Game Over escrita por nandahh


Capítulo 1
Fim de jogo


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :D



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        “ E agora, Ryuzaki? O que você vai fazer?”

        (...)

      Sim, eu admito. Nunca gostei do meu nome. Pelo menos, não muito. Na verdade, não tenho certeza nem se esse é o meu nome verdadeiro. Minhas memórias mais antigas e profundas apenas me levam para o dia que ingressei naquele orfanato. Não me recordo de nada antes desse fato. Marcaremos aqui, portanto, o início de minha história.

      Foi ali, naquela singela – nem tanto – construção, que minha vida teve início.

      Não era difícil notar certa peculiaridade em uma criança super-dotada. Apenas se divertir, normalmente, era algo maçante. Trabalhar a mente, incessantemente, mesmo que por impulsos involuntários, acusaram-me como portador de um cérebro avançado. Não que eu achasse isso ruim. Tampouco achava isso um fator de superioridade.

      Simplesmente não queria ser chamado de “anormal”...

      Às vezes, sentado em qualquer canto do jardim do orfanato, observava o caminhar das pessoas na rua. Via crianças, com seus respectivos pais, aparentemente felizes. Conversando sobre... o quê? Não faço idéia. Apenas observava.

      E quando Watari me chamava para experimentar suas famosas sobremesas inglesas – como eu adorava aquelas tortas! – esquecia-me, mesmo que por breves momentos, de tudo que me envolvia.

      Somente mergulhava no puro e simples mundo infantil...

      Talvez a minha história seja tão dramática quanto qualquer outra.

      E pergunto-me... o que me faz relembrar tudo isso, nesse exato momento?

      Justo... nesse momento...

      (...)

      Quebra cabeças. Como eu os odiava. Sim, odiava. Malditas cinco mil peças, intermináveis. Watari dizia que não há nada melhor para trabalhar a mente do que aqueles infames pedaços de papel sem forma. O que eu poderia fazer? Sabia que se terminasse em menos de dez minutos, ganharia mais um pedaço daqueles maravilhosos bolos de morango.

      Tenho dúvidas da originalidade deles...

      Mas eram deliciosos, de fato.

      Falando assim, até parece que só eu e Watari vivíamos naquele orfanato. Na verdade, outros pequenos super-dotados também residiam ali. Ficava curioso para descobrir por que aqueles outros garotos foram parar ali. Mas nunca tive a iniciativa de perguntar.

      Watari também nunca me revelou o motivo da minha estadia – permanente – ali. Mas, como qualquer super-dotado, perceber as coisas não era demasiadamente complicado.

      Se eu possuía pais, provavelmente foram eles que me deixaram por lá.

      Alguns dizem que ter um filho super-dotado é motivo de orgulho.

      Será!?

      Uma mente mais complexa quanto a nossa não nos permitia viver normalmente ou socialmente com outras crianças. Talvez isso afligia meus pais, e o melhor que eles teriam a fazer era entregar-me a Watari e seu grandioso projeto.

      Depois de um tempo, parei de pensar sobre isso.

      Percebi que olhar para o passado somente atrasava a realidade em que eu estava presente...

      Os anos se passaram. E eu ainda estava ali, no mesmo orfanato. Bom, dotado de uma mente brilhante – isso não é falta de modéstia, é apenas o que os outros falam de mim – tornei-me veterano e “chefe” daquele lugar. Notei que meu poder de explicação, dedução e resolução estava trancafiado atrás daqueles enormes portões metálicos. Talvez fosse hora de encarar o mundo.

      De encarar as pessoas.

      Watari também achou isso.

      Antes de sair do orfanato, porém, deparei-me com duas crianças um tanto quanto, digamos, destacadas entre as outras. Um, um pouco mais velho, de cabelos loiros reluzentes, chamado Mihael Keehl – nome estranho, de fato – e outro, mais novo, de cabelos grisalhos, chamado Nate River. Esse, entretanto, pareceu-me mais inteligente que o mais velho, apesar da diferença de idades.

      Tinha certeza que, se algo acontecesse comigo, eles viriam a tomar meu lugar.

      Estarei certo...?

      (...)

      Escola. Com certeza, o lugar mais terrível que pode existir. Apesar de não ter freqüentado uma – não precisei – sabia que o conhecimento que dali exalava era puramente mecânico. Estavam formando máquinas! O que esperar disso?

