CAPÍTULO 19 – Doces ou Travessuras

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Sabe aquele momento da sua vida que finalmente você compreende porque quase metade do seu salário mensal vai para terapia, ou porque com 30 anos você ainda está longe de ter marido e filhos?

Então... eu estava enfim compreendendo o porquê gastava 800 dólares mensais com uma psicóloga e o porquê de ter 30 anos e nunca ter tido um namorado sério. A resposta é mais simples do que se pode imaginar: minha adolescência.

Tudo bem que eu acredito que ter passado a adolescência nos anos 80 – conhecida como a década da breguice – foi pior do que nos anos 90. Mas se pudessem colocar em uma ordem cronológica, os anos 90 vêm colado nos 80, tamanha é a falta de senso estético e fashion do mundo. E olha que quem afirma isto é uma pessoa que nem é tão ligada a moda como eu.

Mas o que eu quero? Quando o mundo sofre a influência direta e sem prescrições da Alicia Silverstone e sua Cher em ‘As Patricinhas de Beverly Hills’, com saias de pregas xadrez, camisas transparentes, meias ¾ ou 7/8, sapatos oxfords com e sem salto, tiaras no cabelo, com ares de colegial sexy pronta para um filme pornô de fantasias sexuais para pervertidos que tiveram um high school em que eram os populares, somada com a influência brilhosa, exagerada, extravagante, de vestidos curtos, barrigas à mostra quando usadas com tops, saias curtíssimas, plataformas ridículas de 10 cm ou mais, atitude rosa e o famoso girl Power promovido pelas Spice Girls; o resultado só poderia ser este que eu via agora.

Deus, eu até tinha medo de me olhar no espelho. Isso porque só tinha visto a bendita fantasia que Alice e Rosalie haviam escolhido para mim antes de vesti-la, e por mais que você esteja com ela você não consegue ter uma visão geral do figurino. Contudo, levando em conta como as duas estavam vestidas, eu só poderia supor o pior.

Ah sim... como as duas estavam vestidas?

Rosalie era um meio termo entre Geri Halliwell e Emma Bunton no clipe Spice Up Your Life das Spice Girls, para dizer o mínimo. Seus cabelos dourados estavam frisados e volumosos, para evitar que estes caíssem em seu rosto perfeito diversas tranças miudinhas prendiam sua franja e laterais do cabelo, fazendo com que parecesse uma tiara natural em seus cabelos. Um vestido justíssimo tomara que caia de couro negro que batia no começo de suas coxas mal cobrindo o seu bumbum, com taxas e alfinetes pratas em pontos estratégicos, uma bota de couro over-knees dava o toque final a sua roupa, que era ainda pontuada pela forte maquiagem em torno de seus olhos azuis lápis-lazúli e lábios rubros intensos.

Alice, todavia, estava mais para uma versão dark da Madonna no disco que a lançou para o mundo, juntamente com a canção título do álbum ‘Like a Virgin’. Quando eu digo uma “versão dark” pode ter certeza que eu não estou mentindo ou simplesmente fazendo uma comparação exagerada, posso dizer que ela não era uma cópia perfeita porque Alice não usava o famoso cinturão com a inscrição boy toy ou um véu no melhor estilo noiva. Mas de resto...

Desde o corpete de renda, a saia armada de tule, passando pelas meias 7/8 com o topo de renda, luvas que deixavam os dedos de fora também de renda, até os colares de pérolas negras e correntes pratas. Tudo na fantasia que Alice havia escolhido para o Halloween lembrava o estereótipo que a Madonna lançou moda na década de 80, onde no VMA de 84 se tornou tão icônica como é relembrada como um marco até os dias atuais – seja 1997, ou 2010. Entretanto, ao contrário da rainha do pop, toda a roupa da pequena Alice era negra. Uma viúva negra.

Desta forma, analisando o contexto em que uma estava vestida como uma Spice Girl e a outra como uma Madonna, pode-se compreender o meu pavor de olhar-me no espelho, certo?

