A Little Bit Longer escrita por Clara B Gomez Sousa


Capítulo 10
Descubro Que só Atraio Garotas Feias e Doidas




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-Essa não. – Falei, logo ao perceber que Bridget havia ficado com o caderno. Encostei na parede, e, quando ela passou, folheando meu caderno, eu a parei, segurando-a pelo braço.

-Me devolve esse caderno. – Ela olhou para mim e disse, na maior cara de pau:

-Não.

-Bridget, devolve isso agora!

-Não! – Ela disse. Tentei pegar, mas ela pôs o caderno atrás das costas e disse:

-Não tem ouvidos, não? Eu falei que não vou devolver!

-Mas é meu, fofoqueira de meia tigela!

-Você desenha bem! – Ela falou, folheando as primeiras páginas, um desenho do meu quarto e um de um cachorro.

-Me devolve isso!

-Vem pegar! – Aproveitei o momento que ela se distraiu e peguei o caderno.

-Hasta la vista! – Saí correndo para a aula.

Quando entrei no laboratório, ofegante, Sr. Kress, o professor que todas as meninas babam e eu acho gay, me disse:

-Sinto muito por seu tio.

-Obrigado.

-Sabe onde Bridget está?

-Nem me pergunte... - Respondi, procurando uma cadeira vazia. Fui andando pelas fileiras, todas ocupadas, as garotas me encaravam com seriedade, os garotos como se dissessem "Eu quero muito zoar esse moleque, mas ele está passando por um tempo difícil..."

Me sentei lá no final da sala, do lado do Ryan. Ele, logo ao perceber que eu que me sentei do lado dele, perguntou:

-Onde você estava? E por que está ofegante?

-Bridget Benson.

-O quê?

-Ela me parou em frente ao meu armário, me perguntou como eu me sentia, por que ela - Imitei uma voz mais fina que o normal - "me transformou no garoto mais respeitado da escola".

-Não deixa de ser verdade.

-Eu sei. 

-E o que ela fez depois?

-Me empurrou na porta do armário e começou a... Argh, dá nojo só de pensar!

-Ela te assediou?

-O que você acha? E depois ainda pegou meu caderno de desenho!

-O que que tem? Ah, esqueci que você é um fresco que não gosta que vejam seus desenhos! 

-Me deixa viver! 

-Cara, você pode ser o próximo Da Vinci se continuar!  

-Sssh, quieto, agora! - Eu e Ryan nos viramos e começamos a prestar atenção para o que o professor de Ciências falava. Foi nojento quando ele mostrou um vídeo de uma ameba se reproduzindo.

Passou Ciências, veio Inglês, depois Filosofia. Eu ainda tinha que falar a resposta para a professora...

-Bom dia, Justin. Sinto muito por seu tio. – Sra. Duncan disse, logo quando entrei.

-Obrigado.

-Já tem a resposta? – Ela perguntou. Assenti em sinal negativo, derrotado.

-Eu acho que quero fazer a diferença...

-Não se pode achar. Tem que se querer. - Ela olhou o relógio que estava na parede. –Sente-se logo, a aula vai começar, estamos atrasados.

Seitei-me do lado de Nathan Bilodeau, o mais nerdda turma. Mas ele é legal, nós somos amigos. Ele veio da França só para estudar no melhor colégio da América do norte... 

Sra. Duncan começou a falar. Não lembro direito exatamente o que ela falou, então não vou arriscar. Só lembro que ela começou a falar de família, amigos, pessoas que qualquer um ama. Deus, ela queria que eu chorasse... 

Pedi para ela para ir ao banheiro. Ela sabia muito bem o por quê, então deixou. Quando saí da sala, meus olhos já estavam úmidos, o banheiro era bem ao lado, então nem tive que me segurar.

Entrei no banheiro rodeado de espelhos, já com lágrimas escorrendo pelos meus olhos. 

-Deus, por quê você foi fazer isso comigo? Quer dizer, podia levar alguém que não seja o meu tio, não? - Falei, entre soluços, ajoelhando no chão, encostando a cabeça na parede.

Fiquei lá por mais alguns minutos, então enfiei minha cabeça debaixo da torneira e, quando achei que não dava pra perceber que eu tinha chorado, voltei. 

Quando me sentei de novo, a professora mudou o assunto e começou a falar das pessoas da África. Eu já fui lá, já as vi de perto. Vi a fome, vi a dor, vi a morte... 

-O que eu perdi? - Perguntei para Bilodeau, quando me sentei.

-Por quê demorar tanto? – Ele perguntou. Colocar verbo em infinitivo, clássico...

-Não interessa... - Respondi, me virando para o quadro. Ele olhou para meu rosto e disse:

-Você estar... Chorrando? - O sotaque francês que puxa o “r”, clássico².

-Presta atenção na aula!

-Só responder!Estar?

-Estava... - Respondi, bem baixo.

-O quê?

-Eu estava chorando...- Disfarcei uma tosse, um pouco mais alta.

-Quêê?

-ESTAVA CHORANDO SIM, CARAMBA! - Dei um berro enorme. Eu acho que todo o colégio ouviu. Virei-me para frente, e percebi que todos estavam me encarando, com os olhos arregalados. 

-Micoooo... - Nathan falou, fazendo uma voz mais fina.

-Shut up! - Falei.

-Justin, você está bem? - Sra. Duncan perguntou.

-Estou sim. Vamos voltar á aula, estava tão interessante, e... - Eu não estava convencendo ninguém. Me levantei, corado, e disse:

-E-eu vou beber um copo d'água e já volto.

-É uma boa ideia. - Ela disse.

Saí e me encostei na parede. Eu tenho um talento sobrenatural pra pagar mico, só pode... De repente, a porta da sala se abriu, e a professora apareceu.

-Está tudo bem?

-Está, claro... - Disse.

-Você já me disse isso antes... - Suspirei e desfiz a cara de medo que eu estava.

-A gente ia se ver semana que vem... - Murmurei.

-Você e quem?

-Tio Freddie... Ele estava no Irã... E algum... Algum... Desgraçado explodiu uma bomba no acampamento dele... – Abaixei a cabeça.

-Meu marido também morreu dessa forma. Eu pensei que nunca ia superar...

-E superou?

-É, eu acho. Eu ainda penso “Por quê ele?”, e me pego chorando. Se, pra mim foi difícil perder um ente querido, imagine você, que é tão jovem? – Ela disse. Continuei calado. Agora sei direito por quê ela é professora de filosofia. – Só estou querendo dizer que, se você está querendo esconder que está triste, isso não vai mudar nada, você só vai ficar pior.

-Como assim? - Não me mexi. Minha voz estava rouca.

-Não esconda que está triste. Tem sempre alguém com quem você pode contar. Pra tudo. Justin, levante a cabeça. – Ela perguntou. Fiz o que ela pediu, e me deu uma vontade de tossir, como se tivesse engasgado.

-Justin, você está bem? – Não conseguia parar de tossir. Com as costas arqueadas, fiz um sinal negativo com a mão esquerda. Fui perdendo o ar, e caí no chão.


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