Staub Und aschen escrita por M4r1-ch4n


Capítulo 10
Capítulo 9




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          No dia seguinte à expulsão de Ran do apartamento do tenente, o próprio e Ken haviam decidido visitar Nagi na delegacia e tentar descobrir mais alguma coisa sobre o assassino de Nakamura. Schuldig estava de visível bom humor, o que causou várias sobrancelhas erguidas pela unidade e em especial por parte de Crawford, que não fez perguntas depois de ver o leve rubor no rosto do protegido do seu tenente.
          Ele deveria ter imaginado que aquilo iria acontecer; ele conhecia bem o seu subalterno.
          Quando os dois já estavam na saleta de Nagi, Ken mostrou-se ligeiramente desconfortável ali dentro. Ele não conseguia parar de andar de um lado para o outro, respirando profundamente por várias vezes até os olhos azuis do alemão se focarem nele com preocupação:
          - Ken, o quê foi?
          - Este lugar é escuro... E muito apertado.
          - Sempre falamos isso para o Nagi, mas quem disse que ele quer mudar? - o policial sorriu e viu que o outro não estava brincando - Ken?
          - Eu tenho... Um pouco de claustrofobia. - o moreno divulgou por fim, atraindo a atenção do perito também, que havia girado na sua cadeira para fitar seu conterrâneo - Tem algum problema se eu esperar lá fora?
          - Nein. Qualquer coisa que descobrirmos aqui eu te falo. Vamos. - o tenente acompanhou o jornalista que parecia bem mais aliviado para fora, pedindo para que alguém o escoltasse até sua sala e o deixasse à vontade por lá. Depois do aceno de despedida que o japonês lhe deu junto com um sorriso de gratidão, o alemão voltou para a sala escura do perito, fechando a porta atrás de si.
          - Fazia tempo que eu não via você ser tão humano, Schuldig.
          - Nagi. - o outro advertiu o moreninho em uma voz severa, mas cuja intenção ameaçadora se dissipou quando um sorriso iluminou o rosto do tenente - Você entenderia se o conhecesse.
          - Eu entendo, Schu. Ele é uma boa pessoa e não merecia estar passando por isso... Mas você já sabe o quê Crawford vai dizer sobre isso.
          - Sei. - o homem de cabelos cor de fogo assentiu em silêncio - Mas ele não vai reclamar enquanto isso mantiver meu bom-humor.
          Um pequeno sorriso cúmplice apareceu no rosto do perito, antes dos dois oficiais ficarem sérios e darem início às investigações de fato. Schuldig relatou em pormenores o que Ken havia descoberto na noite anterior, e os dois repassaram as imagens que haviam sido tão reveladoras diante dos olhos do moreno.
          - Então sabemos que o assassino não só é japonês como deve ser de Iwata também.
          - Sim... Eu comecei a triagem, já. - Nagi abriu uma tela que estivera minimizada com vários nomes, datas, horários e companhia aéreas - São os registros dos vôos provenientes do Japão ou que fizeram escala aqui, vindos de lá também. Peguei dos últimos seis meses. O problema é que eles não informam a cidade natal dos passageiros.
          - Hmmm... Há uma chance do assassino estar entre eles. Mas... - o tenente se sentou, seus olhos azuis refletindo o brilho de igual cor da tela do monitor - Talvez esse cara morasse aqui ou não viesse do Japão. Nesse caso, a triagem é inútil.
          - De fato. - o perito concordou - Há também a possibilidade desse assassino ter utilizado nome e passaporte falsos, se ele já viesse planejando o assassinato como parece ser o caso.
          - Ele planejou a morte de Nakamura, mas não o que aconteceu depois... - o tenente correu a mão direita pelo seu cabelo, enrolando a ponta de uma mecha com os dedos - Por que parece que toda vez que uma pista boa surge, ela não leva a lugar nenhum? Odeio isso.
          - É a realidade, Schu.
          Os dois pararam de conversar por um momento, até o alemão se lembrar de algo:
          - Nagi! Como Fujimiya soube do meu endereço e do meu telefone?
          - Fujimiya? O diplomata? - o moreninho pareceu surpreso - Eu não faço idéia. Alguém deve ter divulgado, Schuldig.
          - Eles não teriam acesso por meio de Ken, não é? Por ele ser cidadão japonês ou qualquer coisa assim?
