Marry Me! escrita por Mye-chan


Capítulo 3
Conhecendo os Harunos




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Parecia ser uma perfeita manhã de domingo para os Harunos: ensolarada e fresca, o tempo ideal para um passeio em família ao parque.

Mas, como bem dizia o ditado, as aparências enganam.

Para Hiroshi Haruno, patriarca da família e arquiteto bem-sucedido - com uma vasta gama de importantes obras públicas e privadas registradas em seu portfólio -, os domingos junto a sua família eram sagrados. Isso porque, para conseguir chegar onde agora estava, o senhor Haruno teve que fazer diversos sacrifícios, e o tempo livre com seus entes mais queridos fora o principal deles. Apesar de amar muito a sua família, a ambição por provar para os seus rigorosos sogros que ele era capaz de prover uma vida digna e confortável a elas fora bem maior. Com regular freqüência permanecia até altas horas em seu escritório, isso quando não trazia trabalho para casa, e muitos finais de semana assim também foram perdidos. Porém, por exigência de sua esposa – que não agüentava mais a ausência do marido e, principalmente, o olhar triste de sua pequena perguntando pelo pai –, os dias de domingo acabaram sendo reservados apenas para a família.

De modo geral, os Harunos eram bastante unidos e felizes; recém ingressados na alta sociedade japonesa, a família era composta por apenas três membros: o já mencionado senhor Hiroshi Haruno, sua dedicada e adorável esposa Kaede Haruno, e, finalmente, mas não menos importante, Sakura Haruno, a única herdeira e princesinha da casa.

Observando-os agora, morando em uma mansão de um dos bairros mais ricos de Tókio, ninguém poderia imaginar os problemas que eles tiveram de enfrentar. O jovem casal Haruno, frente à oposição dos pais da moça à sua união, fugira da cidade para poder se casar. O motivo dessa oposição era devido ao baixo nível sócio-econômico de Hiroshi, que, sem poder contar com a ajuda dos falecidos pais, teve que batalhar bastante para conseguir realizar seus objetivos e sustentar sua família. Felizmente o tempo tem o poder de curar - ou pelo menos cicatrizar - todas as feridas, e os Senjus acabaram aceitando, melhor dito, se conformando com a escolha de uma de suas herdeiras. Ou talvez fosse a presença de um anjinho rosado o responsável por essa mudança de comportamento.

E devido a tudo o que enfrentara – a morte precoce dos pais em um acidente fatídico de carro, a relação tumultuada com a família da esposa, a luta diária para conseguir seu espaço no mercado de trabalho e na sociedade –, senhor Haruno tornara-se uma pessoa bastante séria e reservada. Hiroshi estava acostumado a lidar com as mais difíceis situações com calma e tranqüilidade...

— O que aquele pivete está fazendo na sala com a minha Sakura?

...Exceto quando se tratava de algo relacionado à sua princesinha.

Kaede, que se encontrava de costas na cozinha enquanto preparava chá e biscoitos ao visitante, virou-se para encarar o marido recém-chegado ao aposento, com um enorme sorriso:

— Bom dia, querido! — aproximou-se para dar-lhe um beijo no rosto. — Que bom que você acordou, estávamos te esperando!

— Bom dia. — retribuiu o gesto, sem deixar a rígida expressão. — Você ainda não me respondeu. O que aquele pivete está fazendo na sala da minha casa com a minha filha? — questionou emburrado.

— Hiro, por favor, não o chame assim... Ele tem nome e sobrenome: Sasuke Uchiha. É o novo amiguinho da Sakura, então é melhor tratá-lo muito bem. — deu uma piscadela. Charme era algo que corria naturalmente no sangue da família. — Além disso, Sasuke-kun estava até agora esperando você acordar, pois queria conversar com você. — disse a última parte com um tom divertido na voz.

— Conversar? Eu não tenho nada a falar com um pivete. — cruzou os braços em frente ao peito e virou o rosto para o lado, contrariado.

Quem imaginaria que o sempre tão sério e respeitado arquiteto Hiroshi Haruno fizesse tanta birra por algo tão pequeno? Seus companheiros de trabalho certamente que não.