      Watari comprou-me um apartamento. Ele possuía dinheiro. Muito, por sinal. Perguntou-me se eu ficaria bem ali. Creio que sim, afinal, um jovem super-dotado – por que tanta ênfase no “super-dotado”? – de quase vinte anos sabia se virar. Deixou-me e retornou ao orfanato.

      Realmente, encontrava-me só. Totalmente só. Precisava achar um meio de repartir meus “dons” com alguém.

      Em um dia chuvoso como outro qualquer, subi até a cobertura – avisei que Watari possuía dinheiro – e fiquei lá, quieto, apenas sentindo e observando a chuva. Algo tão frio... mas que lavava meu espírito. Ainda não tinha conversado com ninguém do “lado de fora”. E não sabia como fazer isso.

      Ora, vejam só, um super-dotado que não sabe o que fazer...

    

Um tanto irônico, não acham?

Senti a água escorrer por entre meus cabelos e meu rosto, e o vento tornava tudo um tanto mais frio. Fechei os olhos. E ali permaneci, não sei por quanto tempo. Até que um barulho chegou aos meus ouvidos.

Sirenes policiais. Luzes vermelhas e azuis exalavam pelas ruas. Limitei-me a inclinar-me sobre as grades da cobertura, e observar tudo lá de cima.

Patético. Conhecia a incompetência policial. Muitas vezes, casos judiciais me pareciam tão óbvios, mas eles erravam.

Sempre erravam.

Que justiça seria essa?

Justiça...

Essa palavra atravessou meu ser àquela hora, enquanto a chuva diminuía seu ritmo. Eles não eram capazes de fazer a justiça. Mas, se uma mente mais “poderosa” trabalhasse com outras, tão mais fracas e incompetentes, talvez... a justiça poderia ser feita.

Foi a primeira vez que sorri com sinceridade. Ainda olhando para as viaturas, a se distanciar, e observando as gotas de água que caíam em minhas mãos, apoiadas sobre o parapeito da cobertura.

Era hora de me mostrar ao mundo.

“Mostrar”, claro.

Pois como qualquer detetive que se preze, a identidade é a marca mais importante da profissão. Portanto, deveria ser preservada.

Um dia antes de começar minhas investigações, em paralelo com a polícia, sai. Sim, saí. Fui a uma praça qualquer. Sentei-me em um banco. Era fim de tarde, e algumas crianças brincavam por ali. Uma chegou perto de mim. Bem inocente, perguntou-me o que fazia ali sozinho.

- Só estou observando vocês. – Respondi.

- Não quer um pedaço do meu bolo? Eu mesmo fiz!

- Você fez? Pois bem, eu experimentarei...

O gosto não era muito bom, mas tinha uma aparência tentadora. Afirmei que estava delicioso, e ela saiu risonha, para contar aos amigos o seu feitio. Quando retornou para me apresentar a eles, infelizmente, eu já havia partido.

Novamente, era hora de me trancar para todos.

E mostrar que a justiça sempre vence...

(...)

Adotei um pseudônimo muito simples. Uma letra apenas. “L”. Não tinha muita criatividade em relação à isso, então apenas resolvi reprimir meu nome em uma letra só. Era assim que me apresentava a outros profissionais da justiça. Com o tempo, Watari veio trabalhar comigo. Achou realmente brilhante a minha idéia de combater o crime.

Senti-me feliz com isso.

Apesar de não parecer.

Rapidamente, a minha facilidade em resolver casos complicados, antes impossíveis de serem solucionados, espalhou-se pelo mundo. Hora eu encontrava-me na Inglaterra, com a famosa “Scotland Yard”. Hora, estava nos EUA, em parceria com o FBI.

Todos achavam que eu era um homem formado, mais velho, maduro. Não sei. Sou apenas um jovem estranho de quase vinte anos. Sabia que se me revelasse para alguém, rapidamente perderiam o crédito comigo. Então, permaneci oculto, apenas como L.

Tomei outros pseudônimos, como Ryuuga, Erald, Danuve. Revelar meu nome era absolutamente arriscado. Mas isso nunca me foi necessário.

Nem quando tudo mudou em minha vida.

E eu fiquei sabendo de estranhas mortes que viam ocorrendo no Japão.

