Remember Yesterday escrita por Shaarp


Capítulo 9
Capítulo 9 - Loneliest Star


Notas iniciais do capítulo

da dó do Ville nesse capitulo ): Enjoy



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/101480/chapter/9

Loneliest Star

Bam Margera.

Uma tarde cheia.

Às seis horas me deitei no sofá do saguão e acabei por dormir. Roxane tentara me acordar; Dunn tentara me acordar; Todos tentaram me acordar. Eles diziam algo sobre uma festa de boas-vindas para nós mesmos, na piscina do hotel. Sim, nos tínhamos uma piscina relativamente enorme.

Continuei dormindo no saguão, trabalhei loucamente, o que fez me sentir responsável como poucas vezes em minha vida sem regras. Estava cansado de subir escadas e descer escadas, colocando cada câmera em cada canto daquele hotel estrondoso.

Acordei sem saber que horas eram, e de longe ouvia o som alto ligado, vindo da piscina. Levantei um pouco a cabeça, e vi através da porta de vidro muitas luzes e as pessoas passando, rindo, bebendo loucamente. Aquilo com certeza daria boas imagens, eu pensei.

Nesse momento avistei, ainda com os olhos embaçados, uma pessoa sem camisa e de calças pretas, sentada no ultimo degrau da escada de emergência, que permanecia aberta. Serrei os olhos e então consegui enxergar.

Lá estava Ville Valo, o cabelo bagunçado na cara, sentado relaxadamente, como se tivesse caído e ficado, entornando uma garrafa preta. Levantei-me e me aproximei do finlandês, que nem ao menos me notou. O braço esquerdo se mantinha jogado ao lado, como um membro morto, a mão segurando uma bituca de cigarro que provavelmente o garoto esquecera que estava fumando, enquanto o outro braço levantava novamente a garrafa de Jack Daniels e a entornava em sua boca em fortes gargalos, como se fosse um suco de frutas.

_Ville?

Ele virara o rosto lentamente para me olhar, os olhos bêbados dançantes me fitaram.

_Olá. –Ele disse lentamente, se arrumou no degrau e fez um gesto me oferecendo a bebida. Não pude recusar.

Sentei ao seu lado, tirando a garrafa de sua mão e também a bituca apagada de cigarro da outra.

_Pelo jeito essa festa está boa. –Sorri.

_Ahn, na verdade não. Quer dizer, não pra mim... Na verdade eu não sei. –A voz embriagadíssima de Ville sempre me fazia rir, mas dessa vez tinha uma morbidez a mais em suas palavras lentas que mal saíam da boca. –Eu peguei a garrafa e fui embora, não to afim de festa, não tenho nenhum motivo comemorativo pra fazer uma festa, sabe? –Ele riu quase sem forças. –Você me entende, não é? Qual o motivo dessas festas, afinal? Ninguém está fazendo aniversário e também não é natal. Por que eu teria de concordar com uma festa sem sentido se eu simplesmente fodi com tudo?

Coloquei a mão em seu ombro como um consolo, ainda impedindo facilmente que ele não colocasse suas lentas mãos sem reflexo em cima da garrafa de Jack Daniels. Perguntei o que houve, ele demorou a tentar responder, estava bêbado de uma maneira que eu nunca tinha visto, no ponto perfeito de...

_Vou vomitar. –Ele simplesmente não se moveu, deixando que sua bílis escorregasse por seu peito, olhou para o mesmo surpreso e fazendo cara de nojo, uma cena um pouco hilária. –Podia ser pior, por sorte não comi nada o dia todo. –Ele sorriu ironicamente.



E lá estava o garoto que sempre batia nas minhas costas enquanto eu vomitava, dessa vez sentado desajeitado no chão do box de meu banheiro, nu, com a cabeça encostada no azulejo, os braços caídos como mortos, os cabelos escorridos pelos ombros e os olhos fechados, simplesmente sentindo a água gelada do chuveiro que caía sobre seu rosto e banhava o resto de seu corpo. Provavelmente estava dormindo.

_Que merda esse garoto aprontou? –Linde cruzava os braços com desgosto, parado a frente da porta do banheiro.

_Eu achei que ele tivesse ido dormir. Lá na festa ele pegou umas duas ou três garrafas e me disse que estava com dor de cabeça, que iria tomar algumas pílulas pra dormir e misturar com a bebida, pra fazer efeito mais rápido. Eu nem liguei, ele faz isso sempre e nunca morre. –Migé debochava, se fazendo de machão, mas fitando o amigo de infância com um olhar preocupado.