— Espere. Você disse “Uchiha”? — voltou a encarar a esposa, irritado, sem esperar uma confirmação. — Eu sabia que tinha motivos para não gostar daquele garoto... Ele é filho daquele famoso empresário, Uchiha Fugaku, não é mesmo? Você sabe que eu não gosto dessa gente...

Suspirando cansada, Kaede replicou:

— Sim, ele é o filho mais novo de Uchiha Fugaku, o presidente das empresas Uchiha. — Entendendo de onde a antipatia pelo pequeno Uchiha provinha, emendou: — Escute, eu sei que o motivo para você implicar tanto com os Uchihas, ou os Hyuugas, ou praticamente todos os nossos vizinhos são os meus pais, mas nem todas as famílias da alta sociedade são como eles; veja como exemplo os Uzumakis - sempre tão atenciosos e gentis. E se você o conhecer, sei que vai adorá-lo. Sasuke-kun é uma criança tão educada, e parece gostar muito da nossa Sakura.

— Humph, nada vai me fazer gostar daquele pivete. — protestou. — Algo me diz que ele ainda irá tirar a princesa Sakura de mim...

Ao ouvir o tom enciumado do marido, Kaede riu divertida:

— Ora, Hiro, pare de ser tão superprotetor e possessivo com a Sakura. Se você é assim agora, não quero nem imaginar quando ela atingir a adolescência. Além disso, o Sasuke-kun quer apenas conversar... — E então, pegando a bandeja com guloseimas, começou a se encaminhar até a sala onde os pequenos aguardavam. — Você age como se ele estivesse aqui para pedir a mão dela em casamento! — brincou a senhora Haruno, sem saber o quão perto da verdade ela estava...

.:oOo:.

— Então, Uch... Err, Sasuke. Você queria conversar comigo? — tentou parecer simpático, lembrando-se das palavras de sua esposa enquanto voltavam para o aposento.

(“Ao menos seja educado. Ele é apenas uma criança, não irá dizer nada de tão grave assim, muito menos irá roubar a sua princesinha... Pelo menos não AINDA; está uns dez anos adiantado.”)

— Sim, senhor Haruno. Eu tenho um importante assunto a tratar com o senhor. — respondeu o pequeno, usando palavras difíceis para uma criança de sua idade, mas que não era um problema para o prodígio dos Uchihas.

Era uma situação no mínimo cômica - ver aquele ser tão pequeno, falando de um modo tão adulto. Se o senhor Haruno não estivesse tão enciumado de ver o Uchiha segurando a mão de sua princesinha enquanto esta apenas sorria meigamente para ele, talvez tivesse rido com a cena. Já a senhora Haruno, ao contrário do marido, apenas assistia a tudo com um sorriso divertido no rosto.

— E o que seria?

O pequeno Uchiha tentou se lembrar das palavras exatas a serem ditas ao futuro sogro, as mesmas que haviam sido devidamente ensaiadas na noite anterior junto ao seu irmão mais velho...

[...]

[...]

[...]

— Eu tenho que pedir o quê? — indagava o mais novo, com uma expressão interrogativa na face.

— Você deve pedir a mão da Sakura-chan em casamento. — replicou Itachi, sorrindo internamente das caretas do pequeno, principalmente pela expressão revoltada e confusa que este adotou após ouvir sua resposta.

— Mas eu não quero só a mão da Sakura, eu quero ela por inteiro! Como eu vou poder conversar ou brincar só com a mão dela?

Desta vez, Itachi não conseguiu se segurar; soltou uma gargalhada divertida enquanto o mais novo apenas encarava-o com o cenho franzido, aborrecido por sentir-se caçoado pelo seu nii-san (1).

— Por que está rindo? Não vejo a menor graça! — cruzou os braços, emburrado.

— Desculpe-me, Sasuke... — Itachi tentava conter o riso e se recompor, percebendo que estava magoando de verdade o pequeno; ele era sempre tão sério quando se tratava de assuntos relacionados à Sakura. Sorriu e explicou: — Você não vai ficar apenas com a mão da Sakura-chan; essa é só uma forma de expressão que os adultos usam quando querem pedir permissão aos pais da menina em casamento.

O caçula desfez sua expressão emburrada e assentiu, demonstrando que havia compreendido.

