Hermione saiu de lá completamente satisfeita consigo mesma. Estava saindo tudo melhor do que ela planejara, Draco já estava nas suas mãos, era só uma questão de tempo até ele descobrir isso. Ela foi para o banheiro, queria tomar um longo banho para ficar pronta para o dia seguinte, ela ainda tinha muito a fazer. Entrou na porta do meio e parou absorvendo a aura do local. O banheiro era enorme, todo branco, no centro havia uma banheira que parecia com uma piscina, no final da enorme sala havia três portas, duas davam para os sanitários e a terceira dava para um Box espaçoso, onde havia um chuveiro, no lado oposto das portas havia um grande espelho, o banheiro era decorado com estátuas de deuses gregos em mármore e no teto haviam paisagens da natureza, cuja riqueza em detalhes faziam-nas parecer tão reais que qualquer um poderia pensar que estava lá. Após apreciar a beleza do local a garota dirigiu-se para a banheira, quando terminou seu banho enrolou-se na toalha e foi para seu quarto. Ela colocou o uniforme da escola e prendeu os cabelos colocando a franja para trás e deixando os cachos soltos sem que eles caíssem em seu rosto, fez uma maquiagem básica e sorriu para o espelho, como no trem, ela estava bonita, sabia que chamaria a atenção dos garotos sem esforço algum, as garotas iriam sentir inveja e, para os professores, ela continuaria a mesma aluna inteligente e comportada de sempre, seu primeiro passo estava dado, todos olhariam para ela e cada um veria uma coisa diferente, o que ela quisessem que eles vissem, porém todos a julgariam pela aparência e isso os manteria distraídos, e muito distantes da verdade por trás das diversas máscaras que ela passaria a usar daqui pra frente.

Olhou para o relógio e viu que ainda eram cinco horas da manhã, era muito cedo e ela decidiu passear pelo castelo, e talvez sentar um pouco a beira do lago. Ainda sorrindo saiu de seu quarto, não viu Draco em lugar algum, talvez ele tivesse superado o medo da cama afinal. Desceu as escadas e começou a andar pelos corredores da escola, repassava mentalmente tudo que já havia planejado e que teria que executar em breve, distraída não prestava atenção no caminho até esbarrar em alguém, ela se desequilibrou um pouco mas não caiu. Irritada por ter sido tirada de seus pensamentos olhou para a pessoa que ainda estava em pé diante dela, mas logo que viu quem era a raiva deu lugar a excitação e um pequeno sorriso maldoso nasceu nos lábios da garota. 

- Devia prestar mais atenção por onde anda Srta. Granger. Menos 20 pontos para Grifinória. O que faz andando pelo castelo a essa hora?

- Bom dia, professor Snape. - disse a castanha sorrindo sem importar-se com a frieza e a injustiça do professor - Peço desculpas, estava distraída, estava sem sono e decidi andar um pouco, creio que o senhor saiba que, como monitora-chefe, tenho o direito de andar pelo castelo em qualquer horário, e desde que minhas ações não desrespeitem o regulamento da escola não devo satisfações a ninguém.

- A senhorita deveria tomar mais cuidado, com tudo que tem acontecido ultimamente não seria prudente alguém como a senhorita andar sozinha por corredores desertos, nunca se sabe que perigos podem estar ocultos pela escuridão. Seria lamentável se algo ruim acontecesse. - disse sarcástico.

- Não se preocupe professor, tenho plena confiança nas medidas de segurança adotadas por Dumbledore e sei que os membros do corpo docente da escola estão sempre alerta para garantir que nada de mal aconteça aos alunos, independente de quem eles sejam. - disse olhando fixamente nos olhos do professor, desafiando-o a contestar suas palavras. - De qualquer forma, em breve o senhor irá descobrir que eu aprendi muitas coisas durante as férias, professor, e tenho certeza que posso me defender muito bem sozinha, se for necessário.

