Abri os olhos lentamente, recobrando a consciência. A primeira coisa que enxerguei foi o rosto de nojo da Rachele à minha frente. Ao lado dela, espantado, o rosto de Edward. Alguém murmura:

- Como se sente Bella?

Tentei virar a cabeça a voz me impede:

- não se mexa, você está fraca.

   A voz se aproxima, agora enxergo bem. Um homem novo, vestido de branco, parecendo um médico. Estou em um hospital? De repente recordo-me de tudo: "Ah, Deus!", poderia ser tão diferente... Por quê? Agora! Recomeçar tudo de novo...

- Você está bem? – Edward se aproximava

   Senti um gosto amargo na boca, devem ter feito uma lavagem gástrica em mim, me viraram do avesso! Tive vontade de rir, deve ter sido uma confusão dos diabos!

- Agora descanse - a voz do médico, suave, é bonito o médico.

   Rachele agora se aproxima mais da cama, a expressão de tédio e de nojo, como sempre.

- Voltaremos amanhã. – Edward fala.

    Eles saem, e só fica eu e o médico. Ele sorri e afaga a minha cabeça:

- Tranqüila, hein, garota, o pior já passou. Olhe que sol mais lindo lá fora! Dezesseis anos e quer morrer? Moça tão linda, mulher começando a vida!

   Sorri, um sorriso murcho. Mesmo assim é um sorriso. Ele disse "mulher"! De repente é como sino tocando, o cheiro do sol quase penetra pela janela aberta, e do ângulo em que ela está dá para ver os gerânios florindo no parapeito. Gerânios vermelhos.

   O médico sorri novamente, enquanto se encaminha para a porta. Diz:

- Vou ter uma conversa com os seus pais. Quem sabe posso ajudá-la, hein?

Tive vontade de corrigi-lo, de dizer que eles não eram meus pais, principalmente aquela loira antipática da Rachel, mas não apenas fiquei ali, quieta vulnerável... Até que murmurei:

- Vou morrer? - A minha voz saiu estranha por causa da sonda no nariz.

- Sem essa, garota! Está mais viva do que nunca, foi só um grande susto...!

   Ele saiu. Fechei os olhos, os meus pensamentos estavam tumultuados. Um misto de dor e agonia, de raiva e de ciúme me invadiu por completo ao me lembrar da cena da Rachel e do Edward quando fomos á Angra.

O que está acontecendo comigo? Que sentimentos são esses? Por que estão com ciúmes?

Dias depois...

   O médico me olha com preocupação e com um ar de bondade no rosto recomenda:

- nunca mais hein garota? – ele tenta disfarçar a preocupação na voz – posso confiar em você: – sem sucesso... Ele não consegue disfarçar...

- pode... nunca mais... – falo com sinceridade

Edward suspira fundo e fala:

- muito obrigado doutor...

  Após uns minutos o carro já estava virando a esquina, Edward estacionou o carro, desço do carro o mais depressa possível. Abro o portão, e passo pelo jardim. Subi alguns degraus e passei pela soleira da porta.

   Minha casa! Um arrepio corre pela minha espinha...  Subo as escadas em direção ao quarto.

  Abro a porta, esta tudo no mesmo lugar... Os CDs de Rock, a estante de livros, as coleções de pôsteres espalhado pelas paredes, um velho urso de pelúcia jogado sobre o carpete (o brinquedo é meu fiel companheiro desde a infância...), o skate, as paredes ainda roxas...

Tranco a porta por puro extinto.

  Por um momento eu sabia que tudo ia começar de novo, as ameaças os jogos. Eu sabia que aquele misto de sentimentos que eu sentia era só o começo. Mas quem vai jogar agora sou eu, cansei de ser o fantoche da Rachele, agora quem comanda o jogo aqui sou eu.

 Pela primeira vez eu fechei os meus olhos calmamente, me deixei cair levemente na cama. Eu me sentia leve, como um pássaro libertado da gaiola. Abri os meus olhos para o teto.

Agora quem joga sou eu.

Então eu fechei os meus olhos e me deixei adormecer.