Chocolate escrita por Nina_Waka


Capítulo 9
8. VERMELHO SANGUE




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O silêncio reinava, porém, eu sabia que de algum jeito, eles conversavam entre si.

Pela forma que cada rosto mexia-se, os olhares e os punhos fechados com força, assustei-me ao ver Jared abaixando a cabeça, e por alguns minutos, permaneceu na mesma posição, mergulhado em seus pensamentos.

Quando seus olhos encararam-me, poderia jurar que haviam lágrimas que ele lutava para não derramar no seu rosto perfeito.

— Perdoe-me. – Falei antes que qualquer palavra fosse pronunciada.

Eu podia adivinhar o que viria agora.

‘‘ Você não deveria ter vindo aqui. ’’ Eu pensava.

Tive certeza disso, quando Jared olhou-me com um olhar que dizia a mesma coisa.

— Por favor, não faça isso. – Senti algumas lágrimas escorrendo dos meus olhos.

— Você não me deu alternativa.

— Sinto muito.

— Eu também, contudo, entenda, não posso deixar que te machuque, por saber o que eu sou.

— Ninguém vai saber. Finjo que não sei. – Ele riu, ironicamente.

— Sempre tão teimosa. – Sussurrou.

— Eu não.. n-não,posso te perder.  – O choro começou a ficar mais forte.

— Vai agradecer-me no final. Dave! – o chamou, e Dave na forma humana surgiu de trás de uma árvore.

— Vou cuidar para que Selina chegue segura. – Dave encarou-me.

— Não. – Sussurrei. – Não! – minha voz saiu alta demais. – Jared, por favor... n-não precisa ser assim. – O desespero de perdê-lo dominava-me.

Jared veio em minha direção e colocou uma mão no meu rosto.

— Disse que me amava.. – não conseguia olhar para o seu rosto.

— E amo. É por isso que estou tirando você de perto de mim, é por isso que você tem que partir.

— Mas ainda é tão cedo. – Minha voz saiu sufocada.

— Para as pessoas sempre é cedo demais, – sorriu. – entretanto, para quem ama, o tempo vai se tornando eterno. Selina, você foi a única que fez o meu tempo parar. – Sussurrou.

Assim que essas palavras foram ditas, senti algo me puxando para longe dele.

— Não!Por favor, Jared. – gritei no final. Só que fui levada para longe, em pouco tempo.

Jared e todos os outros se encontravam muito longe agora. Dave corria cada vez mais rápido. Mesmo que eu tentasse lutar. Em poucos minutos, já estava na rua em frente de casa. Fui colocada no chão e o Dave preparava-se para entrar no bosque.

— Você concorda com isso? – Gritei.

O garoto loiro parou e respondeu-me ainda de costas para mim.

— Sim, concordo. E com o tempo, você vera que é o melhor para você. – Olhou-me. – Não entre no bosque de novo. Teve sorte dessa vez. – Dave entrou depressa no bosque.

‘‘Sorte?’’ Pensei. Jared e eu não estávamos mais juntos. Isso era sorte?Eu só o queria de volta. Um amor que veio tão rápido, se tornou tão intenso, mas que foi embora tão cedo.

Ele era uma parte de mim, uma parte que faltava por muitos anos. Não era uma paixãozinha de adolescente, era realmente amor.

Ainda chorava, quando entrei em casa. Encontrava-me mergulhada em minha dor, que nem havia me dado conta que Nick tinha visitas.

— Oi, Selina. – Uma voz tímida falou.

— Olá. – Respondi com voz de choro.

Quando olhei vi que a dona dessa voz tímida era a Lila, ela estava em duvida se falava comigo.

— Sua irmã está lá em cima.

— Hum. Pode falar para ela que fui para a loja? – perguntei enquanto pegava a chave de trás da porta.

— Loja?Hoje é Domingo.

— Só fale isso, para ela, por favor. E não diga que eu estava mal. – Minhas mãos já tocavam na maçaneta da porta. Tudo o que queria era ficar sozinha.

— Posso te ajudar?

— Não, é coisa minha. Tchau.

— Tchau.

Só queria sair de casa e ir para aonde não lembrasse ele. Um lugar onde aquela história não doesse tanto.

Jared havia entrado no meu coração de um jeito sobrenatural, eu o amava muito. E sabia que não poderia mais viver sem ele. Agora que o meu grande amor havia partido, machucava-me pensar nele. Era como se cada vez que eu o lembrasse – mesmo sendo somente seus olhos, o rosto ou sua voz – parecia que eu levava uma punhalada.

