40.

Vickie e Jam estavam ao ar livre, no teto do prédio da escola. O vento da tarde fazia a festa e arrepiava o cabelo dos dois. E, de uma forma incrivelmente aliviada, os dois agora conversavam sem pesares.

— Eu... De certa forma, acho que eu estava com um orgulho travado! – Vickie disse prendendo o cabelo pra trás da orelha.

— E eu com o ego ferido! – Jam descontraiu e ambos riram. — Foi um pouco difícil, sabe... Eu não tinha certeza do que fazer.

— Desculpa. – A loira pediu baixinho e corou.

— Eu já disse que não precisa mais disso. Você já não disse que não foi culpa sua? – Os dois falavam do flagra de Jam.

— Mas também não quero que você culpe o Stark.

— De forma alguma.

Vickie suspirou e sorriu. Jam se ajeitou sentado e apoiou os cotovelos nos joelhos, encarando um pouco o horizonte, onde os prédios pareciam tocar o céu.

— Às vezes me pergunto de onde é que você veio!

Jam virou o rosto para Vickie e ela estava tímida e um pouco vermelha. Ele tinha certeza de que ela seria um pouco difícil de esquecer, mas sua presença era tão boa que ele se satisfazia com a amizade. Eles eram abençoados por possuírem tal capacidade para amor.

— Tive sorte! – Jam deu de ombros, modesto. — Acho que sou do tipo que sei me contentar.

— E merece tudo de bom por isso. – Vickie se esticou e beijou o rosto do rapaz um pouco demoradamente. Pausou a mão em seu rosto e Jam a segurou, beijando-a de leve.

— Existe uma coisa boa nisso. – O francês disse.

— O que?

— Não vou precisar voltar pro dormitório feminino! Quer dizer, isso se eu consegui me ajeitar com os garotos lá...

— Espera aí! – Vickie entrecortou. — Como?

— Sabe... Consegui a vaga que o Stark deixou de volta e...

— Não, não. Não isso. O que você disse sobre dormitório feminino?

Jam corou e só então percebeu que falara demais. Tentou desviar um pouco o rosto por vergonha, mas teria de falar de qualquer jeito.

— Era o único quarto vago já que eu tinha saído do dormitório dos seus amigos e eu tinha ficado sem um aposento. Quer dizer, isso segundo as meninas que me ajudaram... De toda forma, fica tão longe das demais meninas que mais parece uma dispensa!

Vickie estranhou aquilo mais que tudo. Ficou embasbacada por um tempo até que depois, desengasgou.

— Que meninas?

Nessa hora Jam empacou. Pela primeira vez ficou indeciso, sobre dizer ou não uma verdade. Do jeito que Alanis e Luana tramaram e julgavam mal Vickie e os demais, poderia ser desconfortável falar que ele esteve esse tempo todo com elas.

Vickie estava prestes a dar um sacode em Jam, pela sua demora, mas então olhou para o pátio da escola e viu Alanis passando, sozinha. Poderia ser uma cena mais que comum, porém, no mesmo instante ela se lembrou...

— O que Rachel e você falavam...? Hoje, antes do jogo.

Jam deu um suspiro de alívio espontâneo, mas mesmo assim ficou um pouco intimidado por ter que responder.

— Fui... Falar com ela. Especular... Sobre você!

— Oh... – Vickie corou forte desta vez.

Dentro do silêncio, os dois permaneceram sentados e olhando a escola toda do alto. Ninguém suspeitava deles ali. Ninguém estava muito a fim de sair daquele lugar, porém, Vickie teve um surto:

— Danilo, Stark e Rachel! – Sobressaltou.

— O que têm eles?

— Eu deveria ter ido com eles... Eu tinha que ver o Alan! Eu... Eu...

— Sem problemas! Pegamos autorização e vamos agora, se quiser... Quer dizer, você vai...

— Eu... – Vickie se levantou e foi dando meia-volta, seguida por Jam. — Eu não sei... Já passamos quanto tempo aqui?

— Umas duas horas? Três?

— Não... Eles devem estar voltando uma hora dessas!

A loira saiu disparada escada abaixo e Jam decidiu que era melhor guardar o fôlego para a descida, só voltando a falar com ela no jardim.

— Toma! – Disse o francês esticando o braço para Vickie. — Liga daqui do meu telefone!

— Ah, obrigada! Eu acho que deixei o meu na bolsa da Rae!

Vickie pegou o aparelho e digitou o número de Stark. (Foi o primeiro que passou pela sua cabeça, oras!).

***

Rachel saiu do quarto de Alan pra olhar em volta do corredor e achou Stark parado na janela, parecendo aflito.

— Stark! Cadê o Dan?

O loiro olhou para Rachel e teve que engolir em seco. Rachel se intrigou e se aproximou da janela, foi quando pôde ver Danilo lá fora, do outro lado da rua, entrando num ônibus que ela não tinha ideia de qual era!

— O que ele está fazendo? – A morena perguntou tensa.

— Indo pra algum lugar? – Stark hesitou.

— Não, mas, ele não pode ir! Espera, por que ele está indo?

— Não sei! – Stark se virou significativamente para Rachel, que se sentiu culpada.

— V-v-cê... Viu? – Ela temeu. Stark apenas suspirou e assentiu com a cabeça.

— Se for o que eu estou pensando...

— Acha que ele também viu?

Rachel sentiu os olhos encherem de lágrimas de novo, mas o silêncio de Stark que mais a deixou nervosa. Se Danilo viu o que ela acha que o Stark também viu... Estava tudo... Bem... Bem mal!

— Eu vou atrás do médico, pegar a alta de Alan, vou encontrar a dona Aline também. A gente tem que voltar! – Disse Stark parecendo sensato até demais, o que fez Rachel se afundar um pouco em culpa.

Stark estava dando meia-volta quando seu celular tocou no bolso. Rachel esperou que fosse Danilo e ficou ao pé do ouvido do loiro.

— Oi?

— Stark! – Era a voz preocupada de Vickie.

— Diga, loira! – “Ele ainda podia brincar?” Rachel pensou, “Como?”.

— Vocês já estão vindo? Quer dizer, eu ia me atrasar só um pouco, mas...

— Você está vindo? – Stark intercalou.

— Na verdade eu nem saí da escola.

— Nem se preocupa. Alaninho volta hoje à tarde.

Rachel viu Stark dar a notícia com um sorriso muito feliz, o que indicava, pelo menos, que ele não estava com raiva do amigo por culpa dela. Mesmo sem estar no telefone com Vickie, pôde escutar o grito da loira quase estério.

— Stark, eu não acredito! Não acredito! Que ótimo! – Ela continuava gritando e Rachel chegou a pensar que eles estavam no viva-voz.

— É, Vi, é ótimo! Mas acho que vou ficar aqui mais tempo! – Stark falou e se ouviu um “por quê?” histérico. — Por que preciso ir num fonoaudiologista agora! – Stark brincou e logo não se ouviu mais gritos. Rachel colou o rosto no rosto de Stark e continuou a ouvir.

— Então quando vocês chegam? Eu fico por aqui mesmo?

— Sim, nos espere e, se Danilo chegar por aí antes da gente, por favor, me avise...

— Não! Como assim? – Vickie inquiriu.

— É que ele acaba de ir e é uma longa história... – Stark tentou parar, mas Vickie o metralhou com perguntas que ele não se deu ao trabalho de responder naquele momento. — Ok, Vi, depois nos falamos, ta? Beijo!

Rachel o viu desligar o telefone e guardá-lo de volta no bolso. Stark ia seguindo o caminho até onde os pais de Alan deveriam estar, mas foi pego pela morena antes.

— Stark!

O loiro olhou para a amiga e não era preciso pergunta pra saber o que ela queria ouvir. Ele tinha certeza que Danilo devia ter visto o que ele mesmo quase presenciou, mas não aguentou o olhar triste e preocupado da amiga e preferiu ser mais ameno.

— Não se preocupe agora, Rae. O Dan é bem ponderado, e não acho que ele vá fazer besteira. Fica tranqüila, ok? – Ele pôs uma mecha castanha pra trás da orelha de Rachel com carinho, enquanto ela lutava contra umas lágrimas. — Vamos primeiro pensar em sair daqui com o Alan. A propósito, vai lá e espera com ele, já eu volto com dona Aline e seu Renato, ok?

Rachel balançou a cabeça afirmativamente e sorriu de forma triste.

— Desculpa Stark...

— Não tem por que disso!

Depois de um sorriso amigo, o loiro seguiu seu caminho ao contrário do de Rachel, que já chegou dando de cara com Alan na porta do quarto, apoiado em sua muleta.

***

Alanis caminhava tranquilamente naquela tarde pelos jardins da escola. Alguns alunos ainda comemoravam a vitória do jogo com o resto do que foi uma festa, na maioria eram bagunceiros e propensos a serem bêbados se dessem uma brecha. Pelo menos naquela escola eles tinham a segurança de que esses tipos não chegariam perto de álcool.

Como estava sem Luana, que decidira ficar fula e se enfurnar em algum lugar desconhecido, e sem Jam, que ela também não sabia onde se metera, Alanis decidiu dar uma encostada numa árvore e pegar um ar fresco. Ficou tudo bom por um tempo até que ela sentiu cheiro de gente hipócrita e soberba.

O grupinho com o qual ela se debatera hoje mais cedo decidiu se instalar no outro lado do saguão, sob a sombra de uma outra árvore. Eles riam como macacos e alguns idiotas se comportavam realmente como uns, brincando de se pendurando de cabeça-pra-baixo nos galhos.

Alanis rolou os olhos, entediada com tanta idiotice. Mas, de alguma forma, não tinha nada melhor pra fazer em lugar nenhum, então, enquanto eles continuassem no seu canto agindo como primatas, sem mexer com ela, ela continuaria na sua árvore, analisando o ser humano em seu estado mais primário. Foi quando o primata Alfa chegou ao grupinho: Eric.

Os betas cumprimentaram o primata maior como se ele fosse O tal, e este retribuía com seu sorriso seriamente debochado. Continuaram com seus afazeres dispensáveis enquanto Alanis se encostava e cruzava os braços, indiferente ao olhar que Eric lhe lançou quando a notou ali.

Mais uns minutos, uma garota que ela percebeu ser novata vinha chegando perto do local. Parecia desencaixada e um pouco perdida. Não pra menos, a escola era gigantesca e um pouco confusa. Mesmo que não gostasse de ajudar, Alanis cogitou a ideia de se oferecer para mostrar a escola pra ela, já que alguma coisa naquela garota a fez lembrar de si mesma, um ano atrás. Franzina e um pouco desorientada, com um olhar ingênuo e distante. Porém, a pobre seguiu em direção oposta, acabando perto do grupo primata.

― C-com licença! – Ela disse, sem jeito. Os macacos param de fazer suas macaquices e olharam para a pequena, que pareceu ainda menor. Eles não sabiam mesmo ser nem um pouco gentis, Alanis notou. Eric, o cabeça, foi até a menina, com seus braços cruzados como se fosse realmente para intimidar. ― Oi! – A menina prosseguiu.

― O que deseja? – Eric perguntou e Alanis só pôde ter ouvido mal: ela um tom até cavalheiro na voz de um babaca de marca maior!

― Você poderia... Me informar as horas?

O moreno debochado sorriu de lado e consultou o relógio. Até então Alanis apenas reparava suspeitosa. Eric, por fim, voltara para a menina com um sorriso mais canalha ainda:

― Às sete e meia está bom pra você? No meu dormitório, bloco B, número 17! – Ele caçoou da pobre que demorou a entender o que ele estava fazendo.

Alanis rolos os olhos com nojo já sentindo náuseas. Esperou que a menina tivesse alguma reação, mas ela parecia ainda cogitar se ele estava tirando com a cara dela, ou se ele não tinha entendido a pergunta. “Ô idiota ingenuidade!” – Alanis pensou.

― Desculpe, eu acho que não entendi! – Disse a menina um pouco mais acuada.

Uma garota do grupo risonho de Eric se levantou do colo de um deles e foi até o lado do primata maior, com um sorriso amigável falso.

― Não liga pra ele não! Pra onde é que você vai?

― Tenho que achar a coordenação e confirmar uns documentos! – A menina ainda parecia realmente acreditar nas “boas-intenções” da garota de cabelo liso preto e mostrou a ela um papel que deveria ser algum documento.

A mais velha olhou o papel deixando Eric lê-lo também.

― Lílian? – Eric perguntou e a menina balançou a cabeça afirmativamente, fazendo seu cabelo curto balançar quase que angelicalmente. ― Sabe, se você for até o bloco K, vai encontrar todas as coordenações! – Informou ele.

A sua amiguinha de cabelo liso riu do nada, assim como os demais, e devolveu o documento da menina. Alanis percebeu a brincadeira maldosa deles: não tinha bloco K na escola!

Incomodada, Alanis se desencostou da árvore e chegou até onde os palhaços ainda riam e a menina continuava confusa.

― Já chega, já riram o bastante, não acham? – Falou ela em seu tom intimidador, mas Eric não pareceu se afetar.

― Na verdade minha barriga nem doeu ainda, posso rir muito mais!

― Não às custas dela! – Alanis puxou a menina. ― Ahn... Lílian? Bloco C no segundo andar: coordenação e matrícula! Segundo corredor, na direita. – Informou rapidamente dando um empurrãozinho para a garota sair logo dali.

― Poxa, lá se vai a graça toda! – Choramingou falsamente Eric. ― Agora vamos ter que brincar com outra coisa! – Ele sorriu e olhou malevolente para Alanis.

― Tenta enfiar a cabeça na privada e dar descarga nela! – Alanis disse ríspida.

― Por quê? Você faz muito isso? – Ele provocou.

― Com a cabeça de panacas imbecis, olha que é até uma boa ideia!

― Ah, agora deu pra entender de onde vem o brilho úmido grotesco desse seu cabelo, não é?

― Não querido, mas pelo menos deve servir pra lavar essa sua cara ensebada!

― Você não tem medo do perigo, não é? – Eric parou de rir e chegou mais perto de Alanis, que não se intimidou.

― Perigo? Está falando desses seus cachorrinhos de estimação aí? – Ela apontou pros demais que fecharam a cara ameaçadoramente. Alanis deu um sorrisinho em troca.

― Não, mas não os subestime também! – Eric ergueu uma sobrancelha. ― Por quê? Você é a nova protetora dos novatos perdidos por acaso?

― Eu estou mais pra ordem dos destruidores de primatas machões como você!

Um imbecil do grupo de Eric riu mesmo com a ofensa se estendendo a ele. Um outro o acotovelou para ele fechar o riso idiota.

― O que garota? Por acaso você está bêbada?

― Não, mas parece que você dormiu dentro da garrafa, não foi? – Alanis riu sozinha enquanto Eric perdia a graça toda.

― Qual é o seu problema, a final? Alguém te chamou pra cá?

― Eu estava sentada no meu canto, caso não tenha percebido. Eu só não consigo ignorar minha sede de destruição a risos de idiotas de plantão como vocês!

― Ah, então você é A Intrometida?

― Chame do que quiser! Você deve ser o líder dos idiotas!

Eric fechou a cara e encarou Alanis e seu sorriso irônico, o qual ela tinha muita prática em dar.

― Você não sabe com quem está se metendo, pirralha! – Eric ameaçou praticamente subindo em cima da cabeça dela, de tão perto. Ele era umas três cabeças mais alto que Alanis.

― Tudo bem, não estou com disposição agora pra descobrir de que espécie de inseto você vem. Quem sabe mais tarde! – Alanis disse e virou para seu caminho, mas Eric pegou seu braço e a fez olhar por cima do ombro ameaçadoramente. Ele parecia realmente irritado.

― Não vai ficar barato, pirralha. Você é do segundo ano, não é?

― Por quê? Você regrediu do ano passado pra cá? Vai cair na mesma turma que eu? Não me admira! – Alanis disse banhada em sarcasmo.

― HAHA! Está pedindo pra comprar briga!

― Tenho coisa melhor pra fazer do meu tempo. Vai! Volta a rir com seus cachorrinhos como se a cara um do outro fosse a maior piada já contada! – Alanis retirou seu braço da mão de Eric e voltou pelo jardim até virar no outro pátio da escola sem dar uma olhada pra trás sequer.

Eric bufou irritado. Malmente tinha visto essa garota uma ou duas vezes desde que entrara na escola, então, do nada, ela decidiu se intrometer. “Ah, com certeza ela precisava conhecê-lo!”.

― EI! Eric! Vem, vamos voltar pro jardim! – A garota de cabelo liso disse indo até Eric e o levando de volta pelo braço.

― Sabe alguma coisa daquela pirralha? – Ele perguntou. A garota parecia não muito a fim de responder. ― Heim, Safira?

Safira suspirara sem vontade de falar do assunto.

— Por quê? Você se interessou foi?

— Não é um assunto pra você! Diz de uma vez o que sabe dela! – Eric se exaltou.

— Sim, ela é do segundo ano. – Foi tudo o que a morena disse antes de largar o braço do garoto e sair à frente parecendo brava. Passou pelo seu grupinho de amigos sem dar muita atenção a eles e continuou em direção ao refeitório.

~*~

GENTE, ENQUETE URGENTE!>

Quem Deve Ficar Com a Rachel?

- eu sei que muita gente aposta nela com o Alan, assim como outras pessoas são assíduas fãs de DanRae. Eu, pessoalmente gostaria de saber todas as opiniões, de quem lê e sempre comenta e até mesmo daqueles que lêem e que ainda não comentaram. Democracia sempre, né? rsrs. Bem, é isso! -

Obrigada pela atenção!