– Entendi... Mas ainda acho isso tudo muito estranho. Adultos são tão complicados...

Itachi apenas sorriu singelo e bagunçou os cabelos do irmão, em um gesto afetuoso.

— São mesmo... Os adultos gostam de complicar tudo.

[...]

[...]

[...]

— Eu vim aqui pedir a mão da Sakura em casamento. — declarou imponente, como um verdadeiro Uchiha faria. Herança genética, claro.

Alguns minutos de silêncio seguiram aquela declaração, talvez devido ao choque inicial dos adultos presentes.

— ...Como disse? — o patriarca Haruno não podia - e nem queria - acreditar no que ouvira. Deveria ter entendido errado, essa era a única explicação lógica.

— Eu vim pedir permissão para me casar com a Sakura. — repetiu em um tom mais claro e alto, sentindo-se levemente irritado com a “surdez” do mais velho. Mas precisava ser paciente, afinal, sua Okaa-san (2) lhe disse que era algo normal os adultos ficarem surdos quando atingissem uma certa idade.

Ele sequer desconfiava que o problema do senhor Haruno não se tratava de surdez.

Enquanto Sasuke se compadecia dos problemas de audição do mais velho, Hiroshi permanecia imóvel e em estado de choque. Ainda que conservasse uma expressão séria na face, internamente se debatia histericamente. Era o pior dia de sua vida; seu maior pesadelo desde o nascimento de Sakura estava se tornando realidade: sua princesinha havia crescido e ele nem havia percebido o tempo passar tão rápido... Deveria ter estado menos enfurnado em seu escritório e aproveitado mais o tempo junto à sua garotinha. Parecia ser ontem que ele a pegara no colo e os dois brincaram de cavalinho, correndo animadamente pela casa...

Mas, espere!

Havia mesmo sido na noite anterior que tudo aquilo ocorrera! Afinal, o que estava acontecendo com essa juventude atual?! Aquilo não podia estar acontecendo, não devia estar acontecendo... Talvez tudo não passasse apenas de um pesadelo, talvez logo ele acordasse, achando até graça desse sonho ruim. Começava a sentir sua cabeça dar voltas...

Já Kaede, ao contrário do marido, apenas piscara algumas vezes antes de abrir um sorriso doce e divertido. Crianças eram seres realmente adoráveis, e aquele pequeno à sua frente conseguira conquistar não somente o coração de sua filha, mas o seu também. Não se importaria nem um pouco se em um futuro não muito distante aquela cena se repetisse, para ela poder lhe dar a sua benção com gosto. E observando o jeito carinhoso como ele tratava a pequena, não pôde evitar um pensamento cruzar por sua mente: sua filha com certeza havia herdado o bom gosto da mãe para namorados.

Distraída com esses pensamentos, a matriarca Haruno não notou a falta de coloração no rosto de seu marido, ou a estranha falta de reação do mesmo, apenas lembrando-se de sua existência ao ouvir a xícara de chá que este segurava ir de encontro ao chão.

.:oOo:.

Acordou meio zonzo, sentindo sua visão clarear aos poucos. Ainda sentia-se mareado e lembrava-se vagamente de ter tido um pesadelo em que sua princesinha era levada para longe por um cara muito, muito mau...

— Ah, graças a Deus! Está se sentindo melhor, querido? — ouviu a voz preocupada de sua esposa questionar. Quando seus olhos focalizaram totalmente, percebeu que estava recostado no colo da mesma e era abanado levemente por um pequeno leque.

Levantou-se vagarosamente, tentando não forçar o corpo antes de se recuperar totalmente. Erguendo a mão até a testa, massageou um ponto na mesma tentando fazer com que sua cabeça parasse de rodar.

— Ah, sim... Eu tive um pesadelo horrível em que o filho dos Uchihas vinha aqui pedir para se casar com a nossa Sakura... Haha, pode isso? — comentou rindo forçadamente, como se aquilo fosse uma piada sem-graça.

— Err... Bem, na verdade... — não terminou a frase, mas deu a entender todo o significado.

O senhor Haruno virou-se de frente para sua esposa, encarando seriamente aquela expressão de divertimento contido da mesma.

