Sora os levou até o hangar, onde já estavam Mickey, Minnie e Lukas. O loiro ainda estava visivelmente abatido pelo sumiço de Brendah. Perguntava-se se talvez nesse outro mundo se encontrasse alguma resposta.

–Aí estão os dois. – disse o rei, quando os viu

–Desculpe pelo atraso. – falou Juno, logo sendo interrompida por Mickey

–Não precisa, foram só alguns minutos. Espero que o treinamento daqui ajude vocês.

–Tenho certeza que irá. – disse Nick

Rapidamente se despediram e os quatro entraram na nave.

–Então, pra onde vamos? – indagou Juno

–Um mundo chamado Radiant Garden. – respondeu Sora – Há alguns anos, este mundo estava desabitado. Então, por precaução, o rei enviou um grupo de feiticeiros para monitorar o lugar. E eles nunca mandaram nenhum pedido de ajuda...

–Até agora. – completou Nick

Sora assentiu com a cabeça. Logo o trio foi para seus devidos quartos, enquanto Sora se dirigiu para a cabine. Um bom tempo depois, Juno saiu de seu quarto e seguiu para a cabine. Sora se virou para ela assim que notou sua presença.

–Algum problema? – perguntou ele

–Ah, não. – disse ela, continuando após uma breve pausa – Só cansei de ficar no quarto.

–Bem na hora. Acabamos de chegar a Radiant Garden.

Juno sorriu e rapidamente seguiu para o corredor. Os meninos saíram de seus quartos logo que sentiram a nave aterrissar. O trio desceu da nave na rua do mercado. Assim que começaram a entrar na cidade, os heartless começaram a aparecer. Iam destruindo-os enquanto seguiam pela cidade, que cada vez se revelava com mais seres da escuridão. Em um desses ataques, uma poderosa magia de gelo acabou com os heartless restantes na área. Olharam para cima. Uma garota, que aparentava ser dois, talvez três anos mais velha que eles se encontrava sentada em um dos telhados das casas em volta. Ela tinha longos cabelos de num tom de azul quase preto presos por uma trança, à exceção da franja, terminando logo acima de seus olhos de cor cinza-escuro. Vestia uma blusa preta e um short branco, da mesma cor que o tênis. Logo ela desceu e foi ao encontro do grupo.

–Ainda bem que minha mensagem chegou até o rei. – falou ela, estendendo a mão para Juno – Eu sou Tabitah.

Juno cumprimentou-a, apresentando-os. Tabitah pediu para que a seguissem, os levaria para o quartel-general de Radiant Garden. O caminho continuava cheio de heartless, mas ficara mais fácil de ser percorrido com a feiticeira e a exímia habilidade dela para magias de gelo. Pouco tempo depois, chegaram à construção que antes tivera um de seus cômodos usados como escritório de Ansem. Assim que entraram, notaram que praticamente só havia crianças no lugar, a maioria ferida e aparentando ter bem menos idade que eles. Em si, o local não parecia um quartel-general, e sim um local para abrigo e ajuda. Tabitah os levou até o escritório. Enquanto conversavam sobre a cidade, uma garota de não mais que oito anos bateu na porta.

–O que houve? – indagou Tabitah, ainda sentada sobre a mesa do escritório

–Seu irmão. – informou a garota – Foi encontrado ferido a alguns metros daqui.

Tabitah prontamente se levantou e seguiu a garota, assim como o trio. Rapidamente chegaram a um quarto no qual só havia uma cama, onde se encontrava o irmão de Tabitah. Ele tinha cabelos negros e curtos, e usava uma roupa parecida com a irmã, a não ser pelo casaco e pela bermuda. Apesar das magias de cura, dois cortes ainda se faziam visíveis, um no seu ombro e outro na altura de sua última costela, ambos do lado direito e com manchas de sangue ao redor. E o primeiro ainda se encontrava com marcas de queimadura. Quando ouviu os passos da irmã, abriu os olhos, revelando orbes de um cinza claro, e se sentou na cama, não sem fazer uma expressão de dor.