          - Não porque o paradeiro dele é desconhecido segundo qualquer fonte oficial. - Nagi girou a sua cadeira e observou atentamente seu colega - Não estou gostando disso. Se Ran descobriu onde Ken está, outra pessoa pode descobrir também. E eu garanto que foram meios comuns utilizados por Fujimiya, porque qualquer jeito diplomático e por conseqüência oficial não retornaria qualquer resultado.
          - Nagi... Ran é irmão de uma ex-namorada de Ken. - Nagi pareceu surpreso com aquela revelação e a cara de desgosto que o alemão fez, mas não precisou perguntar nada para obter sua resposta - Sim, acabei descobrindo a ligação entre eles como Crawford pediu outro dia.
          - Estranho.
          - Sim... Mas de qualquer forma, Ran deve conhecer alguém do círculo de amizades atual de Ken, alguém que sabia que ele estava aqui... - o tenente parou - Dias atrás, ele disse que só sua chefe e dois amigos sabiam da sua viagem. Como ele não voltou para casa depois de tudo, a sua chefe comunicou o governo, que enviou justamente Fujimiya que já tinha laços pré-estabelecidos com Ken para levá-lo de volta. Crawford comunicou que Ken estava sob minha proteção e...
          Os dois ficaram em silêncio.
          - Foi através de você que chegaram em Ken, Schu. Alguém deixou escapar o seu nome, e foi com base nisso que encontraram-no. Eu garanto que não viram problema em passar seu endereço ou telefone para alguém interessado em falar com você, até porque pouquíssimas pessoas sabem que você está guardando Ken. Crawford não divulgou quase isso para evitar que a informação vazasse.
          - Parece que até mesmo os planos perfeitos de Brad têm seus defeitos. - o tenente suspirou contrariado - Isso coloca Ken sob mais perigo ainda.
          - Acha que Fujimiya está ligado ao assassino, então?
          - Não sei. - o outro negou com a cabeça - Ele quase foi atingido aquele dia no shopping também. Só porque eu não gosto dele, não quer dizer que ele está envolvido, ne.
          - Hmm. É, acho que você está certo.
          - Só sei que hoje mesmo eu vou sair de casa. Talvez fiquemos hospedados em hotéis ou coisa assim, não é bom para Ken ficar muito tempo num lugar só e ainda mais na minha casa, que já é um endereço conhecido. Eu irei comunicando as mudanças para você e para Crawford, se precisarem falar comigo.
          - Hai. - o moreno assentiu com a cabeça - Parece a coisa mais acertada a fazer. Voltando ao assassino... Segundo Ken, ele conheceu Nakamura antes da fama. E parece conhecer Ken também.
          O alemão ficou em silêncio, pensando naquelas palavras quando se lembrou de uma das primeiras conversas que tivera com o jornalista, quando ele havia deduzido que o assassino era alguém conhecido dele também:
          - Nagi! É isso... Alguém que conheceu Nakamura e Ken. Todos são da mesma cidade, logo essa pessoa só pode tê-los conhecido quando estiveram juntos pela primeira vez, quando eles ainda eram estudantes do colegial.
          - Mas então nenhum dos dois deve ter mudado muito para poder ser reconhecido hoje em dia. Precisamos de fotos para comparar... Isso eu acredito que consigo em pouco tempo. Enquanto isso, você vai para casa pegar suas coisas e mudar para um hotel. E rápido.
          Batendo continência com um pequeno sorriso, o tenente saiu atrás do seu protegido.

          - Sabe, Schu. Não sei se quero ir para outro hotel.
          - Não posso deixar você ficar em casa, Ken. Não tem como, já que sabem a localização do...
          As palavras do policial morreram na sua boca quando os dois deixaram a cabine do elevador e encontraram a porta do apartamento do tenente aberta, a sua sala toda revirada. O alemão fez um sinal para o moreno ficar em silêncio e se abrigar na escada de incêndio, enquanto ele retirava a sua arma de um bolso e colocava-se rente à parede do seu apartamento.
          Entrando devagar na sua sala, ele observou o total estado de desordem do seu apartamento; sua televisão havia caído no chão, as almofadas haviam sido retiradas das suas capas e reviradas, revistas e livros jogados sem cerimônia pelo chão. Andando devagar com a arma pronta para atirar em qualquer coisa que se mexesse, ele também notou o estado em que o banheiro e a cozinha estavam, chegando por fim no seu quarto.