Definitivamente sim.

- Bella! – exclamou Alice animada demais para o meu gosto. – Abre logo esse olho e veja como você está...

- Gostosa. – completou Rosalie na mesma animação da baixinha de cabelos espetados, algo que para a loira era totalmente estrangeiro.

- De jeito maneira! – protestei pela milésima vez desde que havia vestido a maldita fantasia que as duas haviam selecionado para mim de dentro do closet de Alice.

- Bella, não é como se você estivesse uma vampira horrível. – protestou Rosalie irritada.

Ah, sim. Nossas fantasias, depois da conversa que entreouvimos de Tanya e companhia havia se tornado de vampiras. Maldito dia em que assistimos a reprise da primeira temporada de ‘Buffy, a Caça-Vampiros’, dando a ideia para essas duas malucas, que são as minhas melhores amigas até na minha vida adulta, de se vestirem assim.

Maldita Sarah Michelle Gellar, apareça agora com a sua estaca de madeira e a crave logo no meu peito, me privando da vergonha de sair deste cômodo com essa roupa escandalosa. Tudo bem que se você quiser trazer o Angel e o Spike – por mais que este só entre na série em meados da 2ª temporada – junto, não me sentirei incomodada nem um pouco para auxiliar na minha morte.

Ok, eu estava divagando.

- Vamos Bella! – exclamou uma impaciente Alice, me retirando dos meus devaneios. – Quero ver a sua cara de surpresa quando você se olhar! – declarou dando pulinhos e batendo palmas.

“Senhor... o que eu fiz para merecer uma amiga dessa?” – me vi inquirindo mentalmente enquanto debatia internamente se vestia a minha roupa normal e saia daquele closet e me recusava ir à festa que as duas haviam preparado para o Dia das Bruxas ou não.

“Pelo amor de Deus, Cristo e o Espírito Santo, Isabella!” – censurou a Prazeres estridentemente em minha cabeça. – “É uma festa do Dia das Bruxas! Halloween, uma tradição norte-americana. Então, por favor, arrasta este seu traseiro magro e sem celulite de 17 anos deste closet, e se encare no espelho. E, criatura: para de ser dramática!” – ordenou no melhor estilo sargento a minha consciência de 30 anos.

Filha de uma puta. Desgraçada. Maldita. Como eu odiava ter uma mãezona implicando comigo na minha cabeça 24 horas!

Com um suspiro pesado e rezando para que Deus me protegesse, sai do maldito closet e me encarei no espelho.

- Então?! – perguntaram em uníssono Alice e Rosalie em expectativa.

Surpresa.

Esta era a única palavra no vocabulário da língua inglesa que eu podia usar para descrever como estava meu estado de espírito ao me ver diante daquela superfície plana que reflete uma imagem, conhecida popularmente como espelho.

Eu estava gostosa pra caralho. E para que eu afirme isso, tem que ser muito verdade, algo surreal, inimaginável, sonho mesmo. Sim, isso era um sonho porque nunca em toda a minha vida eu estaria quente como o inferno como estava agora.

Uma calça jeans meio brilhosa imitando couro – justíssimo e de cintura baixa -, com um cinto de tachas e correntes prateadas, uma bota de salto médio e cano longo de couro negro, com um top curto de renda – mas não transparente – colado ao meu corpo, vários colares prateados e negros, alguns mais longos, outros, todavia, em torno do meu pescoço como uma coleira de miçangas negras brilhosas, pulseiras grossas negras e anéis enormes.

Meus cabelos estavam lisos e escorridos, algo que não me recordara em ter visto antes desta maneira antes. A maquiagem escura em torno dos olhos, que as minhas amigas fizeram, destacava meus olhos castanhos como chocolate derretido, e assim como Alice e Rosalie, meus lábios estavam tingidos com um batom vermelho intenso.

