Brooklyn, 1982

Depois que colocaram aquele maldito mural no corredor da escola, eu não me sentia mais numa escola! Eu me sentia na 25 de Março.

Greg: Tânia? Quem é esse garota?

Chris: É aquela gordinha da sala ao lado.

Todos os alunos que passavam pelo corredor paravam para ler os papéis pregados com muitas informações.

Greg: Olha esse aqui! "Indo fazer xixi"

Chris: Isso é ridículo! Como as pessoas podem gostar disso?

A professora Morello empura os alunos para passar dizendo "Com licença, com licença!"  Com uma tachinha ela prega seu papel. Morello: Estou tão feliz com essa idéia de colocar aqui o que vamos fazer! Aposto que foi um negro que inventou.

Ela disse branco.

Morello retira-se sorridente com as mãos erguidas. Pareciam que estavam quebradas.

Enquanto todo mundo pregava seu papel com informações inúteis, eu e o Greg avistamos de longe um forte movimento do outro lado da rua.

Greg: Será que foi algum acidente?

Chris: Na calçada? Eu acho que não.

Greg: Vamos lá dar uma olhada!

Eles atravessam a rua e de repente, as pessoas vão tomando rumos diferente.

Chris: Mas o que é isso?

Greg: É um mural igual o que estava na escola!

Chris: Não é possível! Isso está virando uma doença! Olha esse papel "Fui na casa da minha avó. Ele se engasgou com um amendoim e eu morri de rir."

Greg: Olha esse aqui "Acabei de chegar da praia". Desde quando aqui no Brooklyn tem praia?

Ficar vendo aqueles murais espalhados pela cidade estava me deixando louco. Mas isso mudou rapidamente no dia seguinte.

Chris e Greg entram na escola e levam um susto. O corredor estava vazio.

Greg: Cara, cadê todo mundo?

Chris: Seja lá onde estão... Coisa boa não aconteceu!

Greg: Será que foram os monstros do espaço?

Monstros do espaço? Estava mais pra "A REVOLTA DO ORKUT"

Eles seguem andando pelo corredor e vão ao mesmo tempo observando os murais.

Greg: Chris, olha isso aqui "Vende-se drogas no banheiro feminino". Chris: "Os garotos do time de futebol são frutinhas".

Greg: Eu é que não vou ficar aqui!

O Greg pode ter saído correndo. Mas a minha curiosidade falou mais alto. Aquele lance de "Paper Twitter" estava começando a esquentar.

Morello dobra o corredor e pára rapidamente.

Morello: Chris, então é você?

Cara, sujou! Eu só me lembro de ter saído correndo e pra casa!

O policial ao lado de Morello, que estava aflita, adota as respostas da professora.

Policial: Como você descobriu?

Morello: Eu entrei no corredor e ele estava colocando um papel no mural.

Policial: E como ele era?

Morello: Negro.

Policial: Qual o nome dele?

Morello: Chris.

Policial: Alguma característica que o diferencie melhor?

Morello: Deixe-me pensar... Ele é um garoto negro!

Policial: Qual a idade?

Morello: Negro. 

Alguém bateu na porta duas vezes. Rochelle saiu da cozinha berrando "Já vai! Eu não sou surda!"

Ela abre a porta e dá de cara com um policial. O mesmo da escola.

Policial: Boa tarde.

Rochelle: Boa tarde.

Policial: É aqui que mora o Chris Negro?

Rochelle: Como é que é?

Policial: Tem algum Chris aqui?

Rochelle: Sim, mas não é Chris Negro! É Chris Rock! 

Policial: Eu devo ter anotado errado.

Rochelle: O que foi que ele fez?

Eu passei correndo pela esquina de casa, mas parei assim que vi o carro da polícia.

Perigo: Quem diria! O neguinho está devendo!

Chris: Entenderam tudo errado! Eu não fiz nada.

Perigo: Pessoas como você nunca fazem.

Naquele momento eu me senti o único negro da história. Mas quando cheguei em casa, logo fui me desculpando.

Rochelle: Calma, calma! Eu já sei de tudo!

Ela estava tomando café com o policial no meio da sala.

Policial: Uma aluna se confessou e a senhorita Morello ligou pra cá. Disse que não precisaria prendê-lo.

E se eu fosse condenado?

Rochelle: Agora o que temos que fazer é descobrir quem inventou esse tal mural. A cidade inteira está dominada por ele.

Tonya atravessa a rua ao lado de Drew.

Tonya: O que o carro da polícia está fazendo aqui?

Drew: Aposto que o Chris se meteu em confusão!

Tonya: Não duvido nada que foi o senhor Omar. 

Depois daquela enorme confusão, os murais sumiram da cidade. Mas as pragas não ficaram felizes e iriam esperar a loucura da internet fluir melhor pelo mundo.

Tonya, Chris e Drew entram numa sorveteria. Eles sentam ao redor de uma mesa e Tonya vê um dos murais lá dentro.

Tonya: O que é aquilo?

Drew: Só pode ser um daqueles murais!

Eles se levantam e vão lendo vários papéis ainda ali. Até Tonya encontrar o papel infernal.

Tonya: "Rochelle Rock tem o chapéu mais feio do bairro! Sua filha piolhenta vive pulando corda e seus filhos roubando no centro da cidade"

Aquilo não prestou. Minha mãe ficou muito furiosa.

Rochelle: JULIUS! JULIUS, acorda!

Julius: O que foi? A casa está pegando fogo?

Rochelle: Leia isso agora!

Julius leu.

Rochelle: Eu aposto que isso tem dedo daquela nova mulher no salão da Vanessa.

Julius: Esqueça isso! Já deu até polícia. 

Meu pai pensou que a minha mãe esqueceu. Mas ela foi possuída pela Beyonce. 

Ao som de "Crazy in love", Rochelle desce as escadas de seu prédio. Sai na rua com um chapéu maior que os anéis de saturno e um vestidão florido. Parecia mais estampa de cortina. Haviam algumas crianças se molhando com uma mangueira vermelha. Ela tomou e fez uma cara de cachorro bravo pra elas e sorridente, jogou água pra cima. Drew, Tonya, Chris e dá janela, Julius, observavam de queixo caído. Foi quando o som do carro foi ficando molhado pelos jatos de água e entrou em curto. Ela olhou para os lados como se nada estivesse acontecido e no salto, ela sai de cena rapidamente "Parem de me olhar com essa cara e vamos todo mundo pra dentro! Julius, sai dessa janela! Parece uma Maria Fofoqueira!"

Depois das humilhações e ofensas nos murais, foi proibido qualquer uso do "Paper Twitter". Mas depois de um anos surgiria o "Twitter". O Paper? Com certeza era negro!

Fim do capítulo 3