What I Cry Is Salt Water escrita por Hanna Poop


Capítulo 1
É mágoa (Unico)


Notas iniciais do capítulo

É mágoa -Ana carolina.



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É mágoa
Já vou dizendo de antemão
Se eu encontrar com você
Tô com três pedras na mão
Eu só queria distância da nossa distância
Saí por aí procurando uma contramão

Acabei chegando na sua rua
Na dúvida qual era a sua janela
Lembrei que era pra cada um ficar na sua
Mas é que até a minha solidão tava na dela
[...]


POV’S Tora.


Lembro-me como se fosse a primeira vez, conseguia fazer isso toda a vez que eu fechava os olhos.
Os lábios fartos e tão bem desenhados me tocando, assim como as mãos apertavam meu rosto, forçando o bico que só ele achava bonito aparecer.
Lembro-me dos risos a toa, ou das brincadeiras infantis, quando apenas ele sabia e podia me fazer rir.
A colher de brigadeiro melando todo o meu rosto, enquanto ele dizia que faiz bem para a pele, para em seguida correr por aí. Gritando para que eu o desculpasse, rindo, ou melhor. Gargalhando.

Era tão fácil, seus sorrisos, suas ilusões e sonhos.
Tudo para ele era alcançável, tudo era apenas uma questão de status.

“ –Tora... Hey Tora. –O maior o olhou com o cenho franzido, a raiva o dominando enquanto olhava o carro fumaçando e nem sequer idéia de como poderia arrumar aquilo, o nada não parecia tão atraente as duas da manhã. Nem tão pouco o som das arvores balançando. –Já assistiu o Km 31 né?  E se formos perseguidos por fantasma e...

-Hiroto, você pode calar a boca por uma fração de segundo que seja. –Vociferou o mais velho, voltando a atenção para a estrada, com a falsa ilusão de que a qualquer momento iria aparecer alguém para salvá-los. Maldito sinal, lembraria de quebrar o celular em mil pedacinhos mais tarde, por hora, torceria para que o sinal do seu –já que o de Hiroto havia acabado a carga- funcionasse. –Que saco! Estamos no meio do nada. NA-DA.

-O chato não é estar no nada com o carro quebrado, é estar no nada com um namorado estúpido. –Sussurrou mais para si, e para o bichinho de pelúcia que estava abraçado, dando um beijo no mesmo e o atirando para dentro do carro, já que a janela deste estava aberta. Amano sorriu, fitando o menor de soslaio, arrependendo-se por falar daquela forma com ele. –Podemos ir a pé.. Acharemos um telefone! Eu aposto.

-Desculpa. – E o menor sorriu largo, como se somente aquela palavra fosse o suficiente para qualquer outra se dissipasse em sua mente e coração, Amano por sua vez caminhou até ele, envolvendo sua cintura e abraçando seu corpo, as testas se colaram no mesmo momento, e ambos se olharam nos olhos rindo da situação que se encontravam. –E aí Koi? O que vamos fazer hn? Que tal entrar no carro, colocar uma música bem legal, e nos beijar até amanhecer e o movimento ser maior.  –Ponderou sua própria fala por alguns segundos e depois riu, comentando baixo. –Ou melhor, quando tiver algum...”


Pov’s off.


E mais uma vez a lágrima rolou por seu rosto, a mão trêmula o tocou, limpando-o rapidamente.
Um suspiro cansado, desiludido escapou-lhe os lábios, quando finalmente decidiu caminhar até o quarto. Sakamoto já estava lá, deitado em sua cama e fitando o teto, diferente de seu companheiro de quarto, tinha um sorriso leve nos lábios, que logo tratou de esconder quando viu Tora adentrar o aposento, e caminhar direto a cama do outro lado do quarto.

Amano sentou em sua cama, o quadro sobre a cabeceira desta mostrando  ele e seu loiro, sorrindo abraçados. Abaixou o mesmo, quebrando o vidro ao chocá-la bruscamente contra a madeira.

-Não adianta Shinji.  Não adianta odiá-lo.

-Você sabe como é Saga?  Você alguma vez já amou alguém da forma que eu o amei? –Não que duvidasse que seu companheiro de quarto e melhor amigo, fosse capaz de se apaixonar, sabia bem que Shou era de extrema importância para o ruivo, que apenas engoliu em seco. Não queria contrariar Shinji, não quando este estava enfrentando um momento tão difícil. – Foram cinco anos. Cinco perfeitos anos. –Tora e Hiroto se conheceram ainda no primário, eram amigos muito próximos, assim como irmão de Hiroto, que passou a vida junto a Tora. Saga era o grande apoio, a parte neutra. Ainda mais que no fim de tudo, fora o cunhado, ou melhor. Ex-cunhado a quem apoiou. Dando as costas para seu irmão. –Ele não podia Saga, ele... Ele levou tudo. –A mão apertou a camiseta surrada e já suja, apertando sobre o peito, quase rasgando-a pela forma que puxava o tecido. Tentava inutilmente puxar o coração com ela. –Fica só esse vazio, que aperta de uma forma tão... maldosa... Esse vazio que nunca vai passar Takashi.  Eu quero tanto ir embora.

