Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 4
Eu Morri e Fui para o Céu dos Mecânicos?




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IV

EU MORRI E FUI PARA O CÉU DOS MECÂNICOS?

EMMETT

E, então, o pessoal conheceu Rosalie Cullen. Sabe, Riverside era uma cidadezinha pequena; não acontecia muita coisa nela. Era por isso que eu tinha certeza de que eu não seria o único impressionado com aquela garota. Sorrindo, me voltei para a minha turma.

- E então? – Perguntei cheio de entusiasmo.

Foi Andrew quem me respondeu:

- Minha Nossa Senhora! Por Deus, Emmett, ela é perfeita! Ela parece uma estrela de cinema! Ou um anjo! Ou uma deusa!

Um anjo. Soube imediatamente que aquela era a palavra mais perfeita para descrever Rosalie Cullen. Um anjo que conserta carros, embora eu duvidasse muito dessa última parte.

O anjo loiro saiu voando dos meus pensamentos assim que senti os lábios de Louise roçar em meu pescoço – aquela mulher tinha o dom de me fazer esquecer qualquer coisa! Trouxe-a ainda mais para perto de mim, sentindo o meu coração acelerar.

- Alguém está apaixonado! – Eu brinquei. Louise e Bill riram, mas Andrew não pareceu se incomodar.

- Meu caro amigo, se Rosalie Cullen me quisesse, eu me casaria com ela agora mesmo! Ela viraria Rosalie Turner! Nossos filhos seriam lindos!

- Não é para tanto, Andrew! – Ouvi a minha garota dizer. Olhei-a. – Ela é muito bonita, sim, mas você está exagerando! Se tirasse aquelas roupas caras, ela seria apenas uma garota comum... e, como você não tem dinheiro para comprar roupas e jóias para ela...

Andrew rolou os olhos e eu quis brincar com a minha garota, dizer que aquilo era inveja, mas tive medo que ela se magoasse. Afinal, não existia comparação: nenhuma garota era melhor que a minha Louise. Nem mesmo Rosalie.

Bill, no entanto, não tinha tanta consideração pelos sentimentos da minha garota. Com desdém, ele comentou:

- Inveja é um sentimento muito feio, minha irmã.

- Não é inveja! Eu apenas não entendo por que vocês estão tão impressionados!

- Porque ela é loira, linda e perfeita. – Andrew respondeu, sonhador.

- E sabe mexer em carros! – Bill completou.

Eu beijei o rosto de Louise, pois a minha garota parecia meio chateada.

- Querida, você tem que admitir que ela é bem diferente das garotas de Riverside.

Ela me olhou com os olhos cerrados. Tive a impressão que a inveja, ou a raiva, ou o rancor, ou fosse lá o que estivesse deixando a minha Louise chateada começava a se voltar contra mim.

- É mesmo, Emmett McCarty? Como?

Olhei para Andrew, implorando por socorro; mas o bastardo apenas sorriu, claramente se divertindo com a situação. Pigarreei e tomei muito cuidado com as minhas palavras:

- Bem, ela parece uma estrela de cinema! Admita, querida... ela é realmente muito bonita.

- Mais que eu?

Bill e Andrew pareciam que estavam prestes a explodir em gargalhadas. E eu sentia que começava a suar. Claro que eu achava Rosalie mais bonita que Louise! A minha Louise era linda, sim, mas Rosalie... Rosalie era um espetáculo! Ela era perfeita!

- Claro que não! – Menti, sem conseguir suprimir o meu tom defensivo.

A minha garota riu divertida e rolou os olhos, dando um murrinho fraco em meu braço.

- Mentiroso! – Beijou o meu rosto. – Eu sei que eu sou tudo que você precisa, bobinho! Estou apenas brincando...

Eu ri, aliviado. Aquela era a minha garota!

Bill retomou o assunto anterior:

- E essa história dela consertar carros?

- Bem, eu vou testar amanhã. Mas realmente não acredito!

XxXxXxX

Sábado, 24 de agosto de 1935.

Eu não sabia exatamente o que esperar daquele encontro com Rosalie e Edward, mas estava animado. Finalmente veria os carros dos Cullen e conseguia provar ou não se Rosalie era verdadeiramente uma mecânica... não poderia ser ruim.

Quando a estradinha de terra deu lugar ao calçamento plano, soube que estava entrando na casa do lago – agora propriedade dos Cullen. Rosalie já estava do lado de fora, aparentemente me esperando. Ela vestia-se de uma maneira parecida com a que eu a conheci: uma calça, uma camisa de botão de mangas compridas e um corpete preto acentuando a cintura fina. Eu não podia deixar de me impressionar com as curvas tentadoras: eu era um homem, afinal!

Assim que ela viu que eu a olhava, acenou para a garagem aberta que ficava à esquerda, numa construção separada da casa.

Ela era tão linda quando sorria.

Tentando tirar o rosto – e o corpo – de Rosalie da minha cabeça, guiei o carro à garagem, colocando-o entre o DeSoto, que já tinha o capô aberto, e o Hudson.

