Por causa da atitude imatura de Seishirou, ele e Arthur passariam uma semana sob a vigilância de Alfred, o mordomo mais velho da mansão Scarlet. A madame Scarlet, suspeitando de Keiichi como cúmplice de seu filho, designara outro subordinado para observar as aulas. Aquela ideia dada pelo professor o manteria no emprego. Ponto a favor, avança uma casa.

- Bom dia, Seishirou-san.

- B-bom dia, sensei.

O menino tinha assumido um olhar indefeso e um semblante tímido, cumprimentando o professor sem hesitar. Aquilo era, definitivamente, uma forma encontrada por ele de ludibriar Alfred para confirmar sua acusação de estar recebendo um tratamento muito duro por parte de seu mestre.

- Você leu o livro que recomendei?

- Me desculpe, sensei, não pude fazê-lo porque o Keiichi-kun o perdeu.

- Consegue recuperá-lo até a semana que vem?

- Acredito que sim.

A educação de Seishirou era extremamente variada - desde os conhecimentos mais primários aos mais avançados, aprendendo também sobre arte, música, entre outras disciplinas nesta vertente. Desde muito pequeno fora treinado para assumir as responsabilidades sobre a fábrica de sua família, embora nunca fora consultado sobre tal decisão.

- Alfred...

- Pois não, Seishirou-sama?

- Poderia nos trazer alguns doces e chá?

- Recebi ordens para não deixá-los sozinhos sequer um minuto.

- Vamos, Alfred! Por favor! É só pegar e trazer... - Arthur ainda estava um pouco impressionado pela capacidade de seu pupilo de manipular suas personalidades de acordo com quem o está ouvindo.

- Hm, acho que tudo bem. Se precisar de mim, mesmo que para coisas triviais, basta me chamar.

O mordomo se retira, ainda que apreensivo, e põe-se a atravessar a mansão para chegar à cozinha o mais rápido possível. Se a senhora Scarlet descobrisse, estariam em sérios apuros. Mas Alfred vira Seishirou crescer e tinha um carinho muito grande por seu jovem mestre.

- Finalmente sozinhos...

- Hã?

- É que eu estava imaginando... - O menino olha para seu professor com o semblante sombrio que era característico dele. - Quanto tempo você vai durar?

- O suficiente para te educar corretamente.

- Você não conseguirá.

Seishirou levanta-se do sofá e apoia-se com os punhos na mesa que o separava de Arthur, inclinando-se para este com um sorriso misterioso e provocador. "Professor, quando afirmou que este emprego era importante... O que quis dizer?", ele indaga, aproximando-se mais do outro e deixando uma distância pequena e perigosa entre suas faces. Com a mão direita, toca o queixo do professor, que o segura e recua, sem saber o que aquele pequeno diabo pretendia.

- Creio que este assunto não faça parte da grade curricular.

- Ainda assim... - Com ares de quem zombava de todos, Seishirou morde o lábio inferior, rindo internamente. - Eu descobrirei.

- Por que se recusa a sair da mansão?

- Deixemos isso no mistério. Desta forma, estamos quites, sim?

- A senhora Scarlet mencionou um passado que...

O garoto coloca seu joelho sobre a mesa, apoiando-se com a mão esquerda no joelho do professor e tocando os lábios deste com o indicador da outra. "Deus, como é insistente...", ele sussurra, ouvindo os passos de Alfred ficarem cada vez mais próximos. "Está pronto para o segundo ato, sensei?". Sentando-se novamente em seu lugar original, Seishirou gradualmente vai assumindo o papel em seu pequeno teatro.

- Aqui estão, Bocchan.

- Obrigado, Alfred.

Os doces eram diferentes a cada dia - o mimado herdeiro se recusava a repetir uma refeição, a menos que ele queira; o chá também era cuidadosamente preparado para atender aos caprichos do menino, que se divertia derramando no tapete a bebida que não o agradava.
Ele parecia tão delicado por dentro que poderia enganar qualquer pessoa que não conhecesse seu lado mais sincero. Ao ver um oponente tão poderoso, Arthur estremece, pensando unicamente no motivo que o prendia àquele jogo.