          Seu computador estava ligado, mas graças ao sistema de proteção que ele havia colocado no mesmo, não parecia que ele havia sido invadido. Seu guarda-roupa tinha sido revistado e Schuldig notou que várias fardas haviam sido dispostas sobre a sua cama, como se o assassino quisesse deixar claro que ele sabia de tudo sobre o protetor daquele que ele tentava matar. Indo até o quarto de Ken, ele notou que os poucos pertences do moreno que haviam escapado do incêndio haviam sido levados, mas de longe o quarto do jornalista era o menos bagunçado; parecia que o objetivo do assassino eram as coisas pessoais do japonês, e assim que as encontrou, saiu correndo.
          Abaixando a arma e guardando de novo a mesma no bolso do seu casaco, Schuldig rapidamente foi até Ken, que ainda estava onde ele havia sido instruído a ficar. Assim que ele viu o outro homem são e salvo, ele abraçou o tenente com força, em seguida beijando-lhe os lábios repetidas vezes, o policial por fim prensando o corpo do moreno contra a parede e respondendo aos carinhos do outro por alguns momentos.
          - Eu fiquei com medo... Achei que você pudesse ter...
          - Não, Ken. Não vai acontecer nada com ninguém. Eu prometo. - ele falou, sabendo que as suas palavras eram no mínimo difíceis de serem cumpridas senão impossíveis, mas ele definitivamente não queria assustar o outro - Acho que o assassino de Nakamura veio aqui atrás das suas coisas que escaparam ao incêndio e levou embora. Precisamos sair daqui.
          - Kuso. - o outro xingou, fazendo uma careta - Ele realmente não está para brincadeiras.
          - Nós também não. Vamos.
          Os dois desceram as escadas de incêndio rapidamente, chegando até a garagem onde pegaram a moto do alemão. Montando na mesma, o tenente costurou no trânsito de um jeito que seria agraciado com uma multa mais tarde, mas nenhum dos dois pensou nesse tipo de conseqüência. Acabaram por final em um hotel no lado oposto ao apartamento de Schuldig na cidade, não muito vistoso mas bem localizado no caso de uma fuga ser necessária.
          Assim que haviam se instalado, o tenente ligou do seu celular para Nagi, com quem trocou rápidas palavras e depois fez uma expressão de confusão, passando o telefone para o jornalista.
          - Nagi quer falar com você.
          - Por quê?
          - Não faço a mínima idéia.
          Dando de ombros e parecendo apreensivo, Ken pegou o pequeno aparelho da mão do tenente, sentando na beirada da cama do hotel enquanto isso. Schuldig havia deitado atrás dele, e enquanto ouvia o lado do moreno da conversa, aproveitava para deslizar os dedos da sua mão direita pela linha dos quadris do outro, divertindo-se em silêncio quando o homem mais novo se retorcia para evitar que um gemido escapasse e chegasse nos ouvidos de Nagi.
          - Ken-san, você disse que tem certeza de que o assassino conheceu Nakamura antes da fama, correto?
          - Hai. Isso seria em Iwata; o primeiro time de destaque dele foi fora da província.
          - Certo. E como também parece que o assassino o conhece pessoalmente, isso faz com que ele tenha cruzado com vocês na época do colegial. Haveria a possibilidade dele ser Fujimiya, mas é impossível porque ele só chegou em solo alemão depois do assassinato e seus álibis foram todos confirmados pelo governo japonês e várias outras testemunhas.
          - E tem a voz dele.
          - A voz?
          - A voz dele não é aquela que fez as ameaças no vestiário.
          - Ken-san, Schuldig mencionou algo sobre um acidente com você há alguns anos. O quê aconteceu?
          - Foi com o time de futebol da escola. Vários meninos se machucaram, eu inclusive, mas Nakamura e um outro garoto escaparam pela janela para pedir ajuda... Kami-sama, eu preciso que me faça um favor, Nagi. Vou passar os nomes de algumas pessoas... Eu preciso que você pesquise sobre elas e me informe o que aconteceu com todas, está bem?
          Schuldig já havia sentado na cama e agora olhava atentamente para o outro homem, não acompanhando mais o seu raciocínio. Quando Ken terminou de ditar uma lista de nomes e desligou o celular, ele estava tão nervoso quanto no dia em que Nakamura havia sido morto, na primeira vez em que esbarrou no alemão.
          - Ken, o quê aconteceu? - o tenente perguntou enquanto cobria uma das mãos do moreno com as suas, sentindo-a gelada - Quem eram aquelas pessoas?
