Staub Und aschen escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 2
Capítulo 1




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          Salas de interrogatório em um país estrangeiro não eram sequer remotamente cogitadas na mente de Hidaka Ken meses atrás, muito ocupado com a sua prova de ética na manhã seguinte.
          Suspirando e apoiando a cabeça com uma das mãos espalmadas, o jovem moreno de vinte e três anos correu os olhos que eram da cor de turquesas pelo texto do livro que havia retirado há quase uma semana da biblioteca, mas que só agora havia conseguido abrir; seu trabalho não estava sendo fácil e tempo para estudar ou até mesmo se divertir estava ficando cada vez mais raro.
          Usando a mão livre para rabiscar conceitos em uma folha anteriormente utilizada para a lista das compras do mês, Ken girou os olhos e lançou um olhar assassino para a porta de madeira que não era barreira suficiente para ele; o som das risadas do seu colega de apartamento e das suas companhias estava incomodando mais do que de costume.
          Largando o lápis sobre a mesa do seu quarto com fúria e quase caindo da cadeira ao dar impulso com o seu corpo para ir para trás, Ken praticamente marchou até a porta da única parte que era só dele no apartamento, abrindo a mesma com violência.
          - Yohji! Mas que diabo, dá para você fazer menos barulho?
          As risadas que até então tomavam conta da sala pararam por alguns segundos, antes de recomeçarem. Ken levou as duas mãos ao rosto, pensando em arrancar os próprios olhos antes de decidir que era o seu companheiro de casa que deveria sofrer aquela punição.
          - Yohji! É sério! Eu tenho a porcaria de uma prova amanhã, será que é muito pedir para vocês ficarem quietos?
          - Ah, Kenken. - o único homem entre os quatro ocupantes da sala se levantou do chão, quase se desequilibrando e caindo sobre uma pequena mesinha que continha várias garrafas de cerveja vazias que eram provavelmente a causa da falta de graça nos movimentos do outro - Você está tão sério e estressado. Vem ver o filme com a gente!
          O moreno bufou, em seguida usando as duas mãos para desarrumar todo o seu cabelo cor de chocolate num ato de desespero. Ele mal notou os olhares das companhias femininas do seu amigo que agora estavam positivamente interessadas nele, depois de notarem o abdômen bem definido que se escondia debaixo da camiseta larga que ele vestia por cima de uma calça jeans desbotada.
          - Yohji. - ele falou novamente, vendo o outro homem voltar ao seu lugar no chão e avançar a mão direita na direção de uma garrafa ainda meio cheia de bebida no chão - Por favor. Eu tenho uma prova absurda de chata amanhã, e eu preciso estudar. Tentem rir mais baixo das piadas, é tudo que estou pedindo. - ele terminou sua frase com as duas mãos juntas, palma contra palma como se estivesse rezando. E de fato ele estava.
          - Hmmm. Tentaremos. - o homem respondeu e nenhuma das garotas se manifestou, as três ocupadas em buscarem partes confortáveis do corpo de Yohji para se apoiarem e continuarem assistindo ao filme. O lânguido loiro então deu um sorriso brilhante para o seu amigo e Ken entendeu o recado, retirando-se para o seu quarto novamente.
          O silêncio que invadiu seu quarto era bem-vindo e o moreno sorriu ao notar que conseguia ouvir seus próprios pensamentos agora. Pulando uma pilha de livros no chão que estavam juntos da sua mala da faculdade, o moreno chegou até a janela do seu quarto, abrindo um pouco mais a mesma. Fazia um calor mais forte do que o esperado para aquela época de maio, mas ele não se importava; preferia mil vezes o sol e o verão a um inverno congelante, até mesmo para estudar.
          Sentando-se novamente na sua cadeira em frente à escrivaninha e relendo o primeiro parágrafo do capítulo sobre imparcialidade mais uma vez, Ken quase bateu com a sua cabeça na mesa quando uma explosão de risadas veio novamente do outro lado da porta.
          Não. Era. Possível.
          Desistindo de esperar qualquer tipo de cooperação de Yohji e de suas amigas, Ken tomou medidas drásticas: acendeu duas velas sobre a sua mesa e depois foi até a caixa de luz do apartamento, desligando a chave geral.
          O filme parou no mesmo instante bem como as risadas, o que rendeu ao moreno uma sensação de vitória bem merecida. No entanto, as velas apagaram quinze minutos depois com o vento que vinha da janela aberta no quarto do estudante e os barulhos provenientes da sala totalmente imersa na escuridão eram muito piores e bem mais complicados de serem ignorados do que simples gargalhadas.
          Derrotado, Ken chutou o pé da sua escrivaninha sem querer no caminho para a sua cama, onde caiu e só conseguiu dormir depois que Yohji e suas amigas haviam se divertido suficientemente.