- Certamente, Srta. Granger. Eu acho realmente tocante a coragem grifinória, mas precaução nunca é demais, tome cuidado, as vezes o inimigo pode estar mais perto do que se imagina. Seria bom se a senhorita não cometesse os mesmos erros de seus amigos, o poder do Lord das Trevas não deve ser subestimados. - disse avaliando a reação da aluna. A maneira como ela estava enfrentando ele era suspeita, e ele tentava decifrar as palavras e expressões dela.

- Acredite, professor, eu estou bem ciente dos riscos que todos enfrentamos com Voldemort a solta. - disse notando o endurecimento nas expressões do professor - Mas superestimar o inimigo também não é a melhor opção. Maior parte do poder que Voldemort possui vem do medo que as pessoas têm dele. O pânico gerado pela simples menção de seu nome faz com que as pessoas o vejam como algo muito maior do que ele realmente é. Apesar de toda a crueldade, e das transformações que ele sofreu ele ainda é apenas um bruxo qualquer, que precisa de uma varinha para realizar feitiços e tem fraquezas como qualquer pessoa, mas todos estão preocupados demais temendo por suas vidas para pensar em analisar tudo racionalmente. - terminou a garota normalmente.

Snape mantinha a máscara de frieza e desdém de sempre no lugar, mas estava assombrado com tudo que ouvira. Aquela garota não tinha medo de falar o nome do Lord, e ainda questionava abertamente as habilidades do mesmo, ela tinha a ousadia de afirmar que o bruxo das trevas mais maligno de todos os tempos era apenas um bruxo qualquer. E como se não bastasse todas as loucuras que ela estava falando, ela dizia tudo com uma naturalidade assustadora, parecia até mesmo entediada, como se fosse normal discutir esse assunto com um professor de madrugada, no meio de um corredor deserto. O tom de voz que ela usara não era nada diferente do usado em sala de aula, quando ela tantas vezes defendia um ponto de vista com seu ar de sabe-tudo. Ele precisava saber que propósito tinham aquelas palavras, ele conhecia muito bem a inclinação dos grifinórios para resolver tudo com as próprias mãos, e ela devia estar tramando alguma coisa. Olhando diretamente para os olhos castanhos ele decidiu sondar a mente da garota, talvez assim ele conseguisse entender o sentido daquela conversa.

- Creio que o senhor sabe que eu sou uma aluna muito mais aplicada que Harry, professor, lamento informar-lhe que não conseguirá tirar nada de mim dessa forma. - disse sorrindo e bloqueando sua mente do ataque do professor sem esforço algum - Não é muito educado entrar na mente das pessoas sem ser convidado e sem avisar professor.

- Quem lhe ensinou Oclumência? - perguntou o professor sem demonstrar constrangimento, sentia raiva por não conseguir ver nada, mas conseguiu manter a voz desinteressada, embora estivesse curioso para saber quem poderia ter ensinado a grifinória. Sabia que Dumbledore não era o responsável por isso, uma vez que um de seus pedidos de início de ano era justamente treinar os amigos de Potter na arte da Oclumência. Mas a habilidade da garota era incrivelmente forte e desenvolvida, ele sabia da força que seus ataques tinham e ela o repeliu como se fosse apenas uma mosca.

- Como disse, estudei muito nas férias. - disse sorrindo, seus olhos brilharam maliciosamente, ele já estava curioso, era hora de atacar. - Mas isso não foi a única coisa que eu fiz. Sabe, eu fiz amizades muito interessantes nesse verão. - disse num tom falsamente inocente, que fez Snape alertar seus sentidos e levantar uma sobrancelha questionando em que isso iria influenciar a vida dele. - Diga-me, professor Snape, o senhor conhece Petúnia Dursley? - ela sorriu ao notar o brilho de reconhecimento que passou pelos olhos negros do professor, que manteve-se impassível esperando suas próximas palavras. - Não, acho que o senhor lembra dela como Petúnia Evans. - ele continuou em silêncio, e ela sorriu ainda mais. - Como foi o seu verão, professor?