Definitivamente eu nunca me vi tão linda, gostosa e com curvas que nunca imaginei existirem em meu corpo como naquele momento. E olha que nesta conta eu posso colocar os meus 30 anos dos quais passei por fases: nerd invisível, caloura bêbada, veterana safada e veterana arrependida, estagiária querendo se mostrar competente e finalmente jornalista competente.

Eu estava completamente sem palavras.

- Bella? – chamou Alice aproximando-se de mim, me encarando pelo reflexo do espelho. – Você está bem? Eu sei que a roupa é um pouco... er... escandalosa, mas se encaixa perfeitamente na proposta que estamos passando na festa. De ser vampiras. – explicou dando de ombros.

Encarei o seu rosto, completamente confusa. Não conseguia compreender do que ela estava se explicando. Eu estava adorando a roupa que ela e Rosalie haviam preparado para que eu usasse no Halloween. Então por que ela estava se desculpando?

- Bella, eu sei que pode parecer um pouco over, mas é Halloween, hoje tudo pode ser over. Você sabe. – defendeu-se Rosalie, supondo que meu silêncio fosse algo ruim.

Foram longos minutos e longas respirações cheias de surpresa para que eu finalmente respondesse as preocupações e perguntas das minhas melhores amigas.

- Eu... adorei isto. – respondi com um fio de voz olhando para o rosto das duas, mas não conseguindo manter o olhar por muito tempo, assim tornando a me encarar no espelho.

- Você o quê? – replicou uma surpresa Rosalie.

- Adorou? – repetiu Alice soando mais como uma pergunta incerta.

Com uma força hercúlea desviei meu olhar do espelho para encarar minhas amigas completamente descrentes. Sério mesmo que elas imaginavam que eu agiria completamente surtada com a fantasia que escolheram para mim? Elas não sabem como eu sou?

“Eu tenho certeza absoluta que você sofre de transtorno bipolar Isabella! Até alguns minutos atrás você estava xingando Deus e o mundo, incluindo na conta até a Buffy da Sarah Michelle Gellar que nada tem a ver com tudo isso por causa da fantasia. E agora você está achando um cúmulo o comportamento de Alice e Rosalie?! Qual é a porra do seu problema?! Você precisa de uma passagem só de ida para o hospício, sua mente é algo que necessita ser estudado.” – chamou atenção a Prazeres, me recordando não só que há minutos atrás eu estava temerosa com a roupa que haviam escolhido para mim, como também a minha inconstância sentimental.

Esses hormônios de adolescente estavam acabando comigo, mais do que eu gostaria de admitir. Todas as emoções são milhões de vezes mais intensificadas, me deixando vulnerável com qualquer coisa.

Sabendo que deveria dizer algo as duas, respirei profundamente, e disse:

- Meninas, desculpem-me o meu comportamento ridículo na relutância de vestir está fantasia, mas vocês me conhecem... eu sou inconstante. – sorri para as duas, voltando a me encarar no espelho. – Mas... eu estava completamente enganada, eu adorei isso! – exclamei animada, admirando a minha fantasia e meu corpo cheio de curvas que nem imaginava que tinha. – Eu nunca estive tão linda, tão gostosa, sexy como agora em toda a minha vida, e olha que posso colocar muitos anos nisso.

Alice e Rosalie trocaram olhares desconfiadas, antes de sorrirem animadas e postarem cada uma do meu lado na frente para o espelho.

- Essa é a primeira de muitas Bella! – exclamou Rosalie.

- Nós iremos arrasar e aprontar muitas na faculdade daqui a um ano! – completou Alice no seu melhor estilo de prever o futuro, que para a surpresa dela não será marcado por festas das quais nós arrasamos no figurino, mas sim, por mim sempre bebendo todas e passando mal.

É... traumas de uma adolescência ignorada seguem você por toda a sua vida, e por isso você se torna uma adulta frustrada, gastando horrores com terapia.

