A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 33
Perdendo Amigos




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No dia seguinte, fui para o hospital. Só que, daquela vaz, não tinha doutora Barbie. Meus pais quiseram contratar um profissional, um dos “melhores do país”. Chamei-o de Dr. Infectologista, ou, pra abreviar, Dr. Infecto. Eu fiz um teste de CD4, as células de imunidade do corpo, não fazia há um tempinho, e da última vez que fiz, havia saído 300. Não era um bom sinal. Além do CD4, refiz uma bateria para ver se eu tinha mesmo HIV. Se desse negativo, foi tudo um susto: Se não desse, era pra eu cair na real.

Fiz o exame e fiquei aguardando o resultado. As coisas estavam acontecendo tão rápido que eu não sabia nem o que pensar. Um tempo antes de eu descobrir ter AIDS, eu havia feito um curso de controle da mente, então passava os dias meditando, imaginando uma luz violeta sobre o meu corpo.

Uma parte porque acreditava que aquilo pudesse me ajudar, outra porque não havia mais nada que eu pudesse fazer.

O resultado saiu e lá fui eu levá-lo ao médico especialista, dr. Infectologista. Nos minutos que fiquei sentada na sala de espera com o envelope branco na mão, tentei imaginar como seria minha vida dali pra frente, com aquela droga de vício no seu ápice, mas não consegui. Fiquei, então, olhando para um vaso que havia ali na sala onde estava plantado um cáctus seco e cheio de espinhos.

A secretária me chamou, eu caminhei até a sala do médico e lhe entreguei o envelope. Na verdade, um dos meus exames havia dado negativo, o que acendeu uma esperancinha. Mas o dr. Infectologista já foi logo me cortando:

-Você ainda tem alguma dúvida?

Uma notícia, pelo menos, era boa: a minha imunidade tinha aumentado. Eu perguntei o que deveria fazer dali pra frente.

-Nada — ele disse —, apenas tentar levar a vida normalmente.

Ah, claro! Como se Justin Bieber pudesse levar a vida na normalidade!!

A realidade: ODIEI o cara. Mandou uma receita de remédios, mas nem chegou a falar comigo, só entregou e explicou para a minha mãe. Ele pegou um bloco de receituário, escreveu o nome de alguns exames e deu pra minha mãe, pra que eu fizesse depois. Já fiquei bravo. Por que é que não deu pra mim? No mínimo já me achava incapaz de cuidar dos meus papéis. Mas pior do que isso, pegou um vidro de DDI e deu a ela, explicando como eu deveria tomar. Será que ele achou que eu era burro e não sabia que aquilo era um similar do AZT, o remédio que eu disse que não iria tomar de jeito nenhum? Alguém, por acaso, me perguntou se eu queria tomar aquilo? Tive vontade de começar a berrar ali mesmo. Mas tratei de ficar quieto. Agora, sim, eu queria sair dali o mais rápido possível.

Depois do drama que eu fiz de “EU NÃO VOU VOLTAR NAQUELE MÉDICO” depois que nós fomos embora, minha vida deu uma volta maior ainda. Comecei a perder meus amigos. Ryan já não falava comigo desde que brigamos, e eu não tinha coragem de ir falar com ele e pedir desculpas por ter dado um soco nele no meio da aula

Discutia sempre com alguém quando essa pessoa começava a dizer: Você está caindo na carreira, e talz. Mas eu não sabia que eu podia ir tão longe.

O papo era o seguinte: Chaz veio para Atlanta passar uma semana, ele iria aproveitar que em Stratford estava havendo uma nevasca, e os alunos estavam sem aulas por tempo indeterminado para passar um tempo lá.

