Cheque-mate escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único




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– Vamos jogar xadrez? – Yumi largou o tabuleiro de vidro fechado, com as peças guardadas, em cima da mesa de jantar. Zero estava comendo pacificamente e ergueu os olhos estreitos na direção da ruiva.

– Não vê que eu estou jantando? – O rapaz bebeu um gole de suco. Yumi deu de ombros enquanto abria o tabuleiro e distribuía as peças brancas.

– Sim, não sou cega – pôs a rainha e o rei. – Tô falando depois que você terminar.

– Ainda tenho que lavar a louça e guardar.

– Meu Deus, garoto, você é muito chato. Deixa isso pra depois!

– Uma partida de xadrez pode durar horas... – Ele terminou de comer, agradeceu pela refeição em voz baixa e levantou-se para levar as coisas até a pia. Yumi revirou os olhos e continuou ajeitando as peças, ouvindo-o colocar a louça embaixo da torneira e despejar um pouco de água por cima. Ficou pensando, entediada, se ele ia lavar mesmo a louça antes de qualquer coisa, mas... O garoto acabou retornando à mesa.

– Mudou de ideia?

– É, eu não vou demorar muito fazendo isso, mesmo.

Yumi estreitou os olhos. Ele estava duvidando das capacidades mentais dela no xadrez, por acaso? Hunf, a estava subestimando, como sempre, aquele idiota. A ruiva pigarreou, fingindo ignorar o que ele havia dito, e terminou de organizar as peças.

– Quer começar? As brancas saem – Zero disse, sentando-se na cadeira ao lado dela, na mesa redonda. Yumi ajeitou o tabuleiro e aceitou a “gentileza” dele, muito embora ele talvez estivesse agindo como se ela fosse burra novamente. Mas, é claro que a ruiva não ia se jogar num desafio como aquele sem pelo menos saber onde estava pisando. Ela sabia jogar xadrez, e jogava bem.

Eles foram empurrando peões e perdendo alguns. Básico. Zero notou rapidamente que Yumi tinha um estilo de jogo agressivo, jogando as peças mais fortes logo para frente de uma vez, tirando várias peças pretas do tabuleiro com facilidade.

Ele não era genial naquele jogo. Sabia como fazer, tinha algumas estratégias simples, mas nada de mais. Nunca tinha feito parte do clube de xadrez nem nada, de qualquer forma. Não que Yumi tenha feito isso, mas enfim.

Bem. O que todo mundo sabe é que, muitas vezes, um jogo de xadrez inocente como aquele pode acabar pacificamente com um cheque-mate épico, mas também pode terminar em aborrecimentos. Principalmente quando duas pessoas não se dão exatamente bem, como no caso de Zero e Yumi.

– Você tá roubando. – Ele reclamou quando ela tirou uma torre preta do tabuleiro.

– Não tô, não! Eu sei jogar melhor que você, aceite isso. – A ruiva fez pouco caso e esperou a jogada dele, que demorou a vir. O vampiro não estava muito confiante de nada do que fazia a partir daquele momento, mas podia tentar uma estratégia diferente.

As jogadas seguintes mudaram o curso do jogo e eles acabaram empatando na quantidade de peças de cada um no tabuleiro. – Acho que você quem tá roubando agora, tirou essa esperteza de onde, de repente?

Zero ignorou, como se ela não tivesse dito absolutamente nada, e continuou pensando na sua próxima jogada após Yumi mexer um cavalo. Estava perto demais do rei, era perigoso. Ok, tinha que pensar em alguma forma de interceptá-lo, tinha... Ah, tinha um bispo.

Foram jogando um pouco mais até Yumi bater o cavalo perto do rei. – Cheque.

Ele mexeu o rei para o lado e o jogo continuou. Até ela bater sua própria dama perto do rei dele novamente. – Cheque.

O vampiro estreitou os olhos, aborrecido, porque teve que mexer o rei novamente. Tinha que ter um jeito de sair daquilo, tinha... Não era possível. O próximo movimento das peças brancas não resultou em nada grave, pelo menos não rapidamente. Logo, foi Zero quem pôs um cavalo próximo do rei. – Cheque.

Yumi rosnou, e tirou o rei. Eles continuaram jogando, e jogando, por muito tempo, até que Zero deu uma empurradinha no rei dela com o bispo. – Cheque-mate.

A ruiva trincou os dentes e levantou com tudo da cadeira que ocupava, quase derrubando tudo no chão. Zero sobressaltou-se por um instante. – O que você fez? Roubou! – Acusou ela, apontando pra ele. O garoto se levantou e olhou-a de cima, pronto para se defender, porque não havia roubado nada. Na realidade, foi um golpe de sorte, mesmo. Yumi provavelmente estava ficando entediada com a partida longa e se distraiu.

– Não seja má perdedora. – Ele a olhou seriamente.

Yumi estava com os olhos verdes estreitando-se mais na direção de Zero; os cabelos ruivos pendiam soltos, espalhados pelos ombros e por cima da camisetinha branca que ela vestia.

E Zero ultimamente vinha tendo uma fragilidade muito grande diante do cheiro que ela tinha. Não era proposital, era só...

