Ensina-me a Viver escrita por Graziele


Capítulo 16
Apenas Respire


Notas iniciais do capítulo

Big thanks to: bonno,LittleDoll, Cammy, AlexandrinaC, jeniffas2, ivis, Helen Cullen, yarabastoss, RM, Bloon, elispreta, sheilaalves, Isabelly_cm, Marie May.
Desculpem a demora, mas as vezes tudo passa tão rápido D:
Ah, escutem Us Against The World, do Coldplay, vai dar um clima *---*
Boa leitura! o/



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– É considerado o rei de Hollywood...


– Clark Gable!

– Ah, essa não valeu, soldado! Você nem me deixou
terminar!

– Isso porque a sua charada era fácil demais.

– Você que é muito convencido!

Edward riu da birra que sua alemã fazia só por não ter ganhado um ponto naquele jogo tolo de adivinhação que faziam. Para provocar, trilhou beijos no pescoço feminino, na tentativa quase certa de fazê-la desmanchar aquela cara embirrada. Com os lábios úmidos, desceu sua trilha te a clavícula acentuada, passando, provocadoramente, sua língua no local e adorando ver os cantos dos lábios dela se repuxarem na vontade de proferir algum som.


– Vamos – sussurrou roucamente em seu ouvido, passando a mão em sua barriga desnuda. – Perdoe-me.


Bella não conseguiu mais resistir e, no momento em que o soldado encostou seus lábios nos dela, ela logo o puxou para um beijo desesperado.


Lá fora, o sol já estava a pino, provavelmente anunciando passar das dez da manhã, mas, dentro da pequenina casa da Rua Frieden, o soldado inglês e a alemã continuavam como se a noite não tivesse acabado.


Estavam nus, enrolados precariamente em lençóis, deitados no chão frio de madeira do quarto da alemã. Intercalavam beijos a brincadeiras estúpidas e, não raramente, se entrelaçavam para se amarem novamente.


Os problemas haviam sido esquecidos e eles tentavam de tudo para que esses não mais entrassem pela porta. Deixariam tudo de ruim para ser resolvido no momento que deixassem a casa para encarar a realidade, porque, ali dentro, a única coisa que existia era o amor daqueles dois e sensação que eram invencíveis contra o mundo.


–Eu estava pensando... – ela murmurou em meio aos beijos.


– Não pense – ele ronronou, ávido por beijá-la sem nenhum pensamento envolvido.


– Deixe-me falar – ela pediu rindo, empurrando-o sem vontade. – Eu estava pensando que a gente podia sair hoje... Talvez tomar um sorvete...


– Eu aceito – ele respondeu prontamente, nem prestando atenção direito e já voltando a beijá-la.


– Mas e a construção? – indagou ela, já correspondendo os beijos e lutando para não perder o fio do pensamento.


– Já está quase terminando, eu posso pedir uma folga – respondeu simplesmente.


E a conversa terminara ali. Logo o soldado já estava se projetando para deitá-los no chão, e os dois se amaram ali. Na madeira fria daquele quarto que fora testemunha da convalescência do soldado, do começo daquela história maluca e que nunca poderia dar certo.


Eles se misturaram e se confundiram muitas e muitas vezes, de formas diferentes e iguais, gritando mudamente que estavam juntos e não tinha ninguém que fosse mudar isso, mesmo que tentassem e ameaçassem. Porque se amavam, pura e simplesmente e guerras nunca conseguiram fazer com esse tipo de sentimento se transformasse.


Sobreviveriam ao que quer que aconteça dali pra frente, pois sempre teriam um ao outro. Sobreviveriam à separação, à perseguição, à represarias... A tudo, pois se amavam. E isso bastava para que pudessem crer que ganhariam do mundo.



Alice ficara uma fera com a falta de Bella na floricultura, claro. Mas a alemã não ligara muito para a bronca que a amiga lhe, afinal, levando em conta o movimento quase nulo da floricultura no último mês, ela tinha a certeza de que Alice daria conta de tudo sozinha.


Já Jasper não se incomodara muito com a falta de Edward, porque a casa a estava praticamente pronta – faltando apenas o acabamento da pintura – e ele conseguira fazer com que os outros ajudantes parassem de fazer corpo mole e começassem a cumprir seu dever direito. O alemão avoado sabia que o outro precisava de um tempo livre com a amada.


