A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 35
Sophie Ortega




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- Estava pensando se a gente não podia bater um papo, beber umas...

- Não, obrigado, prometi á minha mãe que ficaria sóbrio.

- E aqueles seus amigos que te deixaram na mão não prometeram ser seus amigos pra sempre não? - Parei. Travei no meio da rua.

- E-eu... Olha, não te interessa isso!

- Eu só disse que podemos quebrar regras um pouco!

- Não, não podemos! E, mesmo se pudéssemos, eu não quero! - Falei, desligando o celular, e suspirando.

Resolvi falar com a Gabby. Ela conseguiria me entender. Ela sempre conseguia. Bem, não foi o que eu esperava. Eu liguei para ela quando o horário escolar dela terminou, e combinamos de nos encontrar na épica Papa Louie’s. Cheguei na pizzeria, e ela já estava lá. Gabby deve ter pensado que eu estava lá para beber, e me recebeu mega agressiva.

- Gabby, você está bem? Eu estou sóbrio, okay?

- Sóbrio? – Entendo a descrença dela.

- Sim. – Assenti. Pela primeira vez estava orgulhoso de dizer que estava sóbrio.

- Mas... Por quê? Geralmente você...

- Eu prometi a minha mãe. E, eu estou com vários problemas.

- Problemas? – Ela perguntou, confusa. Nos sentamos numa mesa, e eu disse:

- Estou brigado com quase todos os meus amigos. E fui suspenso hoje.

- Por quê? – Gabby perguntou.

- Porque eu fui tentar me desculpar por ter dado um soco no Ryan, eu já te contei essa história, e ele me recebeu com um soco.

- E aí? – Gabby perguntou, já interessada.

- Desci a mão. – Ela cobriu o rosto com a mão direita, e disse:

- E os outros? Chris, Chaz...

- Bem... Com Chaz, lembra quando ele veio pra cá?

- Sim.

- Bem... Nós brigamos quando ele me chamou de bêbado qualquer. E Chris, o mesmo motivo. – Ela suspirou. Sabia que ela tratava Chaz como um little brother. Bem, eu também.

- Justin, o que está havendo com você?

- O quê? – Perguntei. Ela disse que eu não estava nos meus melhores dias, tive de concordar.

- Mas, eu vou conseguir melhorar. Eu prometo. – Disse. Ela sorriu para mim.

Ficamos conversando sobre outro assunto até bater a hora de eu estar em casa para ir para a tal psicóloga. Me despedi de Gabby com um beijo no rosto, e eu fui andando para casa. Alguns fotógrafos me cercaram, mas não foi nada que eu não pudesse lidar.

Mas, por dentro dava uma vontade enorme de dar um soco na fucita de todos aqueles paparazzos chatos, que me deixaram com a visão ofuscada de tanto flash, e o braço dolorido com um golpe com uma câmera que recebi.

Cheguei em casa para trocar de roupa, e minha mãe me levar para a psicóloga. E, recebi uma nova punição por ter sido suspenso e estar em tanto rolo: Sem a habilitação por cinco dias. Maravilha! Ia ter de ir para a escola quando a “pena” da suspensão tivesse terminado de carona com a mãe!

Era bom demais para ser verdade. Quase dei um RebelAttack no banco do carona da minha mãe, mas resolvi calar a boca e baixar a bola. Vai que ela aumenta o tempo do castigo? Vai saber, mães são impossíveis de se decifrar. Mas, de qualquer forma, continuamos a amá-las.

Enfim, chegamos. O consultório ficava num prédio. Um prédio bem alto.

- 16 andares de elevador? Você quer me matar?! – Perguntei para minha mãe, quando estava na frente da porta do elevador, e ela deu uma risada. Ela sabia que eu era claustrofóbico (Claro, pô, ela é minha mãe!!), se ficasse mais de 10 andares em um elevador, direto, sou capaz até de desmaiar. Já aconteceu. Pode acontecer de novo.

- Eu sei que você é forte. – Ela disse. Suspirei, como se dissesse “NINGUÉM MERECE! PREPARE MEU ENTERRO!”, arqueei as costas e entrei no elevador. No segundo andar, meus ouvidos taparam, e minha respiração ficou arfante.

- Viu? Os primeiros sinais de morte súbita! – Disse, tapando o nariz e soprando com força.

- Deixa de ser bobo, é só a claustrofobia, Justin!

- Se eu desmaiar, saiba que a culpa é toda sua! – Respondi.

- Posso conviver com isso. – Ela respondeu, indiferente. Eu dei língua á Pattie, e isso foi o suficiente para ela cair na risada. A cena era hilária; Eu com a mão no nariz, dando língua á minha mãe. Detalhe, eu tinha que olhar pra baixo, o motivo vocês sabem bem.

