Imperfeição escrita por GabrielleBriant


Capítulo 13
Quando um Vampiro Deixa de Ser um Assassino




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XIII

QUANDO UM VAMPIRO DEIXA DE SER UM ASSASSINO

ROSALIE

Eu estava trêmula.

Não estava preparada para aquilo. Para a declaração de amor. Para o beijo. Para o pedido de casamento. Cada fibra do meu ser gritava para ser dizer sim a Emmett. Para lhe dizer que também o amava e que também queria viver ao lado dele.

Mas que tipo de vida eu poderia lhe dar? Transformá-lo num animal para o meu bel prazer, privá-lo de ter filhos e de ter estampado em seu rosto a sabedoria adquirida durante os anos? Não. Eu não poderia condenar ninguém ao meu estilo de vida... especialmente alguém como Emmett.

Foi por isso que o rejeitei tão cruelmente. Eu sabia que cada palavra o machucava mais do que ele jamais admitiria, mas eu tive que dizer cada uma delas; deferindo o veneno exatamente como minha mãe um dia me ensinara. O problema é que cada uma das palavras doía duas vezes mais em mim.

E, agora, eu estava novamente com o meu coração partido. Entrei em casa e olhei para o anel que ainda estava em minha mão. O belo anel de prata que tinha uma safira e alguns brilhantes rodeando-a. Não era nada em comparação ao enorme diamante que Royce um dia me dera, mas, aos meus olhos, era tão mais bonito e valioso.

Os passos cadenciados que eu ouvi só poderiam ser de Esme.

A minha mãe adotiva tocou o meu ombro com carinho e, com a voz triste, disse:

- Oh, Rosalie, você o rejeitou!

A olhei em choque.

- Você sabia?

Claro que ela sabia! Edward provavelmente lhe contara ainda antes de eu sair, e Esme, como era tão romântica, não vira problema nenhum no fato de Emmett ser um humano – aquilo, para ela, poderia ser facilmente resolvido.

- Sim, mas eu pensei que você ficaria feliz!

- Esme, como-? Como eu poderia aceitar me casar com Emmett?

- Eu sou casada com Carlisle, e nós somos muito felizes. Rosalie, Emmett ama você! Se tornar-se um de nós é tudo que ele tem que fazer para passar a eternidade ao seu lado, eu tenho certeza que ele abriria mão da própria mortalidade com prazer!

Neguei com a cabeça.

- Eu odeio essa vida, Esme! Como posso condenar alguém a ela? Emmett era feliz antes de me conhecer; ele vai me esquecer!

Aquele pensamento doía mais que tudo. Doía porque Emmett realmente me esqueceria, eu tinha certeza. Mas eu teria que passar a eternidade pensando no que teria acontecido se eu decidisse, pela última vez, ser egoísta e fazer o que parecia ser melhor para mim.

Mas eu não voltaria atrás. Emmett viveria.

- Oh, minha filha... minha querida filha...

Esme tentou me abraçar, mas eu logo me desvencilhei e corri para o meu quarto. Claro que Edward estava lá, me esperando sentado em minha cama.

Eu juro que não quero ouvir suas reprovações!

- Eu não posso lhe reprovar dessa vez, Rosalie. Você fez o que era certo.

Lentamente, escalei em minha cama e me deitei, usando a perna de Edward como o meu travesseiro. Surpreendi-me quando senti os dedos dele se entrelaçarem em meus cabelos, acariciando-os.

- Eu não faria outra escolha. Não com ele.

- Eu acredito em você, agora.

- Mas... dói!

- Eu posso ler os seus pensamentos, Rosalie. Eu sei como você está se sentindo.

O olhei.

- Isso vai passar, Edward?

- Eu não sei. Eu realmente não sei.

XxXxXxX

Sábado, 05 de Outubro de 1935.

Se tinha uma coisa que eu gostava nas florestas montanhosas do Tennessee, era a variedade ridiculamente enorme de animais carnívoros. Eu não tinha isso em Nova York. E até mesmo Esme, que viveu como vampira por muito mais tempo que eu, disse que aquele era o lugar com o maior cardápio que ela já vira, excluindo o Everglades, claro.

Nos últimos dias, eu passei a me concentrar na minha sede. Por mais que eu odiasse a idéia de ser uma vampira, eu tinha que reconhecer que o nosso vício em sangue era uma benção, quando se tinha que tirar algo da cabeça. E, nos últimos três dias, eu tive a impossível tarefa de tirar Emmett da minha.

Ao pensar o nome dele, o meu corpo inteiro estremeceu. Suguei com mais força e leão da montanha que há alguns minutos eu tinha abatido e senti a massiva quantidade de sangue me acalmar, lentamente desfazendo em mim o efeito que Emmett provocava.

Quando o animal estava totalmente drenado, me levantei. Procurei manchas em minha camisa branca, mas não encontrei absolutamente nada. Sorri.