- Mas antes de pensarmos em faculdade temos uma festa de Halloween para irmos, onde vamos pôr umas piranhas no lugar – exclamou Rosalie vingativa. -, bem como encontrar os nossos namorados lindos, ou quase namorados – completou ao encontrar o olhar de reprovação de Alice. – e deixá-los loucos com esta produção... sexy. – completou sensualmente mandando um beijo para a sua imagem no espelho.

- Claro, porque estamos quase ‘As Panteras’. – disse me divertindo ao notar que as nossas posturas estavam idênticas as de Cameron Diaz, Drew Barrymore e Lucy Liu no filme de 2000 e na seqüência de 2003.

- Como vocês são bobas. Nós estamos lindas, e tenho certeza que os três seres impacientes na sala não nos deixarão chamar muito a atenção. Sei bem como aqueles lá podem ser super protetores. – disse Alice rolando seus olhos. – Como se algo que eles tentam, adiantam alguma coisa. Quero só ver a cara daquele projeto de loira quando ver as nossas fantasias! Vai querer voltar correndo para o fundo do mar para chorar as magoas com o Sebastião e o Linguado! – exclamou cheia de ódio e mágoa, algo não característico de Alice.

- Você realmente pegou uma mágoa quase que doentia de ‘A Pequena Sereia’, hein Alie? – perguntou Rosalie, arrumando o frisado de seus cabelos.

- Vocês sabem que eu sempre odiei tudo o que tem cabelo vermelho e aquele peixinho de aquário que tem tudo, mas que não está satisfeita com o que tem, é só o começo do que eu odeio naquela mesquinha do inferno. O projeto de loira é igualzinha! – exclamou Alice irritada.

O ódio da baixinha por Tanya desde que entreouvimos a conversa dela com as suas súditas na segunda só se tornou maior. Se não fosse por eu e Rosalie interceder, ela já teria, nas palavras dela: “desenhado todo o programa de trigometria com um estilete no rosto do projeto de loira”.  Bom, se isso não é ódio ou sentimento de vingança eu não sei o que pode ser.

- Alice, para de se estressar com Tanya, você sabe que ela não poderá fazer nada contra nós enquanto estivermos a um passo na sua frente, sempre sabendo dos seus planos idiotas. – relembrou Rosalie com calma.

- Eu sei Rose, mas algo me diz que... agrr... eu não sei... ela vai aprontar algo que vai mudar tudo no futuro. Eu sinto isso! – protestou amargurada por não ter certeza do que poderia ser, o que para mim só significava o fato de Tanya namorar com o Edward.

- Alice, deixa isso para lá. Hoje a vitória é nossa. – tentei confortá-la, por mais que eu mesma não acreditasse em minhas palavras.

- Você está certa Bella! – exclamou, afastando de seu rosto o olhar homicida e tomando a conhecida alegre, sempre empolgada e hiperativa fisionomia. – Vamos logo que hoje eu quero dançar até meus pés não agüentarem mais. – animou-se se afastando do espelho e preparando-se para descer para encontrar nossos pares para a festa.

- Bella? – chamou Rosalie. – Você está bem? – perguntou ao notar que eu não havia me mexido.

- Oi Rose, sim, sim eu estou bem... só com... hum... medo? – disse insegura, mordiscando meu lábio inferior.

- Medo? Do quê? – perguntou confusa.

- Hum... de Edward não gostar disso. – disse indicando a fantasia que eu estava vestindo. – Eu estou linda, como nunca estive antes, mas talvez ele esteja acostumado a me ver com mais roupas e ache tudo isso aqui... er... exagerado, me ache uma piranha e talvez termine comigo? – confessei as minhas inseguranças a minha cunhada.

Rosalie sempre foi a pessoa que me ouvia chorar as mágoas na minha vida adulta por conta da minha paixão platônica e adolescente por Edward Cullen – já que chamar Alice, irmã dele, sempre era um pouco arriscado. E por causa disso, todas as vezes ela me ouvia em silêncio e quando podia tentava me tranqüilizar, afirmando que talvez essa minha paixão platônica por ele não fosse tão platônica como eu sempre supus ou acreditei.