          - Eram do meu time na escola... Na época do incêndio. Lembra da gravação, das palavras do assassino? Ele dizia que tinha de fazer algo que ele já deveria ter feito há muito tempo. E se ele...
          As palavras do moreno foram cortadas pelo som do aparelho celular de Schuldig, tocando na mão de Ken. Ele atendeu rapidamente o mesmo, a voz do moreninho chegando com uma nota de surpresa aos ouvidos do jornalista.
          - Ken-san, todas aquelas pessoas... Morreram. Ao longo dos últimos meses, nos mais variados tipos de crimes.
          - Nagi. O assassino é alguém que está matando todos aqueles que jogaram contra o seu time no colegial. Ele está terminando o serviço que o fogo não completou.
          - Você tem certeza, Ken?
          - Tenho. Nakamura era um dos últimos alvos.
          - Quem ainda falta, Ken-san?
          O moreno engoliu em seco.
          - Eu. Eu sou o único do time que ainda está vivo. Ele não quer me matar porque eu sou uma testemunha, e sim porque eu sou o último jogador que causou a derrota dele.
          O jornalista não conseguiu falar mais nada depois daquilo, desmaiando nos braços do tenente.

          A primeira coisa que os olhos azuis do moreno focalizaram foi o rosto severo de Brad Crawford, que o observava com a atenção clínica de um médico que assiste competentemente o seu paciente. Ele piscou, como se aquele pequeno gesto fizesse seu cérebro acordar e parar de mandar imagens estranhas para a sua mente, porque o coronel não poderia estar ali.
          - Hidaka-san? Sabe quem eu sou?
          - Exatamente por saber... É que eu não estou entendendo a sua presença aqui, coronel. - o jornalista falou levando a mão direita à sua cabeça, onde um foco localizado de dor parecia não querer deixá-lo em paz; ele perdeu um breve e raríssimo sorriso no rosto do policial, que se levantou da cadeira que ele ocupara até então:
          - Muito bem. Eu vou chamar Schuldig; obriguei-o a comer alguma coisa antes que ele também desmaiasse por causas diferentes das suas. Se precisar de algo enquanto isso, Nagi está aqui.
          Foi só então que o moreno virou a cabeça para o outro lado, vendo seu conterrâneo sentado em silêncio próximo à janela do quarto. O carpete diminuiu o som das botas de Crawford contra o piso, que eventualmente sumiram com o leve abrir e bater de uma porta. Sabendo estar sozinho com o outro no quarto, ele perguntou:
          - O quê aconteceu?
          - Até onde se lembra das coisas, Hidaka-san?
          O jornalista rolou sobre as suas costas, ficando de barriga para cima e com os olhos presos no teto enquanto pensava na resposta para aquela pergunta. Ele e Schuldig haviam retornado ao apartamento, descoberto que ele havia sido invadido e depois rumado para um hotel, onde ele...
          - Naoe-san, eu... Eu lhe passei uma lista?
          - Exato. Os jogadores do seu time de futebol do colegial, e descobrimos que todos foram mortos ao longo dos últimos meses.
          - E só eu estou faltando na lista. Era isso mesmo... - o jornalista suspirou derrotado, afundando no colchão macio. Ele não sabia quando tudo aquilo acabaria, mas desde que pisara em solo alemão, era como se uma sucessão de pesadelos estivesse ocorrendo na sua vida.
          De repente a porta do quarto do hotel se abriu, admitindo a nervosa figura do tenente que praticamente correu até a cama de casal onde o moreno estava repousando, sentando-se ao lado e beijando os lábios do outro com paixão. O alemão usou as suas mãos para segurar o rosto do seu protegido delicadamente, as duas bocas realizando movimentos que pareciam coreografados enquanto o próprio jornalista corria seus dedos pelo cabelo sedoso do homem que tinha quase sobre si.
          O tenente murmurou várias palavras em alemão que o jornalista não entendeu, compreendendo, no entanto, o universal sinal representado pelo som de Crawford limpando a sua garganta. Os dois homens se separaram, relutância óbvia nos seus movimentos, mas no final interligaram os dedos, sentando lado a lado na cama.
          - Não esqueçam da presença de Nagi, por favor.
          - Ah, Brad. Nagi já viu coisas muito piores no seu trabalho. - o tenente se virou e deu uma piscada de olho para o perito, que não esboçou nenhuma reação a não ser um brilho mais intenso no seu olhar - De qualquer forma... Está se sentindo bem, Ken?