-Ir para onde Shinji?

-Para qualquer lugar onde ele não esteja, onde eu não possa vê-lo, nem senti-lo, qualquer lugar onde a mera lembrança, seja apenas uma lembrança.  – Apoiou os cotovelos nos joelhos, afundando o rosto nas mãos, tapando os olhos que a esta altura estava cheios de lágrimas, que rolavam insistentes. E para quem pensava que chorar lavava a alma, nunca havia conhecido a dor que Amano carregava, porque nem nos últimos sete dias de lágrimas, a dor era lavada, ou amenizada, pelo contrário, parecia aumentar ainda mais. Sufocar ainda mais.

-Daqui a três meses isso acaba, e nunca mais volta para essa faculdade, nesse momento onde quer que vá... Onde quer que esteja basta fechar os olhos Tora, enquanto tentar fugir disso... Enquanto tentar se fazer de forte, não vai conseguir. Não vê? Não vê que está se destruindo por não ter coragem Amano? Está escondendo a dor de quem? Por que eu e Shou vemos o quanto sofre, e você sabe o quanto sofre. Fugir não é a solução.

[...]Atirei uma pedra na sua janela
E logo correndo me arrependi
Foi o medo de te acertar
Mas era pra te acertar
E disso eu quase me esqueci [...]


Shinji sabia que seu amigo, melhor amigo tinha razão. Levantou-se, os dedos se infiltrando nos fios negros, e ajeitando-os enquanto respirava fundo. Saga nem mesmo precisou perguntar, sabia o porquê se ele estar fazendo aquilo. E nem mesmo quando o amigo cruzou a porta. O “boa sorte” preso na garganta, enquanto  via o mesmo correr pelos corredores. Até que finalmente a porta bateu, e nem mesmo os passos fortes puderam ser ouvidos.

Shinji corria até alcançar a porta principal, saindo do prédio e procurando pelo loiro no campus. A dois anos moravam ali, os prédio eram divididos por cursos, independente do ano que estavam cursando, assim não haveria mistura e necessidades diferentes entre os alunos que ficavam hospedados em suas respectivas fraternidades.
Ele teve de atravessar praticamente todo o campus, para encontrar o prédio onde o menor vivia. Adentrou o mesmo subindo as escadas de dois em dois degraus, as vezes mais. Os dois toques na porta foram suficientes, logo alguém o destrancava, e para sua surpresa era ele. O motivo por quem Hiroto havia jogado tudo no lixo. O motivo por quem ele, Amano, havia perdido tudo.

-Shinji, o Pon está dormindo agor..

-Você não tem direito de chamá-lo assim Shiroyama. Não tem permissão... Me deixe entrar. –As palavras eram baixas, mas não continha ódio nelas, mais sim mágoa. Imploraria, porque não havia forças para forçar nada, só queria vê-lo, entender. E naquele momento Amano se tocou, desde que o menor terminou consigo, não havia acreditado.

-Não acho uma boa hora Tor..

-Não me chama assim... Eu quero ver ele Shiroyama, me deixe vê-lo.

-Por favor, essa não é a.. –O moreno maior empurrou o seu rival, fazendo com que o corpo esguio de Yuu se chocasse contra a superfície de madeira, o barulho ecoando pelo corredor, e despertando o loirinho, que levantava, se sentando na cama e coçando os olhos.

-Amor?!  - Disse, abrindo os olhos, enquanto se assustava ao ver a forma em que Tora olhava a cena, as duas camas grudadas, como se assim pudessem tornar um móvel só. Aquele apelido, aquele que tantas vezes chamara a si, agora estava sendo pronunciado para outra pessoa. Doía mais do que mentir, doía mais do que fingir que agüentaria. –T-tora. Eu ... Eu não esperava eu... –Passou a mão no rosto, se levantando e indo em direção o maior, o corpo quase todo exposto, só uma boxer branca tapando seu sexo. E isso era mais do que Tora estava disposto a ver.