Desci do carro para ver Rosalie se aproximar de mim, sorrindo. Os meus olhos cravaram-se nos dela, e eu senti um arrepio cruzar a minha espinha.

- Onde está Edward?

Eu não sei se queria que Edward aparecesse – não porque eu não gostei dele; mas simplesmente porque tinha passado mais tempo com Rosalie... e porque ela me intrigava, de forma que eu realmente queria conhecê-la bem.

- Acho que ele virá logo. Eu comecei sem ele.

Eu sorri e a minha atenção voltou-se imediatamente para as engrenagens do DeSoto. Quis começar a testar os conhecimentos de Rosalie.

- O que eu estou olhando?

Ela sorriu ainda mais.

- É lindo, não? – Ela olhou para o carro com o que pareceu a mais pura paixão. – Ele tinha um motor relativamente bom, de seis cilindradas; mas Edward e eu o trocamos por um mais potente, vindo diretamente de um Phantom! Foi caro, mas valeu a pena! Forçando um pouquinho, dá para ultrapassar os cem quilômetros por hora! A maior parte das peças novas vem do Phantom.

Eu a olhei totalmente embasbacado. Pela risada divertida dela, acho que a minha expressão me denunciou.

- Nossa!

- Você não acreditou em mim ontem, estou certa?

- Não mesmo, para ser sincero! Achei que o seu conhecimento sobre carros se limitasse a saber o que é o câmbio.

Rosalie ficou ligeiramente pensativa antes de responder:

- Se não me engano, Edward e eu mantivemos o câmbio desse aqui original. Trocamos o do Hudson.

- Por um da Rolls-Royce, também?

- Não. De um Cadillac, eu acho. Edward é quem fica responsável pela compra das peças.

Eu analisei o carro, tocando-o eventualmente e sentindo as minhas mãos começarem a ficar sujas de óleo.

- Onde vocês conseguem as peças?

- Ferro-velho – respondeu uma voz masculina à porta da garagem. Era Edward, que logo se aproximava de nós dois. Rosalie o olhou de uma maneira estranha. Por um momento, pensei que ela fosse explodir novamente. – Eu tenho alguns contatos com ferros-velhos em Nova York, na cidade, e Syracuse, onde morávamos. Sempre que eles conseguem peças boas, ligam para nós.

Edward olhava para o carro com ainda mais adoração que Rosalie. Percebi que aqueles dois realmente levavam o hobby a sério.

- O que vocês vão fazer agora que estão no Tennessee?

Edward deu de ombros.

- Deixei o novo telefone com o pessoal do fero-velho. Se tiverem boas peças, nos mandarão pelo correio – eu o olhei impressionado. – Nós somos clientes realmente bons.

Voltei a minha atenção para Rosalie.

- Como é a divisão de trabalho?

- Edward fica mais com o trabalho pesado. Eu monto as peças menores e coloco defeito no que ele faz! O meu irmão tende a ser um pouco desastrado.

Ri. Edward, no entanto, não pareceu achar graça do comentário.

- Rosalie é quem lidera na oficina – ele disse com os dentes cerrados. – Rosalie, por que você não conta a Emmett sobre a pintura do Hudson.

Ela olhou o irmão com um brilho assassino em seu olhar. Ela ficava um pitéu, com cara de perigosa.

- Eu não fiz nada, Edward. Nós compramos o Hudson assim. A única coisa que eu faço é polir.

Os dois ficaram se olhando por um tempo, e a expressão de Edward era cada vez mais raivosa. Não entendi bem o que estava acontecendo, mas também decidi não me meter. Imaginei que se eu falasse alguma coisa, aquela raiva pudesse se voltar contra mim.

Depois do que pareceu uma eternidade, Edward bufou e rolou os olhos.

- Espero que você saiba o que está fazendo – ele falou apontando para Rosalie, enquanto pegava em seu bolso a chave do Hudson e entrava nele rapidamente. – Eu vou dar uma volta na cidade. – Ele me olhou. – Volte quando quiser, Emmett.

E, sem mais, Edward saiu rapidamente com o carro.

Fiquei feliz por estar novamente a sós com Rosalie. Louise provavelmente não ficaria feliz se ela soubesse daquilo, mas as minhas intenções com o anjo loiro ainda eram bem inocentes. Eu apenas... me sentia bem quando estava perto dela.

- O que houve com ele?

Rosalie deu de ombros.

- Eu nunca vou entender as variações de humor de Edward.

Sorri.

- Espero que não tenha sido nada que eu fiz.

- Não... a culpa provavelmente foi minha. Acho que estava respirando alto demais! – Ela riu. Não sei se era impressão minha, mas ela parecia tentar não me olhar nos olhos. – Bem! – Ela exclamou depois de um minuto de silêncio. – Pode abrir o capô do seu Chevy! Estou curiosíssima!