–Dois arranhões e você já é derrubado? – indagou a feiticeira, num tom brincalhão – Acho que é mais forte que isso, Will.

–Se você tivesse tomado o choque que eu tomei, não estaria dizendo isso. – rebateu ele

O trio se entreolhou. Conheciam muito bem alguém que poderia ter machucado ele daquele jeito. Lukas sacudiu a cabeça, se recusando a pensar que Brendah poderia lutar contra alguém que fosse seu aliado.

–Viu quem foi? – perguntou Tabitah

–Não. – respondeu o garoto – O capuz do sobretudo cobria o rosto dela.

–E como você sabe que é uma garota? – rebateu Tabitah

–Porque ela falou comigo. – respondeu Will – Pediu para eu chamar o grupo de keybladers.

–E onde ela estava? – perguntou Lukas

–Na planície logo após a fissura de cristal. – respondeu ele

–Sem problema, eu levo vocês até lá. – disse Tabitah

–Ela falou para só eles irem. – interrompeu Will

O loiro engoliu em seco. Era Brendah. Um lado dele lhe dizia isso. Do contrário, por que teriam que ir só eles? Mesmo assim, o lado que dizia que ela nunca lutaria contra eles ainda era o dominante. Tabitah suspirou e logo depois os ensinou a como chegar lá. Eles saíram assim que ela terminou de falar. O caminho estava estranhamente limpo, o que só fez a tensão neles aumentar. Quando chegaram ao centro da planície, os heartless apareceram. Mas agora estavam em número absurda e aterrorizantemente muito maior. Eram centenas, no mínimo. De longe, no alto dos planaltos que cercavam o lugar, se encontravam dois vultos. Ambos observavam escondidos embaixo de seus sobretudos negros, no estilo Organization.

–Parece que eles caíram direitinho na armadilha. – disse uma – Aliás, o que pretende colocando tantos heartless contra eles?

–Digamos que é um teste. - respondeu a outra – Se eles sobreviverem, você irá enfrentá-los.

–E por que não agora? – rebateu a primeira, invocando suas adagas

–Porque existem mundos que, sendo destruídos, teriam mais valor para eles do que esse. – falou a segunda, logo depois abrindo um portal – Mas acho que nem precisa se preocupar. Duvido que escapem dessa.

–Acredite, são mais fortes do que parece. - falou a primeira, enquanto a outra já sumia na escuridão

Logo o grupo começou a lutar. Mas parecia que, quanto mais destruíam, mais heartless e nobodies apareciam. O cansaço começou a abatê-los. Nick percebia isso.

Poder. Era só o que precisavam. Nick faria tudo para ter mais. Tudo.

De repente, sentiu algo estranho. Parecia que uma energia destravara dentro de si, saindo de onde sua mente a retinha e exigindo o controle. Tentava manter o foco na luta, porém, a cada segundo – que parecia passar de maneira cada vez mais lenta e dolorosa – aquela sensação o dominava mais. Sua visão chegou a falhar quando caiu de joelhos no chão, colocando as mãos na cabeça em um reflexo. Os heartless nem usufruiram de seu instante de fraqueza, parecendo sentir a aura negra que começara a emanar.

E, quando voltou a abrir os olhos, não era mais quem estava no comando de seu corpo.

Um sorriso enviesado surgiu em seu rosto quando voltou a se erguer. Ao recomeçar a atacar, estava nitidamente mais forte e mais rápido. E completamente insano. Nada mais passava pela sua mente além da diversão que aquela destruição causava. Em poucos minutos, a área estava limpa. Mas queria mais. E não daqueles seres sem graça, que não lhe proporcionavam um desafio à altura.

Nesse momento, voltou-se para Lukas e Juno, que tinham se tornado meros observadores, atônitos e paralisados. Nick estava de costas, um pouco mais a frente dos dois. Não por muito tempo. Ele sumiu do campo de visão de ambos e arremessou-os longe. Juno ainda se levantaria, se não estivesse com a Way to the Dawn apontada para ela. Mas não foi exatamente isso que a paralisou. Uma lágrima escorreu quando seu olhar encontrou os olhos de Nick. Amarelos. Como os de um heartless. Mas a escuridão ainda não tinha dominado o coração dele, e algo naquela troca de olhares o fez despertar. Jogou sua keyblade longe, logo após caindo de joelhos no chão com as mãos na cabeça. Foram poucos e longos segundos até que ele retomasse o controle. Assim que o fez, se levantou rapidamente e correu.

