Entre Dois Mundos escrita por Katara


Capítulo 1
Capítulo 1




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"Começamos a morrer no momento em que nascemos, e o fim é o desfecho do início."

Marcus Manilius

A luz quente e brilhante beijou-lhe a pele, fazendo-a acordar. Ao abrir os olhos deparou-se com o céu azul que irradiava paz e serenidade, no alto o sol brilhava no seu esplendor e uma brisa corria solta.

Ergueu-se e viu um enorme prado, coberto de flores brilhantes e coloridas borboletas, ao longe risos misturavam-se com o som da água.

Tentou dar um passo mas estava presa, quando olhou para os seus pés, uma mão cadavérica agarrava os seus tornozelos e puxou-a para baixo. O grito ficou preso na sua garganta e fechou os olhos com toda a sua força.

Sentiu o seu corpo chocar contra algo e um vento gélido percorreu-lhe todo este, ganhando coragem abriu os olhos, para se deparar com um enorme portão negro coberto de esqueletos.

Este abriu-se, mostrando as labaredas que ardiam no seu interior e podia-se ouvir vozes arrepiantes e angustiadas.

Voltou a cabeça e uma luz demasiado intensa apoderou-se dela.

Quando abriu os olhos, estava num escritório.

Coberto de estantes cheias de livros que pareciam terem séculos de existência e no centro uma enorme secretaria e no meio um enorme livro negro de folhas brancas, por trás uma lareira aquecia aquela divisória.

- Senhorita Kaysa. – A voz soou acusatoriamente, vinda de lugar algum, fazendo-a pular. A cadeira voltou-se e um homem vestindo um fato impecável sorriu. – Bem-vinda ao Purgatório.

**

Três horas antes.

A chuva caía calmamente do céu cinzento, o vento uivava por entre ás árvores, agitando-as violentamente. Ao longe podia ouvir-se o som do mar agitado, que desbaratava furiosamente as rochas que se erguiam majestosamente.

Naquele lugar que onde a terra se acaba e o mar começa.

Ela olhava para o infinito, para a paz e serenidade que aquele lugar inspirava e deixou que todos os seus pensamentos se evadissem para um recanto qualquer da sua mente.

Naquele momento ela era livre e pertencia só a ela, não existia mais ninguém, não existiam problemas mundanos ou crises existenciais, não sentia sentimentos indesejados ou até mesmo desejados, apenas o enorme vazio.

Deixou as lágrimas correrem livremente pela face. Respirou fundo. Abriu os seus braços. Deu um passo.

- Kaysa, isso é perigoso. – Sentiu a voz sussurrada ao seu ouvido, uma voz rouca e reconfortante. Abriu os olhos e deparou-se com uns olhos cinza. Sorriu.

- Vamos para casa?

Ele sorriu para ela. A sua luz. A sua esperança. A sua respiração. A sua alma gémea. O motivo pelo qual vivia.

Deram as mãos e afastaram-se daquele lugar que era tudo e nada, que era o princípio e fim.


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