- Aonde você quer chegar? - perguntou seco. O rumo que aquela conversa estava tomando era muito perigoso, e ele não estava satisfeito com aquilo. A garota sorriu inocentemente.

- A Rua da Fiação andou agitada esse verão, não acha? - realização surgiu no rosto frio do professor, mas como ela saberia? Não, ela não tinha como saber, ele decidiu ficar em silêncio, esperando o próximo passo. Ela continuava sorridente. - Fiquei sabendo que algumas pessoas famosas andaram por lá. O Ministério ficaria mais do que satisfeito em colocar as mãos nelas. Imagina se alguém resolvesse falar alguma coisa? Espero que seja cuidadoso com suas visitas professor. Posso não saber muito sobre como funcionam as coisas com Voldemort, mas tenho a leve impressão de que, depois do ocorrido no Departamento de Mistérios, ele não ficaria feliz em perder servos tão...leais. 

Snape estava furioso e surpreso com a ousadia da garota, por um momento achou que estivesse imaginando coisas, ela estava o ameaçando? Ela realmente não sabia com quem estava mexendo, embora tivesse que admitir que ela conseguira descobrir mais do que ele gostaria, ela precisaria fazer melhor para conseguir algo dele, pensando bem, ele ainda não sabia o que ela queria, ninguém fazia ameaças sem querer alguma coisa pelo silêncio e a garota ainda não havia pedido nada. Precisaria prestar mais atenção nos passos da grifinória, e teria uma seria conversa com Dumbledore.

- Por acaso a senhorita está me ameaçando? - perguntou num tom de voz suave e perigosamente baixo.

- De forma alguma professor, apenas mostrando ao senhor que os segredos não ficam escondidos para sempre. Se eu quisesse ameaçá-lo certamente teria escolhido outra informação, alguma mais pessoal. - disse a garota com uma arrogância digna de uma sonserino, o que não melhorou o humor do professor. - Não se canse tentando adivinhar algo sobre mim, será perda de tempo. Em breve responderei as perguntas que certamente rondam seu cérebro, enquanto isso, sugiro que essa conversa fique entre nós, não quer ter que fazê-lo parecer um mentiroso perante a Dumbledore. Pense bem, em quem ele acreditaria? Em alguém que trabalha ao lado de Voldemort e já foi totalmente leal a ele no passado, ou na brilhante e bondosa aluna nascida trouxa que ainda está sofrendo pela morte dos pais, e certamente não conseguiria força suficiente para bloquear sua mente, e muito menos manipular qualquer lembrança que ele possa acessar em sua mente frágil e debilitada pelo trauma emocional? - terminou ironicamente. E sem aviso entrou na mente do professor como se não houvesse nada impedindo, mas, ao contrário do que ele esperava, ela não forçou o acesso a nenhuma de suas memórias, apenas projetou uma falsa, porém perfeita, cópia do diálogo que eles estavam tendo, mas as falas eram totalmente diferentes. Ela saiu da mente do professor e sem dizer mais nada rumou para o corredor que levava aos dormitórios da Grifinória para acordar os amigos.

Snape não sabia o que pensar, era informação demais, as atitudes da garota foram totalmente frias, o humor sombrio e a maneira debochada dela ao falar em Dumbledore lembraram muito o Lord das Trevas, esse pensamento o fez estremecer, não acreditava que ela fosse má como o Lord, mas certamente poderia ser perigosa. Ela estava certa, Dumbledore nunca acreditaria nele, só restava esperar até que ela decidisse revelar o que queria dele. Riu sem humor, pensar que uma adolescente do sexto ano havia deixado o homem que enganou os dois bruxos mais poderosos de todos os tempos com as mãos atadas seria a piada do século se não fosse ele esse homem. Saiu em direção ao dormitório dos monitores, precisava ter uma conversa séria com Draco, outro que precisaria ser vigiado de perto, embora por motivos diferentes.