Agora eu estava cheia de energia; mais ou menos como me sentia pouco depois de ser transformada em vampira. E, para queimá-la, eu corri. Corri entre as árvores, e pelos leitos dos rios. Subi e desci montanhas, e até explorei uma ou duas cavernas e uma mina abandonada. Eu corri até sentir as minhas pernas queimarem num sinal de cansaço – coisa que eu sequer sabia ser possível num vampiro.

Parei, finalmente. A paisagem ali era diferente da floresta perto da minha casa. As montanhas tinham se transformado num planalto gelado, com árvores imensas e mais espaçadas. Logo captei uma deliciosa essência – um sangue que ainda era desconhecido para mim, e que, sem dúvidas, pertencia a um carnívoro.

Pé ante pé, segui aquele cheiro, até que, no leito de um rio, encontrei um gigantesco urso cinzento. Não pude evitar o sorriso que apareceu em meu rosto – finalmente tinha encontrado os famosos ursos sobre os quais Esme tanto falava. Eu pensei eu atacá-lo. Claro que eu não drenaria um urso daquele tamanho; especialmente depois de me alimentar de um leão da montanha adulto. Mas não resistiria a... apenas provar.

Quando me aproximei, no entanto, mudei de idéia. Perto do urso maior estava um filhotinho. Eu provaria sangue de urso; apenas não daquele.

Continuei a explorar o lugar, de vez em quando passado por cervos e animais menores. Nada que me chamasse atenção até que... O meu corpo inteiro paralisou.

O cheiro foi a primeira coisa que me atingiu – poderoso, confundindo todos os meus sentidos e despertando por um segundo a fera dentro de mim. Depois foi a voz – quase irreconhecível, num grito de puro horror.

Emmett!

Algo estava muito errado. Comecei a correr, sendo guiada pelo cheiro do sangue ao qual eu já resistira uma vez. Ouvi mais gritos e o som estridente de um tiro de espingarda. De dois tiros de espingarda. Um urro.

O cheiro do sangue de Emmett misturou-se com o agora inconfundível cheiro de sangue de urso. Na minha cabeça, começou a brotar a terrível imagem do que estava acontecendo e eu, impotente, apenas acelerei o meu passo. Mais um tiro.

Quando finalmente cheguei à cena, paralisei. O urso estava no chão, dando os seus últimos suspiros de vida. E, ao lado dele...

- Oh, Deus!

Corri para o lado dele, não me importando com a forte luz do sol que penetrava pelas árvores e deixava a minha pele tal qual diamante. Ajoelhei-me e acariciei o rosto dele.

Emmett estava... morrendo. O sangue encharcava toda a roupa dele e deixava o chão lamacento. O braço esquerdo praticamente arrancado e faltava-lhe um pedaço da coxa direita. O abdômen estava dilacerado.

E as batidas do coração dele estavam tão fracas!

- Emmett!

Os olhos dele – uma das poucas coisas ainda visíveis no rosto ensangüentado, voltaram-se para mim. E, mesmo em meio da sua dor lancinante, ele sorriu.

- Eu- Eu sabia- A... Anjo.

- Sim, eu estou aqui.

Ele uivou de dor – uma dor que eu mesma pude sentir.

- Morrer- jovem.

Sim, ele morreria. Ele morreria tão jovem... Senti um peso em seu coração e o nó na garganta. O choro me doeu ainda mais, por não poder ser externado.

Ele morreria, eu tinha certeza. Então, porque não conseguia aceitar a idéia? Porque eu o coloquei em meus braços e disse que não o deixaria morrer? Porque eu tentei ignorar os urros de dor e comecei a correr desesperadamente?

Eu não sabia a distância da minha casa. Eu não sabia quanto tempo eu passara para chegar aonde eu encontrara Emmett. Eu não sabia como resistir quando o vento nos tocava e trazia um pouco do sangue dele para a minha boca.

Continuei a correr, me agarrando à idéia de Carlisle poderia ajudar. Me agarrando a fantasia de que Emmett poderia sobreviver.

Por favor, Deus!

Deus. Eu ainda me lembrava do último pedido que eu fizera a Deus: "Deus, faça com que eles acabem logo". Deus não tinha atendido àquele meu pedido, permitindo que a minha tortura se prolongasse por horas. Deus tinha uma dívida comigo; eu esperava que ele a pagasse.

Por favor, não o leve! Por favor, deixe-o comigo!

As planícies começavam a dar lugar às montanhas e as minhas esperanças começavam a se renovar... até Emmett convulsionar em meus braços.

- Não! Por favor...!

As minhas pernas e meus braços queimavam.

- EDWARD! – Gritei o mais alto possível, esperando que o meu irmão ouvisse a minha voz. – EDWARD!

Nada. Nenhuma resposta. Emmett perdera a consciência e eu percebi o quanto sentia falta dos gemidos de dor dele – aqueles gemidos me lembravam de que ele ainda estava vivo.

- Emmett, resista! EDWARD!

Finalmente, um lugar conhecido. Eu conhecia aquelas matas, era onde eu costumava caçar. Estava a quinze minutos de casa.