Edward e Bella sabiam que era arriscado saírem de casa, mas logo lembraram que Edward cumprira o maior dever de um cidadão alemão dedicado: aliar ao Partido, portanto, não precisava mais temer a desconfiança dos vizinhos. Uma coisa a menos para se preocupar.


O inglês não fazia a menor ideia de onde estava sendo levado, mas gostou de ver que não havia nenhum indício de que uma guerra acontecia pelos lugares onde passaram. Era tudo muito verde, limpo, bem cuidado e sem nenhum soldado alemão rondando.


A alemã estava incrivelmente sorridente e Edward adorou vê-la daquele jeito, sem aquela apreensão que a sombreava no dia anterior. Ele sabia que ela estava mais confiante de que tudo daria certo, depois do que acontecera na noite passada e ele também. Então, estavam juntos.


O soldado olhou para os lados e notou que passavam por uma estrada de pedras, rodeada de campos verdes e quase que desértica. Era um local agradável e contrapunha com o que Edward sempre pintara da Alemanha: cinza e cheia de destroços.


Ele entrelaçou sua grande mão na pequenina, levando-a aos lábios numa forma de agradecer a tentativa dela de deixar todas as preocupações de lado naquele dia. Ele realmente precisava daquilo.


Curtos minutos depois, os dois chegavam a uma espécie de parque de diversões infantil. Daqueles de escorregadores e balanças, do estilo mais simples e sem nenhuma manutenção. Os brinquedos tinham a pintura desgastada e alguns estavam até enferrujados.


O soldado franziu o cenho, completamente confuso com o destino que a alemã escolhera naquela tarde.


– É porque não dá pra ir a um lugar mais sofisticado – ela respondeu a pergunta muda do homem, com um dar de ombros despreocupado.


– É bem... Inusitado – Edward comentou sorrindo, olhando em volta do parquinho e admitindo para si mesmo que o local era agradável; notou que, um pouco mais ao norte, havia um lago artificial surpreendentemente limpo. Em torno do lago, havia uma espécie de floresta com mesas de xadrez distribuídas deliberadamente por todo o local. Era bem afável, embora não fosse exatamente o lugar que ele adorasse ir.


– É só pra espairecer um pouco – Bella salientou, envolvendo seus braços esguios no pescoço do homem e depositando beijos nos lábios vermelhos. – Não dá pra te levar em outro lugar, você sabe...


– Eu sei – ele a cortou, abanando as mãos, como que espantando esse assunto dali. – Esses brinquedos não vão me aguentar. – Concluiu, rindo.


– Não é pra brincar, soldado – ela explanou, rindo e fazendo-o envergonhar-se. Ora, por qual outro motivo ele seria levado a um parquinho de diversões que não fosse para brincar?


Na realidade, a ideia inicial da alemã não era usar aqueles brinquedos do parque, tampouco brincar neles. Mas, espontaneamente, eles foram se espalhando pelos brinquedos, de um modo que, sem nem perceberem, a alemã e o soldado estavam sentado no balanço vermelho e enferrujado, movimentando o brinquedo e tendo a certeza de que não poderiam ser mais idiotas.


O sol estava a pino, o céu estava de um azul magnífico, e uma brisa suave balançava os cabelos marrons da alemã, que ostentava um sorriso enorme, de pura felicidade, como se não houvesse problemas enormes a serem resolvidos. Mas, de certa forma, naquele local duvidoso os problemas haviam sido deixados pra trás. Estavam só os dois ali: como um casal de apaixonados normal, não como uma alemã e um soldado inglês, como inimigos que deviam se odiar e que eram odiados. Estavam como Edward e Bella, duas pessoas que se amavam. E só.


– Eu fico pensando no que vai acontecer quando a gente voltar pra casa – o soldado ponderou de repente, depois de vários minutos silenciosos. Eles estavam deitados na grama verdíssima do parque, a beira do lago, observando os pássaros, observando um ao outro.


– Não pense – a alemã pediu impetrante, acariciando os cabelos desgrenhados do homem e rolando na grama até posicionar seu rosto no peito rijo dele. – Deixa isso pra depois, a gente vai ter muito tempo e muitos motivos pra se preocupar a hora que chegarmos em casa.


