Ichigo dormia tranqüilamente. Estava cansado, ficara até tarde caçando hollows. Ouviu alguém o chamar, mas não deu atenção, virou-se para o lado e continuou dormindo.

- Ichigo acorda! - murmurou uma voz feminina - vai se atrasar para a escola.

- Rukia, me deixa em paz - respondeu o garoto colocando o travesseiro sobre o rosto.

- Ei, larga de ser preguiçoso. Acorda - disse a garota o cutucando e começando a se irritar - ACORDA IMBECIL! - gritou dando um soco no garoto.

- Itai! Sua idiota eu já estava acordando - respondeu emburrado.

- Sei... Trouxe seu café da manhã - disse entregando a ele uma bandeja - hum...como dormiu essa noite?

- Bem - respondeu olhando intrigado para ela.

- Que bom! - exclamou sorrindo - vou andando na frente. Nos vemos na escola.

Rukia acenou para ele e saiu pela janela.

"Essa garota está agindo muito estranho ultimamente".

Ichigo caminhava sonolento. Tinha que se apressar se quisesse chegar na hora, mas a preguiça não deixava.

- Kurosaki-kun...

Ele olhou para trás para ver quem o chamava.

- Kurosaki-kun, vamos chegar atrasados - disse uma menina com longos cabelos ruivos - temos que nos apressar.

- Inoue, pode ir na frente se quiser - respondeu bocejando - eu não ligo de chegar atrasado.

- Não. Eu vou com você - disse sorrindo

- Hum... Inoue... A Rukia te falou alguma coisa?

- Sobre o que?

- Sei lá... Ela está agindo estranho ultimamente. Você sabe, não é?

- Eu... É que... Bem... Eu não sei - a menina negou balançando a cabeça alucinadamente e com uma gotinha de suor descendo pelo rosto.

- Sabe sim. Me conta logo o que é.

- Kuchiki-san me fez prometer que eu não iria contar sobre a surpresa - ao perceber o que havia falado a ruiva tapou a boca depressa e saiu correndo.

"Surpresa?"

Ichigo finalmente chegou ao seu destino. O caminho para a escola nunca pareceu tão longo. Olhou para a carteira em que geralmente Rukia se sentava. Ela estava vazia.

"O que aquela coisa está aprontando?"

Rukia chegou minutos depois. Inventou uma desculpa qualquer para a professora e sentou-se no seu lugar de costume. Acenou para Ichigo sorrindo.

"Sim, essa garota está muito estranha mesmo" Pensou Ichigo antes de ser acertado com uma bolinha de papel na cabeça. E dentro um bilhete:

Por que está me olhando com essa cara de bobo?

"Maldita!"

A aula transcorreu normalmente até a hora do intervalo. Ichigo foi carregado por Keigo até o terraço e Mizuro, Ishida e Sado iam logo atrás. O representante de shinigami não prestava muita atenção na conversa até ouvir alguém dizer "Kuchiki-san está incrivelmente linda hoje". Olhou na direção em que Keigo apontava... Sim, era verdade. Ela estava linda.

- Kurosaki-kun - Ouviu-a dizer numa voz melosa, muito diferente de sua voz habitual - trouxe almoço para você. Eu mesma fiz.

Todos olharam espantados para a garota. Keigo ajoelhou no chão e chorava compulsivamente.

- Eu sabia que vocês acabariam se entendendo - disse Ishida olhando da shinigami, que tentava animar um Keigo desesperado, para Ichigo.

- Ei, o que você ta pensando hein? Eu não tenho nada com aquela ali - respondeu apontando para Rukia, que tentava levantar Keigo do chão.

- Você é um burro mesmo. Não conhece nenhum pouco as mulheres... Primeiro elas trazem lanchinhos e são extremamente gentis, depois elas pedem para você esperá-las na saída do colégio e...

- Você é maluco, Ishida. Ela não vai fazer nada disso.

- Kurosaki-kun, você pode me esperar na saída do colégio? - Rukia disse com a mesma voz melosa de antes. Estendeu a mão, onde estava escrito "vá ou morra!", para Ichigo.

O garoto afirmou com a cabeça.

Ishida dava algumas dicas para Ichigo. Mizuro tentava animar Keigo, que insistia em dizer que cometeria suicídio pulando do primeiro andar do colégio. Sado apenas observava tudo.

- Não sabia que você era popular com as mulheres, Ishida - reconheceu Ichigo ao ouvir as dicas dele.

- Isso se chama charme quincy - respondeu ajeitando os óculos.

- Como queira... - disse Ichigo com uma gota na cabeça.

O resto do dia escolar foi normal, exceto por Keigo dizer que cortaria os pulsos e viraria emo. O sinal tocou, informando o término das aulas daquele dia.