Por isso, que ainda não poderia ficar em casa. Ele encontrava-se tão vivo lá. O primeiro lugar que pensei para ficar longe de sua lembrança era a loja. Não sei se teria movimento, mas se não tivesse, não haveria problemas. Teria muitos chocolates para ordenar e isso com certeza manteria minha mente ocupada.

Dirigi o mais rápido que pude, e em pouco tempo já havia chegado. Desci do carro e fiquei olhando para o nome da loja. ‘‘Doce Desejo’’ era irônico, meu único desejo nunca mais seria atendido, Jared nunca voltaria e minha vida jamais voltaria a ser doce novamente.

Virei à placa que agora marcava ‘‘aberto’’, entrei atrás do balcão, peguei algumas caixas de chocolates e comecei a separar por cores. Infelizmente, os chocolates brancos estava derretendo todos na minha boca. As lágrimas começaram a surgir e a deslizar pelo meu rosto.

Achava que vindo aqui, Jared sairia da minha cabeça. Comendo chocolate a dor sumiria, mas nada disso aconteceu. A cena dele terminando comigo não saia da minha mente e a frase: ‘‘Vai agradecer-me no final. ’’ Apertava de dor o meu coração. Como iria agradecer? Eu o amava e ele fez isso. Como eu poderia me machucar por saber o que ele era?

Essas perguntas eram exatamente as que queria evitar não indo para casa, porém, elas estavam aqui, comigo.

O sino da porta tocou. Cliente finalmente. Talvez isso me fizesse esquecer Jared, pelo menos até a hora em que eu estivesse forte,para agüentar toda a dor de novo.

— Vou levar só esses. – Uma voz doce falou. – Você está bem?

— Estou ótima. – Menti e ele percebeu.

— Não parece.

— Mas estou! – falei alto e de uma maneira grossa.

Fala sério Selina, está certo que Jared terminou com você, mas que culpa tem esse garoto.

Eu enxuguei as lágrimas, limpei a boca, levantei-me e olhei para ele.

Meu coração começou a bater forte e corei, ele não era um garoto e sim um homem. Era alto, – um e noventa e cinco, com certeza. – bem musculoso, tinha a pele clara, olhos completamente negros e o cabelo curto, na cor vermelho sangue, que estava todo despenteado. Vestia uma regata branca, – não muito justa. – uma calça preta e um tênis bem velho. Não saberia dizer a sua idade, seu corpo era uma contradição que o tornava interessante. Seu corpo era de um homem de vinte e cinco anos, mas o rosto com traços de um garoto de dezoito anos. Algo nele tornava sua aparência selvagem, talvez fosse o seu cabelo cor de sangue.

— Desculpe-me, não estou no meu melhor dia. – Falei sem graça e vermelha.

— Eu mereci isso – dava-me razão. – sou curioso, e acabo incomodando as pessoas.

— Não me incomodou. – Eu ri. Passando a mão na nunca, um sorriso lindo surgiu em seus lábios. – Você não é daqui, não é? – perguntei.

— Não, está tão na cara assim? – ele sorria.

— É que, eu me lembraria de você.

— Achou-me tão bonito assim? – nós dois rimos e coramos com a pergunta dele. – Perdoe-me. – Falou ainda vermelho. – Eu me empolgo. – Sorriu. – Meu nome é Laon.

— Selina. Então Laon, vai levar só esses? – apontei para os cinco chocolates em cima do balcão.

— Sim, hoje sim. Mas amanhã volto para comprar mais um.

— Só mais um?Não é mais fácil você comprar hoje?

— É sim, – seus olhos encararam o balcão e depois voltaram para mim. – porém, amanhã não vou ter uma desculpa, para ver você.

— Nossa.. – corei.

— Perdoe-me novamente. – Laon fez uma careta fofa. – Sabe, eu sei que é muito cedo, e você nem me conhece, mas você quer sair comigo?

— Laon, me desculpe você parece ser um cara bem legal..

— Entretanto?

— Entretanto, eu e meu namorado... Terminamos hoje e..

— Huumm, por isso você estava chorando.

— Sim. – Ri sem graça.