– Mas é meio inevitável – ele lastimou, sentando-se e trazendo-a para o meio de suas pernas e pegando a manta sobre a qual estavam deitados para cobrir-lhes. Ela aconchegou-se no abraço apertado e aspirou aquele cheiro tão másculo dele. Ter aquele perfume penetrando em suas narinas, a fez lembrar do nível de intimidade que eles tinham. Nada havia mudado, na realidade. Bella acordou naquela manhã crendo que, talvez, suas sensações perto do soldado iriam alterar, agora que já haviam experimentado tudo que era possível numa relação. Mas não. Tudo continuava na mesma; ela ainda sentia seu estômago borbulhar toda vez que ele sorria, ainda sentia arrepios em todo seu corpo toda vez que ele a beijava, ainda sentia seu peito comprimir quando ele falava perto de seu ouvido...


– Soldado... – ela ia censurá-lo, dizer que não era o momento para tocar no assunto do futuro incerto e aterrorizador de ambos, mas ele a interrompeu:


– Às vezes eu fico imaginando o que é que eles estão planejando – sussurrou, pensativo. – Se eles estão querendo nos levar a loucura com esse jogo de fingir que não sabem de nada... Se estão planejando me pegar como informante... Ou se apenas estão esperando a hora certa de invadir nossa casa para nos prender... – a alemã não pode evitar o estremecimento que assomou seu corpo com essas últimas palavras. – Eu preferia que isso acontecesse, sabe. – O soldado concluiu.


– Preferia? – a alemã indagou, olhando-o com curiosidade e horror lhe transbordando dos olhos.


– Sim – respondeu o homem simplesmente, dando de ombros. – Seria mais fácil; eu saberia como agir, caso isso acontecesse. – Explicou-se, acarinhando os cabelos sedosos da mulher e beijando-os amorosamente. – Eu só os mataria, fugiria com você... Seria tão mais simples.


Bella não evitou o sorriso, embora aquele assunto não a agradasse em absoluto. Ele estava disposto a fugir com ela e isso, de certa forma, queria dizer que ele queria passar o resto de sua vida ao seu lado. Ela sabia que ele, talvez, não estivesse entendendo o monte de sentimentos que conflitavam dentro de si, mas ela ficava tão contente em ver que ele estava disposto a enfrentar todas as complicações junto dela... Sim, porque ele poderia simplesmente fugir, dizer que aquilo não era com ele, mas não, ele estava ali, se arriscando por ela, com ela.


– Mas isso não acontece. – Ele continuou seu desabafo, esvaecido de toda angústia e incerteza. – E eles ficam nessa de não dizer nada, de fingir que não sabem de nada! O que estão querendo? – explodiu.


– Nos enlouquecer – ela respondeu. – É isso que querem. Vão aparecer no momento que a gente menos esperar, quando acharmos que está tudo bem.


– Vamos fugir, alemã... – ele murmurou com o rosto enterrado nos cabelos que tinham cheiro de flores. Sua voz grossa saiu suplicante, toda sua vontade de ficar pra sempre do lado daquela mulher foi colocada pra fora apenas naquela frase.

– Você sabe que essa ideia é ridícula – ela censurou-o. – Se fugirmos, vamos estar mais do que esfregando na cara deles que você não é alemão.


– Eles já sabem disso, alemã – o soldado bufou com a obviedade daquilo. – É mais do que óbvio. Tratava-se apenas de juntar as peças e qualquer idiota poderia fazer isso.

Bella suspirou, enfiando seu rosto na curvatura do pescoço do homem e aspirando o cheiro dele. Depositou um beijo carinhoso ali, tentando acalmá-lo. Era um suplício para si também, ter de ficar naquela aflição que lhe parecia eterna, sem saber o que esperar do momento seguinte. Era mais do que angustiante sentir que tinha o soldado e toda aquela sua sublime satisfação. Mas ela sabia que de nada adiantaria ficar se lamentando, quebrando a cabeça para saber o que aconteceria.


Era até odioso dizer isso, mas... Eles tinham apenas que... Esperar.


– Eu me sinto tão malditamente impotente com toda essa merda – ele desabafou num suspiro. – Tão... Fraco...

– Não fale assim...


– Não, não tente melhorar as coisas pra mim – ele cortou-a, tentando não soar muito rude. – Eu poderia simplesmente ter ido embora antes de tudo isso chegar no ponto onde chegou... Podia ter ido embora antes de... Apaixonar-me por você...


Ela fitou-o, deslumbrada com as palavras recém-ditas. Era a primeira vez que o soldado dizia isso em voz alta. Embora ela já meio que soubesse, era tão bom ouvir...