"O que aquela garota quer comigo? Ela não poderia falar comigo em casa?" Pensou o ruivo no portão do colégio, onde esperava por Rukia.

- Vem comigo - disse a menina assim que encontrou Ichigo.

Caminharam em silêncio por alguns minutos. Passaram por uma rua cheia de árvores de sakura. Subiram um morro um pouco íngreme, chegando ao topo puderam ver toda a cidade de Karakura.

- Aqui é mais bonito durante a noite - disse a shinigami sentando.

- Deve ser - disse Ichigo também sentando - por que me trouxe aqui?

- Bem, eu queria... uhn... Te dar uma coisa - respondeu levemente corada.

Exatamente como Ishida previra. Segundo Ishida, as garotas costumavam dizer isso quando queriam beijar alguém. E seguindo as instruções do amigo, Ichigo teria que fechar as olhos e fazer biquinho. Então... Ichigo assim o fez.

Ei! O que você está fazendo? - perguntou a shinigami olhando desconfiada para ele.

- Han? Nada...

"Maldito Quincy!"

A menina entregou um pacote embrulhado com papel pardo nas mãos do garoto. Curioso ele começou a rasgar o papel. E dentro do pacote havia um porta-retrato. Ichigo olhou por uns instantes a foto dentro do porta-retrato... Ele e sua mãe feliz e sorrindo como se mais nada importasse.

- Desculpa! Eu quebrei seu porta-retrato a alguns dias atrás... Foi sem querer.

- Onde achou isso? - perguntou Ichigo um pouco desanimado. Já fazia tanto tempo que nem se lembrava direito daquela foto. A verdade é que ele escondeu esse porta-retrato assim que sua mãe faleceu. Não queria ter que olhar para ela e se lembrar de que se não fosse por ele sua mãe ainda estaria viva.

- No seu armário - respondeu ela preocupada com a reação do garoto. Não era para ele ter ficado triste... E sim, alegre.

Olhar aquela foto fez Ichigo ter vontade de se desculpar... Se desculpar por ter sido tão inútil e não ter conseguido salvá-la. Mas não queria pensar nisso agora... Tinha prometido a Rukia e a si mesmo que salvaria todos que pudesse para se redimir com sua mãe. Olhou para a shinigami, que parecia preocupada. A última coisa que ele queria era deixá-la preocupada.

- É por isso que você estava agindo estranho ultimamente? - perguntou à garota.

- Eu imaginei que você ficaria chateado se descobrisse que eu quebrei seu porta-retrato, então eu fui muito gentil com você e também impedi que você chegasse perto do armário até que eu pudesse consertar o que quebrei.

- Sua boba! Não precisava se preocupar com isso - respondeu levantando e pegando a garota pela mão - vamos...

Ichigo parou de falar ao ver que na mão da garota havia vários curativos.

- Não sou boa com trabalhos manuais - disse Rukia ao ver que Ichigo olhava para seus machucados - você sabe né? Não sou tão delicada quanto aparento.

- Você machucou a mão tentando consertar isso? - perguntou olhando para o porta-retrato em sua mão. Reparou que havia algumas pequenas rachaduras no canto. O vidro parecia novo, provavelmente Rukia comprou outro.

A garota afirmou com a cabeça.

- Você é uma idiota mesmo - disse segurando firme a mão da garota entre a sua - não precisava fazer isso, é só uma foto.

- Não é só uma foto Ichigo. É uma lembrança da sua mãe. - repreendeu séria.

Ele deu de ombros. Não era como se ele não estivesse ligando para a foto da sua mãe, mas era exatamente isso que ele queria aparentar estar sentido. Não queria preocupar niguém.

- Você tem seus motivos para querer esconder essa foto - a menina continuou falando no mesmo tom sério - mas seria legal que você a deixasse em um lugar bem visível, para mostrar para todo mundo que você tem orgulho da sua mãe e que nunca se esquecerá dela... Você não pode mudar o passado, Ichigo, e nem fingir que não aconteceu... Então, eu quero que você olhe para essa foto todos os dias sorrindo. Se não fizer isso, vou esfregar esse porta-retrato na sua cara.

Ichigo sorriu e sentiu um alívio percorrer seu corpo. Apertou a mão de Rukia contra o próprio peito. E ainda segurando a mão dela sussurrou:

- Obrigado!

Rukia podia ser mandona e implicante, mas no fundo era muito meiga e carinhosa - do jeito dela, mas ainda sim carinhosa. Ichigo estava feliz por tê-la conhecido.

"Obrigado por ter aparecido na minha vida, Rukia".

E depois disso, a primeira coisa que o ruivo veria pela manhã seria a foto de sua mãe lhe sorrindo... E uma Rukia muito sonolenta.