O Novo Mundo Perdido:2094 escrita por Ravenheart


Capítulo 3
Tortura




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            Como um louco, disparei por entre as árvores na direção indicada. Folhas e galhos batiam em meu corpo, e agora não eram somente as costas que doíam; mas eu continuava correndo o mais rápido que podia. Até que, em certo ponto, tropecei em algo e meti a cara na lama... Dificilmente eu me levantaria se não fosse o barulho de tiros e os estranhos guinchos que estavam cada vez mais perto. Ofegante, consegui apoiar-me em um tronco caído e continuei em frente, mas em um ritmo muito mais lento. Minha resistência já estava no limite, eu não ia agüentar muito tempo naquela corrida desenfreada. A visibilidade estava praticamente nula, e eu já estava me arrastando pela selva ao invés de correr. A chuva agradável de outrora agora era uma verdadeira tempestade, o que dificultava ainda mais o meu avanço. Eu já nem conseguia raciocinar direito... De repente, me deparei com um vulto grande, não-humano, a uns seis metros à minha frente. Por meio do piscar de luzes dos raios, pude reconhecer aquilo: era uma das criaturas de antes, bem na minha frente, pronta para me atacar. O ser pareceu surpreso, já que hesitou por alguns segundos. Tempo suficiente para eu me jogar no chão e esgueirar-me embaixo de um tronco podre caído. A lama corria por baixo de mim como a corredeira de um rio selvagem. Eu não sabia se estava sendo perseguido ou não, mas isso já não fazia mais diferença: as dores por todo o meu corpo intensificaram-se, e minha vista começava a turvar-se...

            Dor. Meu corpo ardia e estremecia a cada movimento. Desorientação. Tudo ao meu redor parecia estar em câmera lenta. Eu já não ouvia mais o som da chuva. Fechei meus olhos, procurando um descanso, talvez para sempre...

...até que um violento estampido tirou-me do estado de inconsciência. Com o susto, bati a cabeça no interior do tronco... Rapidamente rastejei até a abertura à minha frente, e senti novamente no rosto os intensos pingos da tempestade. Com dificuldade, saí do tronco e levantei-me. Acima do tronco deparei-me com Jon, apontando a escopeta para a selva. Antes de eu perguntar alguma coisa, mais um disparo. Não vi em que ele atirou, só ouvi um guincho bem agudo, parecido com um grito. Jon virou-se de repente e me disse:

            - Você está bem?

            Gritei, respondendo:

            - Parece que eu estou bem? Eu quase morri aqui! Maldita selva! Malditos lagartos! Maldita chuva! Maldito seja!

            Com um sorriso irônico, o Guardião desceu do tronco e me deu um tapinha nas costas.

            - Calma, amigo. Você ainda não viu nada...

            Ofegante, encarei-o. Mas desisti de responder. Em minhas atuais condições, não conseguiria sustentar uma discussão por muito tempo.

            - Agora vamos, Derek. Já perdemos tempo demais aqui.

            Dócil como um cão treinado, recomecei a segui-lo.

            Após mais algumas horas, Jon resolveu finalmente parar para dormir um pouco. Disse que não era pra me preocupar, ele montaria guarda enquanto eu descansava. A tempestade amainara, restando apenas uma agradável garoa. Deitei-me e tentei relaxar. Mas a cada movimento meu, dor. E muita. Deitado ali, o mundo parecia rodar à minha volta. Mas, finalmente, teria tempo para pensar. Afinal, o que estava acontecendo ali? O que raios eu estaria fazendo quando caí naquela poça de lama? Dúvidas pairavam sobre minha cabeça, como pairavam também estranhas criaturas acima de mim. Por entre as árvores, consegui ver um pouco do céu. Estava amanhecendo. As cores da alvorada invadiam aquele pequeno pedaço de céu que eu conseguia admirar. Finalmente, um momento de calma. Parte das dores havia sumido, eu estava conseguindo relaxar... Até perceber que estava com fome. Meu estômago vibrava de fome, emitindo estranhos sons.

            - Jon?

            - Que é?

            - Como se consegue comida por aqui?

            Jon respondeu jogando algumas bananas em cima de mim:

            - Por aqui não tem muitas frutas. Aproveite, pois ainda temos muito tempo de caminhada.

            Comi aquelas bananas vorazmente, nem senti o gosto. Pelo menos por um tempo, eu não ia precisar me preocupar com fome. Tornei a olhar o céu cinzento por entre os galhos, garoava prazerosamente. Enfim, um momento de paz...

            Por dois dias andamos pela mata fechada em ritmo acelerado. Meu corpo já não agüentava mais o esforço. Não encontramos mais nenhuma daquelas criaturas pelo caminho. Aliás, a única natureza existente ali eram as árvores e alguns insetos irritantes, mais nada. Nenhum tipo de animal habitava as redondezas, como se toda aquela área fosse amaldiçoada...

            - Jon, você não acha estranho todo esse silêncio e a ausência de animais por aqui?

            - Já estamos perto do setor 43. É por isso.

            - Como assim?

            Jon parou e me encarou. Sua expressão era séria e intimidativa.

            - Sua amnésia realmente é coisa séria.Todos sabem o motivo deles evitarem se aproximar dos setores habitados. É por que humanos significam morte para “eles”.

            - “Eles”, os animais? É disso que você fala?

            Após um longo suspiro, o Guardião senta em uma pedra e diz:

            - Sente-se. O máximo que posso fazer pela sua amnésia e lhe contar tudo o que sei...

            Curioso, sentei-me à sua frente para escutar.


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