Louise Knight

 Assim que demos o primeiro passo para dentro da Floresta, senti um vento frio que fez todo meu corpo arrepiar.

 Uma neblina fina cobria todo o chão da Floresta. Os únicos sons que podíamos ouvir claramente além de nossa respiração era o som das folhas batendo uma nas outras de acordo com o vento. Parecia uma sinfonia sinistra, uma trilha sonora macabra para nossa jornada insana.

 Logicamente eu estava morrendo de medo, mas mesmo assim fui com Scorpius e Tiago na frente. Mantínhamos nossas varinhas em punho e olhávamos para todas as direções. Líllian e Alvo traziam com sigo lanternas que ajudam a nos guiar pela escuridão. Tentávamos não fazer barulhos altos ou qualquer outra coisa que chamasse atenção, mas foi inevitável.

 Depois de quase quinze minutos de uma caminhada lenta, ficamos de cara com o que parecia ser um animal feroz. Ele era grande e possuía pelos negros e arrepiados. Seus olhos eram amarelos e quase humanos. Ele rosnou para nós.

 - Não façam absolutamente nada. – Tiago nos alertou com a voz tão baixa que parecia um sussurro.

 O animal nos olhou mais uma única vez antes de se virar e entrar floresta adentro.

 Suspirei pesadamente e fechei os olhos.

 - Eu acho que não foi uma boa ideia termos vindo. – Rose Weasley disse com a voz trêmula.

 - Não estamos tão longe assim do Castelo. – Scorpius disse com a voz calma. – Se você quiser voltar, pode ir. Eu vou continuar. – completou dando um passo à frente.

 - Você está tentando se matar? – a ruiva perguntou abaixando a voz. – Aquela coisa nós deixou, mas e o próximo? Será que vai ser tão simpático?

 - Já disse, se você quiser voltar, pode ir. Eu vou continuar. – meu primo disse com a voz ainda calma.

 Nós ficamos em silencio enquanto ele continuava a caminhar lentamente. A ruiva Weasley suspirou e abriu o mapa. Ela o contemplou por longos segundos e disse:

 - Temos que ir mais para o sul. Se andarmos em linha reta nessa direção, poderemos sair mais rápido da Floresta se for preciso.

 - O sul fica naquela direção, certo? – Luke perguntou indicando a direção oposta ao sul, o norte.

 - O sul fica naquela direção. – Líllian disse pegando em sua mão e indicando-lhe a direção certa.

 Assim que percebeu o que havia feito, ela corou fortemente e soltou sua mão.

 - Tinha que ser loiro. – Líllian comentou revirando os olhos. – Quando eu imaginaria que um dia eu entraria na Floresta Proibida com vocês pra procurar por Bianca Black? – comentou enquanto seguia Scorpius.

 - Quando eu imaginaria que teria que passar mais de dois segundos tendo que ouvir essa sua voz irritante? – Luke rebateu fazendo-a corar.

 A ruiva não disse mais nada, o que fez Luke sorrir. Continuamos caminhando em silêncio por um longo tempo, até que paramos para tomar água.

 - Estamos longe do centro da Floresta? – Alvo perguntou tomando um longo gole de sua água.

 - Bastante. – Rose respondeu olhando em seu mapa.

 - Deveríamos descansar um pouco. – Noah sugeriu tirando sua mochila das costas.

 - Ele tem razão. – eu disse concordando com o garoto.

 Me sentei em um tronco velho e retirei a mochila de minhas costas. Movimentei um pouco meus ossos e me alonguei. Os outros me olhavam de um jeito um pouco estranho.

 - Não quero distender nenhum músculo. – eu disse.

 Tiago Potter sorriu descaradamente antes de virar o rosto e concentrar sua atenção em sua mochila. Me sentei e observei meu irmão olhar para o nada.

 - Hey, Luke! – eu disse chamando-o.

 Ele virou seu rosto para mim.

 Todo meu corpo se arrepiou ao ver aquilo. Na altura de sua cabeça, alguns metros longe, alguma coisa se movimentava. Antes mesmo que eu pudesse respirar, Luke estava no chão e a coisa avançava em nossa direção, vindo diretamente para mim.

 Em questão de segundos, a massa peluda havia avançado da escuridão até mim, me jogando e prendendo no chão. O enorme animal tentou me morder, mas algo o deteve. Ele apenas passou sua enorme garra em meu braço, deixando uma marca dilacerante. Gemi ao me levantar.

 Scorpius e Alvo tentavam distrai-lo para que pudéssemos correr. Percebi que Luke mantinha Líllian e Rose atrás de si enquanto Tiago e Noah corriam para ajudar os outros dois. Eu não conseguia fazer muito, meu corpo estava pesado e minha visão estava começando a ficar turva.

