Amor, Calibre 45 escrita por LastOrder, Luciss_M


Capítulo 4
I'm on the highway to hell


Notas iniciais do capítulo

"O senhor colocou a mão para frente num sinal de cautela.

— Espere, você está me dizendo que...

— Que nosso assassino trabalha para a família Bolevuc e foi contratado para resgatar a filha de Louis Bolevuc, caramba!! – Pôs a mão no rosto num sinal de decepção. – Não vai me fazer desenhar, vai?"



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Allenville

16/12/2007

Já era noite na pequena vila de Allenville, interior do estado de Illinois. Uma casa minúscula com apenas uma luz acesa podia ser vista no meio do nada, e mesmo assim, não chamava muita atenção, quase ninguém passava por aquela região.

Escondido na penumbra, correndo a passos rápidos e torcendo para que não fosse visto, Miguel se aproximava do casebre. Parou agachado em baixo da janela aberta, ergueu a cabeça apenas para que o interior da casa entrasse no seu campo de visão.

Homens armados estavam sentados em diversos cantos do aposento, fosse em cadeiras ou no sofá. Alguns dormiam, outros tentavam matar o tempo assistindo a televisão em branco em preto do centro da sala/cozinha. Um deles procurava comida na geladeira.

Todos eles trabalhavam para a segunda família mais influente da máfia norte americana, a família Harvey.

Há três dias haviam raptado a filha mais nova de Louis Bolevuc e a escondido em algum lugar. Louis ligou desesperado para Miguel e pediu que a encontrasse, um trabalho difícil, fora do padrão ao qual estava acostumado, mas nem por isso impossível.

Esgueirou-se até a porta da frente do casebre e pegou as armas.

Com um chute abriu a porta velha e surpreendeu todos os cinco homens que estavam lá. Atirou antes que pudessem sequer tirar sacar suas pistolas. Eram um bando de incompetentes.

Guardou uma das armas e vasculhou o aposento com os olhos, a procura de uma porta que levasse a outro aposento. Estava trancada, atirou na fechadura e conseguiu arromba-la.

No canto mais obscuro do quarto sujo e abafado, havia uma jovem de dezessete anos, seus cabelos ruivos estavam todos embaraçados. Sua pele pálida pelo medo e pela fome. Parecia ainda mais magra do que realmente era.

Mas Miguel não notou nada disso.

- Você é Anne Bolevuc? – Perguntou frio, apenas confirmando o que já sabia.

- S-s-sim. Q-q-quem é v-v-você? Ele se aproximou da garota para lhe desamarrar as mãos e os tornozelos.

- Aquele que vai te tirar daqui. – Se levantou e ofereceu a mão para ajudar a menina.

- Obrigada. – Disse um pouco mais calma.

- Não agradeça. Seu pai está me pagando para isso. – Se virou para a saída – Siga-me.

Anne passava pela sala, assustada ao ver todos aqueles corpos e se esforçava para não chorar, algo nas atitudes de Miguel lhe dizia que o melhor a fazer era não abrir um escândalo agora.

Estavam quase passando pela porta quando ele ouviu o singelo ruído de um revolver sendo armado.

Virou rapidamente e empurrou a Bolevuc para um canto da sala ao mesmo tempo em que ele e o homem apertavam o gatilho.

- AHHH! – O grito de Anne inundou a sala quando gotas de sangue voaram para a sua camisa.

O homem agora estava com certeza, morto.

- Mas que inferno, cale a droga da boca, menina. – Miguel ralhou.

- Mas... Mas... Você está ferido! – O timbre agudo da voz da garota só o irritava ainda mais.

Ele sabia que estava ferido, a bala o havia acertado na base do estomago e seu sangue lhe escorria pelas mãos quando tentava tampar o ferimento.

- Eu vou chamar a ambulância! – Anne correu até o telefone em cima da mesa da cozinha. Seu movimento foi interrompido quando se viu sobre a ameaça da arma de Miguel.

- Mais um piu e eu juro que será sua ultima palavra. – Disse ofegante. – Agora saia e ande reto. Não pare, você vai encontrar um carro. Entre lá e me espere.