          A cara com que o moreno chegou na tarde seguinte ao seu emprego fez várias sobrancelhas se levantarem conforme ele caminhava pelas mesas do escritório amplo do jornal, mas ninguém perguntou nada. Era notório que a diretora-geral dali tinha um gênio difícil e sofria de mudanças súbitas de humor, mas logo depois dela era Ken a pessoa mais temida quando estava irritado. Sorte que aquilo era algo consideravelmente raro.
          Jogando a sua mala ao lado da sua mesa no chão, o estudante do último ano de jornalismo suspirou fundo, esfregando os olhos enquanto ligava seu computador. Esperando a sua tela de trabalho aparecer, Ken viu que vários avisos haviam sido deixados na sua mesa, além de um comunicado sobre pelo menos duas matérias urgentes para entregar.
          - Seria bom se colocassem mais gente na área esportiva... - ele murmurou para si mesmo, riscando os papéis e colocando no lixo embaixo da sua mesa para começar a trabalhar de fato naquela tarde. Ele mal tinha aberto o processador de texto quando dedos apareceram na sua frente, subindo e descendo a centímetros do seu rosto.
          O moreno instintivamente foi com a cadeira para trás, lançando um olhar que misturava surpresa e raiva para o intruso. Em pé, ao lado da sua mesa, encontrava-se Honjou Yuushi, seu amigo da redação do jornal. Yuushi era responsável por parte do caderno cultural, e já fazia alguns anos que tinha se formado como artista plástico em uma renomada escola de arte européia. Também tocava violino nas horas vagas e gostava de jogar golf.
          O exato oposto dos passatempos de Ken.
          - Você está péssimo.
          A voz de Yuushi saiu com uma pontada de diversão enquanto ele puxava uma cadeira para mais perto, sua outra mão ocupada em tirar algumas mechas do seu cabelo castanho da frente. Ken suspirou, olhando para a tela do computador e para o cursor que piscava na página em branco antes de responder.
          - Eu estou péssimo. Não consegui dormir nem estudar direito ontem e eu acho que não vou passar em ética.
          - Ética? Que ética? - Yuushi perguntou, usando os pés para girar levemente seu corpo de um lado para o outro na cadeira de rodinhas que ocupava - Achei que vocês não tivessem esse tipo de coisa na faculdade.
          - Artistas que não têm nada para fazer na vida não precisam disso. - o estudante de jornalismo redargüiu, sorrindo pela primeira vez naquele dia quando viu a expressão ofendida no rosto do Yuushi - Hey, Yuushi. Considere-se feliz, sério. Essa matéria é um saco.
          - Imaginei. Mas então, foi Yohji, não foi?
          - Foi.
          - Por que você não se muda?
          - Porque eu não posso. - o moreno grunhiu - Sabe que eu trabalho para pagar os estudos e o aluguel do apartamento. Eu não posso ir simplesmente morar sozinho, Yuushi.
          - Eu sempre disse que você poderia ir para casa se quisesse. - o outro jornalista falou com seriedade, seus olhos refletindo sinceridade também. Yuushi era da família Honjou, conhecida pelo seu poder financeiro e influência no cenário econômico no Japão e em países vizinhos, o que explicava a sua educação estrangeira de alta qualidade.
          - Eu sei. Mas... Não é certo. Eu não saí de casa para isso, ne Yuushi.
          A conversa entre os dois foi interrompida pelo barulho nervoso de um sapato batendo repetidamente contra o chão encerado do escritório. Os dois jornalistas se viraram na direção do som e rapidamente se levantaram, fazendo uma mesura curta e eficiente.
          - Kitada-san!
          - Hidaka, Honjou. Eu espero que os dois tenham um bom motivo para estarem conversando no horário de trabalho?
          Kitada Hanae era a dona do jornal, e a editora-chefe também. Anos atrás, ela havia comprado um jornal decadente e de reputação muito duvidável, por motivos que ninguém conhecia. Ela, no entanto, arrumou o prédio, contratou funcionários de talento e com paciência, os lucros começaram a vir em decorrência da qualidade que o jornal assumiu. Não demorou muito para que ela também começasse a ser vista como uma grande empresária.
          Atualmente, eles só perdiam em número de vendas para o maior jornal do país, e a ruiva que ainda encarava feio seus funcionários não pensava em outra coisa a não ser em passar seu concorrente para trás. O rubor da raiva que ela parecia sentir quando alguma coisa não dava certo no seu escritório se refletia nas suas roupas: ela sempre andava de vermelho, talvez para combinar com o seu cabelo; ninguém sabia dizer. Mas ninguém contestava o jeito que aquela mulher tinha para o negócio em que se encontrava.
          - Gomen nasai, Kitada-san. Eu só estava perguntando algumas coisas, mas já estou indo. Estou quase terminando a minha resenha do último recital que a senhora recomendou.
          - Muito bom, Honjou. Pode ir. - ela dispensou o moreno mais velho que teve de ir embora para a sua mesa, prometendo voltar mais tarde para conversar por meio de gestos. Virando seus olhos para Ken, ela perguntou - E você?
          - Não falta muito, Kitada-san. O artigo sobre a J-League está pronto, mas havia um recado aqui pedindo para que eu fizesse uma entrevista e...?
          - Ah, sim. Isso mesmo. Venha ao meu escritório, Hidaka. - ela pediu e saiu na frente, seus saltos batendo com ritmo contra o chão. Ken seguiu-a logo depois, sob olhares curiosos dos outros jornalistas.