 Eu estava prestes a tirar minha varinha do bolso quando senti algo batendo contra meu corpo com força.

 - Droga! – escutei Tiago dizer entre os dentes.

 Fechei os olhos com força e, quando voltei a abri-los, já podia ver melhor. Empurrei Tiago para o lado e puxei minha varinha do bolso da calça.

 - Hey, coisa feia, por que não brinca com alguém do seu tamanho? – eu disse lançando um feitiço em suas costas.

 A massa peluda se virou pra mim e mostrou seus compridos e pontiagudos dentes. Avançou em minha direção com as garras preparadas para o ataque, mas me desviei. Percebendo que não havia me acertado, o animal se jogou contra mim. Senti novamente seu peso esmagando todas as partes de meu corpo. O empurrei de cima de mim.

 Ele me cercava para um próximo ataque. Scorpius lançou um feitiço que pegou no alto de sua cabeça. Ele gritou algo para mim, mas não consegui ouvir. Na verdade, não conseguia escutar nada que não fosse o rugido do animal ainda desconhecido.

 Meu corpo estava começando a pesar, eu sentia que podia desmaiar a qualquer instante. Tiago me empurrou para o lado, me protegendo de um ataque.

 Ele me olhava com a expressão apavorada.

 - Você está muito pálida. Ele te mordeu? – perguntou.

 Não tive oportunidade de continuar, o animal o puxou pelo pé o jogou longe.

 Minha visão tornou-se vermelha. Pude vê-lo avançar para cima de meu irmão. Me levantei e peguei minha varinha jogada no chão. Naquele instante, eu não estava pensando em mim ou na dor que eu estava sentindo. Pensava somente em proteger meu irmão e, de alguma forma, me vingar daquela coisa.

 - Avada Kedavra! – eu gritei.

 Senti como se uma parte de meu corpo fosse despregar e ser pulverizada. Logo depois de haver dito o feitiço, cambaleei para a esquerda e cai no chão. Meus olhos se fecharam por longos cincos segundos e quando voltei a abri-los tudo estava diferente.

 Scorpius estava em minha frente, sorrindo.

 - Você é bem corajosa. – ele disse.

 - E estupida! – escutei Luke gritar de algum lugar.

 - Onde estamos? – perguntei sentindo uma dor horrível em meu ombro esquerdo.

 - Ainda estamos na floresta. – ele respondeu.

 - Só que fizemos uma fogueira e lançamos alguns feitiços ao nosso redor. – Rose Weasley disse aparecendo atrás de meu primo.

 - O que aconteceu? O que era aquilo? – perguntei tentando me levantar, mas senti meu ombro doer novamente.

 - Aquilo era um lobisomem e você o matou. – Scorpius disse pausadamente.

 - O quê? – perguntei ficando um pouco tonta.

 - Fique tranquila, ele não te mordeu! – meu primo disse. – Apenas te arranhou.

 Olhei para meu ombro e vi algumas bandagens ensopadas de sangue. Me perguntei se algum dia aquela dor passaria, mas me lembrei do que Matthew Johnson, um garoto da Durmstrang, havia me dito dois verões atrás.

 “Você pode se recuperar de qualquer ferimento, menos de um provocado por um lobisomem.”

 Suspirei. Tentei me levantar novamente, ignorando a tontura e a dor. Olhei ao redor. Todos me encaravam como se eu fosse algum tipo de aberração. Ótimo! Eu já era uma antes, agora sou uma aberração dupla! Grunhi.

 - Hey, sua estupida! – Luke gritou.

 Olhei para ele.

 - Eu achei uns salgadinhos na mochila da Weasley, você quer? – perguntou.

 - Você mexeu nas minhas coisas? – a ruiva disse corando.

 - Eu estou com fome! – meu irmão disse se defendendo.

 - Isso é motivo para você mexer nas coisas dos outros? – Rose disse pondo as mãos na cintura.

 - É! – Luke disse.

 - Dá pra calar a boca? – perguntei sentindo minha cabeça latejar.

 - Desculpe. – a ruiva pediu baixando um pouco a cabeça. – Você salvou nossas vidas, e veja como retribuímos.

 - Se não fosse por você estaríamos mortos. – Noah disse sentando perto da fogueira.

 - Obrigada. – Alvo disse sorrindo.

 O garoto cutucou sua irmã. Ela olhou para mim, suspirou e disse:

 - Obrigada, Louise.

 - Não foi nada. – eu disse.

 Movimentei algumas partes de meu corpo, mas doía muito. Desisti e dei alguns passos. Minhas pernas doíam, mas não tanto quanto meu ombro.