— Então ele realmente esteve aqui, não é mesmo? — aquela era uma pergunta retórica, mas ele precisava confirmar o que sua memória se recusava a crer. A jovem esposa apenas sorriu levemente, como um pedido de desculpas, confirmando com um aceno de cabeça. Hiroshi massageava as têmporas, tentando acalmar a dor de cabeça que ele já pressentia vir. — E você dizendo que eu só teria este tipo de conversa daqui a alguns anos... E onde eles estão agora?

— No quarto da Sakura.

— O QUÊ?! — abandonou sua postura aparentemente calma, segurando sua esposa pelos ombros e a chacoalhando. — Você deixou que um garoto entrasse no quarto da minha menininha?!

Kaede, que nunca fora conhecida por sua paciência, adotou uma expressão levemente irritada, segurando os pulsos do esposo e fazendo com que este parasse de balançá-la.

— Ah, por favor, Hiro! Ele é apenas uma criança. — repreendeu a senhora Haruno. — E o que queria que eu fizesse? Você simplesmente desmaia, deixando a Sakura preocupada e o Sasuke-kun confuso. Nem ao menos sabe o trabalho que deu para acalmar a sua filha e convencer os dois a saírem da sala... — disse a última parte sibilando, lembrando-se do ocorrido de minutos atrás.

[...]

[...]

[...]

— Papai! — a pequena Haruno correu ao seu lado, preocupada.

— Hiro! Hiro, acorde! — dava leves tapinhas em seu rosto, tentando fazê-lo reagir. Reparou na expressão preocupada de sua filha; era melhor tirá-la de perto do pai antes que começasse a chorar. — Sakura, não se preocupe; seu pai está bem. Ele apenas ficou emocionado com a notícia. Por que você não leva o Sasuke-kun para brincar em algum lugar?

— Não! Eu quero ficar junto com o papai!

— Sakura... — repreendeu a mais velha.

— Mas...

— Não se preocupe, eu aviso quando ele acordar.

— Mas ele ainda não disse se eu podia me casar com a Sakura... — desta vez quem se pronunciou foi o pequeno Uchiha.

— Não se preocupe, Sasuke-kun. Tenho certeza que logo ele despertará para te dar a sua benção. — mentiu a mulher. Conhecendo bem o marido que tinha, sabia que mesmo que aquilo fosse uma brincadeira de crianças, ele morreria de ciúmes de entregar a sua princesinha.

— Okay! — o Uchiha sorriu singelamente.

A pequena herdeira Haruno sorriu também e pegou em sua mão, levando-o consigo em direção ao lance de escadas.

— Vamos, Sasuke-kun! Quero te mostrar o meu quarto!

E os dois sumiram escada acima.

[...]

[...]

[...]

— ...Você disse para aquele pivete que eu apoiaria esse casamento? — interrompeu o patriarca, franzindo o cenho. — Como pôde dizer algo assim?! Eu nunca entregaria a minha Sakura para ele! Nunca! — declarou, birrento.

Kaede tentava com muito custo controlar seu temperamento explosivo. Às vezes seu marido podia ser tão paranóico e infantil... Principalmente quando se tratava de sua pequena. Mas não podia reclamar, afinal, era por esse homem - com todos os seus defeitos e qualidades - que se apaixonara; claro que, em momentos críticos como aqueles, era preciso um pequeno puxão de orelha de sua parte. Respirou fundo e encarou-o seriamente, com seus lindos orbes faiscando.

— Hiro, querido... — começou em um tom doce. — Pare com essa sua infantilidade! Eles são apenas crianças, nem sabem o que o casamento significa de verdade! Para eles isso é apenas uma brincadeira, então se comporte como o adulto que você é e entre na brincadeira deles! — explodiu. Então, voltando ao tom de voz de antes, acrescentou: — Alguma objeção?

Apesar de sentir-se contrariado e bastante tentado a protestar, Hiroshi apenas negou com a cabeça. Conhecia muito bem a sua esposa, e sabia que quando ela adotava aquele tom específico na voz - adocicado demais - não deveria provocá-la. Senão, as conseqüências seriam graves. Não gostava nem de se lembrar da primeira e única vez que a enfrentara... Ainda tinha pesadelos horríveis com aquilo.