XxXxXxX

Era quase três da tarde quando começou a cair uma chuva torrencial. A esse ponto, Rosalie e eu já tínhamos desistido dos carros e das peças – incríveis, por sinal – que sobravam na garagem dos Cullen, esperando para ser instaladas. Eu me sentia no céu dos mecânicos – e a deusa suprema era Rosalie. Era estranho, no entanto, que ela tivesse falado tanto de carros, porém mal tocado neles.

Mas há mais de uma hora nós não falávamos mais nisso. Estávamos sentados no chão da garagem – bem, eu no chão e ela na esteira – e falando bobagens.

- Chuva – eu suspirei, desanimado. – Se amanhã continuar assim, terei de cancelar os planos de fazer trilha.

Ela franziu o cenho.

- Você faz trilhas com freqüência?

- Sim, mas nós quase nunca entramos muito na floresta; muitos animais perigosos; e não do tipo divertido de caçar.

- Divertido de caçar?

- Sim. Ursos, por exemplo – ela me olhou, parecendo estar extremamente interessada. – Sempre que eu quero caçar ursos, vou à fazenda do tio de Louise. É bem longe, sabe? Quatro ou cinco horas de estrada.

- Ela vai com você?

Eu me calei por um tempo, me perguntando se havia algum interesse por trás daquele questionamento. Finalmente decidi que não: uma garota como Rosalie não se interessaria jamais por um homem como eu.

- Sempre. Mas fica na fazenda. Na verdade, Louise não gosta muito que eu cace. Ela acha arriscado.

Rosalie riu.

- É arriscado.

- Se não fosse, não teria graça nenhuma!

Naquele momento, ouvi passos na garagem. Pensei que fosse Edward, mas, quando eu olhei, vi a Sra. Cullen trazendo consigo uma bandeja com dois copos e um prato de biscoitos.

- Eu pensei que vocês pudessem estar com fome – ela disse animadamente. – Não vim antes porque acabei de tirar os biscoitos do forno!

Eu sorri largamente – afinal, eu estava com fome – e me levantei para pegar a bandeja da Sra. Cullen.

- Obrigado, Sra. Cullen!

- Eu já disse que prefiro que você me chame de Esme, querido! Espero que você goste... não sou a melhor cozinheira do mundo!

Enquanto ela dizia isso, eu colocava a bandeja na esteira, ao lado de Rosalie, e já começava a comer. Se a Sra. Cullen não era a melhor cozinheira do mundo, certamente era a melhor que eu conhecia!

- Nossa! – Falei com a boca cheia. – Muito bom!

- Obrigada! O refresco é de laranja – ela sorriu mais uma vez. – Eu vou deixar vocês sozinhos.

E, sem dizer mais nada, ela saiu. A Sra. Cullen realmente era maravilhosa.

- A sua irmã é...

- Eu sei – Rosalie disse. – Ela parece ser mais minha mãe que minha irmã.

Eu franzi o cenho, com uma dúvida.

- Cullen é o sobrenome do marido dela, certo? – Rosalie assentiu. – Então você não é Cullen?

- Não. Hale. Rosalie Lílian Hale.

Sorri e, antes que pudesse me controlar já tinha dito:

- Rosa pela beleza e Lírio pela pureza?

Rosalie pareceu parar de respirar por um instante. Finalmente, ela sorriu o mais belo dos sorrisos – o mesmo que ela usou quando me conheceu. Eu senti o meu coração acelerar e me censurei por ter dito aquilo: não era apropriado! Eu tinha namorada! Eu amava a minha namorada!

- Obrigada – ela finalmente disse timidamente.

Concentrei-me nos biscoitos e no suco de laranja... até perceber que Rosalie não comia absolutamente nada.

- Não está com fome?

- Não muito... e se eu comer agora, não terei fome no jantar. Esme vê o jantar em família com algo sagrado. Na casa dela obedecemos às regras dela.

Sorri. Ofereci a ela o último dos biscoitos, mas, como ela realmente não o quis, decidi comê-lo – era até pecado desperdiçar biscoitos tão bons.

- Eu deveria ir agora... Você sabe, antes que comece a ter muita lama no caminho.

Ela sorriu, levantando-se.

- É verdade! Ainda não vi como a estradinha de terra fica depois de uma boa chuva, mas deve ser caótica!

- Ela é!

Calei-me por um tempo, sentindo uma vontade quase controlável de tocar a pele dela, apenas para saber se a sua consistência combinava com a aparência sedosa. As minhas mãos nervosas foram para o meu bolso, onde eu havia guardado as chaves do meu carro.

- Então... tchau.

Aquela era a minha chance: eu apenas tinha que dar um passo em direção a ela e beijar a sua mão. Somente isso.

Lutei bravamente contra esse impulso, mas, quando ele finalmente venceu e eu comecei a dar o meu passo em direção a ela, Rosalie me cortou com as palavras:

- Tchau.

Eu suspirei, assenti e fui para o meu carro.

Passei o resto da tarde e toda a noite me policiando para não pensar em Rosalie Lílian Hale. Mas, quando eu dormi, foi impossível desviar a minha mente da única mulher que eu conhecia que era linda como uma rosa e pura como um lírio.

XxXxXxX


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