[...]Atirei outra pedra na sua janela
Uma que não fez o menor ruído
Não quebrou, não rachou, não deu em nada
E eu pensei: talvez você tenha me esquecido

Eu só não consegui foi te acertar o coração
Porque eu já era o alvo
De tanto que eu tinha sofrido
Aí nem precisava mais de pedra
Minha raiva quase transpassa
A espessura do seu vidro [...]


-Estava certo Shiroyama, não é uma boa hora. –A voz nem mesmo chegava a sair. Pelo contrário, as palavras pareciam se embolorar em sua garganta, deixando uma pedra ali, apertando, forçando. Estrangulando-o. Saiu a passos rápidos, queria correr, sumir. Mas antes que descesse as escadas a mão, que por vezes o tocou voltou a lhe segurar aquela noite, mas não por um carinho, e sim para impedi-lo de continuar fingindo. Virou-se encarando o menor que estava abraçado ao próprio corpo. Pelo frio, um trovão cortou o céu negro, iluminando o corredor escuro. E logo a chuva forte, batia contra o vidro da imensa janela.  –Você ...Você destruiu tudo, partiu meu corpo, meu coração e minha alma... E ainda levou os pedaços.. Deixando esse vazio, por quê? Por que Pon. – As lágrimas rolavam sem parar, e a cada pontada mais forte um novo trovão podia ser ouvido, quase como se o céu estivesse em sintonia com o moreno naquele momento. Shiroyama ainda parado na porta do quarto assistia a cena com pesar. –É a única questão que vagueia. O que eu fiz?  No que eu errei Pon... No que eu errei?

Hiroto tocou seu rosto, acariciando a face molhada, e tentando secá-las enquanto o via ajoelhar-se no degrau, abraçando o tronco do loirinho, a bochecha colada em sua cintura, os olhos fechados, umedecendo o cós da boxer com suas lágrimas que pareciam querer lavar até o chão. Soluçava forte, baixo, apertando o menor contra si, este que estava com os olhos avermelhados por ver seu ex, alguém que amou, e que acompanhou por quase toda sua vida, entregue a uma dor, que nunca seria capaz de curar. Os dedos pequenos e finos alisando os fios negros, enquanto esperava que ele chorasse, a chuva já estava cessando, assim como as lágrimas do moreno, que parecia estar mais calma, apenas soluçava baixinho, respirando fundo. 

-Me desculpe Tora, me desculpe por não poder mais te amar... Você não errou.. É só que nada é para sempre meu amor. Nada... E da mesma forma que começou, um dia vai acabar...

-Eu vou te amar para sempre.

-Não, não vai. Um dia essa dor vai passar. E esse sentimento também. E espero que nesse dia possa perdoar a mim e a Yuu.  –O menor abaixou um pouco o tronco, beijando o topo da cabeça de seu ex, enquanto o fazia soltá-lo. E depois caminhou de encontro ao seu novo parceiro, sendo recebido por um selo nos lábios, e logo Shiroyama o colocava para dentro, fechando a porta a seguir.

“-Tora, você acredita no para sempre?  -Perguntou enquanto parava de ler o romance que estava em mãos, olhando para o namorado, que parecia estar concentrado em suas leituras.

-Claro que não Pon. –O moreno parou de dar atenção a matéria, sorrindo para o namorado, que formou um bico nos lábios de imediato. –Tudo acaba, uma hora acaba.

-Pois eu vou te provar que o pra sempre existe sim senhor. Meu amor por você é a melhor das provas. Duvida?

-Ok, temos o resto da vida para discutir isso...Por enquanto é melhor eu concluir esse TCC, ou não vou poder entrar na aula. –Ambos riram, Hiroto passou a ponta dos dedos nos lábios, como se os lacrassem, e assim ambos voltaram a seus afazeres anteriores. “


[...]É mágoa
O que eu choro é água com sal
Se der um vento é maremoto
Se eu for embora não sou mais eu[...]



Naquela manhã Amano não precisou se levantar, nem mesmo se olhar no espelho, naquela manhã ele sabia que começaria do zero. Não existe o pra sempre, e por mais que a dor fosse permanecer ali. Corroendo-o pouco a pouco, ele iria superar.
Perdoava seu loirinho, e torcia para que ele fosse feliz. Quanto à própria felicidade, bem, essa viria aos poucos. Mas se não viesse, ele estaria ocupado demais salvando vidas. Por que aquela noite, Amano Shinji se formava, com mérito de melhor aluno, o mais novo e brilhante cirurgião.

[...]Água de torneira não volta
E eu vou embora
Adeus.


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Notas finais do capítulo

Bom, espero que tenham gostado, se é que alguém conseguiu ler atpe o fim, confesso que peguei pesado no drama, mas é que eu estava tão triste, e agora estou feliz e aliviada.
Reviews? Please.



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