Tudo bem que nunca acreditei em suas palavras de conforto, mas tais comentários de uma segura e durona Rosalie, que nestes momentos sempre se encontrava emocionada e com um pouco de remorso de algo que não conseguia compreender, eram estímulos mais que suficientes para deixar as minhas mágoas pela minha paixão adolescente pelo quarterback do NY Giants ser esquecida e tentar consolar a minha melhor amiga e esposa do meu irmão.

- Se Edward Cullen fizer isso, o que eu acho bem difícil porque provavelmente ele não vai querer que você saia de casa por outro motivo que não é o fato de você estar sexy, mas por causa dos hormônios adolescentes dele que ansiaram para tirar toda essa roupa de você; eu juro, eu quebro o braço direito dele de uma forma que nunca mais ele poderá arremessar uma bola oval na miserável vida dele. – falou seriamente no seu jeito tão Rosalie de ser, não consegui conter o sorriso que tomou o meu rosto diante de suas palavras.

- O que eu faria sem você Rose? – perguntei retoricamente abraçando a alta loira escultural em um abraço fraternal. – Você é a melhor!

- Não deixe Alice ouvir isso, senão ela não nos deixará sair desse quarto enquanto você não se retratar. – brincou a loira me abraçando. – Então?! Preparada para enfrentar seu namorado e seu irmão? – perguntou afastando-se de mim e analisando a minha maquiagem para verificar se nada estava fora do lugar. – Está na hora.

- Não temos escolha, temos? – perguntei mordiscando o meu lábio. Rosalie negou com a cabeça sorrindo. – Então, vamos. É inevitável mesmo. – dei de ombros rindo, e na companhia de Rosalie e de uma Alice que se juntou a nós com vários CDs em mãos, descemos a escada do segundo andar da casa dos Cullen em direção a sala onde Edward, Emmett, Jasper acompanhados de Carlisle e Esme nos esperavam.

Assim como nós três, os meninos também vestiam roupas escuras. Emmett vestia calças jeans normais, com uma regata preta sobre uma jaqueta de couro preta e tênis negros. Sua pele para a minha surpresa estava mais pálida do que eu imaginava ser. Jasper, por sua vez, com sua característica postura de um legítimo texano estava com calça jeans preta, camiseta preta desbotada quase cinza sobre uma jaqueta preta e botas negras. Seus cabelos loiros escuros contrastavam de uma forma exuberante com a roupa negra e seus olhos azuis.

Edward, todavia, estava vestido de Edward, por assim dizer. Uma calça jeans preta, uma camiseta negra com a estampa branca dos Ramones, sobre uma jaqueta de couro negra e coturnos negros. Seus cabelos bronzes estavam naturalmente bagunçados e seus olhos verdes brilhavam intensamente. Um verdadeiro deus do punk rock vampírico.

Senti seus olhos em mim, me queimando em desejo, e da mesma forma olhava para ele. Edward estava mais lindo do que eu poderia imaginar. Não é a toa que com 31 anos ele é considerado o jogador mais sexy da NFL. Se com 18 anos ele consegue ficar assim, irresistível, o que é esse homem mais velho, mais experiente, fazendo campanhas publicitárias sem camisa, às vezes só de cueca?

Sim, eu era tão patética que todas as propagandas que ele fazia eu guardava as fotos e anúncios publicitários, quando não ia à internet e as procurava por mim mesma para revelar.

Deus! Mesmo com 30 anos eu ainda era doentiamente e idiotamente apaixonada por esse homem. Não é a toa que estou tendo este sonho bizarro de voltar aos meus 17 anos e reviver coisas que eu sei que nunca existiu.

- Você está... – ouvi Edward murmurando em meu ouvido com a voz rouca. Engoliu em seco antes de completar com um fio de voz, que por pouco não ouvi. – sexy como o inferno.