— Ótimo. Agora suba lá em cima para mostrar à sua filha que você está bem e diga ao Sasuke-kun que irá adorar tê-lo como genro. — terminou sorrindo docemente.

O senhor Haruno acatou as ordens rapidamente e subiu as escadas correndo. E por um segundo, apenas um segundo, se compadeceu do Uchiha, imaginando como seria se a filha herdasse o gênio da mãe...

.:oOo:.

Voltando um pouco no tempo... Enquanto o patriarca da família Haruno se recuperava do choque, duas pequenas figuras adentravam um enorme aposento - com paredes em um tom de rosa claro, móveis combinando perfeitamente com a decoração, uma pequena varanda no lado oposto à porta de entrada e outra porta no lado direito, que indicava o banheiro. Mas o que mais chamava a atenção naquele recinto certamente era a enorme cama situada junto à parede do lado esquerdo. Era uma cama no estilo princesa, com um dossel de cortinas transparentes e cheio de babados. Cortesia do senhor Haruno, claro.

O pequeno Uchiha estava surpreso; nunca havia visto uma cama daquelas pessoalmente, apenas nos filmes de príncipes e princesas que sua mãe insistia em lhe mostrar. Virou-se para a Haruno com os olhos ligeiramente arregalados e perguntou inocente:

— Eu pensei que só as princesas tinham uma cama como essa... Então você é uma princesa?

A menina apenas soltou risadinhas divertidas e respondeu com seu jeitinho meigo:

— Eu não sei... Mas papai sempre me chama de princesa. Talvez eu seja mesmo uma! — disse e correu em direção à sua cama, jogando-se em cima dela e soltando gargalhadas gostosas.

Sasuke observou a ação da menina com um sorriso contente no rosto. Sentia-se agora, mais do que nunca, orgulhoso de tê-la escolhido como noiva.

— Se você é uma princesa, então quer dizer que quando eu me casar com você serei um príncipe?

A Haruno adotou uma expressão pensativa no rosto antes de abrir um largo sorriso e responder:

— Não! Será um rei! E eu serei a rainha!

E com isso acertou um travesseiro que se encontrava ao seu lado em Sasuke, rindo divertida. O menino – com um sorriso travesso no rosto – correu para a cama, e logo os dois começavam uma guerra de travesseiros, em meio a gargalhadas e gritinhos, bagunçando o aposento. Ao cabo de alguns minutos, ambos caíram esgotados na cama.

Com o conforto do colchão macio e a queima de energia, começaram a sentir-se sonolentos, e a pequena Sakura – que tinha o hábito de dormir abraçada a um coelhinho de pelúcia cor de rosa – agarrou-se ao Uchiha inconscientemente. Este, que estava mais acordado que a Haruno, apenas sorriu e abraçou-a de forma protetora.

Estavam quase se deixando levar ao mundo dos sonhos quando uma voz bastante familiar irrompeu no ambiente...

— Uchiha! Saia de perto da Sakura agora mesmo!

.:oOo:.

O senhor Haruno aproximava-se do aposento da filha a passos lentos. Já estava resignado a atender ao “pedido” da esposa, quando se deparou com uma cena que não lhe agradou em nada: ao abrir a porta do quarto, encontrou o mesmo em estado lamentável, com os lençóis esparramados, travesseiros jogados por todos os lados e sua princesinha... sendo agarrada pelo pirralho Uchiha.

Err, certo, ele não estava exatamente “agarrando” ela, só estavam abraçados... Mas mesmo assim! Ele estava tocando a sua princesa, e isso já era demais! Nenhum homem – ou melhor, nenhum ser do sexo oposto, já que Sasuke era tecnicamente ainda um garoto – tinha permissão de sequer encostar um dedo nela! Quanto mais dormir na mesma cama e ainda por cima abraçados!

— Uchiha! Saia de perto da Sakura agora mesmo! — gritou enfurecido, acordando os dois pequenos.

Sasuke fitava confuso o futuro sogro, tentando imaginar o porquê de estar tão furioso consigo. Já Sakura esfregava os olhos, sonolenta, tentando descobrir o que havia acontecido. Antes mesmo que ela percebesse, estava sendo abraçada por braços fortes e afastada de perto do amigo.