A menina saiu correndo sem abrir a boca, mas lagrimas saiam pelos seus olhos.

Miguel rasgou um pedaço da própria camisa e a amarrou com força em volta do corpo, o tecido branco se tornara vermelho em segundos. Pegou uma jaqueta de um dos cadáveres e saiu fechando a porta.

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Allenville

17/12/2007

O FBI foi chamado o quanto antes pela policia de Allenville, assim que testemunhas ouviram o barulho de inúmeros tiros na noite anterior.

Thereza e Gary mesmo antes de chegar ao local, já sabiam do que se tratava, e quando entraram no casebre velho, agora cheio de especialistas da CIA tiveram a confirmação de sua suspeita.

Era aquele tipo de assassinato.

No entanto algo estava fora do lugar, ou melhor, algo que eles tanto esperavam estava na cena do crime, no meio da sala, fácil demais de ser encontrado. Uma pista.

Thereza se ajoelhou próxima a grande poça de sangue no chão de madeira.

- Tem certeza de que não é de nenhum dos cadáveres? – Perguntou Gary a um dos peritos.

- Sim, já fizemos os testes. Acreditamos que provavelmente foi um que conseguiu sobreviver e fugiu.

- Entendo. – Gary se voltou para Tessa que ainda fitava o chão. – Thereza, o que está fazendo?

Ela ignorou a pergunta do supervisor e caminhou pela sala seguindo as pegadas de sangue até um dos corpos sem jaqueta.

- Hmn... – Olhou para a porta aberta que levava para o outro quarto e se virou para uma outra trilha de pegadas que seguia em direção a saída. – Hmn...

Estreitou o olhar antes de sair correndo porta a fora seguindo as pegadas na areia. Elas desapareceram quando começavam marcas de pneus que seguiam até a estrada mais próxima. Thereza ficou parada olhando para a estrada tirando suas próprias conclusões, quando Gary a alcançou ofegante.

- Nunca mais saia desse jeito, menina. – Pôs a mão o peito. – Eu já não tenho mais idade para correr assim – Inspirou profundamente e seguiu o olhar de Thereza buscando o que tanto lhe chamava a atenção. – O que foi?

- Você acredita em sorte, Gary?

- Acredito sim, mas sei que não podemos depender dela o tempo todo. Por quê? – Franziu o cenho.

A jovem o encarou sorridente e deu três tapinhas no ombro.

- Pois se anime amigo, hoje é o nosso dia de sorte!

- Do que está falando Tessa?

- Não é obvio? Pegamos o nosso assassino. E como eu havia te dito, ele não é um nenhum serial Killer psicótico, é um assassino de aluguel que trabalha para a família Bolevuc.

Gary bufou e revirou os olhos.

- E como você chegou a essa conclusão? – Era obvio que Thereza estava ficando louca, era melhor que tirasse umas férias.

Ela sorriu.

- Tudo bem, eu explico. - Apoiou a mão no ombro do colega e o virou para a trilha de pegadas. – Vê aquelas pegadas, elas começam na poça de sangue dentro do casebre. E terminam aqui, nas marcas de pneu, o que mostra que o assassino saiu de carro e obviamente ferido, já que aquele sangue não era de nenhum dos corpos.

- E como sabe que foi o assassino quem fugiu?

- Ora, elementar meu caro Watson. – Fez graça. – Quantas impressões digitais encontramos no casebre?

- Seis... – Ele parou um instante, cinco delas eram dos cadáveres.– Mas e a sexta impressão?

- Pequena demais para ser de um homem.

- Agora você previu o sexo do fugitivo?

- As pegadas de sapatos são grandes demais para serem de mulher.

Gary ficou atônito por um minuto.

- Certo, vamos fingir que você está certa. De quem é a sexta impressão, Holmes? – Agora se via obrigado a entrar na brincadeira. Thereza sorriu.

- Anne Bolevuc, foi seqüestrada a dois dias, saiu em todos os jornais. E as impressões digitais dos cadáveres que encontramos confirmam que eles...

- Trabalhavam para a família Harvey. –Gary completou. Haviam encontrado as fichas dos homens no arquivo do FBI.