- Obrigada. – respondi sentindo as minhas bochechas tingindo-se de vermelho intenso, abaixando o meu rosto completamente envergonhada.

- Não precisa agradecer Bella. Você sempre é linda e sexy, mas hoje você está... excepcional. – replicou levantando o meu rosto para encarar os meus olhos com os seus, enquanto seus dedos suaves tracejavam a lateral do meu rosto, circulando meus lábios, antes de tocá-los com os seus em um beijo suave.

- Bom, todos estamos aqui, mas as nossas fantasias ainda não estão completas. – ouvi a voz de soprano de Alice dizer. – Papai você conseguiu as próteses? – perguntou a baixinha à Carlisle que sorria amplamente para a filha, ou talvez para a escolha de roupas da filha.

- Claro, Alice. – respondeu lentamente. – Madonna querida? – perguntou não resistindo à curiosidade diante da roupa da filha.

- Uma releitura. – respondeu a baixinha dando de ombros e rolando os olhos. – Mamãe você conseguiu as lentes vermelhas? – pediu a Esme, que sorriu para o marido e a filha antes de responder.

- Seis pares, com duração para oito horas. – Alice sorriu animada para seus pais antes de voltar o seu rosto alegre e excitado para nós.

- Certo. Vamos nos dividir para que papai possa ir colocando as próteses em nossos dentes, enquanto mamãe nos ajuda com as lentes, ok? – instruiu autoritariamente.

- Próteses nos dentes? Lentes de contato vermelhas? O que é isso pintora de rodapé? – perguntou Emmett confuso com o que Alice dizia. Ela rolou os olhos diante do apelido que meu irmão teimava em chamá-la e que ela odiava, mas mesmo querendo dizer algo bem mal-criado a Emmett respondeu não só a ele, como a todos.

- Nós somos vampiros lembram? Presas para sugar sangue das nossas vítimas e olhos vermelhos por conta do sangue humano que nos mantém vivos ou mortos – deu de ombros. – como preferirem.

- Ah sim. – concordamos todos em uníssono.

Assim nos dividimos. Metade foi junto a Carlisle para que este colocasse as próteses nos dentes, enquanto outra metade acompanhava Esme ao lavabo onde ela nos ajudou a colocar as lentes de contato vermelhas. Em alguns minutos, todos nós estávamos com nossos olhos vermelhos e com presas de porcelana sobre nossos caninos superiores, e o resultado para a surpresa de todos era incrível.

- Estou quase me sentindo o Blade. – comentou Emmett animado com a sua fantasia enquanto se admirava no espelho, fazendo referência ao herói criado pela Marvel Comics que em 1998 virou filme onde o personagem principal era interpretado pelo Wesley Snipes.

- E o Jazz quase o Loius do Brad Pitt, em ‘Entrevista com o Vampiro’. – brincou Rosalie ao lado do primo que olhou reprovador para ela. – Só que sem as roupas de época ou a postura sedutora do Brad, obviamente. – completou entre gargalhadas.

- Edward é quem então?! – provocou Jasper para participar da brincadeira. – O Lestat do Tom Cruise ou o Angel, daquela série de vampiros da WBTV? – perguntou divertido.

- Edward tem mais protótipo de Lestat, mas um Lestat meio punk rock vampiresco, sabe? Uma coisa meio sexo, drogas e rock ‘n roll. – contrapôs Emmett pensativo, que ainda admirava suas presas no espelho da sala dos Cullen.

- Valeu Emm, um Lestat desse jeito eu posso até ser. Mas só aceito ser o Lestat se a Bella for a minha Akasha. – disse, dando um beijo suave na curva do meu pescoço.

- Não esquece que Lestat tinha medo de mulheres, Edward. Que ele gostava de homens. – provocou Rosalie entre gargalhadas. Edward olhou irritado para a loira que somente sorriu mais amplamente, porém antes que ele pudesse refutar o que ela disse a voz de Alice encerrou a provocação.