Caso “Kira”. Assim ele foi chamado. Não eram mortes espontâneas. Eram assassinatos. Mas ninguém percebeu isso. Nem Watari. Simplesmente, tantas coisas em comum, umas com as outras, só poderiam ser pensadas por alguém tão ou mais inteligente do que eu.

Mesmo assim, algo ainda era inexplicável.

Apesar de tudo que eu já havia descoberto sobre o tal Kira, ainda havia uma coisa indecifrável.

E não vi outra escolha a não ser mostrar meu rosto.

- Watashi wa L desu... - Revelei-me, sem muito entusiasmo.

Viram só? De fato, eles estranharam. Como um mero garoto como eu, com uma simples camisa branca, uma calça jeans e olheiras – não costumava dormir, enfim – poderia ser o famoso e brilhante detetive L? Tudo bem, isso não me impressionou.

Depois de todas as armadilhas, todas as investigações junto àquele grupo de policiais, cheguei em um ponto ainda mais complicado. Um ponto chamado Yagami Raito. E um deus da morte.

Como algo assim poderia existir?

Um jovem, da mesma idade que eu, e tão quanto inteligente revelou-se inocente para nós, querendo entrar na investigação. Algo nele despertou minha desconfiança, e depois de tudo, cheguei a concluir que ele era Kira. Mas como provar?

Persuadir Misa?

Ela parecia ser absolutamente idiota. Mas parecia, apenas.

Misa estava envolvida em tudo. Amava Raito. Uma paixão doentia e platônica. Talvez, aí estava uma coisa que eu não podia compreender...

Amor...

E enxerguei nisso uma forma de aproximar-me de Raito. Estudei cuidadosamente seus passos, “uni-me” a ele, vivi como ele.

Descobrindo assim quem era o autor de todas aquelas mortes.

Um caderno preto, chamado Death Note. Os nomes ali escritos levariam as respectivas pessoas à morte... do jeito em que o dono do caderno julgasse ser “melhor”.

E um deus da morte...

Afinal, eles existiam...

Parece uma história sem fim. Sem erros. Sem resultados.

Não...

Na verdade, até um super-dotado erra.

E o meu maior erro foi confiar demais nas pessoas.

Nunca havia feito isso antes. Por que agora? Por que acreditar, quase que cegamente, em sentimentos?

- Eu não acredito que Raito-kun seja Kira. Mas se ele for, estarei com um sério problema. Porque Raito-kun... é o primeiro amigo que tive em toda minha vida...

Eram palavras verdadeiras. E sei que ele não deve ter acreditado. Mas pareceu confirmar...

- Você também é um ótimo amigo, Ryuzaki...

Foi o que proferiu.

E nesse exato momento, o jogo havia terminado para mim.

Sem poder provar realmente que Raito era Kira, mesmo que com 0,5% de chances – e se há chances, mesmo que pequenas, há a possibilidade de estarem corretas – arquivei meus conceitos sobre ele.

Agora, posso ver que estava certo.

Ouço sons. Não sei direito o que é. Parecem badaladas, sinos de... igrejas? Outro som... mais suave. Um piano? Poderia ser.

Por que estou vendo um cemitério à minha frente? Está frio... está chovendo...

Estou... com medo.

Sinto meu peito doer. Meu coração está diminuindo aos poucos seu ritmo. Não consigo mais me controlar. Caí. E agora estou ao chão, com ele a me observar.

A gritar meu nome.

Tão inutilmente.

Sim, é isso. Meu fim...

Seu sorriso sarcástico é enojante.

Seus olhos parecem deliciar-se com a expressão de meu rosto – que provavelmente está horrível.

Aqui, agora, depois de toda minha vida ter passado sobre meus olhos, eu tenho minha última descoberta...

Raito era verdadeiramente Kira...

Espero que Nate e Mihael não cometam o mesmo erro que eu...

Deixo às mãos deles o destino desse caso...

Meus olhos pesam. Querem fechar, indo contra minha vontade. Mas é mais forte que eu. O que posso fazer...?

Deixarei com que se cerrem.

Acabando de vez com todas as imagens que agora eu revi...

Simplesmente... manchadas de sangue...

Antes... minhas últimas palavras?

Fim de jogo...

L. Lawliet


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Notas finais do capítulo

L! Volteeeeeeee T-T
Enfim ♥~~

Gostaram?
Reviews? Recomendações? /morre

Tks a todos *-*
Nandah~