-Uma família tão mafiosa quanto a Bolevuc, que nosso governo nunca foi capaz de prender. E veja que interessante as duas são inimigas e disputam o monopólio do mercado negro, isso não te soa familiar?

O senhor colocou a mão para frente num sinal de cautela.

- Espere, você está me dizendo que...

- Que nosso assassino trabalha para a família Bolevuc e foi contratado para resgatar a filha de Louis Bolevuc, caramba!! – Pôs a mão no rosto num sinal de decepção. – Não vai me fazer desenhar, vai?

- Claro que não, eu já entendi o que você quis dizer. A única coisa que não entendo é como encontramos tantas pistas desta vez, você tem certeza que estamos tratando da mesma pessoa.

- Sim, tenho. Acredito que ele não esteja muito acostumado a salvar pessoas, deve ter se ferido tentando salvar Anne Bolevuc e então perdeu o controle da situação. – Sorriu maliciosamente. - Esse cara faz matar pessoas parecer mais fácil do que mante-las vivas.

Gary permaneceu mudo tentando encontrar alguma falha na teoria de Thereza, não acreditava que ela havia conseguido deduzir tudo isso com apenas uma poça de sangue e algumas pegadas no chão.

- Senhores. – chamou um dos agentes, indo até eles. – Creio que será interessante verem isso.

Os três correram até uma das viaturas que tinha um notebook capaz de captar sinal de televisão, todos os policiais estavam reunidos em volta do capô do carro.

-Licença, licença! – Tessa abria caminho pelo pequeno aglomerado ignorando os olhares feios que recebia enquanto Gary murmurava desculpas sem graça, tentando amenizar a situação.

Da pequena tela do aparelho podia ver-se a repórter com um grande casaco lutando contra o vento frio de Chicago.

“ - Estamos aqui na frente da mansão Bolevuc testemunhando o retorno da filha mais nova do empresário Louis Bolevuc que foi seqüestrada a três dias. – A câmera focalizou a entrada da casa cheia de repórteres. Anne Bolevuc se sobressaia do meio deles abraçando sua família.

- Senhorita Bolevuc, pode nos dizer exatamente o que aconteceu no seu período de cativeiro?

- Foi horrível. – Chorou. – Aqueles homens me amarram e me prenderam num quarto fedido e sujo. Ofereciam-me água e pão para comer, lógico que eu não aceitava, não sabia o que havia naquela comida, não queria acabar morrendo envenenada.

- Ohh! Minha filhinha. – A mãe a abraçou segurando sua cabeça. Quando os flashs das máquinas fotográficas começaram – Malditos sejam os que fizeram isso com você.

- E quem fez isso com você? – Perguntou um repórter.

- Foram os Harvey obviamente. Aqueles mal amados não sabem perder, não se conformam por nossa empresa ser melhor do que a deles, e me levaram para chantagear meu papai. – Abraçou o pai. – Eu conseguia ouvi-los, diziam que não podiam me matar porque as ordens de Nicolau Harvey eram muito claras, eu me encolhia de medo sempre que os ouvia falar.

- Só para finalizar, senhorita Anne, como conseguiu sair?

O rosto da menina se tornou uma mistura de medo e admiração, mas logo se recompôs.

- Um homem entrou no meio da noite e me salvou. Ele se feriu, foi horrível. Mas conseguiu me levar até uma praça, aqui em Chicago mesmo, onde meu pai já estava me esperando. Foi embora antes que eu pudesse agradecer.

- O nome, se lembrar do nome?

- Não, ele não me disse.

A jovem foi levada para dentro pela família indo contra uma onda de protestos dos repórteres. ”

Pronto Socorro de Chicago

17/12/2007

Da pequena tela da TV da sala de espera do pronto socorro, Miguel assistia a tudo aquilo horrorizado.

Aquela garotinha mimada, para que tinha que falar que havia sido salva? Para que falar que ele havia se ferido? Para que dar essa droga de entrevista??!!

É claro, a resposta era obvia, os Bolevuc tinham um grande apresso pela mídia, quanto mais atenção pudessem chamar, melhor. E aquilo o irritava profundamente, devia ter largado a menina no meio do nada para morrer.