— Uchiha, não quero mais você perto da minha Sakura, entendido?! Ou melhor, não quero nunca mais ouvir falar de você! Você está proibido de sequer dirigir-lhe a palavra!

Mas o escândalo do patriarca Haruno não apenas acordou os dois pequenos, como também chamou a atenção de sua esposa, que se encontrava preparando o almoço no andar de baixo. Assim que ouviu os gritos enfurecidos de Hiroshi, subiu correndo preocupada. Quando chegou ao aposento da filha, de onde provinham os gritos agora mais histéricos de seu marido, deparou-se com uma cena espantosa: o pequeno Uchiha encontrava-se sentado na cama de sua filha, encarando o homem à sua frente com olhos revoltados e confusos, enquanto este gritava barbaridades ao garoto e abraçava sua pequena de forma bastante protetora e possessiva; já a menina – motivo de todo o alvoroço, pelo que pode perceber – encontrava-se totalmente confusa e assustada, com lágrimas prestes a cair por seu rosto angelical.

Suspirou cansada. Era só dar as costas que tudo fugia de seu controle... Teria que dar um jeito naquela situação, como sempre.

— Hiro, o que você pensa que está fazendo? — perguntou com a voz firme e séria, conseguindo chamar a atenção do esposo. Este se virou para encará-la com uma expressão um tanto quanto cômica, não fosse a gravidade da situação.

— Kaede, esse pivete estava agarrando a nossa filha! — acusou de forma histérica.

— Hiro, por favor... Pare de paranóia, não percebe o que está fazendo à Sakura?

Foi então que o senhor Haruno reparou na expressão assustada e chorosa de sua menina. Aquilo o deixou paralisado, ainda mais quando ela se desvencilhou de seus braços, correndo para perto da mãe e abraçando-a inconsolada. Observou - ainda em choque e decepcionado consigo mesmo - a esposa acariciar a cabeleira rosada da pequena e falar palavras reconfortantes em seu ouvido.

— Calma, meu anjinho... Papai não estava falando sério, ele só estava brincando... Não é mesmo, Hiro? — lançou-lhe um olhar de sobreaviso para que ele não se atrevesse a discordar, apesar de que duvidava que o fizesse naquela situação. O senhor Haruno, muito abalado ainda por suas próprias ações, apenas concordou com a voz fraca e meio trêmula:

— H-Hai... (3) É apenas uma b-brincadeira, princesinha...

Sasuke, vendo a reação de Sakura, correu ao seu lado preocupado, chamando baixinho o seu nome. Esta, percebendo sua presença, logo se soltou de sua mãe e o abraçou forte, ainda sem conter as lágrimas.

Kaede lançou um olhar furioso ao marido, e este se encolheu envergonhado. Voltou a fixar seu olhar nos dois pequenos e, com uma voz doce e um sorriso amável, pronunciou:

— Sasuke-kun, por que não leva a Sakura para dar uma volta? Temos um enorme jardim aqui nos fundos, com uma linda árvore de cerejeiras que a Sakura adora! Vão lá brincar um pouco.

O herdeiro Uchiha apenas assentiu e saiu puxando a rosada em direção à saída do aposento, deixando os dois adultos sozinhos no mesmo. Quando viu que os dois pequenos estavam o suficientemente longe para não escutá-los, Kaede encarou o marido com um olhar repreensivo, mas falou em um tom de voz calmo:

— Hiro... Olha o que você fez: deixou a Sakura assustada. Era isso o que você queria? — O homem apenas balançou a cabeça negativamente, encarando o chão, desolado. — Então, por favor, tente ser mais racional da próxima vez. Eles são apenas crianças, sem malícia alguma... E você é um adulto crescido, deveria saber controlar os seus ciúmes. — Elevou sua mão ao rosto do marido, fazendo com que ele a encarasse nos olhos. — Eu sei que você ama muito a Sakura, mas ela não é nenhum passarinho para você deixá-la presa dentro de uma gaiola. Um dia ela irá crescer, conhecerá muitas pessoas, dentre elas muitos garotos também, e você não poderá prendê-la junto a você para sempre. Ela se apaixonará e irá querer formar a sua própria família, assim como nós formamos a nossa. Mas isso não significa que ela deixará de te amar. Você sempre será o pai dela, e isso ninguém nunca poderá mudar.