Precisava correr, se afastar daqueles poucos minutos que o deixaram completamente perdido. Não acreditava no que tinha feito. Não, não podia ter ameaçado aquela garota de quem tanto gostava. Foi parando lentamente, ofegante, pouco depois de ter acabado a trilha. Olhava para aquele chão, aqueles detalhes em azul e verde. Diversos pensamentos passavam pela sua cabeça, muito mais rápido do que ele pudesse acompanhar, mas um se repetia incessantemente.

Não havia para onde correr. Mais cedo ou mais tarde acabariam no mesmo lugar, afinal, eram um grupo. Ainda estava perdido em seus pensamentos, quando ouviu uma voz bem familiar por trás dele.

–Quem diria... O certinho do Nick sucumbindo à escuridão...

Ele automaticamente se virou na direção dela. Embora o capuz do sobretudo preto estivesse encobrindo seu rosto, ele reconhecia aquela voz.

–Brendah?... - indagou

Ela retirou o capuz e sorriu. Sim, era Brendah. Mas não a Brendah que conhecia. Ela tinha maldade em seu sorriso e em seu olhar.

–Por que essa cara de surpresa? – disse ela, em tom irônico – Achei que já tinham deduzido que eu estava por aqui.

–O que aconteceu? – perguntou ele, ainda bem confuso – Por que sumiu do castelo? E por que está aqui?

–Você faz perguntas demais, sabia? – rebateu Brendah – A única coisa que precisam saber é que não estou mais do lado de vocês.

–Como é? Brendah, vai se virar contra seus amig...

–Amigos? – interrompeu ela, logo depois dando uma risada irônica e completando – Para se ter amigos, precisa-se de um coração. Nobodies não o tem.

Nick ainda ia falar algo, mas se calou. Se ele já estava confuso antes, agora tinha se perdido totalmente. Não fazia o mínimo sentido o que ela disse.

–Aliás, quem é você pra falar de mim? – continuou ela – Agora a pouco você estava a ponto de matar a Juno.

Aquilo fez o sangue de Nick ferver. Não só de raiva dela, mas de si mesmo também. Mirou um soco nela, mas este foi facilmente segurado. Ela o puxou para mais perto e sussurrou em seu ouvido.

–Cuidado, viu?! Raiva é uma boa brecha para a escuridão.

Nick rapidamente se soltou e se afastou dela. Logo Juno e Lukas chegaram ao local. Assim que Brendah se virou para olhá-los, Lukas gelou. Dava pra ver no olhar dela que havia algo errado. Muito errado.

–Brendah?... – indagou Lukas – É mesmo você?...

–Aff... – disse ela, revirando os olhos – Por que será que todo mundo me olha com essa cara de surpresa? – após uma breve pausa, continuou - Quer saber, não vou perder mais meu tempo por aqui.

Dito isso, estalou os dedos, fazendo aparecer um portal às suas costas. Entrou nele e, um pouco antes de sumir, ainda disse:

–Até porque, existem mundos bem mais interessantes para serem destruídos.

Algo no tom de voz de Brendah fez Juno sentir um frio na espinha. Mas esse não era o maior problema. O que fariam agora era. Foi um longo minuto até Nick se virar e começar a caminhar.

–Aonde você vai? – perguntou Lukas, caminhando até ele, logo sendo seguido por Juno

–Pelo que eu entendi, esse mundo está, pelo menos por enquanto, livre dos heartless. – respondeu ele – Então, acho que não temos mais nada para fazer por aqui.

Lukas segurou Nick pelo ombro, olhando de relance para Juno, que estava a uns dois passos de distância.

–Acho que você tem. – disse o loiro

Lukas saiu caminhando, deixando os dois sozinhos.

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Fim do capítulo V