Logo no primeiro dia, eu e Chaz saímos pela cidade, pra nos divertirmos um pouco. O que eu esperava era que ele não tocasse no assunto do álcool. Mas não aconteceu. Estávamos numa casa de jogos jogando Guitar-Hero, e ele perguntou:

-Justin, sabe, vi umas notícias de que você anda bebendo... É verdade isso? Quer dizer, todo mundo tá falando isso. – Suspirei, sem me desconcentrar do jogo, e disse:

-É... Acabei abrindo brechas, e acabei me ferrando...

-Você nunca pensou em parar, quer dizer, isso pode te matar!

-Eu sei... – Respondi. – Já pensei nisso, te juro, cara... Mas... Saiba que o seu amigo aqui é um frouxo... – Completei, desanimado.

Interrompi meu auto-xingamento para comemorar que eu tinha ganhado o jogo, e não se falou mais disso até um certo tempo. Quando Chaz tocou no assunto novamente, no último dia dele em Atlanta, quando estávamos jogando basquete na quadra do meu prédio, e foi logo partindo para a defensiva:

-Se você sabe que isso pode te matar, por que não para? É melhor viver sem bebida ou morrer bêbado? – Ele disse, com um tom reprovador. Falava isso daquele modo por causa do trauma que tinha. Seu pai era alcoólatra. Antes que o Sr. Somers morresse de câncer no fígado, Chaz passou os piores momentos de sua vida. E só se abriu comigo. Ele era um ano mais novo que eu, e me fez jurar com a mão na Bíblia que eu não iria contar pra ninguém que ele apanhava do pai bêbado. Eu nunca contei para ninguém, sempre cumpri promessas.

-Olha, Chaz, saiba que eu não vou fazer que nem seu pai, ok?

-Parece que vai! – Ele retrucou.

-Olha, sem querer ser grosso, mas eu posso cuidar muito bem de mim mesmo, ok?

-Não parece! A única coisa que vejo na TV sobre você hoje é que você está cada vez mais parecido com Amy Winehouse!

-Chaz, eu sei que você tem trauma com esses negócios de álcool e tudo mais, mas eu não vou ser assim! – Chaz devolveu a bola com força para mim, eu fiz uma cesta e ele pegou a bola novamente. Batendo a bola no chão, e jogando novamente na cesta, o ouvi murmurar:

-Pra mim, você está mais bêbado que Amy Winehouse...

-Agora chega! – Gritei, avançando em Chaz, de punhos fechados. Nós dois caímos no chão e nos agredimos com socos e chutes por um bom tempo, até um de nós desistir. Que foi Chaz. Ele conseguiu se livrar de mim e se levantou. Quando fui ver, seu nariz sangrava, e ele colocava sua mão direita em seu olho. Só então que percebi que havia sido radical demais com ele.

-Eu pensei que você fosse meu amigo... – Ele murmurou, antes de ir embora. Me levantei, e fui correndo em sua direção:

-Chaz! Espera! – Berrei. – Me desculpe, eu não queria... – De repente, percebi que meu braço sangrava, e quase dei um surto. Chaz poderia ter encostado no sangue, eu tinha Aids, então era como se fosse um veneno, na minha mente insana.

-Hey, o que foi?! – Chaz perguntou. Levantei as mãos, e disse:

-OK! Eu não tenho mas nada a esconder! É simples: Eu tenho Aids! Pronto! É por isso que comecei a beber, é por isso que vou no hospital quase que duas vezes por semana!

-É por isso?! Por que não contou antes?

-Eu não sei... Perdi a amizade do Ryan por que contei pra ele...

-Mas eu sou seu amigo desde que a gente usava fraldas! Você acha que eu não seria mais seu amigo se me contasse? É isso que pensa de mim?

-Não, não! Você entendeu errado, eu...

-Quer saber? Pra mim chega! Eu te odeio!! – Ele deu as costas á mim, e foi embora. Fiquei sem palavras para chamá-lo de volta, e acabei perdendo mais um amigo. Briguei com Chris pelo Skype na noite daquele mesmo dia. Estava sem amigos de infância, que beautiful...


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