- Bom, se vocês já decidiriam com que personagens da Anne Rice ou da Marvel Comics vocês são, será que podemos ir? Temos uma festa nos esperando! – lembrou com um olhar reprovador para todos nós, com suas mãos pequeninas na cintura fina dela.

- Isso aí Alice, vamos logo porque quero ver a cara da Ariel ao ver nada de Aurora essa noite. – lembrou Rosalie com a voz cheia de escárnio caminhando até Emmett e dando um beijo estalado em seus lábios.

Como havíamos combinado no dia anterior íamos separados. Rose e Emmett na BMW vermelha dela; Alice e Jasper na Harley Davidson negra dele; Edward e eu no Volvo prata dele. Rapidamente Emmett que conduzia a BMW de Rose sumiu por entre a rua da casa dos Cullen em direção ao clube da cidade, acompanhado por Jasper e Alice em sua moto, deixando Edward e eu para trás ainda nos acomodando no Volvo.

- Me dê só um bom motivo para não te tirar desse carro e levá-la para o meu quarto neste momento, e desfrutar da sua áurea vampiresca sozinho? – perguntou Edward sedutoramente, com seus olhos vermelhos me encarando com desejo e seus lábios extremamente próximos aos meus.

- Neste momento eu não tenho nenhum. – murmurei em resposta, diante da proximidade. E no segundo seguinte senti os lábios de Edward tomando os meus em um beijo avassalador como nunca antes havíamos compartilhado. Cheio de paixão, desejo, volúpia, luxúria, amor.

Suas mãos grandes e masculinas seguravam com possessividade minha cintura trazendo o meu corpo mais próximo ao dele, se é que isso era possível levando em conta que estávamos sentados cada um em seus bancos. Minhas mãos como sempre se embrenhavam entre os fios acobreados dele os puxando levemente, fazendo com que intensificássemos ainda mais o beijo que dávamos.

As presas que usávamos por conta das fantasias não eram incomodas, elas somente ampliavam ainda mais o desejo que sentíamos cada vez que mordiscávamos os lábios um do outro, ou quando Edward mordiscava meu pescoço ou o lóbulo de minha orelha. Estávamos tão envolvidos no momento, que nada fora da nossa bolha parecia nos tirar daquele momento.

Na pele exposta da minha barriga, por causa do top de renda negra, eu sentia os dedos de Edward fazendo pequenos círculos em minha pele, e a cada toque seu era como fogo em brasas. Seus polegares estavam sob o tecido fino avançando em direção aos meus seios que estava com os mamilos eriçados diante ao desejo estrangeiro e prazeroso que o meu corpo adolescente estava sentindo.

Estava tão consumida pelo desejo, que ansiava de uma maneira doentia que ele cruzasse a barreira e agisse como um adolescente que ele é, e saciasse os meus e os seus desejos carnais.

Foi quando Edward explorava com seus lábios, dentes e presas o meu pescoço deixando-me arrepiada, fazendo com que eu soltasse um gemido de desejo, como uma permissão para continuarmos aquilo que ele despertou-se de sua cobiça voluptuosa. Rapidamente tirou suas mãos de minha cintura e afastou seus lábios de minha pele.

Ambos estávamos completamente ofegantes e confusos com o que havia acontecido. Meu coração batia ruidosamente em meu peito, ecoando em meus ouvidos.

Que raios havia acontecido? Estávamos provocando um ao outro sexualmente e isso levou a um beijo que quase nos fez avançar para a segunda base? Isso era normal, certo? Afinal éramos namorados e principalmente adolescentes; adolescentes fazem isso o tempo todo, certo? Mas então por que Edward parecia arrependido? Será que ele não queria isso comigo? Será que ele não tinha instintos sexuais por mim?

Imediatamente senti meus olhos ficarem marejados e desesperados por estar nesse turbilhão de emoções adolescentes incompreensíveis. Será que estou de TPM? Ou seriam só os hormônios juvenis mesmo que deixam tudo maior do que deveria ser?