_Dês de quando Ville toma pílulas? –Indaguei preocupado.

_Dês dos quinze, bro. –Linde desfez os braços e se sentou em cima do vaso sanitário. –Você nunca soube, por que ele não gosta que ninguém saiba, acha que essa é a sua pior fraqueza.

_Que tipo de pílulas ele toma?

_A que tiver. –Migé tentou sorrir sem sucesso. –Já tomou todo tipo de coisa, até Viagra, não que ele precise. –Ambos sorriram. –Ele só pega e toma, pra depois ler a caixinha e ver o nome do que tomou.

_Cacete, como eu nunca soube disso?

_Por que não é droga, na maioria das vezes.

_É, eu tenho a lista na minha cabeça das coisas que ele já tomou... –Linde revirou os olhos, procurando se lembrar. –Benflogin, Diazepan, Ripnol, Rivotril, Dramim, Valium, Viagra, Hactapan, Ketamin... –E a lista continuava. –Enfim, nada de drogas “de verdade”, só quando ele toma sem querer, numa festa por exemplo.



Linde e Migé continuaram a me contar coisas sobre Ville das quais provavelmente eu nunca descobriria saindo de sua própria boca. Passamos cerca de meia hora conversando, quando Ville resolvera finalmente dar sinais de vida. O vestimos com qualquer roupa que tínhamos achado em suas malas e o colocamos na minha cama, Ville reclamava como um garotinho mimado de cinco anos, mas não demorou a pegar no sono novamente. Linde e Migé foram embora, fazendo-me prometer que ficaria ali cuidando da temperatura corporal do finlandês. Deitei-me ao seu lado na cama e liguei a tv.

O sol já nascia quando Ville acordou, se levantou rapidamente, correndo para o banheiro como louco e enfiando sua cabeça no vazo sanitário. Vomitou mais três vezes seguidas após aquilo, num intervalo de cinco minutos cada. Tentei lhe dar algo para comer, mas o mesmo reclamava de enjôo.

_Que tal tomar um Dramim? –Eu sorri olhando seus olhos de ódio enquanto se agarrava ao vazo sanitário. No mesmo momento afogou sua cabeça novamente. Mais um vomito, só água.

_Filho da puta. –Reclamou com a voz rouca e tremula. –Eu nem tenho mais bílis pra vomitar, e você vem me falar de Dramim? –Ficou sério, como se estivesse se lembrando de algo que não podia ter esquecido.–Lily e Migé te contaram, não é?



_Você podia ter me contado, isso não ia mudar nada na nossa amizade, você sabe, eu sou tão pior quanto você. –Estávamos sentados na cama agora.

_Mas você faz pra entrar na farra, pra zoar. Eu faço por que sou viciado, tanto que não faço na frente de ninguém.

_E o que te motivou a fazer isso noite passada?

Ville abaixou a cabeça e permaneceu em silencio.

_A Kate escolheu o Bert, não é?



Eu andava rapidamente pelo corredor, até achar a porta do quarto dela. Bati varias vezes seguidas, na força bruta. Ouvi resmungos preguiçosos vindo em minha direção. Bert abrira a porta, a pior das coisas que podiam acontecer.

_Quero falar com a Kat, em particular, posso?

_Bom dia pra você também. Ela ta dormindo, são 6 horas da manhã Bam, se toca. –Fechou a porta na minha cara.

Voltei a bater fortemente.

_Sai do quarto, eu quero falar com a Kat. –Era obvio que eu e o Bert já não éramos bons amigos como nos velhos tempos, simplesmente nos suportávamos porque nós dois nos importávamos o suficiente com a felicidade de Kate.

Bert deixou o quarto com aquele maldito olhar de ódio de furar a pele como lazer, bateu a porta atrás de mim, tornando mais fácil que eu acordasse Kate.

_Porque você está com o Bert?

_Porque eu quis, Bam. Pára de tentar controlar minha vida. –Ainda deitada e sob as cobertas (estava nua), se virou de costas para mim.

_Eu não quero controlar sua vida, Kate. Só quero o que é melhor pra você.

_E como diabos você sabe o que é melhor pra mim? Eu não posso simplesmente ter a liberdade se escolher ficar com quem eu quero?-Colocou o travesseiro sobre a cabeça. Eu logo o arranquei a força se seus braços.

_E com quem você quer ficar Kate? –Gritei rente ao seu ouvido. –Você pode enganar quem você quiser, mas a mim você não engana, porra. Eu vi o seu sorriso do lado dele, eu vi como você estava feliz, completa. Por que o Bert? Não vê que ele só te faz mal? Só suga toda sua alegria, como um parasita?