          - Nakamura Hiroki. O quê sabe sobre ele?
          - Hmmm. Ele jogava no time que estava liderando o campeonato até a rodada passada, quando perderam. - o moreno relaxou de leve na cadeira; quando o assunto era futebol, nada dava errado para ele - Bom marcador e costuma jogar na lateral direita. Ótimos passes também, mas acho que prende demais a bola quando ataca.
          - Estou vendo que está bem informado, Hidaka-san. - o acréscimo do pronome de tratamento fez o estudante se acalmar também. Hanae nunca tratava seus empregados com a formalidade normal entre os japoneses se não estivesse calma. E logo, se ela estava calma, ele não corria riscos de ser demitido.
          - Arigatou. - o repórter agradeceu, sentado de frente para a sua chefe no escritório privado dela. Ali era bem mais fresco do que o resto do andar e decorado com retratos dos mais variados tipos de gatos também.
          - Muito bem. Como sabe, Nakamura Hiroki foi vendido para um time alemão.
          - Sim, eu soube. Estava pensando em...
          - Pois esqueça.
          Ken arregalou os olhos.
          - Como, Kitada-san?
          - Faz um bom tempo que nenhum jogador nosso consegue tanto destaque a ponto de ser transferido para fora. Acho que está na hora de darmos um tratamento diferente a Nakamura. - ela falou, apoiando o rosto sobre as duas mãos entrelaçadas. Ken notou que seu esmalte também era vermelho-sangue.
          - Como quiser, Kitada-san.
          - Eu estou pensando em conseguir não só uma entrevista exclusiva com ele mas como em acompanhar de perto sua estréia na Alemanha.
          Ken começou a sentir alguma coisa estranha no seu estômago. Era como se repente, algo pesado tivesse caído ali.
          Era ansiedade.
          - Hmm-hmm.
          - E como ele vai estrear em dois meses, eu acho que temos tempo de preparar algo decente. Hidaka, eu estive pensando se você gostaria de ir à...
          - Hai!
          Um silêncio constrangedor encheu o escritório quando Ken percebeu que havia falado sem que sua chefe tivesse terminado o que tinha para falar. Mas se era realmente o que ele estava pensando...
          Seus temores foram dissipados quando Hanae lhe deu um sorriso raro e genuíno, curvando seus lábios escarlate para cima por segundos antes de falar novamente.
          - Eu gosto desse seu entusiasmo com esportes, Hidaka. Foi o que me fez contratá-lo em primeiro lugar. Bom, espero que não faça nada estúpido em dois meses, porque então você irá para a Alemanha cobrir essa estréia. E agora, de volta ao trabalho.
          - Hai, Kitada-san!
          O moreno de olhos azuis deixou a sala da poderosa editora-chefe com um sorriso de orelha a orelha, um trejeito facial que ninguém nunca havia apresentado depois de uma reunião com Hanae. No entanto, mal sabia Ken que esse aparente presente iria se converter em um pesadelo.


Continua...

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Notas finais do capítulo

Kitada Hanae é o nome verdadeiro da Manx; Honjou Yuushi é o nome verdadeiro do Knight, membro dos Crashers que aparece em dramas e em Glühen.



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