Entre Dois Mundos escrita por Katara
"Começamos a morrer no momento em que nascemos, e o fim é o desfecho do início."
Marcus Manilius
A luz quente e brilhante beijou-lhe a pele, fazendo-a acordar. Ao abrir os olhos deparou-se com o céu azul que irradiava paz e serenidade, no alto o sol brilhava no seu esplendor e uma brisa corria solta.
Ergueu-se e viu um enorme prado, coberto de flores brilhantes e coloridas borboletas, ao longe risos misturavam-se com o som da água.
Tentou dar um passo mas estava presa, quando olhou para os seus pés, uma mão cadavérica agarrava os seus tornozelos e puxou-a para baixo. O grito ficou preso na sua garganta e fechou os olhos com toda a sua força.
Sentiu o seu corpo chocar contra algo e um vento gélido percorreu-lhe todo este, ganhando coragem abriu os olhos, para se deparar com um enorme portão negro coberto de esqueletos.
Este abriu-se, mostrando as labaredas que ardiam no seu interior e podia-se ouvir vozes arrepiantes e angustiadas.
Voltou a cabeça e uma luz demasiado intensa apoderou-se dela.
Quando abriu os olhos, estava num escritório.
Coberto de estantes cheias de livros que pareciam terem séculos de existência e no centro uma enorme secretaria e no meio um enorme livro negro de folhas brancas, por trás uma lareira aquecia aquela divisória.
- Senhorita Kaysa. – A voz soou acusatoriamente, vinda de lugar algum, fazendo-a pular. A cadeira voltou-se e um homem vestindo um fato impecável sorriu. – Bem-vinda ao Purgatório.
**
Três horas antes.
A chuva caía calmamente do céu cinzento, o vento uivava por entre ás árvores, agitando-as violentamente. Ao longe podia ouvir-se o som do mar agitado, que desbaratava furiosamente as rochas que se erguiam majestosamente.
Naquele lugar que onde a terra se acaba e o mar começa.
Ela olhava para o infinito, para a paz e serenidade que aquele lugar inspirava e deixou que todos os seus pensamentos se evadissem para um recanto qualquer da sua mente.
Naquele momento ela era livre e pertencia só a ela, não existia mais ninguém, não existiam problemas mundanos ou crises existenciais, não sentia sentimentos indesejados ou até mesmo desejados, apenas o enorme vazio.
Deixou as lágrimas correrem livremente pela face. Respirou fundo. Abriu os seus braços. Deu um passo.
- Kaysa, isso é perigoso. – Sentiu a voz sussurrada ao seu ouvido, uma voz rouca e reconfortante. Abriu os olhos e deparou-se com uns olhos cinza. Sorriu.
- Vamos para casa?
Ele sorriu para ela. A sua luz. A sua esperança. A sua respiração. A sua alma gémea. O motivo pelo qual vivia.
Deram as mãos e afastaram-se daquele lugar que era tudo e nada, que era o princípio e fim.
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