Acredito que Edward deve ter notado a minha hesitação, pois rapidamente voltou o seu rosto ao meu, segurando minhas mãos com as suas, levando-as aos seus lábios onde ele as beijou com devoção.

- Bella. – murmurou suavemente. – Deus, como eu posso dizer isso? – disse confuso com um suspiro pesado. – Eu... eu... quero você dessa forma, como eu quero. Só não acho que esse é o momento, sem contar que preferia fazer isso em um lugar mais íntimo e sem pressa, bem como sem a platéia do meu pai. – disse com um sorriso torto indicando com o pescoço a janela da sala onde Carlisle nos observava.

- Desculpa. – murmurei envergonhada.

- Desculpa por que Bella? Por ser sexy e tentar seduzir o seu namorado? Algo que ele como um bom adolescente quer? – perguntou retoricamente. Somente confirmei com a cabeça evitando encará-lo nos olhos. – Não há necessidade nenhuma de se desculpar por isto, eu quero isso também, mais do que eu posso exprimir a você sem soar como um pervertido, mas quero ir com calma, tudo no momento certo, ok? – disse afagando meu rosto e cabelos com suas mãos quentes e masculinas.

- Ok. Desculpe a minha insegurança. – sussurrei mais uma vez.

- Só se você parar de pedir desculpas. – pediu dando um ligeiro selinho em meus lábios. Confirmei com um aceno de cabeça seu pedido. – Ok, vamos logo para o clube antes que Alice volte aqui para nos buscar. – comentou divertido, dando mais um beijo suave em meus lábios, antes de ajeitar-se no banco do motorista.

Em segundos estávamos seguindo para o clube da cidade onde Alice e Rosalie haviam alugado para realizar a festa de Halloween. Edward e eu seguíamos em silêncio ouvindo Foo Fighters. Por ser noite de dia das Bruxas vimos várias casas iluminadas, entregando doces ou travessuras às crianças com as mais diversas fantasias, algumas em grupos acompanhadas provavelmente de suas babás e outras sozinhas acompanhadas de seus pais. Conforme chegávamos próximo ao clube, notei vários alunos da FHS fantasiados, conversando animados em grupos.

Edward estacionou o seu carro ao lado do de Rosalie, próximo a moto de Jasper, e quando estava pronta para deixar o carro ele segurou o meu braço evitando a minha saída. O encarei confusa. Queria Edward continuar o que havíamos começado em sua casa? Ou ele iria me proibir de sair do carro? O encarei cheia de expectativa para o que ele iria me dizer.

Foram cinco minutos completos antes que ele dissesse algo.

- Nós estamos bem, Bella? Eu não te ofendi nem nada, certo? – perguntou temeroso. – Eu sei que posso ter soado como um covarde ou maricas, ou um nobre respeitador. Mas, como eu disse, não quero fazer nada com você por fazer, eu quero que seja perfeito, você é muito importante para mim. – falou afagando meu rosto com sua mão.

- Tudo bem Edward. Acredito que devo estar de TPM e tudo nesta época vira algo tamanho gigante, o que não deveria. – respondi dando de ombros. Ele sorriu torto e não consegui evitar copiá-lo.

Suavemente ele tocou meus lábios com os seus, e lentamente começamos a nos beijar. O sentimento de plenitude, devoção, paixão, desejo e amor estavam ali, e tal constatação fez com que meu coração começasse a bater velozmente em meu peito. Quando nos separamos sorrindo um para o outro, Edward apoiou a sua testa contra a minha admirando meus olhos vermelhos com os seus vermelhos. Sua respiração quente assim como o seu perfume almiscarado e masculino penetrou em minhas narinas, inebriando o meu cérebro e meus sentidos.

Inconscientemente sorri, o que foi imitado por ele. E tão baixinho, como se estivesse mais longe não conseguiria ouvir, Edward pronunciou:

- Eu te adoro.

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