_Cala a boca, isso não faz sentido.

_Cresce, Kate. Cacete! Você não percebe que ele só esta te usando pra ter um sexo fácil? Ele nem ao menos te ama Kate, só você não percebe isso! Sempre foi assim, você bebe pra caralho, apaga, e não vê quanto chifre o desgraçado bota na sua cabeça enquanto você esta no banheiro vomitando. Depois de tranzar com todo tipo de pessoa, ele volta, vê que você não está mais passando mal, e te traça o resto da noite, sua babaca! Ele já fez isso milhões de vezes!



Kate permaneceu calada, pasma com minhas palavras, a boca meia aberta e o lençol caído, deixando amostra um de seus seios sem que ela ao menos se importasse.

Eu agüentei por quase dois anos toda aquela merda, ver minha melhor amiga ser usada. Não queria vê-la sofrer, por isso nunca lhe contei, esperava que ela descobrisse sozinha e superasse sozinha. Quando te jogam algo na cara, é muito pior suportar a dor. Mas aquela foi a gota d’água, não ia mais suportar aquele drogado de merda fodendo com minha irmãzinha.

_D-do que você está falando?



Eu tentei explicar da melhor maneira. Ela chorava de arrependimento, e me batia me chamando de mentiroso ao mesmo tempo. Mandei-a acalmar-se, sabia que era mais um maldito ataque de pânico, fazia um bom tempo que ela não os tinha mais.

Sua mãe nunca me explicou o motivo de uma garota de dezesseis anos ter ataques de histería e pânico, algo forte devia ter acontecido com ela, algo que nem ela mesma sabia ao certo, mas algo que havia ficado marcado ali no fundo de seu subconsciente, algo que fazia com que ela fosse milhões de vezes mais adulta para a sua idade, e ao mesmo tempo a garota mais inocente e infantil do planeta, que mesmo sendo independente e tão psicologicamente forte como um homem crescido, tinha duvidas e medos sobre qualquer coisa que fosse fora de sua rotina de quase-sexo, drogas e rock’n’roll. Como podia uma garota de dezesseis anos ter o peso do mundo em seus ombros e ter o stress de um bancário prestes a falir? Somos como irmãos gêmeos dês de muito novos, e eu nunca consegui descobrir.



Me lembrei de uma cena: Três dias depois de começarmos nossas viagens, numa parada qualquer. Kate estava sentada solitária na escada do trailer, bebendo um energético e fumando um cigarro, olhando com um desprezo obvio para todos os outros fora do trailer. Ville estava sentado ao meu lado ligeiramente longe dela, a olhando também...

“_Ela parece a estrela Vênus, a Estrela Solitária. Aparece sempre antes, ao longe de todas as outras, como se ela se sentisse superior e ao mesmo tempo excluída de tudo. A estrela Venus aparece de manhã e ao entardecer, está sempre sozinha, nenhuma estrela aparece ao lado, nunca, nem nos céus mais limpos. É uma estrela linda e com um brilho único, alias, ela é única por si só, é a mais especial de todas, pois tem uma hora só dela para aparecer. Mas ela não percebe a força do seu brilho, da sua beleza, ela só se sente excluída, se perguntando por que não está com todos os outros, porque não pensa e nem se sente como todos os outros, porque se sente sozinha mesmo tendo todos a sua volta, ela não percebe o lado bom de não ser como os outros... E mesmo assim ela faz questão de nunca se misturar, como se soubesse que ficar sozinha é de sua natureza.

_Você ainda está falando de uma estrela, dude?”



Deixei Kate por si só, para pensar no que queria fazer de sua vida. Eu sabia que ela não ia terminar com Bert até ter certeza de que tudo o que eu disse fosse verdade, maldito orgulho. Encontrei-me com Gerard e Frank na sala de jantar, eles comiam sozinhos na mesa seus fartos cafés da manhã. Sentei ao lado dos garotos, afoguei o rosto em minhas mãos, sentindo vontade de chorar. Gerard e Frank permaneceram calados, mas eu pude imaginar que eles olhavam um para a cara do outro com feição de dúvida.

_Olha, Gee! –Levantei a cabeça também, Frank apontava para o céu. –A Estrela Vespertina!

_É Venus, seu pateta. –Gerard respondeu duro.

_É a Estrela Solitária. –Eu respondi com os olhos vidrados em seu brilho azul-claro.

_Quem te disse que Venus tem esse nome patético?

_Uma estrela solitária.

_________________________________________

Loneliest Star _Seal.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*-*



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Remember Yesterday" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.