1995

            Encosto a cabeça no banco do metrô, tentando esvaziar a mente – o que é quase impossível, pois as vozes dos passageiros tiram a minha concentração. Sem saber o que fazer, decido prestar atenção na conversa de três adolescentes próximas a mim.

            Reclamam sobre roupa, cabelo, corpo... Banalidades da idade. Mas para que criticá-las? Elas só estão sendo adolescentes. Só estão agindo como garotas normais da idade delas.

            “Normal”

            Esta é uma palavra bem forte, não é?

            Eu sempre quis ser normal... Sempre tive medo de me aproximar das outras pessoas por conta de quem eu sou. Elas nunca me aceitariam, sempre me temeriam, não é verdade?

            Mas você pareceu trazer a salvação para um tímido e desajeitado adolescente de dezesseis anos.

            “O que é ser normal para você, Subaru-kun?”

            “O que significa uma pessoa normal?”

            “Por acaso seria ‘ser igual aos outros’?”

            Ah, Seishiro-san... Como eu me agarrei a essas palavras. Como quis torná-las verdadeiras. Embora eu não tivesse demonstrado meus sentimentos naquele momento, você não imagina o quão confortável eu havia me sentido por dentro. Você me fez entender que eu não precisava mudar. Bastava eu me aceitar do jeito que eu era.

            Por que, Seishiro-san?

            Por que você me consolou, secou minhas lágrimas, para depois fazer com que eu as derramasse da forma mais dolorosa possível?

            Por que iludiu um garoto que tentava se encaixar no mundo?

            Ah, como amei você, Seishiro-san.

            Mas você transformou esse sentimento puro e ingênuo no ódio mais violento que a minha alma já conheceu. Eu anseio por vingança, por justiça, por respostas.

            Isso é ser normal, Seishiro-san?

            Que respostas você me daria?

            Creio que nunca saberei a resposta... Ou melhor, vou guardar essa pergunta para quando nos encontrarmos.

            Sinto que o tempo se arrasta cada vez mais, mas não posso me dar por vencido. Tenho um objetivo a cumprir: matá-lo dentro do meu coração.

            Mas...

            Eu não entendo...

            Por que isso é tão difícil?