– Apaixonar-se por mim...? – ela incitou, sorrindo bobamente.


– Você sabe que sim – ele bufou, meio desconfortável.


– Você não é culpado por nada disso – ela confortou. – Se você quisesse, poderia simplesmente ter sumido na hora que aquele soldado apareceu em casa. Poderia ter pegado o primeiro trem e ido embora pra Inglaterra, me deixando sozinha com as minhas complicações. Mas não. Você ficou, se aliou ao Partido... Está aqui comigo agora – sussurrou.


– E poderia ficar pra sempre – confidenciou ele, penetrando-a com seus orbes verdes.


– Eu me acostumaria com isso. – Fechou os olhos, deliciando-se com a carícia que ele lhe fazia nas bochechas coradas.


Ele aproximou seus lábios dos dela, sentindo a maciez e o gosto adocicado da boca feminina. De súbito, recordou-se de quando beijou-a pela primeira vez, numa tarde de domingo, onde os dois pareciam duas crianças bobas, acabando-se em guloseimas. Um filme daqueles meses que viveu com ela passou em sua cabeça, fazendo-o reviver em seu coração toda a importância daquela mulher em sua vida.


Lembrou-se de sua vida miserável naquele campo inglês, de todas as mortes que presenciara e de todas que causara. Lembrou-se de quando abriu os olhos e deparou-se com um anjo... Seu anjo... Aquela doce mulher que cuidou de seus ferimentos graves, aguentara sua rabugice e seus traumas de guerra, lhe arrumara um emprego... O fez sentir-se tão bem quisto, quase como se realmente pudesse ser algo de bom no mundo. Quase como se sua alma pudesse ser preenchida por algo bom novamente.


Amava-a tanto... Mais tanto...


E, enquanto sentia os lábios macios e delicados contra os seus, uma coragem lhe subiu no peito.


Porque, sabia: para pessoas que cultivavam sentimentos tão nobres quanto os seus, Deus costumava reservar um belo sol para depois da tempestade.







Eles passaram quase o dia inteiro fora de casa. Ficaram deitados na grama, olhando para o céu sem pensar em nada, tomaram um sorvete, beijaram-se louca e ininterruptamente e esqueceram os problemas.


Já se passava das quatro da tarde quando os dois chegaram na esquina da Rua Frieden. Ainda estavam abraçados, e seus lábios não abandonavam a pele do outro.


No entanto, no momento em que abriram a porta da casinha azulada, sentiram que todos os problemas lhes atingiram num baque só. Junto com o cheiro familiar de flores que a casa da alemã exalava, veio também o cheiro de complicações; o cheiro da lembrança de que estavam andando numa corda bamba atingiram os dois.


Eles tentaram camuflar a situação novamente.


Não tocaram naquele assunto, e isso tornou-se uma espécie de tabu naquela casa.


A alemã foi para a cozinha fazer o jantar – apesar deles já estarem mais do que empanturrados de tanto tomar sorvete – e o soldado a seguiu. Para ele, era meio que uma necessidade tocá-la a todo momento, sentir que ela ainda estava ali... Aproveitar os momentos ao seu lado... Sabe-se lá até quando ainda teria
aquilo...


Quando Bella despejou em seu prato a macarronada que tinha um cheiro maravilhoso, o soldado balançou a cabeça, dispersando aqueles pensamentos. Agora não.


Os dois comeram em meio a brincadeiras tolas de bobos apaixonados, e, às sete da noite, estavam jogados no sofá, debaixo de uma grossa coberta. Daquele jeito, eles tinham a sensação de que nada estava errado. E queriam muito que isso perdurasse.


Entretanto, quando o relógio marcava exatas oito horas, três batidas ruidosas os tiraram daquele delicioso frenesi que se encontravam.


A batida na madeira da porta se repetiu, entrando em compasso com as batidas erráticas e atemorizadas dos corações.


A alemã arregalou seus olhos e fitou seu soldado que, por sua vez, olhava para a porta, em total estado de alerta. Os olhares se encontraram e ela pode ver todo seu medo refletido nos orbes esverdeados, quase como que gritando que a paz, definitivamente, havia acabado.


– Eu vou atender – ela decidiu, já se remexendo para levantar-se do sofá.


– Não – o soldado interrompeu, levantando-se. – Eu vou dessa vez.