 - O que ainda estão fazendo aí, parados? – perguntei.

 - Bem, enquanto você estava inconsciente, decidimos que vamos deixar essa “busca” para pessoas mais experientes. – Rose Weasley disse.

 - Hein? – eu disse confusa.

 - Você quase morreu. – Tiago disse se levantando de perto de uma árvore.

 Não o havia visto até aquele momento. Ele também possuía um arranhado que ia do início de seu pescoço até seu ombro.

 - E daí? – perguntei.

 - E daí? – ele repetiu incrédulo. – Você tem ideia do que sentimos quando aquela coisa pulou em cima de você? Você acha que é divertido pensar que quase te perdemos? Que você se sacrificou por nós? – ele dizia enquanto se aproximava.

 - Você não percebeu, não foi seu idiota? – eu disse corando. – Minha vida não tem tanta importância, ela é um lixo mesmo! Mas Bianca precisa de nós!

 - De que me importa você não querer viver? Existem outras pessoas que querem que você viva, sua estupida! – ele gritou. – Como acha que sua mãe vai se sentir?

 - Minha mãe morreu! – eu gritei.

 - E você quer fazer companhia a ela? – ele disse abaixando o tom de voz.

 - Tiago, me escute. – eu disse mais calma. – Aquela coisa veio diretamente na minha direção, ela sabia quem eu era.

 - Por Merlin! – Rose exclamou. – Agora faz sentido! O lobisomem veio atrás de nós por que estamos perto de Bianca!

 - Isso mesmo! – eu disse me virando para ela. – Se conseguirmos seguir o rastro que ele deixou quando veio até nós, podemos encontrar Bianca mais rápido! – completei.

 - Olhe pra mim. – Tiago disse me fazendo olhar para ele. – Você não está em condições de andar. Então, leia meus lábios, nós não vamos.

 - Você não manda em mim, senhor bombado. – eu disse encarando seus olhos claros.

 - Quer uma? Vá e morra! – Tiago disse. – É isso que você quer não, é? Morrer? Então vai!

 Ele voltou até onde estava sentado antes e virou suas costas para mim. Suspirei. Me voltei para Rose e Scorpius.

 - Então? Nós vamos atrás de Bianca ou não? – perguntei.

 Eles vacilaram.

 - Escute Louise, - meu primo começou. – não quero que ninguém se machuque, então...

 - Você vai deixar Bianca? Sua melhor amiga? Quem sempre te apoiou nas coisas mais insanas? Quem te ensinou a tocar guitarra? – perguntei. – Eu tenho certeza que ela não te abandonaria. – completei.

 - Louise... – Rose Weasley disse chamando minha atenção. – Eu e seu primo vamos conversar sobre isso, tudo bem? Enquanto isso, por favor, sente e descanse. – pediu.

 Concordei com a cabeça. Voltei até a cama improvisada que haviam feito para mim. Me sentei e olhei para o lugar onde Tiago estava.

 Me senti mau por ter gritado com ele, mas não dei o braço a torcer. Não sou acostumada a voltar atrás em minhas decisões. Fiquei ali, pensando no por que estava tão chateada com Tiago, quando Scorpius e Rose foram até o moreno. Eles conversaram com ele por um bom tempo, até que Tiago se levantou e veio até mim.

Bianca Black

 Quando consegui abrir meus olhos novamente, havia luz. Não sabia qual era sua origem, mas ela existia. A mulher loira andava de um lado para o outro em minha frente. Ela estava nervosa e ansiosa com algo, pude perceber por sua expressão.

 Olhei ao redor. Notei que uma fogueira queimava há alguns metros e estávamos sós.

 - Onde está seu amiguinho? – perguntei tentando me mover.

 Novamente, eu estava amarrada, só que dessa vez contra uma árvore. Minhas costas doíam e meus pés pareciam queimar. Olhei para eles. Eu ainda estava de tênis.

 - Não te interessa. – a mulher respondeu petulante.

 - Sabe, se eu não tivesse certeza absoluta que a tia Bellatrix morreu virgem, eu diria que você é filha dela. – eu disse rindo.

 - Eu me mataria antes de cogitar a possibilidade de ser filha daquela prostituta. – disse como uma criancinha teimosa.

 - Hey! Não fale assim da minha tia! – eu disse tentando mover minhas mãos atrás de mim. – Ela não era uma pessoa muito legal, mas era da família, poxa!

 - Ah, a família! – a loira disse com escárnio. – Que linda constituição! Veja o que a sua preciosa família fez comigo. Me transformou em um posso de rancor.

 Ela falava como Bellatrix, agia como ela, mas não era ela.