E quando ela ficava nervosa, o sangue corria ainda mais rápido nas veias por debaixo da pele. Ele quase podia ver aquele líquido fluindo. Saltava perto da jugular, por conta da alteração da voz, gerando nele uma tentação terrível. Ela continuou reclamando, falando que ele havia roubado, trapaceado, sei lá o que mais, e os olhos lilases de Zero conseguiam apenas olhar aquela veia pulsando no pescoço.

Yumi parou de falar quando percebeu que ele tinha os olhos fixos num ponto só. E era um ponto perigoso.

– O que está pensando, Zero? – Yumi projetou a cabeça para frente em tom de deboche. – O que você tá olhando, hein?

– Nada. – Ele virou-se bruscamente para começar a guardar as peças de xadrez no tabuleiro dobrável novamente. A ruiva não se satisfez com aquela resposta, é claro. E ao invés de deixar para lá, ela bateu a mão na mesa, fazendo-o parar o que estava fazendo e fechar os olhos, buscando paciência. – O que você tá pensando?!

– Que você roubou, quero revanche.

– Não quero mais, eu preciso lavar a louça.

Ele fechou o tabuleiro e deixou sobre a mesa. Tencionou ir para a cozinha, mas acabou parando no meio do caminho, porque um cheiro muito forte de sangue alastrou-se pela sala inteira. Aquele aroma secou sua garganta e fez o coração retumbar violentamente, jorrando sangue por todas as veias.

– Merda – Yumi pôs o dedo na boca. – Tabuleiro idiota. Eu sabia que devia ter pegado um de madeira ao invés de vidro, quem foi que lascou essa ponta?

Zero segurava a garganta e sacudiu a cabeça violentamente, dando passos pesados para fora da sala. Ela estava brincando com ele, por acaso? Foi de propósito, não foi? Se cortar assim, do nada, ainda mais na presença dele, só podia ser provocação.

Ele ficou parado no corredor, procurando se acalmar, quando Yumi saiu dali, e passou trombando nele para levar o tabuleiro de volta para o quarto. Ela estava com o dedo na boca, estancando o sangue, então o cheiro havia ficado um pouco mais suave.

Quando Zero já estava mais tranquilo, a ruiva apareceu com um pequeno esparadrapo tapando o corte no dedo. Não foi nada de mais, mas não estava parando de sangrar.

– Você está bem, Zero? – Yumi cruzou os braços e ficou olhando para ele. O vampiro tentava concentrar-se em lavar a louça, mas havia por ali um misto de aromas e sensações que não o permitia sequer prestar atenção nos pratos para evitar quebrá-los.

Ela ficou parada por um instante e só reagiu quando Zero a pegou com força pelos ombros e a empurrou na direção do balcão do outro lado da cozinha. Yumi se assustou e tentou empurrá-lo, mas a força de Zero parecia ter duplicado. Ou algo do tipo. Ou talvez ele apenas não estivesse sendo complacente com ela.

Ele piscou os olhos um único segundo e aquele tom escarlate dominou a íris por completo. Yumi arregalou seus próprios olhos. Sabia que ele ficaria afetado com aquilo, mas não havia feito mesmo de propósito. E, de qualquer forma, ela não era do tipo de ficar se oferecendo.

Zero a olhou intensamente nos olhos por um instante. As mãos branquinhas embrenharam-se nos fios vermelhos, e ele afastou os cabelos dela para trás, procurando deixar o pescoço exposto. Ela ficou parada, talvez se sentido um pouco na obrigação, já que havia se cortado e dado o estopim para que ele ficasse com sede assim, de repente.

Ele levou uma mão à lateral do rosto dela, segurou por um instante e aproximou os lábios. Não do pescoço, mas da boca da ruiva.

Instintivamente ela fechou os olhos quando sentiu que ele estava próximo o bastante para beijá-la, e foi isso que ele fez. Tocou os lábios de leve, sem forçar, sem língua, sem dentes se batendo. Até porque os caninos dele estavam saltando, podiam machucá-la gravemente. Pressionou um pouquinho mais apenas na hora em que se afastou e deixou a boca escorregar pelo rosto até a curva do maxilar, e finalmente ao pescoço.

Yumi estava atordoada demais para se incomodar realmente com o fato de ele fincar os caninos afiados em seu pescoço. Doeu um pouco, mas ela já estava familiarizada com o incômodo. Era uma garota forte.

Ela soltou o ar, um pouco incomodada, quando ele tirou os dentes da carne do pescoço e segurou os pequenos furinhos com a mão, estancando o ferimento com ela. Yumi ergueu a cabeça mais para trás e Zero curvou o corpo, roçando os lábios úmidos de sangue na parte da frente da garganta da ruiva. Os cheiros do sangue e do perfume se misturavam com um apelo atrativo grande demais, era tortura.

Zero subiu a boca para o queixo dela e Yumi segurou os pulsos dele com suas mãos.

– Isso foi trapaça... – Disse ela num tom baixo, revirando os olhos. Entender porque cedia ou não a ele era difícil, mas Yumi sentia que no fundo ela... Simplesmente acabava gostando dele. De um jeito esquisito, talvez. Mas seu coração disparava estando tão perto, era sem querer. Não era controlável.

O vampiro a olhou nos olhos mais uma vez, agora com suas íris de volta à cor natural e o corpo mais relaxado. Um filete de sangue escorria no canto da boca, e isso atraiu os olhos verdes da garota.

– Talvez. Mas eu não costumo trapacear em nada.

– Mentiroso.


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