          - Estou... Apenas com dor de cabeça aqui. - ele apontou o local aproximado com a sua mão livre - Mas bem. O quê... Está havendo? Porque estão aqui, coronel?
          Os olhos escuros do americano ficaram mais suaves por um momento, Crawford suspirando antes de retirar os óculos do seu rosto para limpar as lentes com um pedaço de tecido especial que ele havia retirado de um bolso da sua farda. Recolocando os óculos de volta, ele cruzou os braços.
          - Hidaka-san, toda a minha unidade está nesse hotel. Depois dos nomes que passou para Nagi, todos nós entendemos os planos desse assassino. Compreendo que a sua situação não deve ser confortável, mas essa é a oportunidade ideal para capturá-lo.
          Schuldig sentiu os dedos do jornalista apertarem os seus de leve e ele mesmo assumiu a explicação:
          - Se ele burlou a segurança do estádio e chegou em Nakamura, achamos que ele vai vir atrás de você quando divulgarmos... Acidentalmente, digamos, o seu paradeiro. Vamos fazer uma armadilha. - ele explicou - E vamos prendê-lo.
          - Wakatta. - o outro concordou - Então eu fico aqui e sirvo de isca?
          - Claro que não, Ken! Isso é muito perigoso. - o tenente comentou, balançando a cabeça negativamente.
          - Sairemos com você pela garagem, Hidaka-san. Será escoltado até a delegacia, onde poderá acompanhar tudo com Nagi se desejar; fizemos as devidas ligações com as câmeras de segurança do hotel. - o coronel explicou, dando alguns passos para a direita antes de olhar para os dois homens que ainda tinham as mãos ligadas - Concorda com tudo?
          - Sim. Eu... Já vou, então. - ele se levantou da cama e Nagi atrás dele fez o mesmo, mas o jornalista parou quando Schuldig deixou que as mãos se separassem - Schu?
          - Eu vou ficar aqui. Vou participar da ação. - ele respondeu, levantando-se também e colocando as duas mãos nos ombros de Ken - Lembra do que eu lhe disse hoje cedo? No meu apartamento? - ele esperou até que os olhos azuis do moreno mostrassem que ele havia recapitulado as suas palavras - Eu vou manter a minha promessa. Fique em segurança com Nagi; assim eu não vou me preocupar com você, está bom?
          Crawford observou a cena e fez um sinal para o perito, ambos saindo do quarto sem ruído. Quando se viram sozinhos novamente, Ken deu um passo para frente e abraçou o tenente com força, enterrando a cara na curva do seu pescoço com o ombro.
          - Schu... Por favor, não faça nada perigoso.
          - Esse é um pedido meio complicado para um policial, Ken... - o alemão sorriu contra as mechas castanhas do cabelo de Ken, respirando contra elas suavemente - Mas eu prometo que assim que esse louco estiver atrás das grades, nós vamos fazer uma boa comemoração... E você vai poder voltar para o Japão também.
          O moreno ergueu a cabeça, fitando os olhos do tenente com atenção. Por alguns instantes, ele jurou ver ali uma inconfundível tristeza retratada, mas que foi logo escondida pelas pálpebras do policial quando o mesmo desceu seu rosto para beijar o moreno mais uma vez, ambos compartilhando um contato tão intenso que era quase como quisessem fundir os corpos.
          - Vá agora, Ken. Cuide-se, está bem?
          Concordando com a cabeça, o moreno se afastou na direção da porta, pousando a sua mão direita sobre a maçaneta dourada e então ficando quieto por alguns segundos. Ele se virou para trás, abrindo a boca para dizer algo, mas decidiu contra aquela atitude, fechando a mesma e curvando os lábios em um sorriso. Schuldig retribuiu o mesmo, e por fim, o jornalista sussurrou:
          - Ganbatte, Schu.
          Ele cruzou a porta por fim e se assustou com a presença de Crawford no corredor, que no entanto não lhe disse nada, cumprimentando-o com a cabeça. O coronel entrou de volta no quarto enquanto Nagi lhe fez um sinal, pedindo para que fosse seguido.
          Ken descobriu cedo que cada passo que o levava para longe de Schuldig comprimia-lhe o coração com uma angústia que ele não sabia como enfrentar.

          Depois de aceno de cabeça de Nagi, Ken pegou o telefone e digitou os números do celular de Ran, a voz grave do ruivo enchendo a linha depois de três toques:
          - Moshi moshi.