A respiração de Emmett falhou.

- Não! EDWARD!

E, finalmente, depois de uma fração de segundo:

- Rosalie?

Suspirei aliviada.

- EDWARD, LIGUE PARA CARLISLE E MANDE-O VIR PARA CASA! TIRE ESME DE CASA!

- O que-?

- EDWARD, AGORA!

Eu corri ainda mais rápido, esperando que o meu irmão conseguisse fazer tudo aquilo. Emmett estava cada vez mais frio e eu... e eu sequer queria pensar na hipótese de perdê-lo. Não agora, que eu estava tão perto.

Como um borrão, passei pelos fundos da casa de Emmett e logo estava contornando o lago. Minha casa em vista. Minha esperança em vista.

A primeira pessoa que vi foi Edward, me esperando com a porta aberta. Ele tapava o nariz e a boca, mas eu podia ver a expressão desesperada dele.

- O que você fez? – Ele me acusou.

Em vez de responder, deixei passar em minha mente o momento que o encontrei. E, enquanto fazia isso, o levava para o meu quarto.

Ao deitar Emmett em minha cama, desloquei ainda mais o braço dele – agora preso ao corpo apenas por algumas fibras musculosas. Ele acordou e gritou tão alto, que pensei que toda a vizinhança poderia ouvir.

- Me desculpe! – Disse, em desespero. – Me desculpe! – Voltei-me para Edward. – Onde está Carlisle?

- Ele deve estar chegando!

- E Esme?

- Mandei ela ficar na cidade.

Assenti. Não tinha mais nada o que fazer, a não ser escutar a respiração ruidosa de Emmett. Quando escutei o gritar, me virei: Edward estava pressionando com os meus lençóis a ferida do abdômen dele.

- Ele não pode mais perder sangue – ele falou com dificuldade, e eu percebi que o meu irmão estava prendendo a respiração. – Rosalie, sente um pouco.

Foi apenas então que lembrei que as minhas pernas estavam queimando, mas não me sentei. Não podia.

- Você não vai fazer nada?

- Eu estou fazendo o que posso, Rosalie!

- Mantenha-o vivo!

E, dizendo isso, corri novamente – desta vez com destino a rodovia estadual. Não demorou um minuto para que eu encontrasse o Hudson sendo guiado por Carlisle.

- Pare o carro! – Disse assim que ele me viu. Carlisle não demorou a me obedecer. – Carlisle, Emmett está morrendo! Vamos!

- Ros-

- AGORA!

E nós corremos juntos. Ouvi um barulho de desagrado deixar a garganta de Carlisle assim que entramos em casa, onde o cheiro de Emmett era mais forte. Ele, então, tomou a dianteira e subiu as escadas. O escutei mandar Edward sair do quarto e quase esbarrei com o meu irmão nas escadas.

Quando entrei no quarto, Carlisle tinha os seus dentes perto do pescoço de Emmett.

- NÃO! – Ele me olhou, confuso. – O que você pensa que está fazendo?

- Não foi para isso que você me chamou, Rosalie?

- Não! Eu quero que você o salve! Que o conserte, para que ele possa... viver!

Carlisle me olhou com compaixão.

- Rosalie, eu não posso salvá-lo como médico. E, daqui a um minuto ou dois, também não poderei salvar Emmett como vampiro! Então se decida agora!

Eu sabia a resposta certa. Eu tinha que dizer para Carlisle deixar que a alma de Emmett descansasse. Eu não tinha o direito de condenar Emmett àquela vida.

Mas, na hora de verbalizar aquilo, algo dentro de mim rugiu. E a única coisa que saiu dos meus lábios foi:

- Salve-o.

XxXxXxX

Reviews, por favor.

Bjus e mais bjus para a Lou Malfoy, que betou mais esse capítulo. E, claro, para as lindas de comentaram o cap anterior: Ana Paula (está aqui! Hehehe! É que eu sou concurseira, e só tenho uma hora por dia pra escrever... quando muito. Por isso que às vezes demoro pra postar!), Duaschais Seneschais (Pois eh, esse foi o cap. Mas eu vou mostrar um pouco do POV de Emmett no prox cap – estou até meio nervosa, porque Emmett é muito religioso e eu... não. É difícil escrever morte no POV dele! Qto à epidemia, eu joguei na Wikipédia as epidemias dos anos 1930 e apareceu cólera nos EUA. Não pensei duas vezes antes de usá-la na fic!), Elissa Summers, Tathiana (Ele não terminaria com a Louise, mais pra frente eu explicarei por que. Mas o Emmett nem precisou; morreu antes de pedi-la em casamento!), We-re bad (obrigada! E história não se passa toda em Riverside, não. Vai ter uma pedaço no Canadá – que começa daqui a uns quatro caps –, outra em Washington e termina em Riverside... porque eu ADORO voltar ao início das coisas) e a Lou, porque beta que é beta, deixa review! E do Nyah! Relsanli e mkmk.


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