Um mês depois...

– KIA! Volta para Tóquio vai?! Você me faz tanta falta. – Vick me implorava no microfone do computador – Aliás, onde você está sentada? – Ela me perguntou, me vendo pela web cam. – Uma pessoa normal se senta em uma mesa, ou então na cama com o notebook.

– Eu estou no chão do quarto, não vejo nada demais nisso Vick.

– Rum! Tá tá, mas me conta como anda as coisas? – Ela insinuou, sabia exatamente do que ela queria dizer, eu só soltei uma gargalhada.

– Para de ser cara-de-pau! Não aconteceu nada, e nem vai acontecer!

– É você que tem que parar! Boba!– Ela quase gritava do microfone, exagerada como sempre. – Você tem arrasado corações nessa cidade, é um tal de Kaien do terceiro que não larga do seu pé, um vizinho gato, que você já viu de cueca, sem camisa...aliás, já resolveu com qual vai?

– Vick... – Falei tentando acalmá-la, ela não compreendia. Parecia que de todos os e-mails que eu mandei ela só entendeu uma coisa: “Eu estou em Karakura, uma cidade cheia de homens gatos, e os dois melhores estão atrás de mim”
Ela não entendeu que o Ichigo não se incluía ali.

– Eu, Kuchiki Rukia. Não vou ficar, namorar, seja lá o que for...com ninguém. Ninguém, entendeu?

– Você que sabe, né. Quer ficar encalhada, é escolha tua. Depois não vem chorar no meu ombro. Tá?

– Tá. – Concordei com ela. Vick era minha melhor amiga lá de Tóquio, fiquei feliz da distância não ter atrapalhado em nada, conversávamos todos os dias. Ela era a única garota que eu conhecia que mesmo com um problema enorme, ela não larga o bom humor e o seu exagero.

– Tem como... – Vick hesitou um instante, tinha um sorriso malicioso nos lábios.

– Como... o que? – Desconfiei de algo. Eu conversava com ela fazendo a lição de geografia. – Se for de ir para Tóquio nas férias, eu ainda tenho que falar com meu pai e...

– Não... – Ela me interrompeu.

– Você não quer que é vá passar as férias contigo? Valeu pela consideração, amiguinha. – Voltei a atenção para a minha lição, fingindo estar nervosa.

– RUKIA! Não é isso! Eu quero que você venha, talvez eu até possa ir ai. Mas enfim...

– Ah! Não pensei nesse caso, ia ser legal. – A interrompi com um sorriso enorme nos lábios. Seria bem mais fácil ela vir, nós não estávamos ainda nas melhores situações financeiras.

– Posso continuar? – Ela me fitou séria.

- Vai, fala de uma vez.

– Me apresenta o tal do Ichigo...aquele seu vizinho... – A olhei pela câmera, abismada.

Ela não conseguia se controlar? Nem à milhares, e milhares de quilômetros de distância de um homem, ela não resistia. Bem dizer que o Ichigo era... Sacudi a cabeça tentando afastar os flashes das minhas lembranças daquela noite do resgate do Shion.

Eu pedi para ele esquecer, mas eu mesma não havia conseguido esquecer. O sangue me subiu, e eu me senti corar na mesma hora. Desde aquele dia eu ainda não compreendia por que eu senti aquilo. Desviei meus pensamentos da cabeça e voltei à atenção à Vick.

– Eu sei, quem é o meu vizinho, Vick. – Fui curta e grossa, sem querer.

– Calma, eu não vou roubá-lo de você!

– Para de falar besteiras! Ele nem é meu para você roubá-lo de mim, primeiramente.

– Então me apresenta logo!

– Espera aí, loira.

Escutei ela rindo, e fui até a sacada, chamar o Ichigo.

Debrucei-me na sacada, a porta de vidro dele estava aberta, então ele estava em casa.
Mas onde? Não sei. Decidi chamá-lo, da última vez que tentei invadir o quarto dele, não deu muito certo.

– Torre Eifel? – Falei alto. Nenhuma resposta rude, nem nada. – Morango? – Outra vez, sem resposta. – Ichigo? – De novo, sem resposta. – Eu sei que você está ai, para de me ignorar!

Idiota, não quer me responder! – Pensei gritando para mim mesma.

- Okay, perdeu uma oportunidade de desencalhar.  – Ameacei para ele, não demorou para o mesmo aparecer com uma cara de sono, ridiculamente hilária. Segurei o riso, ele estava usando uma blusa azul marinho de manga comprida,e uma calça preta de moletom.

– O que você quer? Eu estava dormindo. – Ele reclamou coçando o olho, e logo depois soltando um bocejo.