          - Ran... Sou eu.
          - Ken-san? Está tudo bem?
          - Na verdade... Não. Não no momento, mas eu acho que vão pegar o assassino hoje. Ran, eu preciso que me diga uma coisa: por acaso você sabe da minha localização? Recebeu alguma mensagem dizendo que eu estou em um hotel?
          Silêncio preencheu a linha como o moreno previra, porém por um tempo relativamente curto. Um suspiro que parecia traduzir todos os conflitos internos do diplomata se seguiu, sua voz soando logo depois:
          - Hai. Eu tenho... Pessoas trabalhando constantemente na sua localização. A informação de que você está no sul da cidade em um hotel foi confirmada pela minha equipe.
          - Ran, é uma armadilha.
          - Nani?
          Foi a vez de Ken suspirar, andando até uma cadeira do lado de Nagi. Curiosamente, aquela saleta escura já não lhe parecia tão opressora, talvez porque ele mal conseguisse se concentrar no tamanho do cômodo sabendo que Schuldig estava envolvido em algo perigoso. Novamente.
          - Eu estava lá até agora pouco com Schuldig, mas fui retirado do hotel e estou sob proteção na delegacia. Eu sou a última vítima que o assassino quer, Ran. Eu lembrei da lista do meu time no colegial, e só eu não fui eliminado ainda.
          - O quê? - o ruivo se agitou do outro lado - Você não pode estar falando sério! Isso tudo é por causa de uma revanche da nossa época de colegial?
          - Eu acho que sim... Faz sentido, Ran. Faz todo o sentido. Quando capturarem o assassino de Nakamura eu terei certeza. De qualquer forma, estamos torcendo para que ele morda a isca. A moto de Schuldig está na garagem do hotel, e foi nela que chegamos. Alguns policiais estão infiltrados como funcionários do hotel, também. Temos tudo pronto antes dele, pela primeira vez. Então, por favor... Não vá para lá, está certo?
          - Ken.
          O jornalista se surpreendeu com a falta do pronome de tratamento, endireitando a postura do seu corpo na cadeira inconscientemente:
          - Hai?
          - Ken... Eu acho que eu estive sendo seguido pelo assassino.
          - Como assim? - o moreno devolveu e girou na sua cadeira, pedindo para Nagi acompanhar a conversa também, o perito rapidamente colocando um fone de ouvido e digitando alguns comandos em um painel - Estou colocando Nagi na escuta.
          - Certo. Eu acho que isso aconteceu porque... Bom, está nos noticiários direto a morte de Nakamura e o incidente diplomático que isso gerou entre Alemanha e Japão. Meu nome foi divulgado, como o principal encarregado japonês das negociações... E Ken, nós estudamos juntos. Se quem está fazendo isso é da nossa época, há uma grande chance de que ele me conheça também. E está me seguindo, sabendo que eu tenho os meios de conseguir as suas localizações exatas com recursos estatais.
          Os dois morenos na delegacia fizeram gestos afirmativos com a cabeça.
          - Faz sentido.
          - Eu acho... Que deveria ir para o hotel. Isso dará mais veracidade para a sua história. Aproveitem para monitorar qualquer veículo que siga o meu, pode ser útil.
          - Mas, Ran! Você estará se colocando em perigo!
          - Como eu disse antes para o tenente, não é nada comparado à situação diária de várias nações. E depois, Ken-san... Eu acho que devo um favor a Schuldig. E a você também, depois de tudo.
          Nagi apenas ergueu uma sobrancelha, vendo o rubor estranho que havia se espalhado no rosto do protegido do seu colega. Ken logo sacudiu a cabeça, parecendo se recompor novamente.
          - Ran... Tome cuidado.
          - Tomarei. Envie as instruções para o meu celular e irei imediatamente para lá.
          - Arigatou, Ran.
          - Não é nada.
          Os dois desligaram e Nagi retirou o grande fone de ouvido que tinha sobre a cabeça, colocando o mesmo sobre a bancada e ocupando-se em mandar uma mensagem de texto com o endereço do hotel. Enquanto observava a mensagem ser enviada, ele se virou na direção de Ken:
          - Hoje tudo termina, Hidaka-san. E poderá voltar para o Japão.
          - Assim espero, Naoe-san.
          Embora aquelas palavras fossem verdadeiras, Ken sabia que, no fundo, seu maior desejo já não era mais retornar para casa.



Continua...


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