Nessas horas se agradecia mentalmente por não ter revelado seu nome para Anne Bolevuc, caso contrario, há essa hora muito provavelmente teria a policia, ou pior, a mídia atrás dele.

- Senhor Owen? – Chamou uma enfermeira. – Sala 12 - Indicou assim que Miguel se levantou ignorando as dores da bala que há essa hora devia estar praticamente fundida em seu corpo.

- Miguel, eu poderia dizer que é bom te ver novamente, mas na minha profissão, esse não é um dos melhores cumprimentos. – A médica particular da família Bolevuc também passava parte de seu tempo trabalhando no pronto socorro. Seu nome? Doutora Sarah Miller. – O que aconteceu desta vez?

Ele se encaminhou até a maca e nela se sentou, soltando um gemido pela dor que aquele movimento lhe causara.

- Não viu no noticiário? – Acenou para o computador sobre a mesa com um movimento de cabeça.

- Sim, eu vi. Mas não imaginei que você fosse salvar a vida de alguém como Anne Bolevuc. – A médica se aproximou do jovem e o ajudou a tirar a jaqueta e a camisa ensanguentada. – Não faz parte de seu feitio.

- Louis pagou bem. – Disse e cambaleou pra trás quase perdendo a consciência.

A doutora assustada o deitou na maca e pôs a mão sobre sua testa. Já havia cuidado dele muitas vezes e da ultima vez que o viu naquele estado fora quando ainda era um adolescente e se feriou treinando tiros.

- Está gelado Miguel, e pálido também. Deve ter perdido muito sangue, por que demorou tanto pra vir para cá? – Desatou a faixa improvisada que estava sobre o ferimento, estava muito infeccionado e a bala já havia adentrado muito no corpo. – Vou te encaminhar para um hospital, temos que operar isso ai.

Ela ia para o telefone sobre sua mesa quando foi parada pela mão de Miguel que segurava seu braço.

- Não, sem hospital.

- Mas, Miguel. A bala está muito profunda, se eu tentar tira-la aqui será pior, você sofrerá muito.

Ele negou com a cabeça.

- Apenas faça.

Sarah Miller conhecia Miguel desde pequeno e sabia que não adiantava discutir com ele.

- Tudo bem. –suspirou.

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Porsche de Thereza

17/12/2007

Musica:http://www.youtube.com/watch?v=Xv24N8H1KyI

- I'm on the highway to hell, Highway to hell – Cantava alto uma das musicas de sua banda preferida, AC/DC, enquanto o vento que entrava pela janela batia no seu rosto.

Aproveitava o máximo do pouco sol que havia naquela região naquela época do ano antes que chegassem a Chicago.

Olhou para seu supervisor sentado no banco ao seu lado com cara de poucos amigos.

- Vamos lá Gary, cante comigo, On the highway to hell, I'm on the Highway to hell. – Batucou a batida da musica no volante e cantou mais alto. Mexia a cabeça de um lado para o outro. Gary desligou o som do carro.

-Eiii!

- Preste atenção na estrada. – Disse serio.

Tessa fez bico e o encarou fuzilante por detrás de seus óculos Ray Ban tradicionais com lente preta e contorno dourado.

Ligou o som novamente.

- Meu carro, minhas regras.

Gary desligou o som.

- Eu sou o mais velho aqui.

Tessa ligou o som.

- Eu estou dirigindo.

Gary desligou.

- Eu vou te por pontos na carteira. E tomar sua habilitação.

Tessa arqueou as sobrancelhas.

- Você não acha que eu pelo menos mereço ter um pouco de musica no meu próprio carro depois de tudo o que fiz hoje?

Ele suspirou e ligou o rádio. Tessa sorriu vitoriosa, hoje era seu dia de sorte.

- O que pretende fazer agora que sabe para quem nosso assassino trabalha?

- Não se preocupe com isso Gary, eu tenho um plano. – E continuou batucando ao ritmo final da musica. - And I'm going down all the way, I'm on the highway to hell.

No fundo sabia que algo estava para acontecer, e isso a alegrava e a deixava mais animada do que nunca.


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