– Uma amiga minha de Tóquio quer te conhecer... – Falei, eu estava um pouco desconfortável com aquela situação.

– Mas, por quê?

– Eu comentei de você, e ela quer te conhecer...melhor ir logo.

– Vou ter que obedecer alguém que eu nem conheço? – Ele me perguntou, com o cenho franzido. Como ele reclamava, meu deus.

– Ichigo. Pula aqui logo vai. – Dei as costas para ele, e voltei para o meu quarto. Me sentei no chão e voltei a falar com Vick que me esperava ansiosa.

– E ai? – Ela me perguntou, com um brilho nos olhos, aquilo definitivamente estava me incomodando.

– Ele está vindo, espera só um pouco...ah, boa conversa eu vou fazer a lição.

– Me deseje sorte!

– É você vai precisar, ele é meio difícil de se lidar.

- Você fala como se não me conhecesse, Rukia. – Ela sorriu malicioso, tive que rir. Era um tanto quanto hilária aquela situação.

– É me esqueci disso. – Olhei para a outra sacada ele já estava pulando para meu quarto. – Falo com você depois, se cuida. – Disse para ela antes do meu vizinho entrar no quarto. Ela deve ter respondido mas eu nem escutei.

– Pronto, to aqui! Feliz? – Ele falou de mau-humor, como sempre.

– Eu? Você sabe muito bem que por mim, você ainda estaria dormindo.

– Você sempre tão simpática... onde está sua amiga? – Ichigo me perguntou, mostrando seu desinteresse claramente.

– Ali no computador. – Apontei, me sentando na cama, ficando atrás dele. Ele se virou e olhou para meu rosto com as sobrancelhas juntas.

– Você tá brincando, né?

– Ela não está... Ichigo. Acertei?  - Vick falou do computador, ele me olhou como “cara, que isso?” Só ri e mandei ele sentar.

Eu não conseguia me concentrar direito, eu queria ouvir a conversa deles. Pelo que me pareceu, os dois haviam se dado bem, até demais.

Mas o que você tem haver com isso? Você não tem nada com ele, é apenas seu amigo. – Pensei comigo mesma, melhor me ordenei.

Às vezes eu sentia o olhar de Ichigo em cima de mim. Já fazia um mês que eu estava em Karakura, mas nesse pouco tempo nós dois já tínhamos uma ligação bem forte. Já era rotina conversar com ele de noite, e olhar as estrelas, ou então ir com ele todos os dias para a escola.

Eu tinha me acostumado com o seu mau humor, era até engraçado. Eu ia à casa do Ishida mais ou menos umas duas vezes por semana. Era divertido ver a cara do Renji, quando eu vencia dele no Guitar Hero no expert. E também tinham a Matsumoto e a Soifon, as duas eram inseparáveis, na verdade é a palavra errada. Soifon é meio anti-social, por isso a Matsumoto vive com ela. Tanto que a mesma me disse que ficou até surpresa de ver que Soifon tinha se dado bem comigo, fiquei super feliz com isso. 

Mas mesmo assim, mesmo com a certeza de que éramos só amigos, e nada mais...eu não conseguia controlar a minha agonia de ver o interesse que a Vick demonstrava para Ichigo. Era desconfortável, escutar ela dando indiretas e ele mesmo corado, retribuindo. Ele tinha feito isso comigo uma vez comigo, no dia que nos conhecemos, e só foi uma, mais nenhuma.

Inveja não era...nunca.

Raiva? Talvez um pouco...

Ciúmes?...CIÚMES?

Levei a minha mão na testa e comecei a me dar soquinhos.
Ichigo me olhou na mesma hora, eu queria interpretar seu olhar, era uma mistura de confusão com “ela é retardada?”.
E o pior foi, que eu já estava corada, só de ter pensado naquela possibilidade, e fiquei ainda mais quando ele me olhou naquele estado.

– Você está bem? – Ele perguntou ainda sentado no chão com o notebook.

– Kia? – Escutei Vick perguntar do PC.

– E-eu...to bem. To legal. Só...não consegui resolver aqui. Enfim. – Tentei disfarçar me enfiando dentro do livro.

– Tudo bem. – Ele deu de ombros e voltou a falar com a Vick.

“&%*#@#$!*%!  Ok, pode voltar a falar com ela! RUKIA! PARA COM ISSO!”  – Me ordenei, de novo. E depois de alguns minutos eu consegui me controlar, e colocar tudo em panos limpos na minha mente.

Eu, apenas estava com ciúmes da minha amiga de Tóquio. Pois eu estou com saudades, então tenho medo de perdê-la para o Morango. Apenas isso, apenas isso.