Bella não o impediu, porque sentia seus músculos paralisados até mesmo para fazer isso. Dentro de algum lugar remoto e estranhamente otimista de seu cérebro, ela tinha a sensação de que podia ser Alice, mas seu lado pessimista dizia que a amiga não bateria na porta; no mínimo, sua quase irmã simplesmente entraria, ou se esgoelaria gritando seu nome do lado de fora. Seu lado otimista, dentro daqueles segundos que o soldado caminhava lenta e cautelosamente até a porta, se manifestou novamente lhe dizendo que, se fossem soldados com intenções ruins, eles não se dariam ao trabalho de bater na porta, simplesmente invadiriam a casa. A alemã permitiu-se ficar confortável com essa dedução. Repetiu diversas vezes que não eram soldados, que nada de ruim aconteceria, que eles estavam a salvo...


A realidade lhe acertara, de repente lhe tirando daquele torpor de medo. Edward não poderia abrir a porta! Era contar com a sorte que já não tinham!


– Soldado! – ela ofegou, esticando suas mãos para pará-lo, mas já era tarde demais. Edward abrira a porta e a visão que Bella teve foi de gelar até seus ossos.


A moça congelou, fitando os dois soldados nazistas do lado de fora. Seu coração batia tão rápido que ela podia apostar que conseguiria ser ouvida pelos homens.


Eram dois homens robustos, musculosos e intimidadores, da mesma altura do inglês e suas caras fechadas poderiam colocar medo em qualquer presidente. A farda cinza ridiculamente bem engomada e o tanto de condecorações que enfeitavam diziam que eles eram do alto escalão do exército. Gestapo.
Bella ouvia dizer das atrocidades que aquela “polícia secreta” fazia com os
inimigos... Um arrepio lhe perpassou pela coluna.

Bella olhou para suas vestes e notou seu pijama, tratando logo de pegar a coberta em cima do sofá, jogando-a por cima de seu corpo. Ela meio que se plantou ali, disposta a ouvir o que aqueles dois homens tinham a dizer.


– Pois não? – O soldado notou que os alemães olhavam furtivamente para sua mulher e os encarou levantando uma sobrancelha, petulante.


Ele queria mostrar-se calmo, mesmo que a angústia lhe afogasse o coração. Queria controlar sua respiração, mesmo que o medo de perder a razão de sua vida lhe esmagasse os órgãos, mesmo que sua vontade fosse esganar aqueles dois homens e depois descarregar uma arma em suas gargantas.


– Senhor... – o primeiro brutamonte começou, olhando para o papel em suas mãos e franzindo as grossas sobrancelhas, como se lutasse para conseguir entender o que estava escrito ali. – Edward Masen? – Concluiu, meio sem conseguir pronunciar direito.


– Sou eu – o inglês confirmou, concentrando-se para não deixar seu sotaque estranho se destacar.


– Temos um comunicado do Partido para o senhor – o segundo informou. – A Alemanha necessita de sua presença na retaguarda polonesa. – Finalizou, entregando a Edward um papel; ele pode, com alguma dificuldade, notar que se tratava de um “atestado de guerra”, onde ele assinaria, confirmando que era um cidadão alemão nato, e que, como qualquer outro, iria defender o país dos inimigos. Ele já havia recebido um daquele, há tantos anos, na Inglaterra. – Um navio partirá na segunda, e o senhor deverá pegá-lo até a Polônia, onde integrará o Segundo Grupo de Atiradores, em missões terrestres, nas linhas de defesa de nossos territórios.


A manhã vem surgindo e as nuvens se mexem.

Levante esta venda, deixe-me ver de novo. E trazer de volta a água que seus navios navegaram.

Em meu coração, você deixou um buraco



Bella abriu a boca, completamente em choque. Pestanejou diversas vezes, como se tentasse abrir os olhos e se safar de um pesadelo terrível.


Guerra? Seu soldado estava sendo convocado para a guerra? Ele
iria defender linhas alemãs?


A alemã sentiu seu joelho fraquejar com a insanidade do que estava acontecendo diante dos seus olhos. Eles sabiam que ele era inglês! E por que se faziam de sonsos? Por que ficavam nesse joguinho infeliz de fingir que não sabiam de nada? Por que o tirariam dela dessa forma? Por que simplesmente não a prendiam, para tirá-la dessa aflição insuportável?


Era surreal demais, impossível demais.


