou nesse clube de jornalismo. - Essa é Hina Nogumo, minha melhor amiga. - Assim a gente não vai conseguir conquistar os gatinhos do 4º ano...

- Hina, pára. Nem tô preocupada com isso agora. Mas me conta, tem mais notícias sobre o desaparecimento do senhor Tensagi?

- Nada ainda. A última foi aquela de que viram ele ser "tragado pelo chão" do ginásio. Cada uma...

Senhor Tensagi era um faxineiro do colégio que sumiu misteriosamente há duas semanas. Testemunhas disseram que viram ele desaparecer literalmente no ginásio. Depois disso passei a investigar o 'Jigoku Tsuushin', pois um contato me disse que dias antes do incidente, o vira tendo uma discussão fervorosa com outro homem, na frente do colégio. A testemunha disse que ouviu quando esse homem disse ao senhor Tensagi que iria mandar sua alma para o inferno.

- Tchau, Maya! Até amanhã!

Acenei e entrei em casa. 

- Manhê, cheguei. - Não ouvi nenhuma resposta. Vi em cima da mesa um bilhete:

" Fui ao armazém comprar soja. Já volto!"

Peguei uma maçã e subi para o meu quarto. Resolvi escrever o restante da minha matéria.

'Dessa noite não passa! Vou acessar o 'Jigoku Tsuushin' e fazer um teste.'

Já era a quinta noite que eu tentava acessar o site, mas sempre acontecia alguma coisa. Ou sempre a página estava fora do ar.

Mas era muito estranho, estava me sentindo muito mais cansada que o habitual naquela noite. Mas eu tinha dormido bem...

Debrucei-me sobre a escrivaninha apenas para repousar um pouco a cabeça. Minha mente ficou turva. Achei que estivesse apenas com sono. Pisquei fortemente, para limpar os olhos. Quando abri vi dois imensos olhos vermelhos bem próximo do meu rosto. Dei um pulo na cadeira!

 - Nossa! Acho que adormeci. 

Olhei para o relógio e vi que era meia noite e dez minutos. 

'Droga! De novo não...' - Pensei decepcionada.

Deitei-me na minha cama e fechei meus olhos.

Naquela noite eu sonhei com uma gigante porta feita de pedra. Ela tinha uns desenhos assustadores de pessoas queimando... Sofrendo... Eu sei lá! Foi um pesadelo de gelar o sangue nas veias!