O patriarca Haruno ouvia a tudo atentamente, envergonhado de seus atos de minutos atrás. Sua atitude infantil e descontrolada havia feito sua princesinha se magoar. Sabia que o que sua esposa dizia era verdade, afinal, Kaede sempre fora a mais madura e equilibrada dos dois. Sem que percebesse, ela havia o envolvido em seus braços, em um abraço reconfortante. Abraçou-a de volta, inalando aquela essência que sempre lhe acalmava.

— Me desculpe... Agi como um idiota mesmo...

— Não se preocupe, não é a mim que você deve se desculpar. — sorriu-lhe docemente. — E você sabe que eu sempre estarei aqui, ao seu lado, até ficarmos bem velhinhos... Iremos ver nossa pequena crescer, amadurecer, cair algumas vezes, claro, mas sempre se levantando em seguida, porque ela é nossa filha. E ela será tão feliz como nós o somos... — acariciou o rosto do esposo, encarando-o amorosamente. — ...E iremos mimar muito os nossos netinhos de cabelos rosados e olhos ônix. — disse a última parte de forma divertida.

Hiroshi, que ouvia tudo fazendo uma pintura mental do futuro, congelou subitamente e se afastou de sua esposa, segurando-a pelos ombros e fazendo uma expressão pouco fingida de revolta.

— Como assim “olhos ônix”? Você não acha mesmo que eu vou entregar a minha princesinha para aquele pivete Uchiha, acha? Eu prefiro até o filho do Minato a ter aquele Uchiha como genro! — cruzou os braços emburrado.

— Ah, Hiro... Deixe de implicância, eu sei que você só não gostou do menino porque ele se parece muito a certo alguém... — cutucou o marido. — ...quando mais novo. Mas lembre-se que ela é minha filha também; está no sangue o gosto por homens ambiciosos e arrogantes... — sorriu zombeteira.

— Hei! — mostrou falsa indignação. Logo sorriu junto a sua adorável esposa, sentindo como uma brisa fresca entrava em sua vida e trazia consigo novos ares que abririam passo para um novo futuro.

.:oOo:.

O resto do dia na residência Haruno passou-se muito mais tranqüila depois daquela conversa. Hiroshi pedira desculpas a Sasuke e a Sakura pelo ocorrido no aposento da menina, e até fizera uma brincadeira sobre o casamento dos dois, pedindo ao Uchiha que esperasse pelo menos uns vinte anos até celebrar o mesmo. Em contrapartida, o garoto franzira o cenho e respondera que aquilo parecia ser muito tempo, e que só esperaria até que ele ficasse grande o suficiente para poder se casar com ela. Isso fez com que a antipatia inicial pelo menino retornasse.

Mas apesar da implicância, Hiroshi começava – secretamente, é claro - a se afeiçoar ao pequeno, percebendo o quão cuidadoso e carinhoso ele era com a sua princesinha, e como a menina parecia muito mais feliz ao seu lado.

Bem, talvez não fosse tão ruim assim ver o tempo passar, pois poderia acompanhar de camarote como o futuro daqueles dois pequenos se desenrolaria... Talvez aquele fosse o início de uma bela história de amor...

Mas isso, só o tempo diria.

To be continued.

Minidicionário:

(1) Nii-san: Significa “Irmão”, e tem como variáveis “Onii-chan”, “Onii-san”, “Nii-chan” e “Onii-sama”, porém só é usado quando se referindo ao irmão mais velho (no masculino). Para irmão mais novo usa-se “Otouto”; para a irmã mais velha “Onee-san”, “Onee-chan”, “Nee-san”, “Nee-chan” e “Onee-sama”, e para irmã mais nova “Imouto”.

(2) Okaa-san: “Mãe”, “Mamãe”. Suas variáveis são: “Okaa-chan”, “Kaa-san”, “Kaa-chan” e “Okaa-sama”.

(3) Hai: “Sim”, “okay”; sinal de afirmação.


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