 - Quem é você? – perguntei.

 - Nesse momento? Sou seu maior pesadelo, little princess. – disse sarcástica.

 - O que foi que eu te fiz, afinal de contas? – eu disse perdendo um pouco do bom humor.

 - Você? Me deu uma dor de cabeça terrível. – respondeu massageando as têmporas.

 - Que ótimo! O sentimento é reciproco! Sabia que não é muito agradável levar uma pedrada na cabeça? – eu disse conseguindo mexer minhas mãos mais livremente atrás de mim.

 - Cale a boca, fedelha! – ela disse gritando.

 - Cadê seu amiguinho? – perguntei novamente olhando ao redor. – Deu no pé?

 - Não. – a loira disse sorrindo diabolicamente. – Foi cuidar dos seus amiguinhos.

 O sangue fugiu de todo meu corpo ao escutar aquelas palavras. Aqueles imbecis haviam vindo atrás de mim? Entrado na Floresta para me procurar? Não consegui esconder a raiva que eu estava sentindo. Se essa vaca não tivesse me sequestrado, agora eu estaria no castelo dormindo e, na manhã seguinte, eu levantaria e mataria Noah, aquele imbecil filho de um trasgo!

 - Acho que eu consegui calar sua boca, afinal de contas. – a loira com cara de Bellatrix disse.

 - O que você quer? – perguntei com raiva.

 - Eu quero vingança. – a mulher disse fria.

 - Por quê? Se vingar de quem? – perguntei tentando entender.

 A mulher pôs as mãos na cintura e olhou para a Floresta. Não tive coragem de fazer o mesmo, apenas fiquei esperando por uma reação dela.

 - Quando eu tinha dez anos meus pais morreram. – ela disse depois de um longo tempo.

 - Eu sinto muito, mas isso ainda não é motivo para você querer me matar. Quando você tinha dez, eu não era nem um espermatozoide! – eu disse voltando a usar o sarcasmo.

 - Você não estava viva, mas sua linda tia Bellatrix estava. E ela arruinou minha vida! – gritou chutando uma pedra. – Meu pai iria nos deixar para poder fugir com ela. Minha mãe começou a enlouquecer, foi então que sua preciosa tia apareceu. Meu pai disse que iria com ela, e ela riu como a demente que era. Mamãe não aguentou ver aquilo e lançou na direção dela a Maldição da Morte. Só que o estupido do meu pai se jogou na frente! – disse cuspindo do chão. – Vendo o que tinha feito, minha mãe se matou e eu fiquei órfã.

 - Que pena de você. – eu disse. – Mas isso ainda não é motivo. – completei.

 - Não? Vou te dar um muito bom. – disse se virando para mim. – Seu queridinho tio Draco e o imbecil do seu pai, os aurores mais competentes depois do trio Fantástico, me prenderam há doze anos. Primeira classe de Azkaban.

 - Olha, meu pai te prendeu, OK. Mas você fez algo para merecer isso.

 - Não, eu não fiz, princesa. – ela disse.

 - Ah qual é! – eu disse. – Você fez sim!

 - Eu fiz muitas coisas, pirralha, mas eu nunca deixei provas, o que significa que fui presa sem motivos. – a loira disse voltando a olhar para a floresta.

 - Por que você me trouxe pra cá? – perguntei olhando ao redor. – Só um idiota viria pra cá.

 - Exatamente. – respondeu cruzando os braços.

 - Você não pode controlar as coisas que vivem aqui, então por quê? – eu quis saber.

 - Quem disse que eu não as controlo? – respondeu com outra pergunta.

 - Tudo bem, então. – eu disse dando de ombros. – Você fala como o Bellatrix, age como Bellatrix, tem um temperamento igual ao de Bellatrix, mas odeia ela acima de tudo. Você é bipolar?

 Eu falava pelos cotovelos para poder distrai-la enquanto tentava me soltar. Eu já havia conseguido mover minhas mãos livremente. Se continuasse nesse mesmo ritmo, me livraria dessa louca logo!

 - E você é surda? Já disse pra calar a boca!

 - Só calo minha boca quando você me contar a verdade, se não, vou continuar falando. – eu disse sorrindo de lado.

 - É o seguinte: Bellatrix Lestrange, sua querida tia, queria usar meu pai para chegar até o ministro. Meu pai pensou que ela estava interessada nela e morreu tentando salvar a vida da vagabunda. Minha mãe se matou e eu fiquei órfã. Eu tentei me vingar, mas seu pai me prendeu. Sendo assim, vou acabar com a sua vida para que eu me sinta melhor. Entendeu? – perguntou.

 - Claro. – respondi conseguindo soltar uma de minhas mãos.