– Preciso saber que o trem partirá na estação central... – Edward parecia conformado. Como se já esperasse aquilo, e, principalmente, como se estivesse contente em ter que enfrentar somente aquilo.



– Atirador? – a alemã finalmente indagou, com as sobrancelhas franzidas em perplexidade. Deu alguns passos trôpegos e parou ao lado de seu soldado, agarrando-o pelo braço, como se só aquilo pudesse mantê-lo ali. – Vocês o estão convocando para a guerra?


– É o dever de todo cidadão alemão, minha senhora – um dos soldados alemães respondeu simplesmente, sorrindo matreiramente de canto. Ali, ela soube: estavam brincando com a sanidade deles.


– Querida, nós sabíamos que algo assim ia acontecer... – Edward tentou amenizar.


– Não! – ela negou de repente, com veemência. – Vocês não podem fazer isso! Não podem tirá-lo de mim! – sua voz tornando-se cada vez histérica. As lágrimas de desespero já nublavam seus olhos e ela sentia que o chão sumiria de seus pés.


– Todas as mulheres alemãs estão passando por algo parecido. – Outro soldado consolou e Bella teve vontade de voar em seu pescoço.


– Fique quieto! – a pequena alemã explodiu. – Por favor, não vá... – ela suplicou, agarrando a camisa de flanela de seu soldado e molhando-a com suas lágrimas dolorosas.


Edward sentiu seu âmago esmagado ao ver aquela cena. O medo de perder sua alemã superava qualquer outro medo naquele momento, e o desespero dela nublava as tentativas dele de ser coerente naquela situação.




A corda bamba que caminho apenas balança e para.

O diabo está falando com aqueles olhos angelicais.

E eu só quero estar lá quando o raio atingir

E os santos irem marchando



– Senhores, creio que todas as informações necessárias para minha partida estão nesse papel – Edward disse. – Queiram, por favor, nos dar licença, gostaria de ficar um pouco a sós com a minha... Mulher.


– Claro, senhor Masen. Mas sabe que o senhor não pode fugir de seu dever. Veremos-nos segunda feira, na estação de trem. - O alemão disse sarcasticamente. E os dois homens viraram as costas, entrando no carro oficial
que tremulava a bandeira nazista e partindo.


Edward abraçou sua alemã fortemente, tendo seu coração despedaçado a cada soluço que ela proferia. Ele chutou a porta de entrada e pegou a mulher no colo, enlaçando suas pernas em sua cintura.


E cantar devagar...
Através do caos em forma de redemoinhos

Somos nós contra o mundo



Encostou sua testa na dela, e limpou as lágrimas que escorriam dando beijos carinhosos, numa promessa muda que tudo daria certo. Sentou-se no sofá com ela em seu colo e a embalou, acalmando-a, por vários minutos.


– A gente já esperava, não é? Só não sabia quando seria. – Ele sussurrou.


– Mas isso é tão ridículo... – expos, passando seus braços pelos ombros fortes dele e o apertando, na única forma que tinha de mantê-lo perto. – Eu achei que eles fossem te mandar para o Quartel General da Gestapo, faria mais sentido, porque lá você daria as informações e aí...


– Na retaguarda polonesa eu sou mais útil. No Exército inglês, eu fiz parte, durante quase dois anos, de um grupo especial para tentar furar o bloqueio alemão na Polônia e libertar o país da posse. Eles devem ter ficado sabendo disso de alguma forma e acharam perfeito me mandar pra lá, pra conseguir informações sobre as estratégias desse grupo.


– Por que você não deu um nome falso pro Partido? – ela indagou, voltando a soluçar.


– Eles são espertos, alemã. Já sabiam de tudo, quando eu fui me aliar. Se eu desse um nome falso, aí sim estaria dando motivos para nos prenderem. E isso não impediria de me mandar pra guerra.


– Mas lutar pelos alemães... – ela lastimou, ainda sem acreditar. – Lutar por uma causa que você não acredita...


– Não é como se eu acreditasse na causa dos ingleses. – Disse simplesmente. Se a causa alemã para aquela carnificina não era nobre, a causa dos ingleses tampouco.


Um soluço esganiçado escapou da garganta da mulher e logo seu choro tornou-se copioso.


– Não me deixe – ela suplicou, procurando os lábios dele com fome. – Não vou suportar...


– Eu não vou te deixar. – Ele prometeu, convicto. – Já sobrevivi a uma batalha, posso sobreviver a essa também. – E sorriu, tentando deixar o clima mais ameno.