— Não tem problema, – olhou-me. – Faço você esquecer esquecê-lo rapidinho. – Seus olhos encaravam-me de um jeito estranho, não era mais tímido como a alguns minutos atrás.Era como Jared havia olhado-me quando quase perdeu o controle.

— É, eu não se-sei. – Gaguejei.

— Acho que esse cara gostaria que você fizesse isso. – Encarou-me. – Sabe como é, ser feliz.

Não acreditava nisso, ele realmente queria sair comigo. O mais doloroso é que Laon estava certo, Jared me deixou, ele mesmo falou que era perigoso para nós ficarmos juntos e que deveria encontrar algum garoto normal.

Lembrar que Laon não mentinha doeu-me, senti outra punhalada em meu coração e o garoto ruivo percebeu.

— Quem mandou ele deixar você. – Laon pegou minha mão. – Eu estou sozinho – sorriu. – e você também. Podemos nos ajudar.

Apenas consegui rir timidamente.

— Isso é um sim. – Segurava a minha mão e sorri novamente. – Isso quer dizer que estou certo.

Olhei para ele tentando adivinhar como fazia isso.

— E agora você quer saber como fiz isso.

— Você lê mentes? – perguntei como idiota.

— Não, mas sou bom em ler sinais corporais.

— Sério? – olhei incrédula.

— Sério, passo para buscá-la às oito horas. Tchau.

— Espere.. – Eu não consegui terminar de falar, ele já estava lá fora indo embora.

‘‘Selina, o que você fez?’’ Perguntei para mim mesma.

Não tinha problema se saísse com o Laon... É claro que tinha!Como eu iria sair com um garoto, amando outro. Nunca havia feito isso.Porém,era o que Jared queria,não era?Ele falou isso hoje cedo. – As punhaladas recomeçaram. – Falaram-me para esquecê-lo, porque iria ficar mais segura longe dele. Nós dois éramos almas gêmeas,eu conseguia sentir isso,e sabia que ele também.

E se ficasse com ele, não iria correr perigo. Quer dizer,com o tempo, acostumaria a ter um namorado lobisomem.E o Maximo que poderia acontecer comigo era ter um infarto por causa dos beijos dele.

— Oi, Selina. – A voz do Erick interrompeu meus pensamentos.

— Erick. – Não acreditava que ele finalmente resolveu aparecer, e não estava sozinho.

— Valeu por me deixar no carro, mocinho. – Jessye reclamou furiosa.

— O que vocês fazem aqui? – perguntei saindo de trás do balcão. – Não dão notícias desde sexta-feira.

— Eu liguei para você. – Erick apontou.

— Oito vezes. – Completou Jessye.

— Nosso sério?

— Sim, Erick ligou hoje cedo.

— Não estava em casa. – Abaixei a cabeça e senti as dores voltando. – Então o que deu na festa? – mudei de assunto rapidinho e Erick percebeu.

— Você não vai acreditar. – Ele apontou para a Jessye.

— O Lucas me deixou na festa. – Jessye ficou ainda mais furiosa.

— Ele a chutou, troco-a pela Rebecca. – Rebecca era a garota que sempre competia com a Jessye. Ela era oriental,não possuía uma beleza igual Ada minha amiga,mas mesmo assim tentava roubar todos os garotos da Jessye.

— Não acredito que ela fez isso de novo. – Falei surpresa.

— Fez sim. – Ela bufou. – E o pior é que aquele loiro oxigenado caiu.

— Querida, você também é loira. – Erick riu.

— É, mas o meu é natural. – Dei um sorriso.

— E você Erick? – perguntei.

— Bem.. – passou a mão nos cabelos. – Eu levei a Violet para a casa. Ela me chamou para entrar.Os pais dela não estavam.E dá para você adivinhar o resto. – Separou frase por frase e sorriu no final.

— E a sua? – Jessye começou a ficar curiosa. Não queria lembrar de sexta.Não iria entrar em detalhes.

— Eu conheci um cara.. – fui cortada.

— Isso explica o ruivão saindo daqui. – Apontou para a porta.

— Vocês o viram?

— Ele e a gague dele. – Erick olhou-me como a Nick na sexta-feira.

— Não, Laon estava sozinho. – Revidei.

— Você chama quatro brutamontes de nada?

— Só não acredito que o Lenser anda com eles. – Jessye parecia desapontada.

— Lenser, quem é ele? – perguntei sem entender.

— Ele era um bom garoto..

— Era? – interrompi.

— É, era. – Jessye respondeu triste.


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