Quinto andar, eu já me apoiava na parede do elevador. Sétimo, estava zonzo. Décimo primeiro, minhas pernas fraquejaram, e eu caí desmaiado no colo de minha mãe. Exatamente como previ! Mas ela me acordou fácil. Claro, qualquer um acorda com café frio na cara. Dei um chilique, eu odeio café, prefiro chá gelado ou uma Coca-Cola.

Décimo segundo andar, décimo terceiro, décimo quarto, e nada. No décimo terceiro, tonteira, mas nenhum desmaio. Décimo quinto, décimo sexto! Chegamos! Saí voado para o banheiro, senão o café secava e ficava aquele cheiro horrível na minha cara e cabelo. Depois fui para o consultório.

Era branco, moderno, tinham revistas de mulheres e de adolescentes numa estante. Procurei, procurei e procurei por alguma Comic Magazine, mas acabei, só por curiosidade, pegando e folheando a Vanity Fair do mês, na qual eu era a capa. Não tinha conseguido ler a revista, a matéria, só visto as fotos. Beijinhos por todo o rosto e sendo segurado pela gravata, nossa, como eu gostei de fazer esse ensaio...

Esperei, lendo a matéria sobre mim, e contestando mentalmente o que não era verdade, ás vezes franzindo a testa, tipo “É mesmo? Nossa, essa nem eu sabia!”, até uma mulher me chamar. Eu me levantei e fui até a sala que ela me indicou. Abri a porta.

Uma mulher morena sentada numa mesa me esperava. Olhei a sala. Era uma sala pequena, em tons de verde. Na frente, um janelão imenso, fino e comprido, quase alcançando o teto, por onde se via uma imensa árvore. No lado esquerdo, uma

caminha; no direito, uma escrivaninha. Num canto e no outro dois aparadores cheios de

livros. Embaixo das janelas, duas cadeiras pretas de lona.

- Justin Bieber? – Ela perguntou.

- Eu mesmo. – Respondi.

- Sou Sophie. Sophie Ortega. Sente-se, por favor. – Ela apontou a cadeira da direita, e me sentei nela. Ela se sentou na da esquerda, e começamos a conversar.

Falei um pouco da minha vida, família etc. Ocultei o fato de ter AIDS. Ela, de como seriam nossos encontros, o tempo de cada sessão, o preço, e que nós não teríamos nenhum envolvimento social. Nenhum envolvimento social? Pronto. Aí minha cabeça gênia já começou a funcionar.

E fiquei imaginando eu dando de cara com ela numa festa e tendo que fingir que não a conhecia (minha cabeça adora pensar em coisas idiotas). Mas depois me liguei que não era nada daquilo, ela devia estar se referindo à ética profissional. E parei de pensar naquelas besteiras.

A sessão acabou e, para primeiro dia, até que não tinha sido muito ruim. No entanto lembro que achei muito estranho ficar contando coisas da minha vida pra alguém que eu nem conhecia. Mas como eu não tinha outra opção...

No segundo dia, contei outras coisas. Ainda ocultando a AIDS. No terceiro, outras. Falei sobre a escola, já que tinha sido “des-suspenso”. No quarto, um pouco menos. No quinto, menos ainda. E lá pelo sexto já não estava falando mais nada. Ficava só sentado, imerso em pensamentos, a mil milhas dali. De vez em quando acordava, olhava pra ela, dava um sorrisinho, ela correspondia e aí eu mergulhava em pensamentos outra vez.

- Está pensando em quê? – Ela perguntava, atensiosa.

- Nada. – Respondia. Típico meu... O mundo podia estar acabando, e eu falava “Nada”.

Só lá pra segunda semana que eu me abri sobre a AIDS. Eu estava estranho naturalmente, tinha acabado de voltar de uma consulta com o Dr. Infecto. Sim, eu voltei a ir naquele médico. Ele tinha dito que, se eu não começasse a tomar o AZT, eu teria só que pegar um resfriado, e não resistiria mais. Não sou de me assustar com palavras, mas aquelas me deixaram temeroso.

- Aconteceu algo?

- Ahn? O que? – Perguntei. – Ah, sim... Aconteceu...

- Pode me contar? – Olhei para o lado, e disse:

- Claro. – Suspirei. – Bem. Eu tenho AIDS. Há um tempo.

- “Há um tempo” quanto?

- Bem... Vai fazer cinco meses.

- Hum...

- Bem... – Fitei a janela enorme da sala. – O médico que eu vou é meio pessimista. Ele disse que se eu tomar um remédio que eu não quero tomar, eu não resistiria por muito tempo.


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