E se pudéssemos flutuar?

Voar até a superfície e começar de novo!

E levantar antes do problema

                                   Apenas ver as rosas na chuva


Os lábios se selaram desesperada e angustiantemente. A sensação de solidão assolava o coração da alemã e, no soldado, a única certeza que tinha era que precisava voltar vivo dessa.


Ali, no sofá, eles se entrelaçaram e se amaram. Passaram a noite juntos, confundindo-se e não deixando nenhum espaço entre os corpos aflitos. Era a última noite que tinham juntos antes de Edward partir para a guerra. Estranhamente, do lado inimigo.


Não sabia o que lhe era esperado nas linhas inimigas, mas tinha uma ideia fixa na cabeça: não era mais do que uma obrigação voltar vivo dessa vez. Quando estava enclausurado no Exército inglês, não tinha perspectivas de voltar para a casa e nem queria, pois não tinha razões para tal.


Mas gora não. Ele tinha a Bella, sua alemã. E, por ela, voltaria vivo. Pra ela.


O sol poderia estar lindo, os pássaros poderiam estar cantando, mas, para Isabella Swan, tudo estava cinza.


Seus olhos estavam inchados e seus dedos já estavam doloridos, tamanho o aperto que fazia em torno da mão de seu soldado, não querendo deixá-lo ir, querendo prendê-lo para sempre.


A estação de trem estava lotada, e o vento cortante e gélido levava para longe o chapéu de algumas damas, que se debulhavam em lágrimas, como se tivessem a certeza mórbida de que nunca mais veriam o marido.


Os dois pararam seu caminhar e Edward voltou-se para ela, fazendo uma careta ao vê-la quase se afogar em lágrimas gordas e ruidosas.


– Não chore – ele pediu, forçando o queixo dela para cima, a fim de fitar aquelas duas amêndoas. A mulher, impossibilitada de falar, apenas envolveu seus frágeis braços ao redor de seu amado, deitando sua cabeça no peito dele e deliciando-se com o som do coração que era ouvido ao longe.


– Prometa-me que voltará – ela suplicou.


– Prometo – arrematou, convicto, mas com a voz cansada de toda consternação. – Pare de chorar. Eu estou entrando naquele trem, e vou voltar nele. Do mesmo jeito que eu estou aqui. Inteiro.


O momento fora quebrado por um sino estridente, que foi seguido por um homem gritando que já se passava da hora de partir.


Isabella engoliu em seco e sentiu os joelhos fraquejarem, mas o soldado logo dispersou qualquer pensamento que ela pudesse ter, envolvendo-a nos braços fortes e selando os lábios num beijo torturado, onde tentaram eliminar todo o medo.


O sino fora tocado novamente e Edward separou-se dela, abraçando-a fortemente logo depois.

– Eu amo você – ele declarou de repente, num sussurro na orelha feminina, fazendo-a sorrir, pela primeira vez em dias. – E vou voltar.


E soltou-a, agachando-se e pegando sua mala. Bella sentia as lágrimas caindo livremente por seu rosto, manchando- com toda a dor que sentia.


Ofegou, como se só agora a realidade lhe atingisse. O homem que amava fora para guerra, mas não como um cidadão comum, fora apara guerra defender linhas inimigas. Ficar exposto a quem mais odiava.


A alemã sentiu vontade de ajoelhar-se ali e chorar por dias e dias, extravasando toda sua dor, mas ela apenas se recompôs. E, com uma coragem e força que não tinha, virou as costas para a estação de trem e foi para sua casa. Com a promessa do soldado em sua memória. Ele voltaria e voltaria vivo.


Através do caos como redemoinhos

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Notas finais do capítulo

Quantas emoções, hein! kkk
E agora, como fica a situação? O que os alemães querem com o Edward? Por que já não falam logo que sabem de tudo? Respostas nos próximos :D hehehe
Gente, to meio triste com os comentários ): Poooxa, são mais de cem pessoas acompanhando a fic, e por que nem metade da metade da metade comenta? D: Assim eu desanimo! Vamos lá, você que está na moita, não dói nada escrever alguma coisa nessa caixinha sexy aí embaixo, eu juro! rs.
Agora eu vou, porque to pingando de sono e amanhã tem aula -'-
Beijos, amores, comentem! Deixem-me saber o que acharam ;***
PS.: eu não consigo arrumar a formatação D: