Memory escrita por Mellconde
Não cheguei a olhar o relógio em nenhum momento daquela noite, então jamais saberei até que horas fiquei sonhando acordado, fitando o teto no escuro. Lembro-me que podia imaginar o sorriso bobo em meu rosto. Estava me sentindo novamente com 17 anos e estava feliz por saber que Katherine estava bem perto de mim. Bastava apenas me levantar cruzar o pequeno corredor e entrar em seu quarto. Onde eu a encontraria adormecida.
Imaginei aquele rosto tão belo adormecido sobre seu travesseiro e seu cabelo bagunçado sobre ele. Eu jamais conseguiria descreve-lo de alguma maneira que dissesse o quanto ele era delicado e lindo. Era como querer descrever uma das composições de Frederick Chopin, belas demais para que palavras pudessem dizer.
Deitado no pequeno sofá, donde os meus pés escapavam, eu via a luz do sol invadir a sala. Ainda fraca demais para que pudesse aquecer aquele dia frio. Virei o meu corpo em direção ao encosto do sofá e escondi meu rosto da luminosidade que a cortina não impedia de entrar. Logo adormeci.
Acordei um tanto dolorido, mas isso não era novidade para mim.
Com calma, abri meu olhos, tentando acostumar com a claridade. Me sentei no sofá, me levantei, cambaleei de um lado ao outro. Mal havia despertado e já estava tentando dar os meus primeiros passos rumo ao banheiro. Certificando-me de apoiar nas paredes estreitas do pequeno corredor.
Em um dos meus cautelosos passos, pisei em algo que de maneira alguma poderia ser o piso de madeira da casa de Katherine. Olhei para os meus pés, e abaixo deles, uma enorme poça de sangue que escorria por debaixo da porta da porta de seu quarto. Meu coração disparou e em poucos segundos eu não consegui pensar em mais nada além de seu nome.
“Katherine, Katherine, Katherine”
Eu impulsionei meu corpo contra a porta do quarto, mas ela me pareceu nem se mexer. Mais algumas vezes e mal sentia meu ombro.
Escorreguei o meu corpo pela porta e me joguei sobre a poça grená. Quase consegui enxergar minha calça manchada de sangue, mas haviam tantas lágrimas em meus olhos. Elas se continham para não serem derramadas. Mas não consegui suportar a dor por muito tempo e logo se puseram a cair.
-De novo não – sussurrei – de novo não.
Estava perdendo mais uma vez, tão cedo.
Vi as imagens do sorriso de Katherine o tempo todo passar pela minha mente. Foram tão poucas horas, e tantos sorrisos. Tanto olhares, tantos carinhos, tantas palavras. Era justo comigo? Perde-la com tão pouco tempo?
Eu nunca a tive em meus braços como desejei, nunca ganhei um beijo. Ainda precisava de tanto tempo, tantos momentos a serem construídos. Eu não podia ter a perdido assim!
Me levantei com dificuldade e pela ultima vez me joguei contra sua porta mais uma vez. Ela foi obrigada a ceder a disputa e finalmente abrir.
Seu corpo estava jogado ao chão, todo sanguentado. O que haviam feito com a minha pequena?
Tentei me aproximar para abraça-la, pela ultima vez, mas meus olhos se abriram. Eu estava novamente deitado no sofá da sala, o dia já estava claro, meus batimentos cardíacos disparados e meu corpo muito suado.
Me levantei rapidamente e corri até seu quarto, mas ela não estava lá. Por mais limpo que o quarto estivesse, Katherine não estava lá. Mais um aperto no coração e muitas lágrimas em meus olhos.
-Bom dia John – disse a voz logo atrás de mim
Era Katherine, com uma toalha nas mãos em quanto secava seu cabelo.
-Katherine! - Um imenso sorriso eu lhe dei e a abracei – você está bem – eu sussurrei.
-Oras John, porque eu não estaria?
-Nada não, apenas me abrace.
A menina sem entender o que estava se passando me abraçou forte, ela sabia que eu precisava disso.
...
Mais tarde Katherine me fez explicar e dizer o porque de tanto drama.
Ela sorriu assim que eu conclui a minha história. Mais um de tantos sorrisos de Katherine. E quando ela não sorria eu tinha vontade de pedir: “Katherine, sorria”. Era como se todos os problemas desaparecessem com medo do brilho da felicidade da minha menina.
Ela me abraçou com força e baixinho se pôs a falar.
-Não se preocupe, eu sempre estarei aqui.
A abracei com força contra o meu corpo. Respirei fundo, sentindo o aroma do seu doce perfume misturado ao sabonete e o calor de sua pele. Os pingos do cabelo ainda molhado, mostrando que seu esforço em tentar seca-lo havia sido em vão. Eles molhavam minha camisa, imprensados entre o meu corpo e o dela. Mas isso não me incomodava, uma blusa molhada não chegava nem próximo a dor que era perde-la.
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